por Carlos Eduardo Garrido
Publicado originalmente no Café com Ócio.
Será que o encanto por certo estilo de música ocorre de forma racional ou puramente passional? A maioria das pessoas desenvolvem seu “gosto” com o decorrer do tempo, conforme vão amadurecendo e formando sua própria personalidade. Já outras simplesmente gostam de tudo, rotulam-se então como ecléticas. Alguém eclético, teoricamente aprecia o melhor de cada coisa, possui um gosto refinado, escolhendo o que mais lhe agrada, independente de qual grupo pertença. Para muitos a maioria das pessoas que se denominam assim, na verdade, não tem gosto próprio, então acharam o substantivo bastante apropriado para disfarçar sua falta de personalidade própria...
Mas será que esse gosto tem haver com a cultura, intelecto, repertório de vida ou qualquer outra coisa do tipo? Poderíamos tentar dizer que tem haver com a educação que a pessoa teve no decorrer da sua vida. Mas até onde eu sei são poucas as pessoas que ouvem o mesmo som que seus pais, ou pior ainda, que ouvem as mesmas musicas que seus professores. Que, ao menos, em teoria seriam seus educadores. Mas possivelmente o grande instrutor musical é a mídia, principalmente para os jovens. Seja há dez anos atrás ou daqui a vinte anos, é provável que a grande mídia continue ditando como deve ser o “gosto” das pessoas. E não só o gosto musical, já que os meios de comunicação ditam também como você deve se vestir, como deve ser seu tipo físico e como se comportar em cada situação.
Porém, em grande parte dos casos, as pessoas desenvolvem encanto por estilos que vão além daquilo exposto pela imprensa. Por exemplo, o tenebroso funk carioca nutria grande número de admiradores, mesmo antes de ganhar repercussão na mídia. O que dizer dos inúmeros fãs de Jazz ou música erudita? São raras as vezes que esses estilos são vistos na TV ou ouvidos nas rádios. A mesma coisa ocorre com o Blues e com o Heavy Metal. Mas o que torna essa discussão ainda mais complexa é: como as pessoas chegam a esses estilos mais desconhecidos? A resposta mais óbvia seria por intermédio de amigos. Mas aí eu lhe pergunto: como esses amigos descobriram essas canções? Por outros amigos, acredito eu. Na verdade isso se torna uma grande rede de pessoas que passam a conhecer novas musicas, talvez até por acaso, acabam gostando do que ouvem, e passam adiante. O próximo também gosta e passa para outro que passa para outro. É a clássica propaganda boca-a-boca.
Isso me faz pensar até que, talvez, você ame ouvir ópera, mas ainda não saiba. Pois ela ainda não lhe foi apresentada, a rede ainda não passou por você. Se um dia ela vir a passar, você pode virar um grande fã do estilo.
No meu caso, por exemplo, o gosto musical não seguiu lógica alguma, pelo menos ao meu ver. Quando era pequeno, assim como nove entre dez pessoas que eram crianças nos anos 80, o que eu ouvia eram clássicos da música mundial, como XUXA, SERGINHO MALANDRO, TREM DA ALEGRIA entre outros menos cotados. Claro, sem deixar de citar, os magníficos discos do JASPION, JIBAN e principalmente do JIRAYA, que eu tinha em fita K7 e que, para tristeza de meus pais, eu sempre queria ouvir no carro junto com eles...
