Imagine você se preparar dois anos para realizar um grande sonho e, na semana anterior dele se concretizar, descobrir que algo deu muito errado. Desde que o IRON MAIDEN anunciou as datas para a turnê brasileira de The Final Frontier, eu sabia em que hotel a banda se hospedaria em Brasília. Ainda demorei dois meses para fazer minha reserva, somente em 15 de janeiro. Em 1º de março descobri um site interessante para reserva de hotéis, o booking.com. Por incrível que pareça, tinha preços ainda menores do que das reservas que eu já tinha, feitas nos sites de cada um dos seis hotéis que eu sabia que o IRON MAIDEN ia ficar. Cancelei algumas delas, e remarquei com os novos preços. Em Recife, por exemplo, ficou por menos da metade do que eu pagaria originalmente. Em Brasília, foram R$200,00 a menos. Mas não me atentei a um detalhe: por engano, agendei Brasília para as datas do Rio de Janeiro. Pior: só fui perceber faltando uma semana para estar lá. Pior ainda: a última vaga do hotel foi reservada nas últimas 12 horas. Pra terminar de estragar, eu iria dividir o quarto com um amigo, que a essa altura com certeza ia querer me matar! Me senti o pior dos piores...
Mas ainda era cedo, e tentar ir lá a essa hora provavelmente apenas queimaria nosso filme com a segurança. Júlio geralmente se veste com roupas normais, e não é cabeludo. Provavelmente conseguisse entrar sem grandes questionamentos. Já eu posso tentar até mesmo sem camiseta de banda, mas o cabelão certamente me entregaria. Era melhor passear, conhecer a cidade e, a noite, que é quando as coisas acontecem, colocar nosso plano em ação. Perto do hotel há um shopping, e resolvi ir até lá para comer alguma coisa. Boa parte da equipe do Maiden estava por lá, incluindo o fotógrafo oficial John McMurtrie e o onipresente Todd, certamente a figurinha mais carimbada do crew do Maiden, já que podia ser facilmente encontrado em qualquer lugar. Lá encontrei meio sem querer a Natália, uma amiga do Espírito Santo que veio à cidade para ver o show. Saímos juntos do shopping, enquanto estava entrando o Ashley Groon (roadie do Nicko, aquele careca engraçado do "Flight 666"). Ao me ver, Ashley balançou a cabeça, como quem diz "não acredito que esse cara está aqui de novo". Mas isso não foi algo negativo. Eu e Ashley já conversamos muito em 2009, e no dia seguinte também conversaríamos demais, até porque somos fumantes e vivemos saindo do hotel para fumar.
Eu e a Natália seguimos pro hotel onde eu e o Júlio estávamos hospedados e, com ele, esperamos anoitecer. Após tormarmos banho e nos arrumarmos, seguimos para o hotel onde "os hómi" estavam. Paramos na frente e fumei um cigarro, observando na tentativa de descobrir quem, entre aquele monte de segurança que estava na porta, era o chefe. Era com ele que eu queria falar, pois os outros não seriam capazes de resolver nosso problema. Ao nos aproximarmos, formos abordados e nos identificamos como hóspedes do hotel ao lado. Dissemos que sabíamos que isso nos daria acesso mas, como previsto, ele explicou que "aquele era um dia especial" e que por isso não poderíamos entrar. Expliquei que apesar da aparência, não estávamos atrás da banda, queríamos apenas ir ao restaurante comer alguma coisa - o que nos é direito, já que estamos hospedados no hotel do lado e blá blá blá. Expliquei também o que havia acontecido com minha reserva, argumentando que já estive hospedado com a banda em São Paulo e no Rio, que seguiria de lá para Belém e demais cidades brasileiras da turnê e que já havia abordado a banda em ocasiões anteriores, que já tinha foto com todos, e que não estava lá pra dar trabalho, nem encher o saco. Ele nos liberou. Atravessamos toda a recepção do hotel e, ao chegarmos ao elevador, outro segurança tentou nos barrar, mas recebeu instruções do segurança-chefe para nos deixar em paz.
No restaurante, pedi alguma coisa para comer e os demais pediram coca-cola. É evidente: se não somos hóspedes, temos que consumir alguma coisa para ficar ali. Eu estava sentado atrás de uma coluna. A Natália estava na minha frente e o Júlio, do lado dela. Um pouco depois, chegou o Tadeu, a paisana (é como chamamos quem não está vestido caracterizado como fã). De repente, a Natália começou a tremer: o Adrian havia acabado de chegar, e era a primeira vez que ela estava vendo um Maiden cara a cara. Como em São Paulo com a Mariana, tive que conte-la para que ficasse ali quieta. Ele sentou em um lugar onde eu não podia ver e pediu algo para comer. Mais uma vez, usei a tática que deu certo em São Paulo com o Janick: deixei fotos em cima da mesa. Se ele quisesse, viria nos atender. Se não, nos contentaríamos em poder acompanhar a cena, até para não nos queimar com o segurança que confiou em nós. A única outra hipótese possível é se ele fosse abordado por outro fã e fosse receptivo: isso seria um sinal de que poderíamos tentar a sorte também.
