Publicado originalmente no Pólvora Zine.
Considerada uma das bandas mais polêmicas na época áurea do Metal Extremo em Belo Horizonte, o HOLOCAUSTO ainda se mantém na ativa, sendo criador do estilo War Metal, que tem um diferencial de todas as bandas da atualidade de estilo semelhante. A história desta banda é mais um dos bons exemplos de movimento vanguardista em nosso país. Temos aqui, para nos falar mais sobre as atividades da banda, como também fatos marcados no campo de batalha do underground durante o tempo, os integrantes atuais da banda: Rodrigo Führer (Bateria/vocal), Anderson Guerilheiro (Baixo/vocal) e Valério Exterminator (Guitarra/vocal). Sigam-nos ao front!
Pólvora Zine: Olá, como vão? O HOLCAUSTO já está com mais de 25 anos de história, sendo um dos bons exemplos de pioneirismo no Metal nacional. Como tem sido estes longos anos de estrada? O que lhes passa pela cabeça quando olham para trás, e pensam sobre o momento atual da banda?
Valério Exterminator: É uma honra pra mim ter fundado a banda, e mesmo tendo saído dela por desentendimentos, poder voltar e recuperar a amizade dos integrantes originais, reencontrar antigos fãs e fazer novas amizades é algo gratificante. Então o que realmente tem importância, é que o Holocausto apesar de ter em minha sincera opinião cometido equívocos ao lançar certos álbuns (“Tozago As Deismo” é um exemplo), retornou às suas origens: a agressividade do Hardcore aliada aos riffs do Thrash, temática de Guerra e cantando em português.
P.Z: De fato, o que mais motivou o retorno das atividades? E o que vocês acham do retorno de importantes bandas de Metal do Brasil, formadas na mesma época o HOLOCAUSTO?
Valério Exterminator: O que motivou foi a certeza de que os integrantes originais unidos, poderiam voltar às origens do Holocausto. Quanto ao retorno de importantes bandas, vejo como um resgate daquilo que de melhor rolou nos anos 80. Com certeza todos os integrantes das bandas retornaram porque continuam acreditando que a união consciente faz a diferença.
P.Z: Voltando no tempo, o “Campo de extermínio” foi um trabalho que casou um forte impacto na época em que foi lançado. Vocês tinham noção que a abordagem sobre guerra e nazismo que o constituem, faria com que ele tivesse a repercussão que tem até hoje?
Valério Exterminator: Sempre tivemos muita personalidade, escrevíamos letras sobre guerra enquanto o mundo Metal escrevia sobre demônios. Também fazíamos letras em português, enquanto outros acreditavam que somente conseguiriam repercussão com letras em inglês. A repercussão que tivemos, creio eu, é devido à realidade de uma guerra, as conseqüências deixadas na humanidade etc. Eu não estou certo da existência do Demônio, eu estou certo da existência do mal nos seres humanos.
P.Z: Se pararmos para pensar até mesmo hoje em dia, por mais difuso e diverso que o Metal seja, o HOLOCAUSTO ainda é singular no estilo de tocar em relação as outras bandas. Vocês concordam com isso?
Valério Exterminator: TOTALMENTE. Minha explicação é essa: eu não sou um guitarrista de qualidade, eu sou o guitarrista do Holocausto. Nunca houve e nem haverá um guitarrista que componha exatamente para o som que o Holocausto nasceu para tocar. Eu não consigo tocar música de nenhuma outra banda, por 2 motivos: incapacidade técnica e meu tempo é destinado ao Holocausto. Meus riffs desde o ano de 1985 foram criados com simplicidade, agressividade e muita originalidade, e se mantém até hoje como uma prova, de que a personalidade é marca presente na história do Holocausto. Isto, desde que os integrantes originais estejam no front de guerra.
P.Z: Na época do “Campo de extermínio” há uma história, inclusive relatada no documentário “Ruído das Minas - A história do Heavy Metal em Belo Horizonte”, de que integrantes de uma facção fascista, se não me engano do Rio, teria contactado vocês para aderirem a causa deles. Como se deu realmente este fato? Vocês devem ter tido uma grande surpresa com isso, não?
Valério Exterminator: Naquela época, recebíamos muitas, muitas cartas todas as semanas. Entre essas cartas havia uma escrita no remetente: “Frente Nazi Facista”. Abrimos e então tomamos consciência do que se tratava. Eles elogiavam nossa postura (obviamente devido às suásticas nazistas e etc.) e nos convidavam para entrar na FNF. Então respondemos que não estávamos fazendo apologia ao nazismo, mas sim usando os fatos acontecidos na humanidade como temática, e com o propósito de mostrar à humanidade como cada um tem de responsabilidade por tudo que acontece seja no oriente ou no ocidente.
P.Z: Em 1988, no álbum “Blocked minds”, já com a formação modificada com Anderson (Vocal), Rodrigo (bateria) e Rodrigo da Costa (Guitarra), a banda mostrou uma grande mudança na sonoridade, deixando de lado o aspecto cru e extremamente agressivo, e executando um som mais técnico numa linha Heavy metal, com vocal limpo. Por que exatamente, vocês decidiram conduzir este redirecionamento? E como foi lidar com a situação de muitos dos fãs mais ardorosos, torcerem o nariz para esta mudança?
Valério Exterminator: Eu jamais participaria de algo parecido.
Anderson Guerrilheiro: Eu participei desse projeto. Com a mudança de guitarrista com certeza também mudaria o estilo, pois cada guitarrista tem o seu próprio jeito de tocar. Assim, resolvemos tentar, limpamos o vocal, o que trouxe muita repercussão na época, mas com o tempo algumas bandas fizeram o mesmo, inclusive o VOIVOD que também mudou seu estilo e vocais. Eu particularmente gosto muito desse álbum, hoje poderia colocá-lo um pouco mais agressivo.
