5 de maio de 2011

D.R.I.: entrevista exclusiva com fundadores da banda

No último dia 17 de abril, a banda de crossover thrash americana D.R.I., pioneiros no gênero, fizeram um excelente show em São Paulo. Antes do início da apresentação, os fundadores da banda Kurt Brecht (vocais) e Spike Cassidy (guitarra) nos concederam com exclusividade uma agradável entrevista. Confira o que os caras nos falaram sobre o início da banda, vendas de discos e crowd surfs com portas!


O D.R.I. é originalmente do Texas, enquanto a maioria das bandas de thrash dos anos oitenta nasceu na Califórnia. Como era a cena no Texas quando vocês começaram?
Kurt Brecht: Bem, quando nós começamos no Texas, curtíamos e vínhamos de uma cena bem hard core e então não sabíamos como era a cena metal por lá, já que as bandas desse estilo não tocavam nos mesmos lugares que tocávamos.
E quais eram suas influências naquela época? Quais bandas vocês costumavam ouvir e então colocar elementos delas em suas músicas?
Kurt: Bandas de hard core da Califórnia, nadas de hard core do Texas, bandas de Washington D.C., como Minor Threat e Misfits de Nova Iorque, Bad Brains.
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Falando em Misfits, vocês tocaram com eles no Abril Pro Rock aqui em Recife há alguns dias atrás. Como foi o show?
Kurt: Eu sempre gostei deles e o show foi ótimo. É difícil de descrever, sabe... Vimos o show de graça, tínhamos passes para o backstage. Muito legal!
Nesse mesmo festival você tocou junto a algumas bandas brasileiras. O que você achou delas?
Kurt: Sim, tocamos com o Violator e algumas outras bandas. Eles são bons.
E quanto ao público de lá? Qual sua opinião?
Kurt: Eles tem sido loucos todas as noites, mas acho que em São Paulo será o melhor lugar de todos! (N. da R.: A entrevista foi conduzida minutos antes do show em São Paulo começar). Mas todas as noites têm sido legais.
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Voltando um pouco novamente ao passado da banda, por que vocês decidiram sair do Texas e ir para São Francisco?
Kurt: Outras bandas como Verbal Abuse já tinham ido para lá e morado lá por um tempo e nos disseram: “Vocês deviam ir para lá! As pessoas darão mais atenção para a banda lá”. O Texas tinha pouco espaço para a cena, e em algumas semanas já tínhamos tocado em todos os lugares possíveis e então todas as pessoas já tinham visto a banda um milhão de vezes, pois tocávamos a toda hora. Em São Francisco isso não ocorreria durante um bom tempo.
Muitos dizem, e eu concordo, que vocês criaram um estilo de música, o crossover thrash, que influenciou várias bandas. Qual seu sentimento em relação a isso?
Kurt: É maravilhoso! O fato de termos criado um estilo que influenciou bandas como Hatebreed e Anthrax, que também fizeram com que o estilo fosse cada vez mais adiante, é muito gratificante. Se contar que nós fomos influenciados também. Eles mesclaram o metal com uma vertente mais agressiva e rápida e nós viemos do thrash e passamos a misturar com elementos mis característicos do metal. Estamos todos juntos na cena: tocamos juntos em alguns shows e chegamos até a pertencer às mesmas gravadoras por um tempo.
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Quando eu ouço os álbuns da banda, eu percebo que há claramente uma evolução nas músicas. No primeiro disco, “Dirty Rotten EP” vocês têm 22 músicas em 18 minutos, e nos próximos, como “Dealing with It” e “Crossover”, vocês já passam a mesclar thrashcore, com crossover e elementos de metal. Como você analisaria essas mudanças?
Kurt: Bom, na época em que aparecemos com o “Crossover” já estávamos fazendo bastante turnês, tínhamos algo como 50 músicas, todas muito pequenas e rápidas, e então começamos a achar que precisávamos acrescentar algo entre aquelas músicas, para torna-las mais interessantes. Em Nova Iorque as bandas começaram a inserir passagens mais lentas, mas pesadas e trabalhadas e mesmo assim as pessoas continuavam agitando as músicas, mesmo que de uma forma mais lenta, e nós passamos a gostar daquilo e de bandas como Slayer e Metallica.
Spike Cassidy: Foi também uma evolução que ocorreu por estarmos ouvindo bandas novas. No começo só escutávamos bandas como Dead Kennedys, Circle Jerks e Black Flag, Minor Threat e por isso tendíamos a tocar sons curtos e rápidos. Mas quando passamos a ouvir Slayer e Metallica, que gostávamos muito, começamos a compor de forma diferente.
