28 de abril de 2011

Parte 38 - STP

Foram contratados dois seguranças particulares, Stan Moore e Leroy Leonard, ambos negros, grandes, fortes e ameaçadores, embora extremamente gentis com seus patrões. Durante toda a excursão, tanto Mick quanto Keith passam a andar constantemente armados com um revólver calibre 38 carregado.


Equipe STP
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Alguns ensaios foram realizados em Los Angeles, em um estúdio nos fundos de uma loja de venda de instrumentos na Santa Monica Boulevard. Uma vez que a banda iria tocar em grandes arenas, acabam optando deixar a pequena sala de ensaios, utilizando um dos estúdios de cinema da Warner Brothers, um gigantesco galpão situado em Burbank.
O local, absurdamente grande, permite a banda se acostumar com o ambiente de arena aonde iriam se apresentar. Em contra-partida, a acústica do lugar era péssima.
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Paralelamente a isto, do lado oposto do galpão, o palco estava sendo construído e preparado por Chip Monck. Este novo palco, repleto de espelhos, tem no seu projeto um novo esquema para iluminação. No lugar da tradicional luz apenas na frente do palco, sobre os artistas, este previa uma iluminação indireta, vinda de trás do palco, apontada para cima e lados e sendo refletida pelos gigantescos espelhos.
A concepção inovadora recebeu admiração, dando ao palco e seus ocupantes um aspecto definido como de sonho, para quem o assiste a certa distância. O piso do palco era lavado com água morna e soda limonada para que se mantivesse bom para dançar. Para transportar todo o palco e adendos seriam utilizados dois caminhões, cada um com um pequeno trator-guindaste para levantar o material e coloca-lo no caminhão e do caminhão para a arena aonde a banda fosse tocar.
Os roadies, ou seja, a equipe encarregada de diferentes tarefas ligadas à montagem e desmontagem completa do palco, fossem luz, equipamento ou o próprio palco em si, foram chamados de STP e receberam todos crachás com essas três letras. STP, além do nome de uma poderosa droga à base de ácido lisérgico, também significa Stones Touring Party. Até a excursão entrar no ritmo já seriam denominados de Start Tripping Please. Entre os nomes a se destacar, afora Monck já mencionado, temos Rick Mandella, técnico responsável pelos amplificadores, Ted Newman Jones III, responsável pelas guitarras e suas devidas afinações, Wille Vacarr responsável pelo transporte das malas de toda STP, banda e etc., e Steve Goekee responsável pela maquiagem da banda no palco.
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A equipe conta ainda com um avião particular, tipo Lockheed Electra Turbo, com o logo da boca pintado na fuselagem e no rabo da nave. A STP batizaria o aeroplano de 'The Lapping Tongue' (A Língua Lambedora).
Dr. Sessler
Na equipe haveria, como de hábito nas últimas excursões da banda, a figura do assistente particular de Keith, ou seja, a pessoa ou mula que irá carregar todo o seu estoque de entorpecentes. Este serviço passa a ser do velho amigo de sangue azul, Príncipe Stanislau Klossowski de Rola, popularmente chamado de Stash (Muamba). Segundo Tony Sanchez, ele é tratado nesta excursão pelo apelido de Flex.
O passo adiante desta concepção, está na figura do farmacêutico oficial da excursão. Isto mesmo; Dr. Fred Sessler cuidaria de toda e qualquer prescrição que se precise receitar durante a turnê. Este cavalheiro, nascido na Polônia, fugiu de seu país após a invasão do exército nazista, ato que daria início à Segunda Guerra Mundial. Em 1940, Sessler chegava em Nova York onde trabalhou durante boa parte de sua vida nos laboratórios da Merrck & Co., companhia da indústria farmacêutica com sede na Suíça, que fabrica grande quantidade de remédios vendidos pelo mundo.
