Não há adolescente que não tenha desejado ser um astro do rock e ter seu próprio reino no mundo da música, no entanto, a maioria percebe logo não ter a potência e o ataque vocal do RONNIE JAMES DIO e BRUCE DICKINSON, ou a atitude do OZZY OSBOURNE ou ROBERT PLANT, bem como, não estar cercado por amigos tão talentosos, e com tanta musicalidade, quanto TONY KAYE, PETER BANKS, TONY BANKS, PETER GABRIEL ou MIKE RUTHERFORD.
Mesmo assim, como aconteceu comigo, alguns passam a se dedicar ao estudo da música e, diante de nós, descortina-se um fantástico mundo novo, no meu caso, fui do erudito ao popular, tomei contato com AGUSTÍN BARRIOS, BADEN POWELL, ANÍBAL ALGUSTO SARDINHA (GAROTO), FRANK ZAPPA e MAHAVISHNU ORCHESTRA, passei a compreender a musicalidade do YES, GENESIS e PINK FLOYD, e todo aquele estilo enriquecedor e emblemático do rock progressivo.
Nos anos 80 tive o privilégio de presenciar o advento de grandes guitarristas, baixistas e bateristas, capazes, por sua técnica e virtuose, de dividir os holofotes em pé de igualdade com os vocalistas, até então, centro das atenções, tais como: ERIC JOHNSON, STEVE RAY VAUGHAN, YNGWEI MALMSTEEN, AL DI MEOLA, BILLY SHEEHAN, NEAL PEART e TERRY BOZZIO.
Simultaneamente, me surpreendia o peso dos recém surgidos, e protagonistas de uma repaginação significativa da cena, METALLICA e IRON MADEN, além das dezenas de bandas que pipocaram no mesmo período, que contrariavam a tendência comercial que vinha se agigantando, e alcançou diversas bandas, sendo sentido, à época, um ambiente muito raso, e fraco.
A influência cada vez maior das grandes gravadoras vinha transformando, o até então transgressor mundo do rock, em um cenário comercial e brando, músicos excepcionais foram relegados a uma sonoridade pop para ter seu espaço.
A massificação da música empobrecia seu conteúdo, e afastava, ainda mais, aqueles que ainda resistiam em se dedicar à música de qualidade, dentro e fora do rock, do grande público.
Não significa, tal situação, que a cena pop, ou de outros estilos largamente divulgados na época, fosse ruim, pelo contrário, em alguns casos eram amparados por músicos fenomenais, contratados por produtores e empresários habilidosos, com especial fim de dar corpo, e suporte, àquelas músicas metrificados e formulados com objetivo meramente comercial, período em que palpiteiros popularizaram, de forma capciosa, a expressão mais odiosa do mundo da música, o ‘feeling’.
Lamentavelmente, por força da influência das grandes gravadoras, palpiteiros tendenciosamente, embora com muita habilidade, transformaram o ‘feeling’ em algo de dimensões astronômicas, na intenção de reverenciar harmonias e melodias simples, em detrimento daquelas de complexo conteúdo teórico e técnico.
Tal coisa passou a ser adotada como adjetivo, um sinônimo de talento, ao que ufanistas passaram a fazer uso deliberado para fundamentar seus devaneios, até fãs, menos cuidadosos, se quedaram ao uso, dando algum valor e crédito a ele.
No entanto, com alguma ponderação, percebe-se logo que o ‘feeling’ não passa de algo com teor absolutamente subjetivo, pois, só pode ser atribuído ao ouvinte, capaz ou não, por suas experiências pessoais, de senti-lo diante das músicas que tem contato, e não à própria música ou a seu compositor.
Também inseridos nesse contexto, mas inegavelmente com muito mais talento e sorte que eu, 2 amigos, JOHN MYUNG e JOHN PETRUCCI, começaram a ensaiar na casa deste último, tendo como referências RUSH, YES e, o então recente, IRON MADEN, atente-se que, 3 bandas de segmentos distintos na cena musical.
Com o tempo, KEVIN MOORE, integra o grupo, mas sem a mesma oportunidade, possibilidades, ou interesse, de Myung e Petrucci, que entram na Berklee College of Music, continua com aulas particulares, até que outro jovem da Berklee, MIKE PORTNOY, de mesmas referências dos integrantes iniciais, se une a eles nos ensaios, surge a banda MAJESTY.
Não demora muito, começam a participar de festivais, fazendo covers do RUSH, fase em que se apresentaram com alguns vocalistas, enquanto aprimoravam e avançavam no conhecimento de teoria e técnica musical, mas, algum descompasso já era sentido no progresso de KEVIN MOORE, em relação àquele atingido, e exibido, pelos demais membros.
A paixão pelo RUSH traduziu-se na contratação de CHARLIE DOMINICI para os vocais, com timbre muito parecido ao de GEDDY LEE.
Após concluírem a graduação na Berklee, mudam o nome da banda, lançam sua primeira demo e surge a oportunidade do primeiro álbum, “When the Dream and Day Unite – Dream Theater” pela Mechanic Records em 1989.
Já na primeira faixa do disco, “A Fortune in Lies”, de composição de Petrucci, a jovem banda declarava sua postura, que seria seguida rigidamente, bem como, estava apresentada a intenção progressiva, com carregado teor teórico e técnico, sempre empregando elementos complexos e densos, ou seja, não se renderiam às pressões do sistema, ou aos ‘estilos da moda’, não calariam suas intenções e não trairiam seus princípios.
Alheios a tudo isso, palpiteiros ainda ignoravam a existência da banda, mas o álbum teve boa aceitação pelo público, sem que ainda tivessem a consciência de que os primeiros pilares começavam a ser fixados na Terra do DREAM THEATER.
Apresentações começaram a surgir, o que, em algum momento, levou KEVIN MOORE a abandonar as aulas de música para se dedicar exclusivamente à banda, asseverando, ainda mais, sua disparidade com o progresso dos demais membros.
