Quando comecei a escrever “Hard Rock – Aqueles que ficaram para trás” no final de 2004, tinha certeza de que haveria um capítulo em que figurassem somente as bandas brasileiras, mesmo com o público não se identificando tanto com o Hard Rock cantado em português. Assim sendo, nada mais natural do que esta “Edição Verde-Amarela” entrar bem na décima parte e completar o razoável número de 70 bandas apresentadas ao leitor desde então.
A paixão com que o brasileiro consome rock pesado já se tornou famosa no mundo há tempos. As apresentações de Alice Cooper em 1974 e KISS em 1983, por exemplo, impressionaram pela quantia e calor de seus espectadores. O público sempre existiu, e o advento do Rock In Rio em janeiro de 1985 apenas reforçou isso. E foi a partir daí que realmente começaram a aparecer mais e mais bandas pelo Brasil, que tocavam com mais peso e passavam longe do tom romântico e idealista das bandas de rock pop dos anos 70.
Havia um ponto em comum no antagonismo existente entre o pessoal envolvido com o Hard Rock e o Heavy Metal, pois muitos destes grupos tentavam fazer algo realmente profissional. O ponto de concentração deste movimento todo começou no próprio Rio de Janeiro e somente depois se deslocou para o clima urbano da capital paulista, onde permanece forte até os dias de hoje.
Outro problemão: geralmente as gravadoras não entendiam nada de rock pesado – o que estava em alta era o famigerado New Wave – e havia muitas experimentações em estúdios para deixar o som realmente pesado. Imaginem um grupo que supera tantas dificuldades e quando grava seu primeiro álbum, constata que suas canções não apresentam a potência que as bandas gringas conseguiam com tanta facilidade! E a distribuição destes discos? Já pensaram no número absurdo de cidades deste Brasilzão que nunca viram estes registros?
Uma dureza! E, peitando todas as dificuldades sociais e econômicas, as bandas foram angariando sua cota de fãs. A maioria encerrou suas atividades sem nem sequer lançar algum disco ou deixar informações para a história, mas surgiram novas outras, como têm que ser. E, antes de continuar, quero deixar claro que vários dos conjuntos citados abaixo estão longe de “ficarem para trás”, como sugere o título desta série.
PLATINA
"Platina"
(1985 – Baratos Afins)
No início da década de 80, os paulistanos Daril Parisi (guitarra) e os irmãos Andria (voz e baixo) e Ivan Busic (bateria) se conheceram e montaram uma banda cujo nome foi Prisma. As reuniões para ensaiar e criar suas composições ocorriam somente nas horas vagas e inicialmente, vejam só, sua música seguia a linha de Roupa Nova e 14 Bis (os leitores mais novos provavelmente desconhecem, mas estas eram bandas de rock pop romântico que tocavam direto nas rádios FM da primeira metade dos anos 80). Somente depois é que o trio começou a incorporar influências de Rush, Whitesnake, Deep Purple e Van Halen.
Poucos meses antes de entrar em estúdio adicionam o vocalista Sérgio Semam, o assim chamado “Anjo Loiro”, e passam a se chamar definitivamente Platina. Após algumas mudanças nos arranjos em função do novo cantor, o quarteto grava seu disco em julho de 1984 pelo selo Baratos Afins, o maior incentivador do metal brasileiro da época.
Este trabalho auto-intitulado com seis canções é lançado em janeiro do ano seguinte no formato EP de 45 rpm (essa tal de rpm – rotações por minuto – era uma das opções para a reprodução dos antigos aparelhos que tocavam os extintos discos de vinil). O fato de Ivan e Daril já terem experiência em estúdio, além deste último ser engenheiro eletrônico, fez com que a gravação deste álbum ficasse bem acima da média se comparado com outros registros lançados na época, inclusive sendo considerado por muitos como o melhor lançamento da Baratos Afins até então.
