Em época de bandas bonitas, fofinhas e semelhantes, é sempre bom ver uma banda de rock que prima por ser tosca, falar palavrões e mandar tudo para a puta que pariu. Essa é a proposta dos Gametas, que tocaram no último sábado em um puteiro (literalmente). A casa de tolerância, o Club das Flores, fica em Realengo, bairro da Zona Oeste do Rio de Janeiro e foi o último palco onde ocorre sazonalmente a festa Roqueadores, que sempre abre espaço para bandas alternativas.
Com um CD gravado de forma independente e ralando no underground carioca (que é quase inexistente), os quatro integrantes fazem um show em que as músicas pouco diferem do material gravado. Com um rock básico e energético, o quarteto formado por Claudio Von Drakulelvis (vocal e guitarra), Iuri Escabroso (guitarra solo), Diego Drugue (baixo e vocal) e Rafael Bralha (bateria e vocal) conseguiu prender a atenção do público, que encheu a casa de tolerância.
Com uma musicalidade próxima ao punk clássico, bons riffs e apostando na agressividade que falta a muita gente por aí, o Gametas começou o show começou com “Menino Lobisomem”, música autoral que foi o ponto alto da noite, e termina com um uivo do vocalista. Com todo o mise en scène de uma banda com culhões, os músicos dão o sangue no palco, e se jogam, chacoalham, tocam deitados e contagiando quem vê.
Porém, devido ao desconhecimento da maior parte do público, o show foi mais assistido do que curtido. As músicas em sua maioria são simples, com solos rápidos, e direto ao que interessa, mas que talvez pequem por faltar um pouco de diferenciação, ou um toque pessoal.
Com uma musicalidade e um visual que lembra o punk clássico e tenta evocar shows de rock horror como Misfits e Alice Cooper, o rock é padrão, sem muitas novidades, o que seria melhor do que inventar algo diferente e estragar o clima de celebração ao lado feio do ser humano. Visualmente, a banda usa uma maquiagem que lembra o gótico, e que combina com as mensagens. É música para encher a cara, falar merda e zoar os amigos.
A banda também “cometeu” em sua apresentação “Beth Cemitério”, versão para “Pet Sematery”, música dos Ramones para a versão de cinema do livro de Stephen King “Cemitério Maldito”. Ainda foram tocados outros dois covers: “Menstruada”, do Júpiter Maça, e “Last Caress”, do Misfits, berrada pelo baterista enquanto o resto da banda se divertia no palco massacrando os instrumentos.
O principal diferencial deles está nas letras, que fogem do padrão normal da atualidade, e falam como qualquer estilo, em sua maioria, de mulher. Médiuns, como em “Ela fala com espíritos”, depressivas, como em “Cida Suicida”, traidoras, como em “Carne de 2ª”, ou sado-masoquistas, como “Os Brinquedos Eróticos de Madama Surrey”, cuja personagem-título batiza a boneca inflável jogada durante a execução da música, que encerrou a apresentação.
Resumindo, os Gametas fizeram um bom show em pouco menos de uma hora, e tem a possibilidade de crescer na proposta de levar um pouco de podridão ao atualmente cor-de-rosa mundo do roquenrôu. Rock que teve a história exaltada com uma mistura de músicas tocadas pelos DJs BJ e Lynha, que passava por Beatles, Talking Heads, Nirvana, Smiths e Strokes, indo do indie ao clássico passando por grunge e outros subgêneros, que fizeram dançar naquela noite muita gente que nem havia nascido quando esses estilos estavam no auge.
Fotos de Michelle Modesto
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