Não demorou muito para que a razão que levou a contratação de CHARLIE DOMINICI, também alçasse seu desligamento da banda, para o que restou a entrada de JAMES LABRIE.
Nesta etapa da carreira, a banda procurava, mais do que nunca, uma identidade própria, mas ainda constituía um grupo um pouco heterogêneo: 3 instrumentistas muito técnicos, com larga bagagem teórica, de mesmas influências e referências musicais, e mesmos objetivos técnica – MYUNG, PETRUCCI e PORTNOY –; um vocalista também técnico, com timbre muito singular, potência e capacidade de interpretação peculiares, ainda inexploradas - LABRIE - e; um tecladista, de fato, muito talentoso – MOORE - , mas que não correspondia ao gabarito dos demais membros, o que foi ainda mais reforçado com o lançamento do “Images and Words – Dream Theater” já pela Acto Records, em 1992.
Embora tenha sido o disco que expôs a banda ao grande público, chamando a atenção de muitos palpiteiros, as incursões de KEVIN MOORE declaram fortemente suas influências e potencialidades técnicas, não exatamente similares com os demais membros, mesmo sendo o responsável pela composição do ‘maior hit’ da banda.
O “Images and Words”, sem dúvida, foi inovador, intenso, denso, e ainda comportou composições dos tempos da Berklee, mais técnicas, ricas em contexto e complexidade, que as ouvidas no primeiro álbum, o que foi possibilitado pela receptividade do primeiro disco, permitindo que eles ousassem um pouco mais, e mostrassem mais fortemente a face da banda.
No meu entendimento, um álbum praticamente irrepreensível para aquele momento da carreira DREAM THEATER, e para a cena de maneira geral, um divisor de águas e, nas palavras de Portnoy, em entrevista ao site Blistering.com em 2007(1), o “Images and Words” teve tanta aceitação e projeção, por ter sido recebido como uma resposta à um crescente sentimento dos músicos, frustrados pelas bandas não se preocuparem mais em tocar bem, o que, à época, era largamente recepcionado, e divulgado, pelo mercado fonográfico.
Essa foi a época em que tive meu primeiro contato com a banda, um jovem estudante de música que, no início dos anos 90, tentava aumentar sua coleção de clássicos do rock, mas sempre atento às novidades e, numa lojinha minúscula de rock, me deparei com um CD duplo, ‘pirata’, contendo apenas 12 músicas, com mais de 10 minutos cada, de uma banda absolutamente desconhecida.
O disco tinha o título de “The Dance of Eternity (Nova Iorque 1992)”, um show que iniciava com “Metrópolis Pt.1”, e seguia com um set list que continha “A Fortune in Lies”, “The Killing Hand”, “Pull Me Under”, “Under a Glass Moon”, “Take the Time”, e encerrava-se com “Learning to Live”.
Embora gravado com péssima qualidade, depois de ouvi-lo fiquei fascinado, e não encontrei, depois disso, nada que se equiparasse e, a partir daquele momento, me tornei um residente na Terra do DREAM THEATER.
Era algo novo, sem dúvida, não era RUSH, IRON MAIDEN ou METALLICA, nem YES ou PINK FLOYD, mas estava tudo lá, e com algo a mais, muito refinamento técnico, harmonias complexas, melodias com muito bom gosto, divisões rítmicas incomuns, longas partes instrumentais e muito densas, difíceis demais, naquele momento, de serem ‘digeridas’ por mim, como estudante, que assim como o grande público, já estava severamente castigado com os apelos comerciais.
Com o lançamento do “Awake – Dream Theater” em 1994, já pela EastWest Records, sem dúvida outro êxito da banda, houve uma cisão entre os fãs, e o surgimento dos primeiros ufanistas, alguns com predileção pelo “Images and Words” e outros pelo “Awake”, o que, na verdade, era um despropósito, pois, a banda que já havia encontrado sua identidade, agora estava amadurecendo em sua sonoridade.
Até aquele momento eram 3 álbuns distintos e, embora idênticos em essência, ainda não havia um equilíbrio ideal instalado na Terra do DREAM THEATER.
Nessa altura dos acontecimentos, as divergências de interesses, influências e propósitos evidenciados nos álbuns por seus integrantes, conduziram à saída de KEVIN MOORE da banda, ao que entendo ter sido, em grande parcela, provocado pela disparidade exibida por ele, diante do desempenho dos demais membros, talvez, quanto ao processo criativo, composições e rumos pretendidos pela banda.
De fato, sem muito conhecimento musical, qualquer palpiteiro médio e mesmo os ufanistas mais radicais, percebem que as linhas de teclados, até o ”Awake”, se resumiam a modais e incursões mais simples.
JORDAN RUDESS fora cogitado para o lugar, chegou a se apresentar com a banda, mas não levou adiante sua participação, por incompatibilidade de agendas do DREAM THEATER com os compromissos já firmados pelo tecladista, o que levou DEREK SHERINIAN a assumir o posto.
Já em 1994, a banda tinha a lucidez suficiente para saber que a substituição de um membro seria traumática naquele momento, mesmo sendo uma evolução para banda, pois, DEREK SHERINIAN era um fenômeno, com uma carreira já sólida, e sendo respeitado na cena.
Isso refletiu-se em 3 anos sem lançar um novo álbum, até o “Falling Into Infinity – Dream Theater” em 1997, pela Elektra Records, dos maiores períodos em que a banda permaneceu sem um novo trabalho inteiramente autoral.
Alguns palpiteiros dirão que houve o “A Change Of Seasons – Dream Theater” – EastWest Records -, no entanto, já em 1993 eles se apresentavam tocando a música em diversos shows, o EP de 1995, que não era inteiramente autoral, seria apenas um embrião do que tornaria a ser operado em mais 2 oportunidades pela banda.