“Platina” era cantado em português e musicalmente apresentava uma mescla de Hard Rock e Heavy Metal, além de grande preocupação em passar muita positividade ao ouvinte, merecendo destaque canções como “Fascínio”, “Reflexão” e “Stress”, com ótimas guitarras. A repercussão é bastante positiva, tanto que a banda consegue que suas canções façam parte da programação de algumas rádios e ainda marcar presença na televisão, em canais como Gazeta, Bandeirantes e Record, aparecendo nos programas “Perdidos na Noite”, “Sampa Rock Show”, “Banana Rock” e “Highway - Uma estrada para o rock”.
Infelizmente, o Platina não passou deste EP... A banda durou pouco mais de um ano e meio e seu fim ocorreu devido a diferenças de ideais entre os músicos, que decidiram trilhar por caminhos diferentes. Sérgio Semam dedicou-se ao jiu-jitsu, conquistando alguns prêmios em sua categoria. Já Daril Parisi produz, grava jingles para comerciais, realiza eventos musicais e é autor do “Guia de técnica para guitarra”, da editora Ricordi.
Já Andria e Ivan passaram por uma infinidade de grupos: Chave do Sol, Cherokee (que tocava algo voltado para o jazz rock), Ultraje a Rigor (onde gravaram os discos “Crescendo”, de 89 e “Por quê Ultraje a Rigor?”, de 90). A dupla segue em frente participando do álbum solo do guitarrista Wander Taffo, lançado em 1989, e depois, como Banda Taffo, lançam o ótimo “Rosa Branca” (91).
Com o desmanche da Banda Taffo, os irmãos Andria e Ivan se juntam o guitarrista Eduardo Ardanuy, que já havia tocado nas bandas Chave do Sol e Anjos da Noite, e, convidados por Supla, gravam o seu segundo disco e o lançam em 1991. E somente então chega a vez do carismático Dr Sin, cuja história o caro leitor já deve conhecer, não é mesmo?
Em entrevistas recentes no site www.drsiteonline.com.br, Andria e Daril comentam a possibilidade do Platina voltar aos estúdios e ainda fazer algumas apresentações. São planos que tem tudo para serem concretizados.
INOX
"Inox"
(1985 – CBS Records)
O Inox foi uma das grandes promessas da época. Formado na cidade de São Paulo em 1983, a banda tinha em sua formação Paulinho ‘Heavy’ Toledo (voz), Fernando Costa (guitarra), Sergis Capuano (baixo) e um primeiro baterista que nem deixou um nome para a posteridade. Seu substituto foi encontrado em poucos meses, chamava-se Rolando Castelo Júnior e era um dos mais conhecidos bateristas do circuito paulista, já tendo tocado com o Made In Brazil e Patrulha do Espaço.
Desde que surgiu, o Inox já apresentava uma postura totalmente profissional, desejando alcançar os mesmos padrões das bandas internacionais. Abrindo mão das apresentações ao vivo, passaram um ano se dedicando exclusivamente aos ensaios, composições e adquirindo bons equipamentos.
Somente com o time entrosado e de posse de um bom repertório é que o Inox sai em busca de uma grande gravadora. E qual não foi sua surpresa, pois, na primeira porta em que batem, a CBS, já assinam um contrato. A abertura foi mais fácil do que qualquer um poderia supor na época e, segundo a própria banda, não tiveram que se submeter a exigência alguma por parte da multinacional.
A CBS divulgou muito o Inox, o disco já estava gravado, mas demorou um bom tempo para chegar ao mercado. As expectativas eram altas e não frustraram, pois em 1985 o álbum chega aos consumidores e realmente impressiona pela variedade e alto-astral de suas canções, que iam do Hard Rock em “Ranger”, passando pelo rock n´roll propriamente dito em “Regulando micharia” e aos rudimentos do Speed Metal em “Doce poder”, além da ótima instrumental “Balaio de gatas”.
Mas aí começaram os problemas. O Inox possuía um bom disco, uma grande gravadora, equipamento invejável... Então, mesmo nunca tendo tocado ao vivo, era natural o desejo de que suas apresentações também estivessem no nível dos grupos internacionais. Arranjaram um empresário que prometeu investir em grandes produções, tocando em ginásios de esportes e campos de futebol – isso de norte a sul do Brasil – além de gravar um segundo álbum em português e inglês, pois também queria lançá-los no mercado externo.
