O Claustrofobia, mais conhecidos como ‘Metal Malóka’ batalham na cena desde 1994 e é uma das banda de thrash da atualidade que melhor representa o país no exterior. Perto de encerrar as gravações de seu próximo álbum de estúdio, intitulado “Peste”, a banda concedeu uma entrevista exclusiva ao Whiplash!, contando desde seu início na cena até os dias de hoje, com a finalização de seu disco vindouro. Confira o que Marcus D’Angelo (guitarra e vocais), Alexandre De Orio (guitarra), Daniel Bonfogo (baixo e backing vocals) e Caio D’Angelo (bateria) nos contaram durante esse bate papo com a nossa redatora.
Marcus D’Angelo: Nossa, muita coisa! Musicalmente a gente já desenvolveu um estilo próprio de tocar e compor. Mas, na verdade, estamos nos desenvolvendo ainda, constantemente... A cada disco lançado damos um passo grande em relação a isso. E estamos perto do que sempre foi nosso objetivo, que é tentar fazer algo original, descobrir um som que seja nosso! Isso tudo sem contar o que a gente mudou pessoalmente... Aprendemos muito com todo esse processo, com as turnês, viagens e fases da banda. É uma evolução natural: a gente gosta da coisa e por isso vamos mudando com o tempo.
Marcus: Bom, no “Claustrofobia” a gente ainda era tudo moleque e não tínhamos experiência nem nada, só muita vontade de tocar. Por isso o som nessa época nem era tão direcionado, tão a cara da banda. Já no seguinte, “Thrasher”, aí sim a gente já tava afiado nas composições e já tínhamos meio que definido os elementos que fariam parte da nossa música. Nele a gente se achou como banda.
Daniel: Por isso que tem muita gente que acha que ele é o que mais tem a cara do Claustrofobia, o que mais representa a gente.
Caio: Daí quando chegaram o “Fulminant” e o “I See Red” a gente desgraçou tudo, enchemos de fúria e agressividade! Quebramos tudo!
Marcus: Acho que no disco novo também foi assim! (risos)
Em minha opinião vocês já alcançaram um patamar bem legal na cena, tanto que no meu ranking pessoal de melhores bandas do Brasil hoje em dia, vocês estão entre os primeiros! Na opinião de vocês, dá pra conquistar um patamar ainda maior?
Marcus: Bom, acho que respeito a gente já conseguiu, mas ainda queremos cada vez mais conquistar mais público, chegar ao ouvido de mais pessoas, divulgar mais ainda nosso trabalho e assim evoluir a estrutura da nossa banda para podermos fazer um show melhor para o fã!
Caio D’Angelo: Acho que temos que continuar caminhando dessa forma, porque tudo acaba vindo na hora certa.
Marcus: Isso mesmo, tudo tem sua hora certa e não gostamos de dar passos maiores do que podemos. A gente curte fazer tudo com o pé no chão, o que é mais difícil, mas ao mesmo tempo mais concreto.
Vocês parecem ter uma base sólida de fãs na Europa, já que puderam tocar algumas vezes por lá. Como é a recepção da banda pelo público de lá?
Marcus: É bem legal. Cada lugar é de um jeito diferente, mas todos têm a mesma coisa comum que é curtir metal, e headbanger é tudo igual! Mas cada local tem a sua cultura: uns são frios, mas prestam atenção pra caralho na música, enquanto outros são mais selvagens. Mas o diferente mesmo é que na Europa tem mercado para o metal, as pessoas estão acostumada com a música pesada por lá. E quando a banda é brasileira, todo mundo fica mais curioso para ver o que vai acontecer.
Caio: E o legal é que a galera vai ao show para apoiar mesmo, compra os merchan... Eles apóiam qualquer que seja a banda que estiver tocando!
Daniel Bonfogo: E rola uma curiosidade dos caras lá em conhecer bandas brasileiras, por causa da selvageria que costuma ser o som daqui e isso, em minha opinião, é o que mais diferencia as bandas daqui das bandas de lá!