A idéia do lançamento do EP, muito mais que apresentar uma versão definitiva de “A Change Of Seasions”, era a de fazer uma prévia exposição do novo integrante aos fãs, antes de uma aparição efetivamente autoral, constando do EP, além da faixa principal, alguns covers, em que a banda pretendia demonstrar a técnica, afinidade, e integração entre a banda e o novo integrante, bem como sua versatilidade, para então, quando do lançamento do um novo álbum, os fãs já conhecessem seu perfil.
Lamentavelmente neste mesmo período, também, como afirmado por Petrucci e Portnoy, na mesma entrevista ao site Blistering.com, em 2007(2), a Elektra Records apenas mantinha o DREAM THEATER em seu quadro de bandas por sua base de fãs, sem efetuar promoção ou divulgação(3) e, após sua aquisição, pela Atlantic Records, pertencente a Warner Music Group, não fora permitida a rescisão do contrato com a banda e, supostamente, a gravadora passou a pressioná-los por trabalhos mais comerciais, nada mais de músicas de 20 minutos, ou elementos técnicos, complexos e de difícil compreensão, nada de muita inovação.
Portnoy, externa sua insatisfação com a situação e manifesta, pela primeira vez, o desejo de sair da banda.
Quando é lançado o “Falling Into Infinity”, de fato não era como o “Images and Words”, ou ao “Awake”, palpiteiros declararam que começava a surgir uma inclinação ‘pop’ na Terra do DREAM THEATER, ao que, prontamente, ufanistas atribuíram isso a uma suposta, mas inexistente, influência de DEREK SHERINIAN nesse sentido, este, por sua vez, carregou o fardo sozinho, embora tal fardo não lhe coubesse, nem a ninguém da banda em especial, até hoje o álbum mais execrado.
Tal atmosfera iniciou, e conduziu a banda, uma longa batalha, repleta de episódios controversos, há informações, que não consegui confirmar, que inclusive embates judiciais foram engendrados para rescindir o contrato com a gravadora, pois, como aqui já mencionado, a banda surge para fazer um som de qualidade, por isso, não se renderia às pressões do sistema, ou a uma métrica comercial, permaneceria fazendo a música que desejavam: densa, complexa e com liberdade criativa dos integrantes.
Embora os palpiteiros sempre sejam oportunistas e ardilosos, assim como os ufanistas são resistentes à evolução, ambos são muito relapsos, quanto à observância dos fatos, e de como esses episódios foram importantes e necessários ao amadurecimento da banda.
Na prática, nenhum dos 3 álbuns anteriores do DREAM THEATER foi igual ao outro... todos foram singulares, por óbvio, que o “Falling Into Infinity” foi menos ‘pesado’, talvez, até mais acessível, em comparação aos anteriores, mas o que lhe faltou em força e ataque, lhe sobraram em complexidade harmônica, foi denso quanto às intenções, letras e contexto e, de fato, não consigo ouvir “Peruvian Skies”, “Hollow Years” ou “Lines In The Sand” e classificá-las como músicas ruins, ou pop.
O fato é que o DREAM THEATER ainda estava, nesse momento da carreira, amadurecendo enquanto banda e sonoridade, precisavam encontrar seu ponto de equilíbrio entre: sentimentos, particularidades e potencialidades criativas de cada integrante; rumos que eles desejavam para a banda e para eles individualmente; o que os fãs esperavam deles e claro; na esfera profissional, a preocupação com suas relações com as gravadoras, e como lidar com tudo isso.
Após o lançamento do “Once In A Live Time (La Batacran, Paris, 25/06/1998)”, show sensacional que confirmou a penetração, e aceitação, da banda pelo público Europeu, é anunciada a saída de DEREK SHERINIAN.
Então, nova seleção, escolha e integração de um membro, além de outras prováveis manifestações tendenciosas de palpiteiros e resistência de ufanistas.
A banda tornou a fazer uso do processo de prévia exposição do novo membro, mas nessa oportunidade, lançaram mão de um artifício mais sutil, aprimorando o método anterior, possibilitando a exposição do substituto em ação, de forma autoral, demonstrando sua técnica, virtuose, e cumplicidade musical com integrantes, antes de anunciá-lo oficialmente.
Surge, então, ainda em 1998 o “Liquid Tension Experiment 1 - MIKE PORTNOY, JOHN PETRUCCI,JORDAN RUDESS, TONY LEVIN” pela Magna Carta, bem como o “Liquid Tension Experiment 2 - MIKE PORTNOY, JOHN PETRUCCI, JORDAN RUDESS, TONY LEVIN”, também pela Magna Carta, já em 1999.
A idéia foi tão bem sucedida, que não houve quaisquer questionamentos, nem mesmo dos ufanistas mais radicais, quanto ao ingresso do novo tecladista após o lançamento do “Scenes From a Memory – Dream Theater” em 1999, pela Elektra Records, o disco certo, na hora certa, apenas 4 meses após o “Liquid Tension Experiment 2”, não dando tempo, sequer, que palpiteiros entendessem o que estava acontecendo.
No meu entendimento, a banda acertou em tudo, um álbum como todo o fã queria: concepção singular, equilibrado, denso, intenso, complexo, pesado, melódico, e claro, pouquíssimo comercial, dos poucos, talvez único, unanimidade entre palpiteiros, fãs e ufanistas.
Ousaria dizer que foi o primeiro álbum da fase madura da banda, fase em que já vemos um DREAM THEATER equilibrado e consolidado, com uma homogeneidade ímpar entre os membros, no que tange à técnica e potencial criativo, uma grande base de fãs, não estando mais a mercê de pressões de gravadoras...já não precisavam mais provar nada para ninguém.
Atente-se que esse é um momento muito singular na trajetória do DREAM THEATER, e na carreira de cada integrante, pois, é a partir daí que, de fato, os músicos passam a ser observados individualmente pela cena mundial.