Após terminar de comer, Adrian pediu um jornal e leu por um bom tempo. Ao se levantar, dois fãs o abordaram, e ele os atendeu. Instruí a Natália e o Júlio para que chegassem junto, que eu e o Tadeu chegaríamos depois (ver dois fãs chegando deve ser menos traumático do que ver quatro). Foi tudo absolutamente civilizado: a maioria que estava lá sabia inglês e o Adrian parou para conversar conosco, especialmente com o Júlio, que lhe contou possuir uma guitarra igual à dele, mostrando fotos da mesma, e pedindo em seguida uma palheta, no que foi prontamente atendido. Aos poucos, um a um foi tirando foto com ele. Quando só faltava eu, Júlio pediu mais uma foto, Tadeu também, e foram atendidos. Na minha vez, o flash simplesmente falhou e, a única foto que tenho somente eu e o Adrian está bem escura. Nem deu tempo de tirar outra, pois ele se despediu e saiu. Mais tarde chamei a atenção dos dois, pois eles tentaram a segunda foto sem que eu tivesse conseguido a primeira. Se o Adrian tirasse as fotos com eles e se despedisse, eles teriam duas fotos e eu nenhuma (ao menos este ano mas, até aí, o Júlio também já tinha foto com ele em anos anteriores). Se vamos abordar banda juntos, é assim que tem que ser. Quer 30 fotos?! Tenta a sorte! Mas tenha certeza que todos já conseguiram antes!
Pouco após resolvido nosso pequeno problema, chegou a Camila, amiga do Tadeu, também a paisana. Nos unimos aos dois hóspedes que haviam abordado o Adrian a princípio e ficamos conversando por um bom tempo. Mas deu a hora do restaurante fechar, e naquele dia não rolaria mais nada lá - somente no bar do térreo. Eu, Júlio e Natália resolvemos sair do hotel, não sem antes agradecer novamente o segurança. Camila e Tadeu ficaram no bar e conseguiram foto com o Bruce. Mais tarde voltamos para tentar uma foto da Natália com o Janick, que já tinha atendido todos os fãs em São Paulo e no Rio. Não demorou muito e ela também conseguiu. Eu e o Júlio nem tentamos, pois já tínhamos conseguido em São Paulo.
Eu posso conseguir fotos e autógrafos de muitas bandas. Posso conseguir coisas incríveis, como falar com Paul McCartney (sim, já fiz isso). Mas uma coisa que não aprendi a fazer é conseguir palhetas, baquetas, munhequeiras e outros souvenirs que os fãs tanto gostam. Sei lá, eu acho chato pedir esse tipo de coisa, não tenho a manha. No dia seguinte, por volta das 07:30, eu estava dormindo. Sonhei que o Janick veio até mim e me deu uma caixa cheia de palhetas. Todas iguais mas, uau, eu tinha uma caixa com um monte de palhetas do Janick! Então, abri a caixa, peguei uma, e ia olhar para ela, conhecer seus detalhes quando... eu abro o olho e vejo uma bolinha vindo em minha direção. Me atingiu em cheio! Era o Júlio tentando me acordar, me jogou um maço de cigarro (que achei ser uma bolinha). Eu já levantei bravo! "Seu FDP!!! Me fez perder as palhetas me jogando uma bolinha!". Hahahahahahaha
Às 08:00 hs, voltei com o Júlio à recepção do hotel correto. Mais uma vez, os seguranças vieram chatear (ok, estavam apenas fazendo o trabalho deles, mas eu devia estar lá dentro, e não lá fora, isso enche o saco!). Expliquei que gostaria apenas de ir até a recepção. Chegando, perguntei se por acaso havia algum cancelamento para aquele dia. A moça que me atendeu disse, sem dar muita atenção, que infelizmente não. A atendente do lado, entretanto, disse que o hóspede do 419 havia acabado de cancelar, e eu não bobeei: reservei o quarto imediatamente! Com o comprovante de reserva em mãos, troquei uma idéia com os seguranças, que passaram a não nos incomodar mais, nem mesmo à Natália, que não estava hospedada, mas estava ali com a gente. Mas nada muito interessante ocorreu até a hora do show que, por sinal, foi tão perto do hotel, que deu pra ir andando de boa.
