25 de janeiro de 2011

Cameron Crowe: um verdadeiro cineasta Rock And Roll...

O prezado leitor que é tão fã de cinema quanto de rock com certeza já deve ter pelo menos ouvido falar de “Quase Famosos”, filme que retrata a história de um garoto de apenas 15 anos que se torna jornalista da revista Rolling Stone e acompanha uma banda em sua turnê pelos Estados Unidos em plena década de 1970. Embora a banda do filme nunca tenha existido, a história realmente aconteceu: é a história do próprio diretor e roteirista Cameron Crowe.


Crowe nasceu em Palm Springs, Califórnia, no dia que posteriormente seria conhecido como o dia mundial do rock, 13 de julho, no ano de 1957, filho de James e Alice. Sua mãe era professora e, talvez por conta disso tenha tido grande facilidade na escola. Pulou dois anos de estudos logo no jardim da infância e se formou aos 15 anos de idade. Seus pais eram muito conservadores e mal o deixavam sair de casa. Para se ter uma idéia, só pode ir ao seu primeiro show de rock, uma apresentação do Iron Butterfly, porque ganhou o ingresso em uma promoção na rádio (se dependesse dos pais para comprar um ingresso para um concerto de rock, jamais teria conseguido). E para compensar a falta de contato social com os demais jovens, passou a escrever. Rapidamente se torna colaborador de revistas como a Creem e a Circus, especializadas em música, além da Playboy e o jornal Los Angeles Times. Graças aos seus bons textos, foi convidado pela Rolling Stone, após conhecer em uma viagem o editor chefe da revista, Ben Fong Torres. Acompanhou na estrada, ao longo dos anos, bandas do porte de Led Zeppelin e The Who. O texto do encarte de “The Song Remains The Same”, clássico ao vivo do Led, é de sua autoria. Escreveu ainda sobre Bob Dylan, Neil Young, David Bowie, Eric Clapton e outros.
Nos anos 1980, resolve se enveredar pelo cinema. Seu primeiro roteiro foi o do filme “Picardias Estudantis” (Fast Times At Ridgemont High), dirigido por Amy Heckerling em 1982. A princípio, uma mera comédia de adolescentes, daquelas que hoje em dia ficam empoeirando no canto da prateleira da vídeo locadora. Mas foi também o filme que revelou ao mundo Sean Penn e Jennifer Jason Leigh. O primeiro no papel de um surfista doidão e a segunda como uma garota que quer fazer de tudo para perder a virgindade. O rock fica por conta da trilha sonora. Momento memorável do filme: quando um dos adolescentes aconselha o outro a colocar o lado B do Led Zeppelin IV quando for fazer amor com a namorada... e na cena seguinte, o garotão e a menina circulando de carro ao som de “Kashmir” (que na verdade faz parte de “Physical Graffitti”, como todo mundo sabe).
Em 1989, resolve se arriscar como diretor, e lança “Digam o Que Quiserem” (Say Anything), comédia romântica estrelada por John Cusack. Na trilha sonora podem ser ouvidos grandes nomes como Living Colour, Joe Satriani, Cheap Trick, Red Hot Chili Peppers, Peter Gabriel, além de sua esposa, Nancy Wilson.
Ganha destaque com o seu segundo filme, “Singles – Vida de Solteiro” (Singles), que conta a história de jovens solteiros em Seattle, à época em que o grunge estava no auge. O canastrão Matt Dillon até que se sai bem no papel do baterista de uma bandinha de garagem local (ninguém menos que o Pearl Jam fizeram o papel da banda!). O elenco tem ainda Bridget Fonda, Bill Pullman e, como curiosidade, uma ponta rápida de Chris Cornell (à época ainda vocalista do Soundgarden). E a trilha sonora? Adivinha só: Alice In Chains,Pearl Jam, Mother Love Bone, Screaming Trees e, claro, o filho mais ilustre de Seattle, Jimi Hendrix.