No período que se seguiu, Petrucci é convidado a integrar, como membro votante, a National Academy of Recording Arts and Sciences, assim como ao G3; Portnoy é alçado ao rol da fama dos bateristas, e convidado para tributos e projetos com outros grandes músicos; surgem os primeiros projetos solos do Myung e Labrie e; Rudess se estabelece definitivamente na cena.
Isso significou, à época, que os criadores passaram a se revestir das características da criatura, um passo lógico e inevitável na evolução da banda.
Anoto nesse ponto que, o DREAM THEATER sempre foi o foco de seus integrantes que, por sua singularidade, técnica, virtuose, potencial criativo e cumplicidade, fizeram a banda chegar ao status em que se encontrava naquele momento, e manteve até hoje.
Ressalto que, a diversidade musical que eles conseguiam agregar, o conteúdo teórico e a complexidade técnica das composições, em cada trabalho, extrapolam o que cada um seria capaz de elaborar e viabilizar, o que também só foi possível com objetivos em comum a longo prazo, comprometimento e respeito, não apenas com um grupo de músicos excepcionais que apenas desejam tocar juntos por diversão, pois, se assim fosse, haveria outras 100 bandas iguais na cena mundial, pois há vários excelentes músicos por aí tocando juntos, o que não procede.
O DREAM THEATER surgiu e se manteve, acima de tudo, porque os interesses da banda, o respeito pelo grupo, fãs, e princípios, por eles assumidos desde a formação do grupo, sempre foram colocados acima dos interesses pessoais de cada integrante.
É provável, também, que outro diferencial da banda tenha sido sua intenção inicial que, como aqui já mencionado, foi revelado na primeira faixa do primeiro álbum, além da liberdade criativa, a total, pura e simples possibilidade dos integrantes expressarem suas evidentes potencialidades técnicas, idéias e sentimentos, sem restrições de qualquer natureza, característica muito singular que se revela na quantidade de elementos utilizados, na diversidade musical que a banda demonstra em cada trabalho, razão, inclusive, que lhes possibilitou no decorrer dos anos, participar de festivais e excursionar com diversas outras bandas, de segmentos diferentes.
Então, diante deste cenário, a paz reinou na Terra do DREAM THEATER por mais 10 anos e, já na maturidade, passamos por: “Six Degrees of Inner Turbulence – Dream Theater” – Elektra Records, “Train of Thought – Dream Theater” – Elektra Records, “Octavarium – Dream Theater” – Atlantic Records, “Systematic Chaos – Dream Theater” – Roadrunner Records e “Black Clouds & Silver Linings – Dream Theater” – Roadrunner Records - que, igualmente aos anteriores, foram singulares, complexos e não comerciais.
Em 2006, após tantos anos do episódio “Falling Into Infinity”, e das supostas pressões da gravadora por álbuns mais comerciais, a banda conseguiu rescindir o contrato com a Atlantic Group, pertencente a Warner Music Group, firmando contrato com a Roadrunner Records, mas foram surpreendidos, antes mesmo do lançamento do “Systematic Chaos” em junho de 2007, pois, em Janeiro do mesmo ano, a Warner Music Group adquiriu mais de 73% da gravadora, totalizando a compra em novembro de 2010(4).
Não seria de se surpreender que, em algum tempo, Portnoy viesse a público declarar que uma parte significativa de sua decisão de sair da banda, em Setembro de 2010, tenha sido a iminente totalização da compra, pela Warner Music Group, da Road Runner Records e, o retorno aos grilhões da gravadora com quem lutou, e se desgastou, por quase 10 anos.
Não obstante a maturidade já alcançada pela da banda e a homogeneidade entre os integrantes, sempre foi evidente a natureza de suas personalidades: Myung sempre reservado; Petrucci cuidadoso e comedido; Labrie com seu perfil discreto; Rudess moderado e; Portnoy efusivo, de fato o mais extrovertido.
Aqui cabe ressaltar que, com o advento da internet, e acesso irrestrito à informação, a banda foi exposta a um universo novo, pois, palpiteiros podiam ultrapassar os limites da intimidade de cada um, bem diferente da época dos ensaios na casa do Petrucci, ou nos estúdios da Berklee, nos anos 80.
Era necessária uma voz ressoar em nome da banda, o que caiu como uma luva para Portnoy, de natureza expansiva, situação que fez com que muitos palpiteiros, e ufanistas, o alçassem a condição de ‘líder’ da banda, o que, de fato, não se traduzia, na prática, na Terra do DREAM THEATER.
Inegável, Portnoy contribuiu de forma extraordinária para a banda, seja produzindo discos ou compondo parte significativa das músicas, como também a tornando simpática, e receptiva, ao interesse dos fãs.
No entanto, se esses fossem os critérios para definição de um ‘líder’, o lugar, com folga, pertenceria ao Petrucci: produtor de todos os discos em que Portnoy também esteve nessa função, sendo, inclusive, o único membro a ter composições em todos os álbuns, bem como a maioria delas em cada um.
De fato, Petrucci é autor de mais de 50% das letras da banda durante toda carreira, dobro das contribuições de Portnoy, sem mencionar, e suponho que palpiteiros, fãs e ufanistas concordem, que não há set list ideal do DREAM THEATER em que não figurem: “A Fortune in Lies”, “Metropolis”, “Caught in a Web”, “Lines in the Sand”, “The Spirit Carries On”, “As I Am”, “Endless Sacrifice”, “Forsaken”, “Wither”, dentre outras de composição do Petrucci.
De qualquer forma, não há fã que entenda um ‘líder’ na Terra do DREAM THEATER, algo como haver um membro que se destaque tanto dos demais, pelo talento ou técnica diferenciadas, ao passo de sempre estar mais sob o foco que os demais, como vemos acontecer na maioria das bandas, senão em sua totalidade.