Sessler trabalhava naquela época na fabricação de Methaqualene e Cocaína, ambos remédios vendidos legalmente na Europa. Homem culto, de vocabulário rico e com gosto por um bom papo, ele ganharia o respeito de todos durante a excursão, acabando por fazer boa e duradoura amizade com Keith Richards. Como farmacêutico, Sessler tinha licença para importar Cocaína da Suíça, fabricada pelos laboratórios da Merrck.
Além de Dr. Sessler, fazia parte da equipe desta excursão o Dr. Larry Badgely, médico oficial da excursão. Em tempo, ele seria sugado para dentro da irreal realidade que girava em torno dos Rolling Stones, e movido pela sua atração por meninas extremamente jovens e desinibidas, passaria a trocar prescrições porsexo.
Robert Frank
Robert Frank
Robert Frank

Foi acertado que um registro em filme seria feito da excursão, e uma equipe foi contratada, liderada pelo cineasta Robert Frank. Este cineasta suíço se tornou famoso em 1959 ao dirigir "Pull My Daisy", considerado o primeiro filme underground. Seu livro de fotografias, "The Americans" tem prefácio de Jack Kerouac e foi lido e admirado por Mick e Keith. Foi assim que Frank acabaria sendo contratado para fazer a capa do novo álbum, Exile on Main Street.
Os Stones queriam um registro diferente para esta excursão e Robert Frank foi considerado o homem ideal para fazê-lo. Para fins de mobilidade, sua equipe era mínima e tinha Danny Seymore como auxiliar e responsável pelo som do filme. Marshall Chess, que fez questão de acompanhar toda a excursão, para ter uma função, passou a assistir diretamente a Robert Frank na filmagem da turnê. A banda escolhida para abrir todos os shows é novamente Stevie Wonder e seu conjunto batizado de Wonderlove.
De boca em boca, aos poucos o segredo de que os Stones estão em Los Angeles ensaiando em Burbank para a excursão começa a atrair pessoas para o local. Dallas Taylor, baterista do trio Crosby, Stills & Nash aparece, assim como Jack Cassady e Gram Parsons para assistirem um dos últimos ensaios. Uma entrega especial é feita, trazida em uma caixa lacrada, um presente do Grateful Dead. A banda se entreolha imaginando do que se trata. Ao abrir, descobrem se tratar de um quilo de maconha, e dois pacotes de papel de seda - serviço completo. Após inalar os primeiros trapas, são unânimes em declarar a safra de ótima qualidade. A caixa fica com Keith para guardar e proteger.
Realeza do Rock
Havia uma certa dúvida no ar porém que ninguém da banda falava a respeito. O receio que se tem quando se percebe que ninguém mais da sua geração permanecia. Da era dos Rolling Stones, acabaram-se todas as outras bandas. Somente os Hollies e os Kinks ainda estavam em atividade. Em termos de rock 'n' roll, osRolling Stones já estavam velhos. Em uma indústria que produz música para jovens, três anos no topo é uma boa expectativa de vida pra uma banda. Cinco anos de existência é um pouco raro. Se reparar, a grande maioria não passa desta faixa de três à cinco anos. Muitos aliás, sequer chegam a dois anos e incontáveis ficam com o sucesso de apenas um compacto que os tornam notícia gigantesca durante um período minúsculo do ano. Muitos são aqueles que vivem deste momento como seu marco pelo resto da carreira. Assim caminha a humanidade dentro do mundo do rock 'n' roll.
Esta é uma das razões porque uma banda como os Rolling Stones era tratada como realeza. Começaram quase que juntos a grupos como os Animals, Yardbirds, Dave Clark Five, Zombies, Spencer Davis Group e Pretty Things. Todos essas bandas eram grandes na Inglaterra entre 63 e 64, contemporâneo ao inicio dos Stones. A maioria delas tiveram sucesso também nos Estados Unidos, e todas já haviam encerrado atividades. Apenas os Beatles tiveram uma carreira superior em termos de sucesso tanto popular quanto artístico. Mas os Beatles também haviam chego ao fim.