Há uma pergunta que sempre direciono às bandas e que eu sei que é bem difícil de ser respondida. Mesmo assim, gostaria de saber de vocês qual álbum vocês acham que melhor descreve a banda?
Kurt: Hum... Acho que “Dealing with It” é o mais clássico, porque nele nós regravamos as músicas antigas, mas também acrescentamos algo de diferente, mais metal, nelas. Com ele, headbangers começaram a aparece em nossos shows dizendo que tocávamos metal, e eu falava “Sério?”. Então eu diria que seria o “Dealing” que melhor nos descreve, pois ele é o álbum que contém maior variedade de estilos.
Spike: É realmente difícil escolher apenas um que melhor descreva a banda, mas eu também fico com o “Dealing with It”, porque é um álbum que mistura bem o punk e o metal. Digamos que ali você encontra 50% de cada um deles.
O que eu acho interessante em seus shows é que vocês atraem diferentes tipos de público. Quando assistimos ao “Live at the Ritz”, por exemplo, podemos ver punks, headbangers...
Kurt: É perfeito para nós, pois podemos tocar em vários lugares diferentes. Por exemplo, só no ano passado fomos headliners de um festival de punk, depois de um de hard core e depois de um de death metal. Então para nós é muito legal que haja essa mistura. Assim atingimos um número maior de pessoas com o nosso trabalho.
Quão diferente vocês acham que a cena é desde quando vocês começaram a tocar até hoje?
Kurt: Eu acho que agora é mais homogênea e não tão segregada. Antes era tudo mais separado. Se você ia a um show de hardcore dificilmente encontraria um headbanger cabeludo, mas hoje em dia isso se tornou mais aceitável.
Spike: Antes era complicado mesmo. O pessoal se preocupava muito com essa coisa das ‘tribos’. Hoje em dia as pessoas se importam mais com a música e com se divertir.
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Por que vocês passaram tanto tempo sem lançar um álbum?
Kurt: Nós simplesmente passamos muito tempo em turnê. Quando lançamos o “Full Spead Ahead” passamos três anos viajando sem parar. E é assim que tem sido: você volta da Europa e te querem viajando pelo Japão, então quando você volta pra casa já tem que se preparar para ir à América do Sul... Sem contar que demora muito gravar um disco, esperar ele ser lançado e só depois cair na estrada. Então, depois de passarmos um tempo parados, optamos por aproveitar o máximo de novo o tempo que passamos viajando pelo mundo.
Mas, no momento, vocês têm planos de voltar a compor algo para um futuro trabalho?
Kurt: Sim, mas cada coisa tem seu tempo. Não é simplesmente chegar no estúdio e gravar o álbum.
Em 2004, por que vocês lançaram uma faixa demo online, chamada “Against Me”, que saiu do ar pouco tempo depois?
Kurt: Bem, gravamos aquela música em um dia de folga durante uma turnê na Europa. Nós tínhamos umas quatro músicas novas prontas, mas só tivemos tempo de colocar os vocais em uma e por isso ela foi lançada. Mas o tempo era muito curto para compor, gravar e lançar um álbum novo.
Spike: Sem contar que hoje em dia temos um grande problema acontecendo em relação aos discos. Uma pessoa compra e em segundos milhares tem acesso a ele gratuitamente. Há um custo muito alto em gravar um disco e ninguém compra mais hoje em dia, então você não tem seu dinheiro de volta, não há um retorno financeiro. Não sobreviveríamos apenas com o valor da venda de discos, mas com o dinheiro de uma turnê, isso é possível, e é por isso que fazemos isso. Não é que eu seja contra o download e a Internet. Eu acho que a Internet trouxe muitas coisas boas que não tínhamos antigamente, como uma maior exposição do nosso trabalho, porque mais pessoas acabam ouvindo e também que podemos postar facilmente vídeos e informações sobre a banda. Isso é bom! O que eu quero dizer é que não é possível mais sobreviver apenas de discos, pois você demora muito para receber seu dinheiro de volta. Sem contar que tocamos muito de nosso material antigo e muito pouco de discos mais recentes, porque as mais velhas têm mais impacto sobre o público ao vivo. Às vezes eles nem conhecem os sons recentes que tocamos! (risos) Então damos ao público o que eles querem!
Como vocês, especialmente você, Spike, se sentem voltando aos palcos depois de passar por um período tão difícil, como o que ocorreu há um tempo atrás? (N. da R.: O guitarrista Spike descobriu, tratou e curou um câncer em meados de 2007, o que fez com que a banda desse uma pausa em suas atividades)
Spike: Nossa, eu senti muita falta disso tudo que estou vivendo agora!
Kurt: Sem contar que passamos um tempo exercendo profissões comuns, até que pudéssemos voltar às turnês.