Depois que fiquei um pouco mais velho desenvolvi gosto pelo Reggae de nomes como CIDADE NEGRA, SKANK (que naquela época ainda não tinha surtado por ser parecido com os BEATLES), PATO BANTON e INNER CIRCLE. Ouvindo essas coisas, passei grande parte da minha infância e pré-adolescência. Até que um belo dia resolvi pedir de aniversário um CD do RED HOT CHILLI PEPPERS ou então um do IRA!, não especifiquei qual dos dois, aquele que encontrassem na loja poderia comprar. Nesse caso foi apresentado a essas bandas por intermédio da mídia. Ambos os grupos tinham seus clipes passando de meia em meia hora na MTV. Era época do “Californication” e do “MTV Ao Vivo” respectivamente. Ganhei o do CHILLI PEPPERS. E adorei aquele disco. Pouco tempo depois um primo meu adquiriu o álbum “Meninos da Rua Paulo” do IRA!. Então o monstrinho do rock estava implantado em nossas veias, ou será, que ele sempre esteve lá e somente foi despertado a partir de então? Não demorou e vieram discos do Green Day, FOO FIGHTERS e até um do NIRVANA.
Mas a grande mudança ainda estava por vir. De algum lugar desconhecido da mente humana, meu irmão sentiu vontade de comprar alguma coisa do METALLICA. Foi até a loja e pediu uma dica para o vendedor de que álbum deveria comprar para começar a conhecer a banda. O vendedor sugeriu o “Black Album”. Meu irmão aceitou a sugestão. Daí pra frente o resto é história. Comecei a ouvir OZZY, BLACK SABBATH, BLIND GUARDIAN, ANGRA, SAVATAGE, Iron Maiden, SLAYER, RAMMSTEIN, MANOWAR e muito, muito mais coisa. Tanto que até hoje continuo conhecendo bandas novas (não necessariamente novas de estrada, mas novas para mim).
Mas voltando ao assunto principal, se alguém enxergar alguma lógica entre sair do Reggae e chegar ao Heavy Metal, por favor, me explique! E como a maioria das pessoas, tive influência da mídia, durou pouco tempo, é verdade, mas tive. Agora ouço coisas que a televisão nunca pensou em exibir na vida. O que é uma pena, pois adoraria ver minhas bandas favoritas na TV.
E você, acredita que possa existir alguma lógica na formação dos gostos musicais das pessoas? Como foi o seu desenvolvimento musical, compartilhe conosco.
Publicado originalmente no Café com Ócio.
Será que o encanto por certo estilo de música ocorre de forma racional ou puramente passional? A maioria das pessoas desenvolvem seu “gosto” com o decorrer do tempo, conforme vão amadurecendo e formando sua própria personalidade. Já outras simplesmente gostam de tudo, rotulam-se então como ecléticas. Alguém eclético, teoricamente aprecia o melhor de cada coisa, possui um gosto refinado, escolhendo o que mais lhe agrada, independente de qual grupo pertença. Para muitos a maioria das pessoas que se denominam assim, na verdade, não tem gosto próprio, então acharam o substantivo bastante apropriado para disfarçar sua falta de personalidade própria...
Mas será que esse gosto tem haver com a cultura, intelecto, repertório de vida ou qualquer outra coisa do tipo? Poderíamos tentar dizer que tem haver com a educação que a pessoa teve no decorrer da sua vida. Mas até onde eu sei são poucas as pessoas que ouvem o mesmo som que seus pais, ou pior ainda, que ouvem as mesmas musicas que seus professores. Que, ao menos, em teoria seriam seus educadores. Mas possivelmente o grande instrutor musical é a mídia, principalmente para os jovens. Seja há dez anos atrás ou daqui a vinte anos, é provável que a grande mídia continue ditando como deve ser o “gosto” das pessoas. E não só o gosto musical, já que os meios de comunicação ditam também como você deve se vestir, como deve ser seu tipo físico e como se comportar em cada situação.