Marcus: Basicamente a diferença entre aqui e lá é a cultura e a situação financeira também! (risos)
Daniel: Se bem que dentro da própria Europa tem países que são muito diferentes uns dos outros. Tem aqueles que são de primeiro mundo, mas tem também uns que são bem Brasilzão, viu? Tipo Polônia, Romênia... Esse público do Leste Europeu é o que mais se parece com o nosso aqui!
Marcus: Aqui o público é maravilhoso! E todo mundo tá na correria: desde o público até as bandas! (risos) Mas isso é legal porque assim a gente aprende a dar valor para o que tem. Acho que se tudo caísse do céu, de mão beijada, o público nem o nosso som teriam a energia que têm. Sobre as diferenças ainda, aqui a gente já tem uma história maior construída junto com os fãs, lá fora ainda falta, a gente está plantando ainda!
Eu, como headbanger, penso que um dos maiores prazeres em se ter uma banda seja tocar ao lado de bandas que foram influência pros integrantes, e vocês com certeza já tocaram com grandes nomes. Dentre todas, qual foi a que mais marcou cada um de vocês?
Marcus: Nossa! Soulfly, Sepultura, Napalm Death com quem a gente tocou duas vezes e é uma banda que a gente é muito fã...
Daniel: Até o próprio Krisiun e outras bandas do underground que a gente curte e que gosta de tocar, como o Torture Squad.
Marcus: Cada show tem sua história, seu valor, mas é sempre foda tocar com bandas que você curtia quando era moleque.
Mas tem alguma banda que vocês ainda sonham em tocar junto, tipo o meu em tocar com o Coroner? (risos)
Daniel: Slayer!
Já que vocês tocaram no assunto agora há pouco, eu queria que vocês falassem sobre como foi tocar com o Soulfly logo no começo da carreira de vocês, uma vez que, pelo menos pelo que eu percebo no som do Claustrofobia, vocês parecem ter bastante influência deles e do Sepultura.
Marcus: Foi do caralho! Na época nós ainda nem tínhamos CD lançado! Mas foi uma oportunidade que apareceu, acho que por já termos uma certa correria na cena: a galera já conhecia, já tínhamos uma demo bem falada e através de uma indicação, rolou! Muita gente acha que a gente pagou, mas a verdade é que a banda nunca pagou pra tocar. Foi do caralho a gente lá, tudo moleque, vendo o Max. Foi um show importante!
Caio: Tem gente que conheceu e lembra da gente até hoje por causa desse show.
Vocês já participaram de vários programas de TV há alguns anos, como o Musikaos, o Riff e o Fúria MTV e hoje em dia quase não temos programas em canais abertos para o gênero.
Caio: Com certeza seria bom que ainda tivesse. Seria melhor!
Marcus: Mas para esse tipo de coisa teria que ter alguém que tivesse culhão, que desse o sangue mesmo pra fazer isso acontecer pro metal. Se bem que hoje em dia com a Internet, tudo ficou mais fácil, todo mundo pode postar e ver o que quiser sobre as bandas, então não acho que perdemos muito!
Agora vamos falar um pouco sobre o novo álbum que está sendo gravado, “Peste”. Vocês divulgaram uma nota à imprensa recentemente anunciando que esse disco seria todo cantado em português. É claro que vocês já vêm fazendo isso em uma música ou outra há muito tempo, mas como decidiram fazer um CD inteiro com letras em português?
Daniel: Não foi do nada que pensamos em fazer algo do tipo. Não chegamos um dia um pro outro e dissemos “E se a gente fizesse um disco em português?”. Essa é uma idéia que temos faz muito tempo, mas que fomos alimentando até chegar no “Peste”, quando a gente achou que seria a hora certa.
