4 de julho de 2011

Slayer (Via Funchal, São Paulo, 09/06/11)

No dia 9 de junho, a quinta feira fria se tornou numa verdadeira celebração do thrash metal. O motivo foi a vinda do maior ícone do gênero, Slayer, ao Brasil, para fazer os headbangers e outros amantes da música rápida esquecerem-se do clima gélido na base do bate cabeça.



Aliás, o aperitivo desse clima de agitação já se iniciou do lado de fora da Via Funchal, em São Paulo: a banda Test, que já havia feito uma ‘aparição’ no show da banda D.R.I. na cidade, deu as caras mais uma vez com sua Kombi. De forma inusitada, essa banda vem se apresentando pelos shows, levando seu equipamento no carro e fazendo pequenas apresentações no meio da rua, em frente às filas de show. Haja criatividade! E o resultado é sempre positivo, pois uma pequena multidão acaba vez ou outra se aglomerando em pequenos bate cabeças por perto.
A fila do lado de fora estava imensa como deveria ser, afinal, a banda não vinha ao Brasil há muitos anos. Os ingressos se esgotaram ali na porta, e até os cambistas estavam desesperados para comprar tíquetes e vendê-los, como o habitual, muito mais caros que o valor real. A entrada estava tão concorrida, que muitos chegaram atrasados ao show da própria banda principal e por isso perderam a ótima abertura, que ficou a cargo dos guerreiros do Korzus.
A performance da antiga banda paulistana de thrash estava muito boa, como o de costume. Os sons que integram o novo e matador álbum “Discipline of Hate” deram um gás ainda mais brutal à apresentação que, apesar de alguns reveses na qualidade do som, não deixou a desejar, e mostrou o por que de a banda estar conquistando cada vez mais o espaço que merece na cena. Creio que a escolha desses veteranos para abertura de um evento tão grandioso foi bem adequada e cumpriu com as expectativas de todos.
Como uma das maiores formas de demonstrar profissionalismo e respeito aos fãs, o Slayer subiu ao palco pontualmente às dez da noite. Ao som de um coro de satisfação enorme em uníssono, a banda lança duas faixas do mais recente álbum “World Painted Blood”: a tìtulo e Hate Worldwide na seqüência. Só com essa dupla já foi o suficiente para que a banda mostrasse toda sua potência ao vivo, já que o som estava avassalador, e sua imponência como ícone, já que grande parte dos fãs presente cantava trechos inteiros das músicas. Aliás, eles tiveram um papel essencial para tornar o show ainda mais inesquecível. Ao longo da apresentação, eu juro a vocês que cheguei a passar uma música ou duas inteiras observando o desempenho do público. Não somente os refrãos, como o de costume, mas estrofes inteiras soavam pelas bocas dos presentes, a ponto de em algumas horas, não se ouvir a voz do vocalista e baixista Tom Araya. Impressionante é o mínimo que posso comentar sobre isso. E então, e todos que estavam ali devem concordar, chegou o famigerado momento do show em que os fãs viriam a comprovar isso tudo o que eu disse.
Logo na terceira música do show, War Ensamble, o som dos P.A.s falharam totalmente. Não saía som algum do palco, a não ser as fortes batidas de Dave Lombardo em sua bateria, para os que estavam ali mais próximos ao palco, como eu. Mesmo assim, os integrantes continuaram com sua apresentação, mesmo que muda, e, a pedido de Tom Araya a partir de gestos, todo o público cantou as ultimas partes da música, como fossem vocalistas da banda. Seria belo se não fosse trágico para um show desse porte. Ao fim do som, o coro que antes entoava o marcante refrão da canção, passou a gritar um amigável “Ei, Funchal, vai tomar no c*”.
Assumo que por um momento me passou pela cabeça um medo de o show ser interrompido de uma vez por todas por algum motivo de força maior, mas, ao ouvir os primeiros riffs de Postmortem, sabia que a banda continuaria a tocar, esbanjando profissionalismo por não se alterar visivelmente quanto ao ocorrido.
Mais pra frente vieram Temptation e Dittohead, rápida como um som de thrash deve ser.
Na sequência, Stain of Mind, Disciple e Bloodline, que, particularmente, me fizeram esfriar o sangue um pouco. Algumas das músicas mais ‘cadenciadas’ (se é que é possível classificar algum som da banda dessa forma) do Slayer não me agradam muito. Apesar de entender a opção de eles quererem balancear bem as músicas do repertório distribuídas por todos os álbum, preferia que eles tivessem inserido alguma do Hell Awaits (que não teve nenhuma executada durante essa performance) ao invés dessas faixas que acabei de citar. Mas, como gosto é gosto e uma banda que possui uma vasta discografia deve tentar agradar ao máximo a todas as particularidade musicais que apetecem os fãs, entendo essa opção e não criticarei de forma alguma a inserção dessas faixas no set list. Afinal, muitas pérolas ainda estavam por vir, como seria o caso da próxima leva de clássicos, que quase fizeram minhas juntas saírem de órbita, de tanto agitar!
Dead Skin Mask e Hallowed Point do Seasons in the Abyss e The Antichrist, do Show No Mercy vieram para matar de alegria todo bom fã da banda. Com levada tipicamente características da banda, essas músicas são daquelas que só vem a atestar o por que da presença massiva de fãs no show: não há como negar,Slayer é perfeito. E apresentação ainda satisfez muito a maioria do público, que pôde presenciar alçgo histórico, pois houve a participação do excelente guitarrista Gary Holt, do Exodus, substituindo Jeff Hanemann, que se encontra em recuperação da picada de aranha que sofreu há um tempo atrás. E que substituição: ele é um ótimo músico, e, como Kerry King já havia me dito em entrevista exclusiva, se encaixou perfeitamente ao estilo da banda.
E foi exatamente nessas músicas que percebi algo que estava nítido para todos também. Houve algumas pequenas falhas no som. Ora o som estava muito grave, ora um instrumento soava muito mais alto que o outro... Na Dead Skin Mask, por exemplo, que é iniciada com aquela clássica dedilhada alternada entre os guitarristas, só consegui ouvir o som vindo dos amplificadores de Kerry King. Raramente ouvi a guitarra de Holt, que só se fazia notável pra mim quando ele estava nas notas mais agudas de seus solos. Este talvez tenha sido o único ponto um pouco falho do show. De resto, impecável!
Após Americon, do disco novo, vieram outras três tiradoras de fôlego! Payback, Mandatory Suicide e Chemical Warfare, do Haunting the Chapel, primeiro EP da banda! Nessa tríade, novamente pudemos conferir os elementos mais clássicos do Slayer: batidas thrash, conduções tipicamente ‘Davelombardianas’ e refrãos na boca do povo. Em um shows desses eu respiro tanto thrash metal, que chego em casa e simplesmente componho músicas, de tão inspiradora que uma banda como o Slayer é, principalmente ao vivo, quando se vê todas as na pista se movendo e cantando como fossem uma só!
Ghosts of War, a clássica Seasons in the Abyss e Snuff, do ultimo disco, fecharam a parte que antecederia o bis.
Aliás, bis pra ninguém botar defeito. South of Heaven, Raining Blood e Black Magic (sim, eles tocaram Black Magic! Mal pude acreditar na hora) instaurou o caos na platéia, enaltecida com um som consagrado após o outro. Para fechar, um dos hinos do thrash metal, Angel of Death.
Lamento pelos muitos que infelizmente ficaram de fora. Mas, a julgar pelo que foi visto ali naquela noite, ambos, público e banda, não vêem a hora de um momento como aquele se repetir em breve.

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