29 de junho de 2011

Slasher: quando a religião controla os mortos-vivos

É cada vez mais comum os nossos grupos estrearem com um disco que revela tal qualidade que nem parecem ser novatos na cena… Assim é o paulista Slasher e a obra “Pray For The Dead”, que está agora chegando ao público de forma independente e se revela um registro de Thrash Metal dos mais empolgantes. O Whiplash! conversou com a dupla de guitarristas Lúcio Nunes e Lucas Aldigheri para conhecer melhor a banda. Confiram aí:



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Whiplash!: Olá pessoal! O Slasher possui pouco tempo de estrada e agora está debutando emdisco. Como foi exatamente que a banda surgiu?
Lúcio: A banda nasceu no ano de 2008 na cidade de Itapira (SP). Ela surgiu das cinzas de outro projeto que Lucão, Daniel, Coradi (antigo baterista do Slasher) e eu tínhamos que se chamava Manthus. Esta teve início em 2002, época em que as músicas “Broken Faith”, “Art Of War” e “Enemy Of Reality”, todas presentes no nosso disco de estréia, foram criadas.
Lúcio: Éramos muito novos naquele tempo, exceto pelo Daniel (vocalista) que já beirava os 30 (risos). Poucos trabalhavam, os equipamentos davam medo só de olhar, a precariedade e falta de experiência eram gigantescas. Após vários anos tentando alguma estabilidade em meio a viagens conduzidas por uma Variant II em estado lamentável (risos), Manthus finalmente se dissolveu junto ao antigo Volkswagen em 2007, culminando na criação do Slasher já no ano seguinte.
Lucão: Vale frisar que os anos compreendidos entre 2002 e 2007 foram extremamente importantes para nosso amadurecimento como músicos. Sem isso, muito provavelmente, o Slasher nunca teria existido. Percalços que todas as bandas enfrentam, mas nem todas têm ‘bolas’ para suportar e superar a carga de problemas e responsabilidades que envolvem essa atividade em grupo. O nosso maior mérito sempre foi a persistência.
Whiplash!: Em 2009 o Slasher liberou o EP “Broken Faith”, que obteve ótima repercussão entre a mídia especializada. O quanto vocês aprenderam com este primeiro registro e o que quiseram acrescentar no álbum “Pray For The Dead”?
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Lúcio: Não sei quanto ao resto da banda, mas o EP “Broken Faith” me mostrou que éramos capazes de fazer Thrash Metal (risos). A cada nova resenha que eu lia na internet, vindas de diferentes partes do mundo, aumentava minha vontade de seguir em frente e melhorar cada vez mais. O que queríamos adicionar ao “Pray For The Dead”? É difícil dizer, pois o desenvolvimento é paulatino e discreto, não consigo enxergar em que ponto evoluímos. A evolução do EP para o debut é evidente, mas eu não consigo dizer o que nós adicionamos ao nosso álbum de estréia. Acredito que esta seja a ordem natural das coisas. Eu não penso em acrescentar uma coisa ou outra na música, simplesmente toco e vejo o que rola.
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Lucão: Ficou claro pra nós o quanto é importante tentar, arriscar e produzir. Essa experiência foi essencial para aplicarmos em nosso objetivo principal, o primeiro full-length. Passar por tudo isso é difícil, mas nos proporciona uma nova carga de motivação sabendo o que podemos corrigir e fazer melhor nas próximas produções.
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Whiplash!: Vocês novamente trabalharam com o produtor Ricardo Piccoli, no Piccoli Studio de Campinas (SP). Qual sua importância para a qualidade final de “Pray For The Dead”?
Lúcio: A importância dele na qualidade final deste álbum é simplesmente inestimável. Ricardo é uma pessoa extremamente talentosa e dedicada em suas produções. O cuidado que ele tem ao escolher timbres, mixar, masterizar... Enfim, fazer um monte de urros e guitarras distorcidas se transformarem em algo audível é evidente em todo o disco. Todos os trabalhos que ele faz são de extrema qualidade, como, por exemplo, o álbum “Fractal” da Kamala, o vindouro “The Essence Of Apocalypse”, álbum de estréia do Exhortation e que tive a oportunidade de ouvir no estúdio, o “Purecavespringwater” da banda Thriven, o “Aural Deathblow” do Laconist... Enfim, para quem não conhece o que ele tem feito pelo underground nacional, vale a pena procurar e conferir suas produções.