Na verdade, muito do sucesso da banda se deve ao fato de que, todos se sentiam membros do DREAM THEATER, e não o contrário, a banda como pertencente a esse ou aquele integrante e em especial.
Por seus integrantes terem essa consciência, e o comprometimento, de colocarem os interesses do DREAM THEATER acima dos interesses pessoais, foi determinante para, além do sucesso, longevidade da banda.
Uma infinidade de outras bandas, sem o mesmo sentimento e comprometimento, viu decretado seu fim em poucos anos, prognóstico que muitos fãs, com certeza, ouviram de palpiteiros, como sendo o destino do DREAM THEATER.
De qualquer forma, nesse ponto, já haviam se passado 18 anos, muitas turnês mundiais, iniciadas em 1992, com o lançamento do “Images and Words”, abertura de shows do IRON MADEN e aparições na MTV, até o último show em 08/08/2010 em Tóquio, além de aproximadamente 10 anos lutando para rescindir o contrato com a gravadora e, após galgar êxito, perceber que foi inútil.
Muito sucesso e projeção pessoal foram conseguidos, para o que foi necessário nutrir todos os dias, sem descanso das responsabilidades infindáveis que isso demandou, fazendo horas extras muito além do que seria a responsabilidade para a maioria das bandas, como declarado pelo próprio Portnoy no anúncio de sua saída, talvez, para alguns palpiteiros e ufanistas, como para ele, fosse a hora de ‘curtir’ um pouco esse momento, e se divertir em novos vôos.
Por óbvio, que foi uma carreira desgastante, em especial, diante da complexidade e dificuldades técnicas, não apenas musicais, como também logísticas, além das supostas pressões da gravadora, tensão, pela responsabilidade sempre crescente diante dos fãs e da constante criação de novos, e inovadores, álbuns.
No entanto, é evidente que todos os integrantes, e em grau idêntico, também nutriram o DREAM THEATER todos os dias, também não tiveram descanso das responsabilidades infindáveis que isso demandou, também fizeram horas extras muito além do que seria a responsabilidade para a maioria das bandas nessa jornada.
No entanto, para possibilitar a manutenção do vigor da inspiração, equilibrar os ânimos e ‘recarregar as baterias’, no decorrer dos anos a banda adotou medidas para se adequar a própria projeção, como: a redução da duração dos shows; turnês concentradas em determinados períodos do ano e; pausas mais longas sem inclusão de datas.
Atente-se que, entre o último show de 2010 e o primeiro confirmado para 2011, Roma 04/07, há um lapso de quase 12 meses, o que se repete desde 1999, quando do lançamento do “Scenes From a Memory”.
Após o impacto da saída de Portnoy, e declarações que se seguiram, ficou fácil, para palpiteiros e ufanistas, criarem conexões entre os eventos no decorrer dos anos, especularem sinais, ou indícios, das razões e porquês de sua decisão, no entanto, isso não passou de suposições, e conjecturas, sobre o que apenas ele poderia responder, por isso, os fãs devem se ater apenas ao que foi mencionado pela própria banda, para ilustrar o acontecimento.
Após 25 anos juntos, é inegável que uma amizade muito forte se formou entre os membros da banda, em especial entre Myung, Petrucci e Portnoy, amigos desde a adolescência, e também junto aos demais é claro, sempre retratada nos vídeos de turnês e gravações dos discos, bem como, do excelente ambiente que havia no back stage.
Logo após o anúncio de Portnoy da Terra de DREAM THEATER, Petrucci, lança uma nota em seu site pessoal, e redes sociais, da qual se extrai um forte teor sentimental, não apenas pela saída de um membro, e amigo, da banda, mas do inevitável abalo que isso, somado a continuidade da carreira do DREAM THEATER, geraria na relação entre eles.
A nota manifesta, além de sua surpresa, e tristeza, do Petrucci e da banda, uma significativa preocupação, e respeito, pelos fãs, lembrando aqui, que em quase a totalidade de seus projetos paralelos, Portnoy estava na bateria.
Portnoy manteve sua postura desinibida habitual, tentou explicar, sempre de forma infrutífera, sua decisão, anunciou vários novos projetos e muito entusiasmo, ao passo que, na Terra do DREAM THEATER a confusão e as incertezas eram evidentes, permanecendo os integrantes remanescentes com poucas manifestações, enquanto tentavam se recuperar.
Palpiteiros, com habilidade, dispuseram algumas falas do Labrie, junto a outras do Portnoy, o que ajudou a criar uma atmosfera de animosidade, que de fato não acredito que existiu em princípio.
Tal atmosfera de animosidade foi sentida na Terra do DREAM THEATER, pois fãs e ufanistas, em uníssono, ansiavam por uma explicação, motivos, brigas, enfim, quaisquer razões que fizessem entender uma saída tão repentina, de uma banda com uma carreira tão consolidada, com uma base de fãs tão estratificada e fiel, e com um espaço tão significativo na cena mundial.
Mesmo que Portnoy tenha declarado que sua decisão fora bem pensada e ponderada, de fato ficou difícil de acreditar, pois, se assim tivesse ocorrido, ele não teria tentado voltar, e anunciado sua tentativa, o que também gerou mais uma série especulações de palpiteiros e ufanistas, mas é inegável, também foi um impacto, para Portnoy, que a banda decidisse continuar sem ele.
O fato é que Portnoy estava cansado, como ele mesmo disse, quando de seu anúncio, também extraído da entrevista assinalada na primeira parte das audições de escolha do novo baterista, algo que já o acompanhava há muito tempo, cansado da longa luta para rescindir com o Warner Music Group, e das supostas pressões da gravadora, cansado da constante tensão do processo criativo, não há dúvida que ele quisesse se desligar um pouco disso, se recuperar desse desgaste.