Marcus: Bom, o motivo que levou a gente a gravar assim é bem simples: fazer algo especial para os fãs brasileiros. A nossa intenção cantando em português é fazer com que eles se sintam representados quando ouvirem as músicas. Foi uma forma que encontramos de homenagear a galera brasileira que curte a gente.
Daniel: Não só o pessoal do Brasil vai sentir isso, mas acho que todo o pessoal dos países latinos.
Vocês acham que esse diferencial pode ter um apelo comercial diferente nos países estrangeiros?
Marcus: Olha, eu acho que nada no lance comercial vai mudar. Tipo, nenhuma gravadora vai desembolsar uma grana maior e investir mais pesado por causa disso, sabe? Mas eu acho sim que as pessoas lá fora vão gostar, porque sem dúvida vai ser uma coisa diferente pra eles. Mas eu quero deixar claro que não foi uma coisa que planejamos, não foi intencional soar diferente pra atrair mais fãs. Como nós falamos, foi algo natural, a gente quis fazer assim e pronto.
Daniel: Eu concordo. Na Europa, quem se liga bastante nesses elementos diferentes é o pessoal da Finlândia.
Quando leio e ouço as letras do Claustrofobia, eu percebo que quando as letras são em inglês, vocês falam mais sobre temas políticos, sobre o quanto estão indignados com muito do que vem acontecendo por aí. Mas quando as letras são em português, acho que elas soam com um tom mais pessoal, quase que intimidando, ‘chamando pro pau’ seus inimigos, como na “Tiro de Meta”, que vocês falam algo do tipo “Vai tomar chute no cu porque é vacilão!”. Já que esse álbum vai ser todo em português, podemos esperar algo mais puxado para esse último exemplo?
Marcus: Verdade isso que você falou! (risos) Mas acho que no disco novo a gente conseguiu colocar um pouco de tudo nas letras. As músicas são em português, mas não vamos ficar só nesse ‘tom mais pessoal’. Como eu disse, tem um pouco de tudo! Tem protesto, tem indignação, tem desabafo... Olha, vou te falar que eu acho que esse vai ser o álbum com as letras mais legais! Foi muito legal compor cada uma das letras e tal!
Caio: Sem contar que a gente se sentiu um pouco mais a vontade pra escrever, porque a gente ta compondo na nossa língua materna.
Daniel: É, em português fica muito mais fácil de vocês botar tudo pra fora, de se expressar.
Ainda falando sobre o conteúdo lírico, eu peguei para analisar algumas composições de vocês e pude perceber como elas são atuais e condizem com muita coisa que vem acontecendo pelo mundo, como na “Natural Terrorism” que narra a natureza se voltando contra o homem e percebi que pode ser aplicada em várias situações recentes, inclusive na tragédia do mês passado no Japão...
Caio: É, a gente simplesmente relatou coisas que já vêm acontecendo faz tempo e agora estão se agravando, ficando cada vez pior, muitas vezes por causa do homem, que destrói tudo em troca de grana e poder.
Eu lembro que li no encarte de “I See Red” que ele foi gravado em apenas catorze dias. Vocês diriam que “Peste” está indo no mesmo ritmo?
Marcus: Se duvidar está até mais rápido! (risos) Já praticamente terminamos as gravações. A gente já chega no estúdio quebrando tudo!
Quais são os planos futuros da banda?
Marcus: Terminar o “Peste”, mas continuar divulgando o “I See Red”. A gente ainda precisa trabalhar melhor em cima desse disco.
Alexandre De Orio: Além disso, continuar tocando, fazendo o máximo de shows possível.
Tem algum lugar que vocês não tocaram ainda, mas gostariam?
Marcus: Sim. Além de lugares como Estados Unidos, temos várias cidades aqui no Brasil que ainda não tivemos oportunidade de ir.
Alexandre: Isso mesmo, como Belo Horizonte, Porto Alegre...
Daniel: No sul a gente tocou bem pouco mesmo. Mas isso não desanima, porque tem vários outros lugares que a gente tocou e os shows foram incríveis.
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