Whiplash!: Ainda que repleto de influências, “Broken Faith” já exibe um Slasher com um estilo muito bem definido e ótimas canções como a própria faixa-título, "World’s Demise" ou "Hate". Como funciona o processo de composição entre vocês, em especial agora que contam com o baterista Alyson Taddei?
Lúcio: Na maior parte dos casos, a concepção de cada uma das músicas é feita de forma individual e, assim que elas ganham alguma forma, são levadas aos ensaios, apresentadas a todos os integrantes e começamos a acertar os últimos detalhes com algumas novas idéias. A entrada do Taddei na banda foi a peça que realmente faltava para fazer a coisa toda andar, ele possui influências bem peculiares como Between The Buried And Me, Primus, Tool, Oceansize, Deftones, e as trouxe para o Slasher. A cada novo riff que criamos nos surpreendemos com os acompanhamentos que ele faz na bateria. É algo que foge do óbvio.
Lucão: Na hora de refinar as composições somos muito exigentes com o resultado final, e o fato de termos uma boa sintonia com a aplicação dos conceitos sonoros facilita bastante, mesmo com as variadas influências de cada um. Insistência e paciência são pontos chave para construirmos algo legal, inclusive já temos muitas boas idéias arquivadas para novos materiais.
Whiplash!: “Pray For The Dead” possui uma arte gráfica bastante condizente com a postura lírica do Slasher. O francês Stan W-D teve total liberdade de criação, ou a banda também se envolveu nesta parte do processo?
Lucão: O conceito foi proposto pela banda, buscando traduzir de forma diferenciada um dos principais temas que abordamos nas letras, crítica às crenças religiosas. Conheci o Stan por acaso, me deparei com alguns trabalhos dele em sites especializados em arte digital e resolvi entrar em contato e apresentar o trabalho do Slasher. Ele curtiu o som, o conceito apresentado e resolveu abraçar a idéia. À caráter de curiosidade, ele também toca em uma banda de Heavy Metal Progressivo na França chamada Awacks.
Lúcio: Queríamos uma analogia entre crenças religiosas e zumbis. Algo que mostrasse a religião no centro, controlando os mortos-vivos (risos). Ele é um artista extremamente talentoso que entendeu rapidamente o que buscávamos e entregou uma arte que surpreendeu a todos nós. Vale muito a pena conferir suas criações no DeviantART (http://stan-w-d.deviantart.com/).
Whiplash!: Como o Slasher encara o cenário nacional atual, e que esforços vocês tem feito para se inserir cada vez mais neste movimento?
Lúcio: O cenário atual está simplesmente minado de artistas extremamente competentes. Surpreendo-me cada dia mais com a quantidade de excelentes lançamentos vindos do underground brasileiro. É difícil destacar-se em meio a tanto talento, mas para tentar um melhor lugar ao sol, temos sido bastante dedicados em todas as atividades relacionadas à concepção, gravação, produção e distribuição das nossas músicas. Para driblar a falta de recursos financeiros mergulhamos de cabeça em todos os trabalhos necessários para divulgação do nosso álbum de estréia: confecção de comunicados de impressa, busca por parcerias, entrevistas, pontos de distribuição, vamos até dirigir, filmar e produzir nosso próprio vídeo-clipe (risos). Tem funcionado bem pra gente até agora.
Lucão: Muitas vezes é possível contornar a limitação de verba com criatividade. Produzir algo de forma independente não é necessariamente fazer algo mais simples ou tosco, com bom senso e dedicação é possível fazer algo com nível profissional e evidente qualidade. Estamos cada vez mais exigentes com nossas produções. O que ajuda é o fato de eu já atuar como designer profissionalmente e o Lúcio na área da T.I., o problema é que isso nos demanda quase uma dupla jornada de trabalho, mas apesar de tudo é muito gratificante colhermos o resultado desses esforços.