P.Z: Eu acredito que a capa de “Blocked minds” foi adotada, pensando em representar o trauma psicológico causado em pessoas que estão condenadas a morrer por uma causa em vão. Foi isto mesmo que vocês quiseram passar?
Anderson Guerrilheiro: Um pouco disso e ainda mentes bloqueadas pela visão geral do sistema, assim como hoje em dia, o sistema corrupto nos comanda em todos os setores, e grande parte da mídia faz com que as pessoas enxerguem o que eles querem na verdade, ou seja, a sua verdade.
P.Z: A mesma linha musical adotada em “Blocked minds”, se repetiu no seu sucessor, “Negatives” (1990), já contando somente com Rodrigo como membro original. Pelo fato, de o público esperar um retorno ao estilo inicial da banda, houve maiores dificuldades dentro da cena?
Anderson Guerrilheiro: Nessa fase não tinha mais na banda nem eu e nem o Valério, aí não da pra responder o que se passou.
P.Z: O álbum “Trozago As Deismo” (1993), é o mais diferente de todos os discos do HOLOCAUSTO, composto por elementos mais progressivos. O que vocês acham deste trabalho? Vocês o gravaram com objetivo de experimentação musical propriamente dita?
Valério Exterminator: Eu jamais participaria de algo parecido.
Anderson Guerrilheiro: Acredito que realmente foi uma experimentação, e talvez até uma maneira de cortar o cordão umbilical com o Metal na banda, através dos seus integrantes.
P.Z: O que vocês acharam da iniciativa na criação do documentário “Ruído das Minas”?
Valério Exterminator: Sartoreto e sua tropa foram de uma felicidade extrema na escolha do tema para conclusão do curso. Todos que falam sobre o documentário, fazem elogios e agora espero que ele possa ser legendado, para que o público de fora tenha este belíssimo documentário. Também tenho certeza de que isso fortalece o Metal de BH.
P.Z: Falando agora da nova fase da banda, vocês retornaram à ativa em 2005, lançando o ótimo “De volta ao front”, que remonta o estilo agressivo de tocar, letras em português e vocal urrado/gutural/rasgado, além de uma perfeita combinação de H.C. e Thrash metal, mais evidente até do que no “Campo de extermínio”. A abertura com a porrada de 'Miséria humana', a inspiradora 'Resista' e a furiosa 'Ilusão armada', são só alguns exemplos, da qualidade do trabalho e a evolução de vocês como compositores. Qual o saldo deste trabalho para vocês? E como foi a reação dos fãs, sobretudo os antigos, com este lançamento?
Valério Exterminator: priorizamos o Hardcore nesse CD, ou melhor o “Warcore”. Eu dei este nome ao estilo da banda neste CD. Nos vocais, uma diferença foi que passei a cantar fazendo uma voz mais Hardcore, e o Guerrilheiro também usou um estilo mais Hardcore de cantar. As bases foram mais voltadas para o estilo Hardcore, e isso tem uma explicação simples: fiquei 16 anos sem pegar em uma guitarra, não conseguiria tocar os riffs do estilo WAR METAL, pela velocidade e mudança nos tempos musicais, tanto é que somente depois de muitos meses ensaiando é que começamos a tirar as músicas do “Campo de extermínio”. O saldo foi muito bom para os integrantes. A reação dos fãs trouxe de um lado a certeza que a agressividade da banda estava resgatada, e de outro alguns achando muito Hardcore e menos WAR METAL, o que eu concordo 100%. Os antigos fãs e os novos tiveram a mesma percepção.
Anderson Guerrilheiro: Eu particularmente também gosto deste álbum, não tocávamos há muitos anos e foi feito bem no estilo brasileiro de gravar, tudo em apenas uma semana.
P.Z: Como é e como anda a divulgação da banda no exterior? Há possibilidade de uma Tour fora daqui?
Valério Exterminator: O HOLOCAUSTO não é uma banda de bastidores. O nosso direcionamento está voltado para a criação das músicas e shows. Ainda nos falta um compromisso profissional com a banda, nos sentimos amadores fazendo aquilo que mais amamos. Mas acredito que em 2011, daremos uma atenção à divulgação da banda. Temos recebido e-mails nos convidando para shows pela Europa e América do Sul, mas o objetivo é nos estruturar, gravar um novo trabalho, fazer um novo site, refazer o MySpace, fazer muitos shows no Brasil. Assim, estaremos preparados para uma Tour fora do país.
P.Z: O HOLOCAUSTO retornou mesmo com força total, participando de entrevistas, documentário e também com o site da banda (em Português e Inglês) no ar. Há planos em andamento para um novo álbum? E os planos para 2011?
Valério Exterminator: Na realidade, eu estou gravando no estúdio, já há alguns meses, as guitarras guias das músicas do “Diário de guerra” (totalmente War Metal). Paramos um pouco porque tivemos dois shows, mas no final de janeiro retornaremos ao estúdio e espero que o CD possa sair ainda no 1º semestre. Estamos aguardando a Cogumelo lançar uma edição especial limitada do “Campo de extermínio” em CD e com o DVD do show de 1987 em Santos, com a formação que gravou este álbum.
P.Z: Obrigado pela entrevista. Vitória para vocês nessas novas batalhas.
Valério Exterminator: Agradeço ao espaço, é sempre prazeroso falar daquilo que mais amamos.
Anderson Guerrilheiro: Agradecemos a todos e força ao metal!
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