Tenho quase 30 anos e confesso que demorei pra me adaptar ao avanço tecnológico dos últimos anos. Morar no interior longe dos grandes centros me ajudou a manter essa distância saudável da tecnologia. Como um nerd viciado em música (leia-se: Rock n’ Roll), trago em mim certa desconfiança sobre essa velocidade de informação e facilidade de acesso dos dias atuais. Sempre vai rolar aquele papo de tiozão do tipo: “na minha época as coisas eram mais legais”. Mas me pergunto: será que não era mesmo?
Hoje em dia quando se descobre uma banda legal, logo se tem acesso à discografia completa dos caras, shows, clipes, raridades, etc. Você pode até mesmo se tornar “amigo” de seus ídolos nas chamadas redes sociais. E essas bandas acabam não fazendo diferença nenhuma, pois raramente sobra tempo para ouvir toda sua obra e realmente apreciá-las. Temos sempre um download a mais pra fazer, uma banda diferente que precisamos ouvir ou um vídeo novo pra assistir – normalmente de uma apresentação feita na noite anterior ao acesso e nem sempre com uma boa qualidade, apenas pela necessidade de acompanharmos tudo. O romantismo que havia, há muito foi deixado. O vinil e as fitas cassete foram substituídos pelo CD, o CD pelos arquivos digitais e a TV pela Internet. Mas o que mais me intriga, é o que está pra ser extinto em breve: o Rock Star!
Com as tais redes sociais onde qualquer um pode ser o ídolo – ter milhares de amigos, aparecer bem nas fotos, lançar seus próprios vídeos, se relacionar com gente famosa e ter um milhão de acessos – as verdadeiras estrelas tem o seu brilho ofuscado. Sem contar que adolescentes, que são quem mais perdem tempo descobrindo, consumindo e espalhando coisas na rede (além de sua autopromoção, é claro), tornam coisas sem muito conteúdo em grandes sensações de momentos passageiros.
E o prazo de validade da maioria dos artistas tem sido bem curto. O problema é que nem dá tempo de sentir muita falta. O Rock Star se tornou algo raro. Mesmo os ditos “grandes nomes dos últimos tempos” vêm e vão sem que ninguém realmente saiba o que está acontecendo – alguém sabe dizer exatamente quanto tempo
SYSTEM OF A DOWN e
RAGE AGAINST THE MACHINE ficaram fora de atividade? - e só alguns velhos dinossauros parecem manter intactas suas estrelas.
Há uma carência de Rock Stars notável hoje em dia. Muito se deve ao fato de não tirarmos tempo pra apreciar a arte de uma banda, nós apenas a consumimos vorazmente. Os artistas de hoje sabem disso e não se esforçam muito para reverter à situação colocando seus nomes na história, querem se valer apenas do momento. Bandas surgem supervalorizadas, muitas vezes pondo imagem acima da música. E ninguém que realmente seja digno de apreciação aparece para tapar o furo deixado no Rock pela bala que atravessou os miolos de Kurt Cobain, o último Rock Star que andou por esse planeta – é lógico que outros ainda estão por aí, mas nenhum que tenha surgido depois dele.
Onde estão os pôsteres nas paredes? As mudanças de comportamento da juventude que realmente valham à pena? Os grandes rebeldes da música? Os caras pras meninas sonharem e os meninos se inspirarem? Os hinos de uma época? Com certeza não estão no RESTART ou na LADY GAGA. E espero não ter que esperar minha vida inteira por uma reunião do GUNS N’ ROSES, como a última coisa que possa fazer história no Rock n’ Roll.
Por Lincoln Gonçalves
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