Eu geralmente chego em cima da hora, não apenas por estar com a banda no hotel, mas porque não tenho saco para banda de abertura em dia de show do IRON MAIDEN. Dia de show do IRON MAIDEN é dia de show do IRON MAIDEN, ponto! Em 85, no Rock in Rio 1, cheguei no meio do show do Whitesnake e saí assim que terminou o show do Maiden. Não vi o Queen, nem me arrependo - eu estava ali para ver IRON MAIDEN. Em 92, xinguei pra caramba a tal banda Thunder. Em 96, o Maiden tocou no Monsters of Rock, mas para mim, era dia de show do IRON MAIDEN, ignorando qualquer outra banda que estivesse lá. Não fui cedo para não cometer o sacrilégio de xingar o Lemmy ou o King Diamond. Adoro Motorhead, mas dia de show do IRON MAIDEN, repito, é dia de show do IRON MAIDEN. Quando o Maiden subiu no palco, eu já não tinha mais voz de tanto xingar o Sebastian, do Skid Row. Em 98, xinguei o Helloween do começo ao fim. Até o Max eu xinguei em São Paulo este ano - e já fui muito fã de Sepultura em sua época com ele. A única que escapa de minha ira é a Lauren Harris. Primeiro, porque a conheço, é uma fofa, totalmente atenciosa. Segundo porque mesmo que não a conhecesse, seu pai, pra mim, é Deus - e eu respeito a filha de Deus. Terceiro porque ela, Faye e Kerry são as 3 mulheres que podem me dar o que nenhuma outra pode: o sogrão. Já imaginou a festa de natal na casa do sogro?! Perto da meia noite, ainda chegam seus amigos Bruce, Dave, Nicko, Janick e Adrian (sonho)... É, eu sei, fã xiita de Iron é uma merda, mas sou, e assumido. Mas em Brasília, cheguei no meio do show da banda de abertura, Khallice, que me surpreendeu profundamente. Guardadas as devidas proporções, parecia Dream Theater. Curti tanto os músicos como o vocal e, desta vez, não xinguei ninguém...
O show do Maiden foi bacana, mas me decepcionei ao constatar que o Big Eddie "ficou no Rio". Eu tinha certa esperança de ve-lo em Brasília mas, infelizmente, mais uma vez apenas as grandes capitais do sudeste tiveram o privilégio de ve-lo. O setlist foi o mesmo, mas quem liga?! Impossível não se emocionar como se fosse a primeira vez. Chorei como criança em "Blood Brothers". Fui à loucura vendo as músicas do novo álbum ao vivo. "Satellite 15/The Final Frontier" é a única música que não curto em 15 álbuns de estúdio do IRON MAIDEN. Tem as que gosto mais, tem as que gosto menos, mas a única que pulo quando vou ouvir um álbum é essa. Entretanto, ao vivo, com aqueles efeitos de telão, até ela estava perfeita. Por mim, tocariam todas do "The Final Frontier", assim como fizeram com "A Matter of Life and Death", cuja turnê infelizmente não chegou ao Brasil - o IRON MAIDEN nunca tocou uma música desse álbum em solo brasileiro, sei lá porque. Por mim, dos clássicos, deixaria só “The Trooper” e “Hallowed Be Thy Name”, tiraria todas as outras (“2 Minutes to Midnight”, “The Number of the Beast”, “Running Free”, “The Evil That Men Do”, “Fear Of The Dark” e até mesmo a IRON MAIDEN [utopia]) e completaria com músicas dos dois últimos álbuns. Dane-se que tem fãs novos que nunca viram essas ao vivo. Quem mandou nascer antes? Quem mandou não ir na “Somewhere Back in Time”, quando eles só tocaram essas? Ok, eu sei, estou sendo chato... Mas é que já cansei de ver essas músicas ao vivo. São ótimas? São perfeitas! Mas o Maiden tem tantas músicas tão boas quanto ou ainda melhores, que nunca foram tocadas ao vivo... Enfim, se eu insistir nesse assunto, a discussão será interminável. Vou resumir: o show foi perfeito! Ponto!
No meio da “The Number”, saí apressado, rumo ao hotel. Devido às particularidades do terreno plano de Brasília, ouvi o som com perfeição, até o término da última nota de “Running Free”, mesmo estando praticamente na porta do hotel. Não demorou muito e a banda chegou. Nem sinal de Steve e Nicko, mas Dave, Adrian, Bruce e Janick, além de Michael Kenney, sentaram-se em um canto do saguão principal e ficaram lá, de boa, conversando entre eles e com a equipe. Nós, fãs, também estávamos sentados lá, mas em outro canto, e apenas observávamos. Não íríamos interromper aquilo por nada pois, já disse, ainda melhor do que conseguir uma foto ou um autógrafo, é poder acompanhar esses momentos, como se estivéssemos assistindo a um DVD que contasse a história da banda. Óbvio que não ficamos olhando fixamente para eles, como se fossem animais enjaulados. Somos, na verdade, um grupo grande de fãs.