É provável que tudo isso o fizesse estar se divertindo mais com projetos paralelos, sendo apenas um contratado tocando por diversão em alguma banda, sem maiores responsabilidades, ou gravando com outros músicos, compondo sem o comprometimento que demandava compor para o DREAM THEATER e, é provável, que quisesse se dedicar a esses projetos.
Acredito que, sob a ótica de Portnoy, o DREAM THEATER já tinha uma carreira consolidada, respeito e considerável espaço na cena mundial, o que significaria que a banda poderia entrar em um ‘hiato’ de 5 anos, sem prejuízos, cada integrante poderia se dedicar a outros interesses, se divertirem um pouco e aproveitarem a estabilidade que alcançaram, sem as pressões e responsabilidades que eles já carregavam há tantos anos e, então, quando voltassem, estariam com as ‘baterias recarregadas’ para um novo álbum sensacional de retorno.
No entanto, é provável que ele não tenha considerado, em suas ponderações, que: talvez os demais membros da banda não compartilhassem do mesmo sentimento; talvez os demais estivessem se divertindo mais na Terra do DREAM THEATER do que com qualquer outro projeto paralelo; talvez os demais entendessem que, o fato da estarem com suas carreiras consolidadas, respeitados e, com considerável espaço na cena mundial, significava que devessem aproveitar ao máximo esse momento, produzindo e trabalhando para a banda, afinal, levaram 25 anos para atingir esse status e condição, longevidade continuada, e em foco permanente, não equiparada por nenhuma outra banda do gênero, e por poucas na cena em geral.
Rudess traduz a surpresa da banda, no primeiro episódio das audições, quando diz que o ambiente era ótimo e estava tudo bem e Petrucci, deixa claro aquele sentimento, quando declara que o negócio que eles criaram, e a situação em que estavam, tornava a vida na Terra do DREAM THEATER ótima.
Logo, eles foram, de fato, pegos de assalto pela idéia de um ‘hiato’ e, por óbvio, que isso não foi apenas uma idéia surgida do subconsciente da banda e posta em discussão em uma conversa, como sugestão, face um sentimento geral, pois, como declarado por eles, a manifestação de Portnoy foi posta como uma decisão unilateral aos demais, na reunião inicial para a composição do novo álbum e, ficou claro que, deveria ser acatada, sob pena de, não sendo admitida, culminar em sua saída do DREAM THEATER, como aconteceu.
Deve-se compreender que, uma decisão como essa, assim com um anúncio oficial dessa natureza, ocasionou reflexos peculiares no DREAM THEATER, que não seriam sentidos pela média das bandas que, com algum grau de tranqüilidade, substituiriam o integrante e seguiriam adiante sem maiores traumas, passando apenas por algumas especulações de palpiteiros.
Entendo que não há como ser comparado, tal evento, à saída do BRUCE DICKINSON do IRON MADEN, ou à escolha do novo baixista para o METALLICA, como muitos palpiteiros sugeriram, pois, em ambos os episódios, lamentáveis com certeza, o tempo de carreira era muito inferior aos 25 anos do DREAM THEATER, bem como, nos casos acima, os fundadores, e principais membros criativos, permaneceram.
Tratava-se de uma banda que nunca existiu sem Portnoy e que, sempre dependeu da individualidade criativa de cada integrante, tanto quando da unidade musical que atingiram, já encontrando-se madura, e equilibrada, por muito tempo.
Outro ponto importante tange o fato de que a banda, e cada integrante individualmente, é signatária de patrocínios de fábricas de instrumentos e equipamentos musicais, o que demanda que seus nomes estejam associados ao nome DREAM THEATER, sem mencionar os compromissos firmados, contratos, apresentações e aparições, além da mídia negativa que o anúncio gerou e, o consequente, alvoroço entre palpiteiros, fãs e ufanistas.
A negativa da banda, à redenção de Portnoy, diferentemente do que muitos acreditaram, foi pragmática, não passional como o próprio Portnoy quis fazer parecer, quando declarou sua tentativa de voltar atrás, mencionando que foi recebido pelos advogados.
Após o anúncio de sua saída, uma série de ajustes, e novos acertos, foram necessários para que a banda pudesse seguir adiante, o que, uma vez incitados em sua inércia, restaria muito mais trabalhoso deter, ou reverter, do que mantê-lo em curso, bem como, a decisão, como já mencionado, fora unilateral, e imperativa, de Portnoy, sem consulta, ou consideração ao entendimento dos demais.
Sem dúvida, o DREAM THEATER é maior que todos e cada um deles, sem líderes ou peças insubstituíveis, mesmo sendo difícil tal substituição, e esses episódios deixaram isso absolutamente claro para os ufanistas, que acreditavam no contrário.
Inegável que Portnoy materializava o espírito DREAM THEATER de forma singular, sua ausência será sentida e alguma mudança será percebida nos trabalhos que virão, mas ao contrário do que palpiteiros alardearam, não será no aspecto técnico nem criativo.
No entanto, palpiteiros ainda poderão argumentar de forma efusiva: ENTÃO TUDO SE RESUME A GRANA!?!?...de fato, tanto na Terra do DREAM THEATER, quanto fora dela, nem tudo é dinheiro, mas uma parte significativa do sucesso, é o comprometimento, a responsabilidade, e a capacidade de honrar os próprios princípios e assumir os riscos a eles inerentes, e acredito que, tanto Portnoy, com sua decisão unilateral, quando a banda, com a decisão de prosseguir, assumiram.
Já os ufanistas questionarão: E A CONSIDERAÇÃO PELA HISTÓRIA DE PORTNOY NA BANDA??...pois é, estendo que há alguma falta de consideração pela história da banda, assim como pelo DREAM THEATER, seus integrantes e fãs, quando um integrante afirma que se diverte mais em projetos paralelos que no lugar em que ele surgiu; quando alguém afirma que está cansado e acredita que a banda, e os amigos que lhe ajudaram a construir sua carreira, deveriam parar por 5 anos porque ele quer parar e se divertir com outras coisas e; principalmente, quando o membro de um grupo coloca suas aspirações pessoais acima do interesse desse grupo.