Seu próximo projeto seria “Jerry Maguire – A Grande Virada” (Jerry Maguire), com Tom Cruise no papel principal. O filme trata da história de um empresário esportivo que sai de uma grande companhia de marketing e tenta dar a volta por cima, às custas de um jogador de futebol americano mediano, interpretado por Cuba Gooding Jr., em papel que rendeu a este o Oscar de Ator Coadjuvante. O filme, o roteiro e Tom também foram indicados ao prêmio, mas não venceram. Onde fica o rock nisso tudo? O filme e a trilha sonora já começam ao som de “Magic Bus”, do The Who. Ouve-se também Neil Young, Paul McCartney, Elvis Presley, Bruce Springsteen... E tem ainda a sequência no filme onde Jerry, feliz da vida, sai andando de carro e cantando junto ao rádio “Free Fallin’”, de Tom Petty and the Heartbreakers.
A seguir, o que praticamente é sua auto-biografia, o já citado “Quase Famosos” (Almost Famous), com Billy Cudrup, Jason Lee, Kate Hudson e Phillip Seymour Hoffman, no papel do lendário crítico musical Lester Bangs. Seja pelo filme que é espetacular (foi indicado inclusive ao Oscar de melhor filme, e ganhou o de roteiro, da autoria do próprio Crowe), seja pela ótima trilha sonora, é uma obra obrigatória aos fãs da mistura “cinema + rock”. O filme relata o dia a dia de uma banda nos anos 1970 na estrada, como eram os shows, a sua relação com as groupies, os problemas, as drogas... Tudo ao som de Simon and Garfunkel, The Who, Led Zeppelin, Yes, Rod Stewart, David Bowie, Elton John, Lynyrd Skynyrd, Beach Boys... Antológica a sequência do avião passando por uma turbulência infernal, onde todos acham que vão morrer e começam a fazer confissões uns aos outros... reza a lenda de que a confissão de um deles se dizendo gay realmente aconteceu na vida real, e foi feita por ninguém menos que Keith Moon...
Em 2001, Cameron resolve investir na refilmagem do ótimo filme espanhol “Abre Los Ojos”. Surge “Vanilla Sky” (idem), mais uma vez com Tom Cruise no papel principal, trazendo ainda no elenco Jason Lee (novamente), Jeff Bridges, Cameron Diaz e Penelope Cruz (que trabalhou na versão original). Cruise é um playboy herdeiro de uma grande empresa que sofre um acidente e fica com o rosto desfigurado. O filme é excelente, mas não é para todos os gostos. A canção tema, de mesmo nome, é de ninguém menos que sir Paul McCartney. A trilha traz ainda Peter Gabriel (com a clássica “Solsbury Hill”), R.E.M., The Monkees, Bob Dylan... Além disso, no apartamento de Cruise no filme, pode-se ver ainda uma guitarra Gibson S.G. quebrada emoldurada, referência com certeza a Pete Towshend do The Who (a banda ainda aparece na sequência de imagens ao final do filme). Seria o The Who a banda favorita do diretor?
Enfim chegamos ao fraco “Tudo Acontece em Elizabethtown” (Elizabethtown). O filme tenta ser comédia, tenta ser um pouco de drama... mas não chega a lugar nenhum. Conta a história de um rapaz que tem que ir a uma cidadezinha do interior para o velório do pai e enfrentar a família deste, que ele sequer conhece. Tem no elenco Orlando Bloom, Kirsten Dunst, Susan Sarandon e Alec Baldwin. Embora o filme seja bem esquecível, o mesmo não se pode dizer do surreal velório. A banda do sobrinho do falecido executando a clássica “Free Bird”, do Lynyrd Skynyrd, com direito a “efeitos especiais” no palco tornam a sequência memorável e engraçadíssima. A trilha sonora tem três lançamentos diferentes: um CD duplo, com canções de artistas que vão desde Tom Petty até Ryan Adams, um EP (!) com seis canções, e um outro CD com os temas de fundo do filme.
Como vimos, até em sua vida amorosa Crowe é rock and roll. Ele é casado com Nancy Wilson, guitarrista e vocalista do Heart, grande banda de hard rock norte-americana. Ela é, ainda, responsável pela trilha de todos os seus filmes. Resta agora esperar quais serão seus futuros projetos, mas uma coisa é certa: Cameron Crowe já tem seu nome cravado na história tanto do rock quanto do cinema, tendo contribuído com qualidade em ambas as vertentes. Quantos conseguiram tal feito?

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