Não pense que sou o único a fazer isso. Estava acompanhado do Júlio, que não foi ao Rio, mas foi a São Paulo e iria a Curitiba. Tem o Ricardo e a Fátima, um casal cinquentão incrível, que já acompanhou o Maiden este ano em Jacarta, Bali e Singapura, em toda a turnê brasileira, na Argentina, no Chile, e ainda vai a 10 shows na Europa, fechando na Rússia (o Ricardo foi citado na resenha do Todd no site oficial da banda, sobre o Rio de Janeiro). Também estava com a gente o Bruno "The Crying Man", que foi apresentado no "Flight 666" como colombiano, na cena em que chorou porque conseguiu a baqueta do Nicko, mas é brasileiro, curitibano. Havia também o Guilherme, um "moleque" de 16 anos que foi aos 6 shows do Brasil acompanhado de sua mãe - mas que não se hospedou nos mesmos hotéis da banda. Além disso, em cada cidade, acabamos nos unindo a outros fãs ilustres, como o Rafael Serrante, que invadiu o palco do IRON MAIDEN no Rock in Rio III e é um dos maiores colecionadores de material do Maiden do Brasil; Pedro, ou Padro, o "moleque" que há 3 anos, com apenas 15 de idade, viajou no Ed Force One, pilotado pelo Bruce Dickinson, e repetiu a tarefa no ano passado, sempre acompanhado de sua mãe Elaine, carinhosamente chamada de "Iron Mother" pelo Rod Smallwood; Felipe, Humberto e Luís, que também voaram com Padro em 2010, e muitos outros. Ou seja, entre nós, o mais bobinho já voou no avião do IRON MAIDEN. Óbvio que sabemos nos comportar, e não nos tornamos inconvenientes para a banda. Dividimos o mesmo espaço que o IRON MAIDEN, mas conversamos muito entre nós - sobre IRON MAIDEN, é claro. Deixamos os caras em paz, e eles nos atendem quando querem, simples.
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Em determinada hora, Bruce, Janick e Adrian subiram, e Dave Murray resolveu ir para o bar - e nós estávamos ali, 7 fãs ao total, vendo que teríamos uma chance de tentar, pois ele estava caminhando em nossa direção. Um de nós o abordaria, se a resposta fosse positiva todos conseguiríamos. Mas ele foi chamado por um segurança da banda, parou e começaram a conversar. O tempo foi passando, mais um segurança chegou, mais uns dois ou três membros da equipe, e até o Adrian Smith, que voltou. Todos estávamos ali, de pé, a três metros de tudo isso, aguardando pacientemente. Vez por outra, o Dave olhava pra gente, como se dissesse "se vocês esperarem eu atenderei a todos". Uma hora e meia se passou. De repente, sem mais nem menos, ele deu as costas, tomou o elevador, e simplesmente foi embora. Ficamos ali os sete, sem reação, não acreditando que fomos trollados pelo Dave, tradicionalmente um dos membros mais legais de se abordar. Dave é, na minha opinião, o membro mais difícil de se conseguir alguma coisa, porque ele simplesmente se tranca no quarto e ninguém o vê - eu mesmo só tenho uma única foto com ele. Porém, se abordado, ele te trata super bem. Esse ano, em Brasília, não foi o que aconteceu. Apesar de tudo, não houve entre nós sensação de frustração, pois sabemos que estamos tentando a sorte, e que ele nos atende se quiser, sem obrigação nenhuma. Fomos trollados, mas ainda assim é o Dave, o mestre da guitarra, um dos principais motivos de todos nós estarmos fazendo aquela loucura toda. Mas, depois dessa, todos fomos dormir.
No dia seguinte, mais uma vez acompanhei a saída da equipe do hotel. Mas eu tinha um alvo na cabeça: Kerry Harris. Em 2009, consegui fotos com a Lauren e com a Faye, duas das filhas do Steve Harris. A única que não consegui, Kerry, foi incorporada à equipe a partir desta turnê. Não sei fazendo o que, mas ela é definitivamente parte da família IRON MAIDEN agora. E estava ali, sozinha, dando sopa na recepção. Meio sem graça, pedi a foto, e ela foi super simpática. Mas não havia tempo a perder: nosso vôo para Belém partiria às 11:00 hs. E, desta vez, parecia que só tinha fã do IRON MAIDEN no avião. Foi um vôo bem legal. Em breve, voltarei a escrever, desta vez sobre o que aconteceu em Belém.
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