E como tem sido a resposta dos fãs ao retorno de vocês?
Spike: Tem sido maravilhoso! A cena do thrash se renovou bastante e hoje em dia vemos muitos jovens adolescentes que vem e nos falam “Não pude ver vocês antes porque tinha dez anos. Agora sou velho o bastante para vê-los ao vivo e entrar no show!”.
Exatamente sobre isso que eu gostaria de comentar. Eu, por exemplo, nasci em 1989, quando vocês já estavam há muito tempo tocando. Assim como eu, vários fãs de cerca de vinte anos de idade estavam ansiosos para vê-los ao vivo pela primeira vez. Como vocês se sentem em relação a isso?
Kurt: Eu amo! Agora eles podem finalmente ver a gente tocar!
Spike: Sem eles, não sobreviveríamos! Sem nossos fãs novos, talvez não houvesse tantos shows, pois boa parte dos nossos fãs antigos já não podem mais comparecer, pois estão enroscados com seus trabalhos, estão casados, têm filhos...
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Vocês tocaram em praticamente todos os continentes, visitando vários países ao redor do mundo. Qual público você acha que é o mais louco?
Spike: Nós recentemente tocamos durante três semanas na Europa, e os fãs mais impressionantes foram os da Grécia, Espanha, Bulgária, Turquia... Todos os lugares são muito legais, pra falar a verdade. Eu, particularmente gosto quando não tem grade separando o público da gente, pois assim eles podem se divertir dando stage dives.
Infelizmente hoje nós teremos grade aqui!
Spike: Mas talvez seja melhor, porque hoje, pelo que eu percebi, vai ter bastante gente. E porque também vocês da América do Sul costumam ser bem ativos! (risos) Ah, o pessoal no México também são bem selvagens!
Já que vocês consideram o público latino tão legal e já que costumam ter bastante gravações ao vivo, porque não lançam alguma registro dos shows nesses países?
Spike: Bem, nós temos medo de lançar e ninguém comprar! (risos) Estou brincando! Mas então, nós estamos há um bom tempo gravando shows ao redor do mundo, mas a maioria das gravações não sai muito legal. Mas, quando eventualmente sai algo legal, guardamos e vamos acumulando para futuramente lançarmos sim um DVD com essa compilação. Na verdade, estamos planejando algo do tipo no momento, para celebrar nosso aniversário de 30 anos de banda!
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Uma vez eu entrevistei o Municipal Waste e o vocalista Tony Foresta me disse que em um determinado show, as pessoas fizeram crowd surf com um sofá! Vocês têm alguma historia curiosa ou engraçada relacionada a turnês e seus shows?
Kurt: Houve vezes que começamos a tocar tão rápido e que as pessoas começaram a ficar tão loucas, que os shows tiveram de ser interrompidos lá pela terceira música, ou porque a polícia chegava e fechava tudo, ou porque os equipamentos ficavam danificados por algum motivo, ou porque pessoas começaram a se machucar.
Spike: Em alguns shows já vimos as pessoas fazendo stage dives com portas, com barcos infláveis e todo tipo de coisas estranhas que você possa imaginar. Ou senão pode até acontecer coisas como o que houve quando tocamos a alguns dias em Belo Horizonte. O nosso baixista Harald falou algo como “Esse palco agora também é de vocês” no microfone, e então dezenas de pessoas subiram lá com a gente e começaram a agitar, tocar air guitars, gritar nos nossos ouvidos coisas como “Eu te amo!!”, a tirar fotos conosco enquanto estávamos tocando... Eu tenho gravado, deixa eu te mostrar! (N. da R.: Nesse momento, Spike me mostra um vídeo em seu IPhone do show de Belo Horizonte, onde cerca de trinta pessoas estavam no palco!) Você consegue achar alguém da banda aí no meio da galera? (risos) E te digo que já teve piores! Uma vez tocamos em uma arena onde centenas de pessoas subiram ao palco e tivemos que parar o show.
Ok, pessoal! Eu gostaria de agradecer...
Spike: Ah, a entrevista já acabou? Que pena! (risos) Antes de terminarmos, então, gostaria de mandar um recado especial para os fãs. Eu gostaria de agradecer vocês pelo apoio de quase trinta anos que vocês vêm nos dando. Este ano, graças a isso vamos toca em lugares na Ásia e na Rússia onde nunca tocamos antes, e não vemos a hora de nos apresentar pra essas pessoas que nunca nos viram antes. Prometemos, também, vir à América do Sul e ao Brasil mais vezes daqui em diante! Mais uma vez, muito obrigado pelo apoio de todos vocês!
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Fotos da banda no Carioca Club de São Paulo, por Fernanda Lira

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