Porém, em grande parte dos casos, as pessoas desenvolvem encanto por estilos que vão além daquilo exposto pela imprensa. Por exemplo, o tenebroso funk carioca nutria grande número de admiradores, mesmo antes de ganhar repercussão na mídia. O que dizer dos inúmeros fãs de Jazz ou música erudita? São raras as vezes que esses estilos são vistos na TV ou ouvidos nas rádios. A mesma coisa ocorre com o Blues e com o Heavy Metal. Mas o que torna essa discussão ainda mais complexa é: como as pessoas chegam a esses estilos mais desconhecidos? A resposta mais óbvia seria por intermédio de amigos. Mas aí eu lhe pergunto: como esses amigos descobriram essas canções? Por outros amigos, acredito eu. Na verdade isso se torna uma grande rede de pessoas que passam a conhecer novas musicas, talvez até por acaso, acabam gostando do que ouvem, e passam adiante. O próximo também gosta e passa para outro que passa para outro. É a clássica propaganda boca-a-boca.
Isso me faz pensar até que, talvez, você ame ouvir ópera, mas ainda não saiba. Pois ela ainda não lhe foi apresentada, a rede ainda não passou por você. Se um dia ela vir a passar, você pode virar um grande fã do estilo.
No meu caso, por exemplo, o gosto musical não seguiu lógica alguma, pelo menos ao meu ver. Quando era pequeno, assim como nove entre dez pessoas que eram crianças nos anos 80, o que eu ouvia eram clássicos da música mundial, como XUXA, SERGINHO MALANDRO, TREM DA ALEGRIA entre outros menos cotados. Claro, sem deixar de citar, os magníficos discos do JASPION, JIBAN e principalmente do JIRAYA, que eu tinha em fita K7 e que, para tristeza de meus pais, eu sempre queria ouvir no carro junto com eles...
Depois que fiquei um pouco mais velho desenvolvi gosto pelo Reggae de nomes como CIDADE NEGRA, SKANK (que naquela época ainda não tinha surtado por ser parecido com os BEATLES), PATO BANTON e INNER CIRCLE. Ouvindo essas coisas, passei grande parte da minha infância e pré-adolescência. Até que um belo dia resolvi pedir de aniversário um CD do RED HOT CHILLI PEPPERS ou então um do IRA!, não especifiquei qual dos dois, aquele que encontrassem na loja poderia comprar. Nesse caso foi apresentado a essas bandas por intermédio da mídia. Ambos os grupos tinham seus clipes passando de meia em meia hora na MTV. Era época do “Californication” e do “MTV Ao Vivo” respectivamente. Ganhei o do CHILLI PEPPERS. E adorei aquele disco. Pouco tempo depois um primo meu adquiriu o álbum “Meninos da Rua Paulo” do IRA!. Então o monstrinho do rock estava implantado em nossas veias, ou será, que ele sempre esteve lá e somente foi despertado a partir de então? Não demorou e vieram discos do Green Day, FOO FIGHTERS e até um do NIRVANA.
Mas a grande mudança ainda estava por vir. De algum lugar desconhecido da mente humana, meu irmão sentiu vontade de comprar alguma coisa do METALLICA. Foi até a loja e pediu uma dica para o vendedor de que álbum deveria comprar para começar a conhecer a banda. O vendedor sugeriu o “Black Album”. Meu irmão aceitou a sugestão. Daí pra frente o resto é história. Comecei a ouvir OZZY, BLACK SABBATH, BLIND GUARDIAN, ANGRA, SAVATAGE, Iron Maiden, SLAYER, RAMMSTEIN, MANOWAR e muito, muito mais coisa. Tanto que até hoje continuo conhecendo bandas novas (não necessariamente novas de estrada, mas novas para mim).
Mas voltando ao assunto principal, se alguém enxergar alguma lógica entre sair do Reggae e chegar ao Heavy Metal, por favor, me explique! E como a maioria das pessoas, tive influência da mídia, durou pouco tempo, é verdade, mas tive. Agora ouço coisas que a televisão nunca pensou em exibir na vida. O que é uma pena, pois adoraria ver minhas bandas favoritas na TV.
E você, acredita que possa existir alguma lógica na formação dos gostos musicais das pessoas? Como foi o seu desenvolvimento musical, compartilhe conosco.
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