Whiplash!: O Slasher foi reconhecido por alguns importantes nomes do mercado fonográfico nacional ao fazer parte da compilação da Melody Box. Como rolou isso? Achei curioso que incluíram sua única canção cantada em português...
Lúcio: No final de 2010 recebemos um convite dos responsáveis pela Melody Box que, pra quem não conhece, é uma rede social musical que surgiu no ano passado com o objetivo de encontrar uma alternativa para a atual forma de comercializar a música. Achamos a proposta bem interessante e nos inscrevemos no site, que de tempos em tempos oferece boas oportunidades para os artistas. Uma destas oportunidades foi o “Fora da Caixa Vol. 1”, uma coletânea que teve como curadores representantes da EMI, Sony Music, SWU... Enfim, importantes nomes do cenário nacional. Resolvemos apostar na canção “Tormento ou Paz”, pois, além de ela ser uma excelente música cantada em português, o foco da Melody Box é o Brasil.
Whiplash!: Qual o principal foco de vocês ainda para este ano? Aliás, falou-se que estão preparando seu próprio vídeo para ajudar na divulgação de “Pray For The Dead... O que podem dizer sobre ele?
Lúcio: Estamos nos empenhando ao máximo para iniciar as gravações de um vídeo-clipe para a música “Enemy Of Reality” ainda no mês que vem. Como dito anteriormente, estamos a cargo de tudo: roteiro, produção, gravação, cenário... E como lembrado pelo Lucão, ‘... produzir algo de forma independente não é necessariamente fazer algo mais simples ou tosco, com bom senso e dedicação é possível fazer algo com nível profissional e evidente qualidade...’. Temos também uma animação sendo finalizada para a canção “Hate”. Ela está sendo desenvolvida por uma grande amigo de infância, Reinaldo Antonelli, que tem um site repleto de animações engraçadas. Vale a pena conferir: DC Studio (http://www.dcstudio.com.br/).
Lucão: Acreditamos no nosso material e potencial. Agora, com o álbum em mãos, temos que levar o nosso som para todos os cantos e tocar no maior número de lugares possível. Inclusive, estamos buscando parcerias que nos ajudem nesta empreitada: selos, distribuidores, etc.
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Whiplash!: O baixista Wellington é um cadeirante. Este fato dificulta de alguma forma o desenvolvimento das atividades do Slasher?
Lucão: Não dificulta em nenhum aspecto. O Wellington é um exemplo a ser seguido por todos. É um músico extremamente dedicado e talentoso. Além das suas atividades com o Slasher, ele também tem a música como profissão, fazendo voz e violão na região do Circuito das Águas Paulista. Ele é um cara com grande carisma, e por onde passamos notamos o reconhecimento e admiração do pessoal presente.
Lúcio: Dificultar nosso desenvolvimento, com certeza não! É apenas mais um obstáculo que temos que transpor. O pior de tudo é ver que em todos os lugares que a gente vai não existem rotas alternativas para pessoas com deficiência. Deparamos-nos com portas estreitas em estúdios, escadarias quilométricas... Imagine só: têm muitos palcos por aí que o acesso já é complicado e demanda equilíbrio, força de vontade e muita determinação para uma pessoa sem deficiência subir (risos), agora imagine o quão complicado é tudo isso para o Wellington. Lamentável.
Whiplash!: Ok, pessoal, o Whiplash! agradece pela entrevista e deseja boa sorte ao Slasher! O espaço é de vocês para os comentários finais...
Lúcio: Primeiramente, Ben, gostaria de agradecer em nome de todas as bandas do underground brasileiro o excelente trabalho, dedicação e empenho que você tem destinado a todos nós nas entrevistas e resenhas! São atitudes como estas que fortalecem o nosso fodástico cenário nacional. Não podemos deixar de agradecer também todas as pessoas e amigos que têm nos apoiado nesta árdua jornada pelo underground.
Lúcio: Gostaria de convidar aqueles que não conhecem nossas músicas para nos dar uma chance e ouvir nosso álbum de estréia na íntegra em nossa página. No mais, muitíssimo obrigado por ter reservado um tempo do seu dia para ler esta entrevista. “Bora” lá pro nosso site ganhar um torcicolo!

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