David Bowie como Pirate Man
David Bowie como Pirate Man

Os novos nomes a atrair o interesse juvenil na Inglaterra são bandas como Roxy Music, T. Rex e David Bowie. Os líderes destas bandas lembram em parte o personagem Turner em Performance, aludindo no palco, em plena performance, para suas similaridades. É o que passava a ser chamado de Glitter Rock, com plumas e paetês, maquiagem e batom. Então havia a dúvida sincera se esta geração nova iria se interessar no que os Stones estavam fazendo. Ou será que os Rolling Stones falavam apenas para a sua geração e mais ninguém?
Como a excursão americana de 1969, esta de 1972 definiria o futuro econômico da banda. No fim, perceberão que esta terá sido a grande e derradeira excursão dos Rolling Stones. Quando estiver tudo encerrado, e os Stones puderem voltar a morar na Inglaterra no ano seguinte, o fariam estando ricos de verdade, pela primeira vez em suas vidas.
Começando por Vancouver
Sim, havia dúvidas nas mentes de algumas pessoas, Mick Jagger inclusive, quando a banda estava se aprontando para seguir para Vancouver no Canadá, o primeiro ponto da excursão. O local foi escolhido para a estréia por ser ao mesmo tempo perto e longe de Los Angeles. Logo no primeiro show os problemas começaram. Não puderam entrar no país de avião por problemas técnicos ligados à aviação. Voaram até a fronteira estadual em Bellingham, no estado de Washington e seguiram de carro o resto do caminho até seu hotel, o Georgian Towers. Depois, no local do show, o Pacific National Exhibition Forum, mesmo o público estando mais quente do que a banda, a maioria gostou do que ouviu. Com a casa lotada e um batalhão de adolescentes do lado de fora fazendo de tudo para conseguir entrar, o choque com a polícia teve momentos tensos e a desordem reinou no quarteirão.
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Quase conseguiram derrubar o portão de metal dos fundos da casa, mas os seguranças assistidos por roadies conseguiram segurar pelo lado de dentro até a polícia chegar e espantar a turma pelo lado de fora. Lá dentro, garrafas de bebidas estavam sendo jogadas no palco, enquanto pequenas brigas entre adolescentes e lanterninhas ferviam em um clima caótico e quase surreal.
Em uma época onde o filme Laranja Mecânica ainda estava em cartaz, um batalhão de cerca de dois mil adolescentes estava entusiasmado e disposto a praticar suas versões daquela 'velha ultraviolência' representada no filme.
Trinta policiais passaram pelo hospital para tomar pontos. Jornais na manhã seguinte promoverem o que classificam como sendo uma catástrofe em termos de repressão à desordem. De jornal a jornal, os números vão de duas mil para vinte e duas mil pessoas envolvidas. O estigma dos Rolling Stones serem sinônimos de desordem, vandalismo e bagunça continua sendo o assunto predileto da grande mídia.
Descendo A Costa Oeste
Edgewater Inn
Edgewater Inn

Depois foram tocar em Seattle, todos fazendo questão de ficarem no famoso hotel, The Edgewater Inn, aquele onde o Led Zeppelin, um peixe e uma groupie, fizeram história no rock 'n' roll. Quando Frank Zappa compôs uma suíte sobre o tema e lançou-o em um de seus álbuns no ano anterior, o ponto ficou obrigatório para toda banda de rock de passagem pela cidade se hospedar. Nos dois shows lá realizados, foram confiscadas do público diversas facas e até uma pistola automática encontrada com um garoto.
Na festa após os shows, um rapaz de aproximadamente vinte anos de idade retira um envelope do bolso, abre e cheira o conteúdo. Daí passa o envelope adiante, cada um dando sua cafungada gratuita sem maiores preocupações em saber que pó era esse. Tratava-se de Heroína. A festa acabou cedo pois o gerente chamou a polícia por causa do barulho. Os guarda-costas de Mick e Keith logo chegaram para retirar as pessoas integradas à comitiva dos Stones. Os demais ficaram atrás, se livrando do flagrante.