Petrucci evidencia esse sentimento, durante os depoimentos no primeiro episódio das audições, quando textualmente menciona que, é de partir o coração e frustrante, a decisão de Portnoy, pois, não é como se fossem apenas uma banda, mas uma família, que passou junta por diversos momentos muito íntimos, com suas próprias famílias inclusive, que não desejaram aquilo e, o único que poderia explicar porque saiu, ou porque fez o que fez, seria o próprio Portnoy.
Iniciada, então, pela quinta vez na carreira, a busca por um novo integrante, mas dessa vez, uma escolha significativamente mais difícil que as anteriores, mas a experiência pregressa da banda fora considerada no processo.
Lembremo-nos que, para a escolha de CHARLIE DOMINICI, a banda era jovem, eles optaram por um bom vocalista com timbre já consagrado por GEDDY LEE, bem como, para a escolha de Labrie, que também teve seu timbre singular considerado, mas ainda era uma banda jovem, e o foco era a busca de sua identidade.
Após alguns anos de carreira, turnês mundiais e 2 álbuns, dos 3 lançados, com projeção significativa e deram a banda seu lugar na cena e, a escolha de um tecladista naquele momento foi mais complexa, pois, já haviam palpiteiros ávidos por um deslize, um grande lastro de fãs constituído e muitos ufanistas já instalados, e que, inevitavelmente, rejeitariam um novo integrante, o que de fato ocorreu, e foi asseverado pelo controverso “Falling Into Infinity”.
Esse episódio, sem dúvida, seria comparável aos eventos ocorridos com o IRON MANDEN e o METALLICA.
Quando da substituição de DEREK SHERINIAN, uma precaução mais elaborada foi providenciada, expuseram o novo tecladista por 2 anos, 2 discos em um ‘projeto paralelo’, imediatamente associado à banda, “Liquid Tension Experiment – Dream Theater”, sendo apresentado Rudess, oficialmente, com um disco memorável e irrepreensível em 1999, “Metropolis Pt. 2 - Scenes From a Memory – Dream Theater”, como já mencionado, o primeiro disco da fase madura da banda.
No entanto, a circunstância atual não tem precedentes na Terra do DREAM THEATER, não se trata mais de uma banda jovem em busca de sua identidade, ou desconhecida e com poucos anos de carreira, também não seria a substituição de um membro, que na prática, não tinha, em nenhum dos álbuns anteriores, demonstrado contribuições ou atuações fenomenais e irrepreensíveis, ou ainda, da saída de um membro muito competente que atuou em um único disco, mas por força das circunstâncias, equivocadamente, lhe viu atribuída responsabilidade por eventos fora de seu alcance.
Agora, já é uma banda madura, e a substituição seria para o lugar de um dos fundadores da banda, de um ícone consagrado na cena, que contribuiu com composições incríveis, produtor de alguns dos discos, um dos bateristas mais técnicos e criativos de sua geração, que ajudou a colocar o DREAM THEATER na condição em que se encontra, e que, por anos, foi a voz da banda e, por ufanistas, considerado seu líder, sem dúvida um símbolo, respeitado por palpiteiros, fãs e ufanistas.
Mas não se pode cegar ao fato de que, há um sem número de bateristas em plenas condições técnicas para substituir Portnoy, dos quais, 7 foram pré-selecionados e ouvidos, cabendo aqui uma nota, a escolha foi muito inteligente, pois, uma grande jogada criativa para chamar a atenção de todos, dentro e fora da Terra do DREAM THEATER, foi manejada.
O cuidado na pré-seleção dos participantes das audições ficou bem evidenciado na entrevista cedida por Petrucci à Artisan News Service(5), quando ele afirma que começaram a pensar nos possíveis integrantes, a partir dos bateristas conhecidos com quem já haviam tocado; com os quais ainda não haviam tocado e; bateristas desconhecidos, donde surgiu uma lista e, pessoalmente, procederam os contatos, para saber se havia interesse.
Por óbvio, seriam bateristas que, além de competentes, técnicos e acima da média, à altura e gabarito do Portnoy, já teriam alguma projeção internacional, mas, além disso, os 7 participantes, extraídos da pré-seleção, foram escolhidos a dedo para agradar a todos os fãs: 2 americanos (DEREK RODDY e MIKE MANGINI), 3 europeus (MARCO MINNEMANN, THOMAS LANG e PETER WILDOER), 1 representante sul-americano (AQUILES PRIESTER) e 1 representante oriental, por assim dizer (VIRGIL DONATI).
A forma de divulgação também foi outra grande ‘sacada’, pois não se prestou a por os participantes a uma competição, ou expô-los negativamente para fundamentar uma escolha, como muitos ufanistas fizeram questão de manifestar, tão pouco foi um ‘Reality Show’ como os palpiteiros fizeram questão de frisar.
Inteligentemente, a banda estabeleceu um método para as audições, e o seguiu, então, editaram, pacientemente por meses, os vídeos, dando espaço a todos os participantes de mostrarem seu trabalho e manifestarem suas expectativas, propiciaram uma exposição significativa, e muito positiva para todos, oportunidade ímpar para cada um deles, o que também possibilitaria uma exploração pessoal desse momento.
Entendo que os vídeos, também trouxeram a lume o processo de criação e composição da banda, deixando claro que não apenas o gabarito técnico dos integrantes que seria importante, mas também o entrosamento, como fluiriam as idéias para um resultado final, na intenção clara de que conseguissem manter a essência do processo criativo, e o ambiente de trabalho, que sustenta as composições por tantos anos.
