Com quase 60 anos, Robert Scott Weinrich, mais conhecido como “Wino”, está mais ativo do que nunca. Além de preparar novos discos com os “reis do doom” Saint Vitus e o supergrupo Shrinebuilder (com membros do Neurosis, Melvins e Sleep), a lenda viva também está lançando seu primeiro disco solo, “Adrift”, em que passei com facilidade pelo blues, folk e country. Na entrevista abaixo, o extremamente simpático Wino fala sobre tudo isso e ainda sobre a turnê com o xará e parceiro de banda Scott Kelly (Neurosis), shows no Brasil, Sepultura, como foi tocar com Dave Grohl e muito mais.
“Adrift” é o seu primeiro disco acústico, certo? Por que resolveu gravá-lo agora? Alguma razão em especial?
Bem, há muitos fatores. A morte de Jon Blank, sabe, que tocou em “Punctuated Equilibrium” (primeiro disco solo de Wino, lançado em 2009), foi um fator. Comecei a fazer depois de sua morte. Eu meio que fiquei interessado em fazer. Andreas, que é dono da gravadora alemã Exile on Main Street Records, me perguntou há alguns anos “Você já pensou em fazer um disco acústico? Acho que seria ótimo.” Mas naquela época eu simplesmente não queria... eu não estava realmente pensando dessa maneira. Com o passar dos anos, fiquei mais interessado nisso. Comecei a escrever algumas músicas porque eles iam fazer uma festa de lançamento para “Punctuated Equilibrium”. E no cartaz da festa um amigo colocou que eu iria fazer um pequeno show acústico. Mas ele não me perguntou sobre isso, sabe? E como ele não me perguntou, eu fiquei realmente chocado. Mas aí eu decidi tocar mesmo assim. Só que eu realmente não estava pronto. Por isso foi bem ruim na verdade. Então assisti ao vídeo da apresentação e então percebi, disse a mim mesmo, sabe: “Isso pode ser algo que eu preciso sentar e trabalhar em algumas faixas e criar algumas músicas originais e fazer do jeito certo.” Então eu fiz isso e então escrevi algumas músicas e comecei a entrar muito mais no “lance” acústico.
Então logo quando Jon Blank morreu, de forma bastante inesperada, e nós estávamos voltando de uma turnê bem legal pela Europa, tocamos no Roadburn (festival) e então iríamos sair numa tour de um mês com o Clutch. Então quando ele morreu, Jean Paul (baterista, que também tocou em “Punctuated Equilibrium”), do Clutch, me disse, “Ei, você não devia deixar o momento de “Punctuated” passar. Você devia vir no ônibus com a gente e tocar violão para abrir os shows.” E, você sabe, eu nunca tinha feito nada desse tipo antes. E lembrando de como costumavam ser os shows do Cluch, eu estava um pouco “É, eu não sei. Não tenho certeza se quero fazer isso.” Mas eu acabei fazendo. Resumindo: os tempos mudaram, assim como o público dos shows. Então tudo acabou indo muito bem. E assim que fiz alguns shows, percebi que podia fazer isso.
E o que você acha do “produto final”? Você pensa em talvez fazer outro disco acústico algum dia?
Com certeza vou fazer outro. E talvez desta vez, em vez de fazer todo acústico, farei mais um disco solo que talvez tenha algumas músicas acústicas, sabe? Na verdade “Adrift” não é um disco totalmente acústico, porque coloquei algumas guitarras nele, mas era tão “nu” para mim fazê-lo que quase fiquei preocupado em não ter nenhuma guitarra elétrica nele, sabe? Foi uma experiência de aprendizado, entende? Você acha que gravar um disco acústico vai ser algo bem fácil, mas é bem difícil na verdade. Sabe, era tudo novo para mim. Mas eu pensei que podia fazer tudo de maneira bem fácil, e acabou sendo um desafio e tanto. Ganhei alguns milhares de dólares de orçamento, sabe? (risos) Mas o mais importante é que estou feliz com o produto final e é um disco nervoso. Quero dizer, com certeza. Eu estava passando por alguns problemas domésticos e tudo mais. Então foi meio que a minha maneira de lidar com isso.
Em uma entrevista recente você disse que Hank Williams, e não você, era o “padrinho do doom” (“godfather of doom”). Então talvez possamos olhar para “Adrift” como uma espécie de viagem pelas raízes do doom?
Não, não estou me comparando a isso nem de longe. Na verdade, eu estava tentando não me comparar. As pessoas estão sempre dizendo que eu sou o “padrinho” do doom. Mas a verdade é que... quero dizer, agora poderia dizer facilmente que é Townes Van Zandt. Na verdade, eu faço alguns covers de Townes no meu show agora. E acho ele incrível. Realmente amo sua música. Eu simplesmente sou mais tocado pelo lado mais negro da música. Não sei porque. Quer dizer, sou um cara do Lennon, e não do McCartney, sabe o que eu quero dizer? (risos)
Por que você escolheu esse título (“Adrift” quer dizer à deriva, desorientado)? Tem algo a ver com o fato de que, ao tocar acústico você meio que se afasta de sua área comum, com as guitarras elétricas, riffs e grandes amplificadores?