Bobby Keys
Bobby Keys

Evidentemente rolou muita sacanagem dentro dos quartos também. Bobby Keys foi um dos mais ativos sexualmente nesta tour. Depois de dar umas boas chineladas em uma pererecano banheiro de alguém, volta para o seu quarto com as pernas bambas, apenas para descobrir uma suruba, tipo três em uma, que rolava lá em sua ausência. Segundo Keys, a mulher agüentando o tranco era tão feia que parecia um mecânico de oficina. Ele acaba expulsando todo mundo, morto de cansaço e querendo logo ir dormir. Mas rapidamente muda de idéia e chama correndo o serviço de quarto para trocar a roupa de cama, pois estava tão cheia de pontos molhados que se torna impossível dormir, mesmo em seu estado. Pior sorte teve Peter Rudge, que ao entrar em seu quarto, descobre que alguém encheu o local com galinhas e perus vivos. Suspeitas recaem sobre Chip Monck como provável responsável pela estripulia, que seguidamente provaria ser o gaiato da excursão.
San Francisco
Seguem então na manhã seguinte em direção a San Francisco, local onde a banda ainda deve um bom show. A fama de ser uma cidade de boas vibrações nunca funcionara com os Rolling Stones, pois as duas vezes que haviam tocado por lá na última excursão renderam problemas absurdos, desde a grande discussão com Bill Graham no show do Coliseum à organização desastrosa de Altamont. Portanto desta vez Mick Jagger optou por perder dinheiro e tocar em um lugar menor, o Winterland, ponto clássico de rock da cidade, onde cabiam cerca de quatro mil pessoas e que também pertence a Graham. Ao se reencontrarem, Billy e Mick imediatamente se comportaram, Mick se mostrando extremamente simpático e Billy devolvendo em dosagem igual. Foram descritos como dois homens agindo como se o passado não acontecera e ficara no passado.
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Por estarem em um lugar menor, para dar vazão à procura de ingressos, os Stones fizeram quatro apresentações em duas noites. Apesar da banda ainda não estar tocando tanto quanto podiam, os shows foram um sucesso absoluto. Presentes para assistir na noite de estréia, além da garotada, estavam alguns amigos de profissão como Neil Young, John Lee Hooker, Jerry Garcia e os demais membros do Grateful Dead, assim como também todo o Jefferson Airplane e seus amigos. Ian Stewart porém, com sua habitual honestidade, chamou a noite de estréia de Winterland uma merda completa. Em suas palavras: "Estavam desafinados. Eles tocaram pior do que a porra do Status Quo!"
Na segunda noite em Winterland a apresentação foi bem melhor. Fica claro imediatamente o porque desta velha banda, uma das poucas a poder se vangloriar dos então dez anos de existência, ter o nome e a fama que têm. A mídia, sendo bem paga, pode promover qualquer coisa ao máximo, contudo quando se escuta um show dos Rolling Stones você sabe que está recebendo pelo que pagou. Ouvir e sentir o volume do bumbo e baixo batendo no seu peito, praticamente lhe empurrando para trás, é apenas um dos grandes baratos de ver uma ótima banda em um lugar pequeno.
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Poder ouvir uma banda como os Rolling Stones tocando ao vivo a todo volume é um prazer único e absoluto, melhor do que qualquer imagem gerada via satélite ou qualquer vídeo já feito. No entanto, poder assistir uma banda da magnitude dos Stones em um palco de uma casa onde sequer cabem cinco mil pessoas é uma rara oportunidade. Um show memorável de rock, que dentro dos próximos anos, seria lembrado como sendo o ápice da carreira do grupo. Com o sucesso do show, e a confirmação geral de que os Stones estão servindo um banquete de rock a cada apresentação, a busca de ingressos aumentam e os preços dos cambistas elevam-se ainda mais.
Depois de dois dias em San Francisco, retornam para passar o fim de semana fazendo uma série de shows em Los Angeles. Junto com San Francisco, esta é a principal série de shows da excursão, somando-se em importância apenas aos shows em Nova York, já no segmento final.
