Nunca fui um fã entusiasta do FOO FIGHTERS e estou entre aqueles que considera Dave Grohl um sensacional baterista e um vocalista nota sete. Alguns críticos dão a ele o título de maior batera da era grunge, outros dizem que ele é o cara que conseguiu tocar com a pegada mais próxima a John Bonham, fabuloso baterista do Led. Concordando ou não com as comparações, penso ser um desperdício Dave não exercer seu enorme talento com as baquetas.
Reza a lenda que Grohl começou na música tocando guitarra aos 11 anos, como autodidata. Sua família decidiu dar uma forcinha bancando aulas, por não aguentar mais ouvi-lo tocar “Smoke On The Water”. A mudança para a bateria aconteceu aos 13 anos, quando o AC/DC, o Motörhead e principalmente o Led Zeppelin, fizeram sua cabeça.
Sobre o Led, Dave disse em uma entrevista: “O Zeppelin era uma das bandas que estava sempre presente, não importava o momento da minha vida. Eles sempre serão a maior banda de rock pesado de todos os tempos. Cada membro era tão incrível individualmente, mas juntos eles conseguiam uma combinação perfeita. Eu lembro de um artigo de um jornal que listava as 10 melhores composições de todos os tempos. Lá estavam Mozart, Beethoven, Wagner, e “Kashmir”, do Led Zeppelin.”.
Dave sempre foi um fã assumido do Led, antes e depois da fama. Já se disse obcecado pela banda, tendo dúvidas se isso é bom ou ruim. Grohl tem três tatuagens em homenagem ao Zep, uma delas com os círculos que simbolizavam o batera John Bonham no referencial disco “Led Zeppelin IV”.
Bonzo sempre foi a referência de Grohl como instrumentista. Isso fica claro no seu jeito de tocar e principalmente na pegada. Ao mencionar Bonham, Dave não poupa elogios ao mestre: “Ele era irresponsável e ousado quando tocava. Claro que sua pegada era incrível, mas ele tinha muito feeling também. Ninguém conseguiu recriar isso, foi algo que somente as mãos e pés de John puderam fazer. O solo de ‘Achilles Last Stand’ é desumano, a bateria de ‘Good Times, Bad Times’ mudou o mundo da música. Se você tem aspirações em ser um baterista, canções como essas são cruciais pra você. Mesmo que não consiga tocá-las, você precisa saber tudo sobre elas.”.
Mesmo conhecendo essa base roqueira de Grohl, meu conceito sobre o FOO FIGHTERS só começou a mudar pra melhor recentemente. Foi ao assistir um ótimo concerto que os caras fizeram para 86 mil fãs em Wembley (07/06/2008), na tour do bom disco “Echoes, Silence, Patience and Grace”.
Enérgicos e tocando um rock’n roll honesto eles começaram a apagar aquela imagem de banda artificial que insistia em aparecer quando escutava suas canções. O show ia bem até o bis, quando alcançou o grau de esplêndido. Ao longo do espetáculo Dave foi dando sinais de que algo mágico iria acontecer: “Hoje vamos fazer o que nunca fizemos, e vai ser explosivo. Esse é o show do qual vocês vão falar nos próximos 20 anos”.
Após cantar “All My Life”, Dave empunhou o microfone, olhou emocionadíssimo para a platéia e agradeceu a galera: “Tocar aqui é uma honra, e se não tirarmos vantagens dessa oportunidade, a maior noite de nossa vida como banda, não será em nenhum outro show”. Às lágrimas, anunciou que haviam preparado algo especial para aquele show durante seis meses, e chamou ao palco seus ídolos John Paul Jones e Jimmy Page, membros do Zeppelin.
Grohl já havia trabalhado com John Paul Jones em um projeto paralelo, da superbanda “Them Crooked Vultures”, mas essa seria sua primeira divisão de palco com Page. O fato de ser um fã declarado da banda e essa ligação com Jonesy certamente ajudaram para que o mago da guitarra também topasse a parada.
Alguns rumores do encontro vazaram durante a semana anterior, mas ninguém acreditava ser possível juntar Jonesy e Page ao FOO FIGHTERS naquela noite. Foi a primeira vez que os dois se encontraram após o histórico concerto em dose única do Led, em 2007. A reunião dos membros remanescentes só não completa porque Robert Plant estava em tour pelos EUA.
“Rock’n Roll”, clássico do Led, veio pesada e intensa, com Dave na batera e o baterista Taylor Hawkins nos vocais. Grohl parecia uma criança feliz e alucinada, tentando reencarnar seu mestre, Bonzo, nas baquetas. Estava realizado por fazer aquilo ao lado daqueles caras. Todas as imperfeições técnicas do encontro (sem ensaios) foram dizimadas pela alegria com que tocavam. A bela “Ramble On” veio em seguida, como sobremesa, com Dave nos vocais.
Na saída dos dinossauros, em meio a fotos e abraços, percebia-se pela fisionomia dos caras do FOO FIGHTERS que um sonho havia se realizado. Grohl ainda teve fôlego para gritar à platéia: “Bem vindos ao dia mais maravilhoso da minha vida”.
Dias depois, ao falar sobre aquele momento espetacular, Dave era um misto de felicidade e preocupação: “Se eu gostei do show? Sim e não. Eu estava muito nervoso antes. Convenhamos, estávamos com Jimmy Page e John Paul Jones no palco... Foi uma noite incrível, com uma grande platéia. Como eu não poderia ficar excitado com isso? Entretanto agora vem a questão: para onde iremos daqui em diante?”.
Coincidência ou não, no último disco do FOO FIGHTERS, “Wasting Light”, Grohl chamou seu ex-parceiro deNirvana, Kris Novoselic, para participar da faixa “I Should Have Known”. Talvez tenha sido a maneira de Dave continuar prestando reverência a todos os que fizeram parte de sua vida roqueira. Ele certamente escolheu o caminho certo.
Abaixo, o estupendo vídeo do encontro naquele show. Maravilhoso para Grohl, histórico para o rock’n roll.
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