Ficou evidenciado, também, o respeito com o qual a banda tratou todos os bateristas, bem como, ficou clara a satisfação destes, em estar participando das audições, a dedicação depreendida por eles, respeito por Portnoy, e o desejo de se verem inseridos naquele contexto.
Isso fica bem claro na declaração de MIKE MANGINI, em entrevista à Modern Drummer(6), mencionado suas aspirações em encontrar uma banda que permitisse o uso de um complexo kit de bateria, sem se importar com tamanho ou o número de tambores, uma banda permitisse ele tocar do jeito dele, e essa banda era o DREAM THEATER.
Minha aposta pessoal, já no fim de 2010, era em MARCO MINNEMANN, que, com sua audição, reforçou ainda mais minha opinião, mas assim como palpiteiros, fãs e ufanistas, fui absolutamente surpreendido pela performance de PETER WILDOER e, por óbvio, pela de MIKE MANGINI.
Muito além da execução das músicas, e desempenho nas demais fases, demonstraram muita naturalidade, fluência musical, um surpreendente entrosamento, além da simpatia e uma satisfação flagrante, quase agradecida, pela lembrança de seus nomes para participação no processo.
Minha aposta em MARCO MINNEMANN encontrava amparo no fato dele ter as mesmas influências que Petrucci e Myung, uma trajetória muito parecida no que tange os estudos e, ser da mesma geração que eles, razão esta, que já me fazia não acreditar na escolha de PETER WILDOER, o mais jovem dos participantes.
Atente-se que, mais uma vez, os propósitos da banda foram alcançados, pois, o anúncio das audições gerou meses de expectativas e especulações, depois veio a revelação dos participantes e uma correria frenética de palpiteiros, fãs e ufanistas para obter mais informações sobre cada um deles, por fim, os episódios foram apresentados, já com o conhecimento, por todos, da competência e potencial dos bateristas, sem surpresas ou margem para novas especulações.
Por fim, MIKE MANGINI foi uma escolha sóbria, como apostar numa ‘barbada’, baterista reconhecido por sua habilidade e técnica, recordes no currículo, professor da mesma escola em que 2 integrantes da banda, inclusive Portnoy, se formaram, carreira consolidada, expressão internacional, e como assinalado por Petrucci em sua entrevista à Artisan News Service(7), Mangini era como um deles, da costa leste, Berklee, afirmação que carrega um teor mais subjetivo, mas significativo, para a aceitação pelos ufanistas.
Entendo que MIKE MANGINI não significará uma mudança tão significativa nos rumos da banda, que, como já mencionado, já se encontra em sua fase madura há mais de 10 anos e, diferentemente do que aconteceu quando da entrada do Rudess e o lançamento do “Scenes From a Memory”, em que, de fato, sentiu-se uma mudança expressiva nas linhas dos teclados, de coadjuvante e secundário, para essencial no contexto dos álbuns.
Atente-se que antes do anúncio oficial, embora já houvesse uma escolha, a banda aguardou como o escolhido se comportaria diante do real processo criativo, até o fim da composição do novo álbum em que, com certeza, como nos anteriores, veremos a maioria das composições do Petrucci, que inclusive é mais uma vez produtor do álbum, uma ou duas composições do Labrie, talvez alguma das raras contribuições de Myung, uma aguardada composição do Rudess e, embora improvável, alguma composição de MIKE MANGINI.
O que, de fato, acredito, é que será um álbum incrível, pois, não há dúvida que seguirá a essência da banda: técnico, complexo e denso; assim como é certo que receberá severas críticas de palpiteiros, e que ufanistas irão rejeitá-lo, o que a banda tem plena consciência.
Também tenho convicção que a banda tomou significativo cuidado para não permitir outro episódio como no “Falling Into Infinity”, com um álbum que não fosse surpreendente, inovador e com a marca da banda, ou venha a dar margem a especulações depreciativas ao novo integrante.
Mesmo que palpiteiros e ufanistas estejam torcendo por um álbum de conteúdo questionável, estes, para verem alimentado seu desejo de um retorno memorável de Portnoy ao posto de “líder” da banda, algo que de fato nunca existiu, mas agora com o status de insubstituível; enquanto aqueles, para verem realizadas suas previsões de fim da banda, sem Portnoy nas baquetas, ou que tudo não passou de uma jogada de marketing.
Com algum grau de certeza e alegria, ousaria dizer que, tanto palpiteiros, quanto ufanistas, verão frustradas suas expectativas, pois, acredito e confio, que está por vir outro álbum como “Scenes From a Memory”, que assim como coroou Rudess nos teclados, irá coroar Mangini nas baquetas.
Não há, na Terra do DREAM THEATER, quem não deseje toda a sorte possível à Portnoy em sua nova jornada e que ele, de fato, encontre o que deseja, sempre mantenha seu perfil espontâneo, criatividade e continue a nos brindar com seu talento, não permitindo ser relegado a ser lembrado, apenas, como o ex-baterista do DREAM THEATER.
Já para o MIKE MANGINI, todos desejamos muito sucesso em sua nova empreitada, e que contribua positivamente para que volte a reinar a paz na Terra DREAM THEATER.
Fontes das entrevistas e matérias citadas (em inglês):
(1)(2)http://www.blistering.com/fastpage/fpengine.php/link/1/templateid/12794/tempidx/5/menuid/3
(3)http://www.blistering.com/fastpage/fpengine.php/link/1/templateid/12770/tempidx/5/menuid/3
(4)http://www.roadrunnerrecords.com/blabbermouth.net/news.aspx?mode=Article&newsitemID=149263
(5)http://www.roadrunnerrecords.com/blabbermouth.net/news.aspx?mode=Article&newsitemID=157968
(6) http://www.moderndrummer.com/modern-drummer-blogs/
(7)http://www.roadrunnerrecords.com/blabbermouth.net/news.aspx?mode=Article&newsitemID=157968
Por Everton Costa
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