No avião no aeroporto antes de decolarem, uma mulher linda encosta em Alan Dunn e solicita a oportunidade de entrar no avião e pegar um autógrafo de Mick Jagger para sua filha. Encantado pela beleza desta senhora, Dunn a leva à bordo. Ela, ao encontrar Mick Jagger, ao invés de pedir um autógrafo, retira de sua bolsa uma série de folhas soltas e começa a ler, o que rapidamente se mostra tratar de uma lista de citações legais, todas ligadas à Altamont. Antes que ela finalizasse a leitura, Keith Richards mete-lhe um tapa na cara. Assustada, a moça, de nome Vivian Manuel, sai correndo em direção à porta. Ela sai do avião cambaleando escada abaixo e aos gritos: "Aquele filho da puta me bateu!"Surge então a silhueta ameaçadora de Keith na porta da nave. Ele joga para o alto as citações deixadas para trás pela moça, os papéis se espalhando no céu negro da noite, em parte com a ajuda da turbina do avião. Dentro da aeronave, baseados são acesos, Tequila Sunrise (tequila com suco de laranja) são servidos e o incidente logo é esquecido.
Exílio em Los Angeles
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De volta à Los Angeles, um pequeno encontro com as cabeças pensantes da excursão analisam o andamento de tudo até aqui. A principal mudança a ser executada está em relação ao palco inventado por Chip Monck. O efeito de luz refletido pelos espelhos sofreu diversas críticas, principalmente por Marshall Chess, que concluíra que os artistas acabavam geralmente com uma aparência excessivamente pálida. Keith se queixava que os espelhos e a luz excessiva lhe fazia sentir como uma atração de circo. Outro comentário feito apontava para a tendência do efeito tirar a atenção do espectador dos Stones quando de fato deveria ajudar a realçar esta atenção. Monck abandonaria o projeto depois destas apresentações em San Francisco, nunca mais usando este artifício, relegado agora a curiosidade de época.
Foram quatro shows em Los Angeles, dois em locais pequenos, o Hollywood Palladium e o Pacific Terrance Center em Long Beach tendo uma apresentação em cada; depois dois shows no Forum, a grande arena da cidade. Nestas quatro datas no espaço de três dias, os Rolling Stonesrealizaram suas melhores apresentações até aqui. Não só o grande público como a imprensa especializava ficam extasiados com o que Jimi Hendrix certa vez chamou de 'sopão de rock 'n' roll'. Jornalistas e cronistas disputavam entre si para ver quem criava a melhor metáfora para definir o que acabaram de assistir. Muitos se fixaram na figura de Keith Richards, que aparentemente fez o mundo redescobrir a importância e status da guitarra rítmica, até então sempre relegado a segundo plano. Talvez uma das melhores redações tenha sido uma que definiu Keith como que "tocando seus riffs e preenchendo os espaços vazios de forma tão precisa, no entanto sem aparentemente demonstrar esforço, feito um filho ilegítimo de Chuck Berry".
Entre as duas apresentações no Forum, Bill Graham providenciou um jantar especial para a banda com convidados. Entre os nomes mais conhecidos estão Jack Nicholson, Goldie Hawn e Tina Turner. A festa após os concertos teve uma pequena apresentação do Screaming Lord Sutch e até uma canja com Steve Wonder ao piano.
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Embora a ordem do repertório sofresse pequenas alterações praticamente de show em show nesta primeira etapa, o setlist era composto basicamente por "Brown Sugar", "Bitch", "Rocks Off", "Gimme Shelter", "Happy", "Tumblin' Dice", "Love In Vain", "Sweet Virginia", "You Can't Always Get What You Want", "All Down The Line", "Midnight Rambler", "Bye, Bye Johnny", "Rip This Joint", "Jumpin' Jack Flash", "Street Fighting Man" e "Honky Tonk Women". Outros números que ocasionalmente entravam no set eram "Let It Rock", "Loving Cup", "Torn And Frayed" e "Ventilator Blues".