Ah sim. Eu definitivamente me senti saindo da minha “área” ou coisa do tipo. Quando estou fazendo os shows ainda me sinto...estou tão acostumado a ter uma parede de grandes amplificadores atrás de mim, sabe? Definitivamente é algo diferente. Mas, por outro lado, é realmente desafiador pois não tenho uma grande parede de amplificadores atrás de mim para me cobrir. Quero dizer, sou só eu. É muito despido, sabe? Quero dizer, eu normalmente toco limpo, mas às vezes uso um pedal de fuzz e as pessoas curtem isso (risos). Mas elas ficam realmente surpresas com isso, porque elas não viram um show acústico meu antes. E quando faço isso, elas ficam tipo “Cara, nunca vi ninguém usar um pedal de fuzz num violão antes”. E eu penso, sabe, “Não parece tão estranho para mim.”
Você está fazendo uma tour com Scott Kelly (Neurosis, Shrinebuilder), certo? Como estão sendo os shows?
Bons. Muito bons. É muito legal. Quero dizer, a música de Scott é realmente tocante, sabe? É muito profundo. E apenas assistindo a ele, sabe, você meio que é puxado para essa vibração. E basicamente faço meu set e ele faz o dele e depois tocamos um medley juntos. É um medley que eu costumava tocar. Basicamente, vamos testar algumas ideias cara. Ele quer tocar uma de nossas músicas favoritas de todos os tempos, que é, acredite ou não, essa versão matadora de uma música do Grateful Dead chamada “Wharf Rat”. Sabe, eu e Kelly, não somos “deadheads” (fãs do Grateful Dead) nem de longe, mas essa música é foda. Quero dizer, ela é obscura e muito pesada. Então vamos tentar isso logo. Assim que conseguirmos ensaiar mais.
Nosso primeiro show foi no sábado (5/2). Basicamente foi bem. E nós fizemos uma jam, o que foi muito legal. Gosto de fazer isso. Sabe, Scott gosta de dizer na imprensa que ele não é um guitarrista, mas ele é um puta músico, deixe-me dizer isso.
Você conhece alguma coisa sobre música brasileira? Alguma banda ou coisa do tipo?
Bem, vou te dizer. Eu gosto... eu vi o Sepultura acabar com o Pantera na noite em que a seleção brasileira venceu a Copa do Mundo (em 1994, disputada nos EUA). Aquilo foi divertido. Foi legal. Achei eles ótimos. E que outra banda brasileira você me recomendaria?
Bom, se você gostou do Sepultura, provavelmente vai curtir o Ratos de Porão. Eles são uma das principais bandas de hardcore/punk de verdade daqui e são amigos dos caras do Sepultura. Você também não muitos problemas em encontrar coisas sobre eles porque eles estão na Alternative Tentacles (gravadora de Jello Biafra, ex-Dead Kennedys). Pode ser um bom começo.
OK. Obrigado. Preciso dar uma olhada nisso.
Você já foi convidado para tocar no Brasil com alguma de suas bandas?
Sabe? Eu vivo dizendo para todo mundo que nós devíamos tentar tocar na América do Sul e na verdade nós estávamos falando sobre isso na última turnê. Eu sei que seria ótimo. E sei que a logística de tudo pode ser pensada e resolvida. Se eu conseguir alguém... você sabe. Se você conhecer alguém, tipo um promotor que seja “ponta firme”, que talvez pudesse fazer, então eu diria “Apenas me coloque em contato com ele”. Porque eu realmente adoraria fazer isso. Sabe, nunca fui para aí. E um amigo meu acaba de voltar do Rio de Janeiro e escutei todas essas coisas lindas, sabe? Acho que o Vitus se daria bem por aí, não?
Claro cara. Vocês definitivamente deviam vir. E também trazer o Shrinebuilder. Aliás, como está indo o disco novo da banda? Quando conversei com vocês no ano passado, vocês me disseram que já tinham algumas músicas novas (até tocaram uma deles no show em San Francisco, EUA). Em que pé está isso agora? Você sabe quando o disco será lançado?
Sim. Nós temos o material. Na verdade nós meio que trabalhamos bastante no material. Quando aconteceu o lance do vulcão, não me lembro bem, o acidente com o vulcão na Europa, não puder ir para Roadburn (festival). Pegamos esse tempo e terminanos o disco e estamos muito felizes com ele. É pesado pra cacete. Quero dizer, é pesado mesmo e então acho que o plano, todo está muito ocupado mesmo, mas acho que o plano é talvez começar a gravar em agosto ou em algum momento desse trimestre. Mas nós definitivamente vamos fazer outro disco e também mais uma turnê.
E o Saint Vitus? Alguma chance de vermos um álbum novo em breve?
Sim! Nós estamos fazendo um disco novo. Nós definitivamente estamos fazendo um álbum novo. Aliás, tocamos algumas músicas novas nessa última turnê que fizemos na Europa e elas parecem ter ido muito bem. Dave (Chandler, guitarrista da banda) está escrevendo algumas coisas muito boas cara. E ele está me deixando escrever letras para algumas coisas. Nós colaboramos em alguma músicas que ficaram boas. Quero dizer, as coisas estão indo muito bem.
Leia o restante da entrevista no blog Dor de Ouvido:
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