As festas após estes primeiros shows já dão uma pequena indicação de como seria o pique festivo da turma durante os próximos dois meses. O desespero atrás de ingressos para a assistir os Stones era tanto que as meninas fariam, e fizeram, praticamente de tudo para ver o seus ídolos. Assim como Marshall Chess certa vez descreveu, quando trinta e cinco mulheres vão atrás dos Rolling Stones, e só existem cinco Rolling Stones, sobram trinta mulheres, que para não perder a viagem, ficarão com quem estiver mais perto desde que associado à banda de alguma maneira. De fato, caso alguém fosse utilizar as escadas no lugar do elevador, encontrariam entre os andares pessoas em pares ganhando boquetes. Quanto mais acima sobem os andares, mais alto o cargo, começando por seguranças do hotel e subindo para assistente de montagem de palco, roadies e assim por diante.
No bar do hotel havia desde groupies experientes, com dois ou três anos na caça, até prostitutas pra lá de tarimbadas, que geralmente faziam ponto no local procurando executivos de passagem pela cidade. Após cada show havia uma festa. Na última, no Whiskey A-Go-Go, havia tantos penetras que em determinado momento foi feito um pente fino com a ajuda dos segurança para retirá-los. Além de muitos travestis, vários membros da banda Wonderlove do Steve Wonder acabaram na rua, impedidos de retornarem ao local.
San Diego
Mapa da arena esportiva
Mapa da arena esportiva

O próximo show na lista foi no San Diego International Sports Arena. O sol quente de verão que permanece no céu até bem depois das oito da noite nesta época do ano, somados a uma fila de entrada muito lenta, ajudam a criar um clima de impaciência perigosa. A polícia verificando atentamente toda mochila e bolsa que entra na arena faz com que muita gente começasse a beber seu garrafão de vinho na fila mesmo, debaixo do sol. Há também baseados sendo fumados no estacionamento enquanto a polícia está concentrando suas atenções na fila de entrada e fluxo geral da população nas cercanias da Arena.
Quando o povo percebeu a chegada da banda, instintivamente temeram todos que a demora para entrar pudesse significar a perda do início do show. No clima instável que se abateu na multidão, houve aqueles que passaram a provocar a polícia, xingando-os gratuitamente. Evidente que sendo a maioria do público presente compostos de jovens brancos de classe média, a polícia até certo ponto se conteve. Havia muita gente da imprensa ainda do lado de fora da Arena tentando entrar, e alguns creditam a estes detalhes a explicação da demora da polícia em responder os afrontas. Mas quando as primeiras pedras começaram a voar e o som de vidraça estilhaçada passou a ecoar, aí não houve perdão.
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Neste baile de baixarias, pedras e garrafas contendo coquetéis molotovs bailavam no ar, trocando canduras com cápsulas de gás lacrimôgeneo. Quando a polícia botava a mão em um desses adolescente 'arruaceiros', no calor do momento, descarregava suas frustrações e medos sobre o agressor, reduzido agora a vítima. Alheios a tudo isso, os Rolling Stones dão seu show sem muito ter o que comentar. No cômputo final, sessenta pessoas são presas, enquanto seis garotos e nove policiais acabam indo parar no hospital. Uma menina teve seu crânio fraturado por uma pedra, agredida por um policial. Ela processou o oficial e a cidade e ganhou a causa. O policial foi expulso da corporação e preso, enquanto a menina pouco mais tarde se formaria na faculdade com honras.
Jagger Analisa a Baderna
Então a excursão segue se movendo cada vez mais em direção ao leste. Com shows em cidades cercadas pelo deserto como Tucson no Arizona e Albuquerque em Novo México, a estratégia era chegar, tocar e voltar para Los Angeles o mais rápido possivel, tudo feito com a ajuda do vistoso avião Lockhead Electra. Em Tucson, a coisa foi similar, mesmo que em menor escala. Uma tentativa de invadir o local sem pagar leva a polícia novamente a usar gás lacrimogenio para conter a multidão. Os jornais não tem como ignorar esses eventos que continuam a associar o nome da banda com desordem na população, muito embora os Rolling Stones mesmo nada fizessem para provocar este caos.
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"Era a própria polícia e seus próprios cidadãos" notava Mick Jagger. E uma coisa começa a lhe parecer terrivelmente óbvia: não havia nenhuma conciência política atrás destas manifestações. Esta nova geração nada tem a ver com as aspirações de alguns poucos anos atrás. As pessoas estão demasiadamente drogadas para terem uma opinião ou posicionamento político. Todas as mudanças que se sonhava em realizar depois do ano do ácido parecem-lhe impossíveis agora. A contracultura movida por drogas dera lugar apenas para as drogas, sem nenhuma cultura.
Perguntado a respeito pelo repórter da revista Rolling Stones, Jagger disse o seguinte: "Você não pode culpar ninguém por querer ficar alucinado. Todo mundo quer ficar alucinado de vez em quando, mas não se pode querer passar a vida inteira desta maneira. Não se consegue apagar a realidade. Ela irá sempre retornar e no final das contas, você apenas vai acabar morrendo tentando. As pessoas estão dizendo que todas as drogasdisponíveis nas ruas estão fazendo as pessoas deixarem de serem politicamente ativas. Isto me faz pensar... qual a melhor escolha? Eu acho que devemos nos esforçar para fazer o país um lugar melhor para nossos filhos e ficar em casa tomando Heroína e ouvindo um disco não vai realizar isto. Pode lhe parecer antiquado mas precisa-se domar o touro pelos chifres e é um puta de um touro, a América, e seus chifres são desagradáveis".
Alburquerque
Depois de todas as notícias relacionadas a brigas entre a garotada em shows da banda, a polícia de Alburquerque estava esperando pelos Rolling Stones sem a mínima disposição para aturar qualquer coisa de qualquer estudante. O show seria realizado no auditório do Campus da Universidade de Novo México, local evidentemente infestado de estudantes. Uma manifestação estudantil realizada no mês anterior contra a Guerra de Vietnã e o conseqüente bombardeio realizado no Camboja para onde a guerra extra-oficialmente migrava, teve no confronto com a polícia o resultado de uma morte. Portanto a força policial está excessivamente nervosa antecipando a garotada sendo agitada pela música irritante dos Stones, e passam a demonstrar suas neuroses em seu comportamento.
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No final, nenhum evento negativo digno a parar nos jornais acontece e todos estão satisfeitos. Que se saiba, apenas um rapaz tentou invadir o local do show sem pagar e foi expulso. Voltou tentando arrumar uma briga quando apareceram seis ou sete policiais para lhe cercar. Juntaram o rapaz até ele sangrar e depois o prenderam por resistir à prisão. Ele foi levado até uma Van, algemado nas mãos e nos pés, e lá tomou uns pontapés na cara e no estômago para aprender a deixar de ser atrevido.
Denver, Colorado
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Em Denver, os Rolling Stones e equipe cortam o cordão umbilical com Los Angeles de vez. Estão agora nômades, vivendo na cidade onde seria realizado o próximo show. Fazem duas apresentações no Coliseu de Denver no dia 16 de junho. Este é o único show em que Jagger veste uma camiseta com o logotipo da língua. O dia seguinte foi de folga, com programação marcada apenas para o fim da tarde. Bill e Astrid tiraram o dia para passear, acabando por visitar o Caribou Ranch, onde a banda Manassas de Steve Stills estava gravando. À noite retornam a tempo da festa, realizada no rancho do promotor do evento, o Sr. Barry Fey, situado nas cercanias da cidade. Com uma mesa farta todos se deliciam, a maioria apaziguando a larica que já estava gritante. Os cinco membros dos Stones foram chegando aos poucos ao local, o último tendo sido Keith Richards.
Reencontrando Gram Parsons
Um incidente que foi rapidamente abafado lhe retardara a chegada. Aparentemente Gram Parsons foi visitá-lo em seu quarto, normalmente o ponto de zona da excursão. Parsons, um músico brilhante com contribuições importantes tanto nos Byrds como no Flying Burrito Brothers três anos antes, estava agora passando por um período mais decadente e desagradável. Juntando todas as versões sobre o incidente ocorrido neste encontro, eis provavelmente o que ocorrera de fato:
Sendo extremamente desagradável, Parsons queria porquê queria cheirar toda a Cocaína que Keith tinha com ele. Com as seguidas recusas, Parsons ameaça Keith, que imediatamente o expulsa do quarto avisando que não queria mais vê-lo naquela excursão. Parsons é retirado, se sentindo revoltado pelo que julga ser uma tremenda injustiça. Lembra que em 1969, quando os Stones estavam em Los Angeles e Keith queria Cocaína, Parsons lhe arrumou de graça uma farta quantidade de pó e Haxixe para todos. Agora que é a vez dele estar querendo e precisando, Keith o expulsa, que história é essa? Enfurecido e mal intencionado, Parsons espera escondido dentro do carro no estacionamento.
Quando vê Keith, Parsons discretamente sai e vai em direção ao guitarrista escondendo a faca que está em sua mão. Mas mesmo conseguindo chegar perto o suficiente para o golpe, antes de desferi-lo, Parsons é travado por um dos seguranças. Keith então vendo a lâmina, já nas mãos do segurança, entende o que está se passando e imediatamente parte para cima, esmurrando Gram algumas vezes, tendo o guitarrista saído cambaleando e sangrando pela boca, levado por um amigo que tenta retirá-lo do local antes do envolvimento da polícia. Algumas publicações dão conta que este episódio nunca aconteceu. Deixamos as conclusões para cada um.
Deixando Denver
Antes de deixarem Denver, Keith, Bobby, Jim e Marshall dividem um jogo de pôquer no quarto do hotel. As malas já estão feitas e todos apenas aguardam a hora de deixarem o local, jogando cartas com a televisão ligada. Na telinha, o Senador George Wallace está dando seu discurso habitual, ele sendo um político poderoso e conhecido racista, que no início da década de sessenta tentara impedir estudantes negros de freqüentar a faculdade no Alabama. Depois de paraplégico, em decorrência de um atentado que sofrera no mês anterior, sua chances de concorrer à Presidência da Nação se tornam drasticamente limitadas.
Quando a hora de partir é anunciada, Keith instiga Bobby a ajudá-lo a se despedir do local. Os dois pegam a televisão colorida e jogam da janela enquanto a câmera de Robert Frank registra o feito, seguindo a trajetória do aparelho em sua projeção descendente, caindo dez andares até encontrar um pátio de concreto e explodir. Descem às gargalhadas pensando em entrar logo na limousine antes que a gerência se desse conta e viesse encher o saco. Mas ao chegar na porta da saída o gerente lá estava, fazendo questão de posar para fotos com integrantes da banda. Keith fica segurando o riso e pensando na cara do gerente dentro de alguns minutos quando não encontrasse uma televisão no quarto e olhasse pela janela. Uma vez na limousine, o trajeto até o aeroporto é feito ao som de uma fita dos Four Tops.
Bloomington, Minnesotta
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Em Bloomington, no Metropolitan Sports Center, os Rolling Stones fazem um de seus melhores concertos. Keith Richards está particularmente endiabrado, solando onde não havia solo seu antes, com a banda se entreolhando e seguindo atrás como uma locomotiva a todo vapor. Keith se empolga tanto que esquece de voltar ao microfone no refrão de "Happy", a única canção em que ele é o cantor principal. Mick está lá para preencher o espaço. A voz cada vez mais rouca de Keith obriga Mick a sempre estar por perto para reforçar o refrão.
Antes de cada show, durante toda a excursão, Mick Jagger sempre bate algumas carreiras de Cocaína. Sem estar cheirado, ele não sobe no palco nesta excursão. A retirada rápida do local encontra o cheiro de gás lacrimogêneo que fora jogado pela polícia lá fora, odor que já vaza para dentro pelas frestas das portas. Um pequeno comboio de limousines com escolta policial segue para o aeroporto, onde embarcam em um avião para a próxima cidade, Chicago.

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