... E adivinhem em que toda esta megalomania bem-intencionada fatalmente acarretou? Em nada! Parece que o Inox fez uma única apresentação e encerrou sua história.
GOLPE DE ESTADO
"Nem Polícia Nem Bandido"
(1989 – Gravadora Eldorado)
Grande Golpe! Desde que surgiu no final de 1985, o Golpe de Estado passou a ser saudado como uma das melhores bandas do Hard Rock nacional. Seu embrião começou na capital paulista com Nélson Brito (baixo) e Paulo Zinner (bateria), que tocavam no Fickle-Pickle, onde posteriormente entrou – e saiu rapidamente – o vocalista Catalau. Este projeto não durou muito, e o trio somente se reuniu novamente quando encontraram o guitarrista Hélcio Aguirra, já com boa reputação por ser integrante do Harppia.
Como o entrosamento entre seus músicos foi marcante, Hélcio passa a se dedicar somente ao Golpe de Estado, cujas canções eram predominantemente Hard Rock, mas com muita influência do Blues e algo de Heavy Metal, além de serem cantadas em português. Em menos de um ano já tocavam pelos teatros e bares de sua cidade, e toda a recepção do público rapidamente culminou num primeiro registro. Adivinhem que cuidou da produção? O onipresente Luiz Calanca, do Baratos Afins...
Simplesmente batizado de “Golpe de Estado”, o disco chegou ao mercado em 1986 com certa diferença em sua concepção, pois era um vinil com um dos lados em rotação 33 rpm e o outro em 45. Imaginem a confusão na hora de tocar o vinil, muitos ouvintes das rádios paulistanas escutaram “Olhos de guerra” na rotação errada!!!
Como o Golpe era uma banda que vivia sobre os palcos e, portanto, já contava com a fidelidade de muitos fãs, este álbum vende rapidamente cinco mil cópias, um número considerável em se tratando de um lançamento independente. Um começo tão promissor deixou o quarteto na expectativa de assinar com uma gravadora multinacional, mas infelizmente isso não aconteceu.
Nada de desânimo, e partem para o segundo disco novamente pelo Baratos Afins. “Forçando a Barra” sai em 88 e até contou com a participação da dupla Arnaldo Antunes e Branco Melo (Titãs) em “Onde há fumaça, há fogo”. Naturalmente bem mais coeso que o trabalho anterior, as canções estavam soando ainda mais rock n´roll e até mesmo mais dançante, e faixas como “Moon dog”, “Parte do inferno”, “Noite de balada” e “Cobra criada” foram muito bem aceitas pelos fãs.
“Nem Polícia, Nem Bandido” chega em 89 pela gravadora Eldorado, e com este disco abriram para o Jethro Tull e NAZARETH. Com os estabelecimentos onde tocavam sempre cheios (tive a grata oportunidade de assisti-los duas vezes e as apresentações foram perfeitas, com grande parte do público cantando junto), o Golpe de Estado já estava consolidado na cena paulistana, inclusive tocando com certa freqüência na rádio FM 97.
O próximo álbum, sugestivamente chamado “Quarto Golpe”, sai em 1991. Suas canções já vinham soando únicas desde o disco anterior, mas aqui estão impecáveis e, até então, com o melhor trabalho das guitarras de Hélcio. É inegável que os arranjos trazem ainda mais influência de blues e rock n´roll, e toda sua maturidade se mostra nas ótimas “Não faz mal”, “Sanguessugas” e “Caso sério”. Com este álbum, abrem para o DEEP PURPLE, para a felicidade total de Zinner, que tem nesta banda sua maior influência. E imaginem o ego deste baterista quando o próprio Ian Paice o elogiou, dizendo que tocava como Zinner no começo de sua carreira...
Em 94 é a hora do “Zumbi”, o primeiro a ser lançado no formato CD. A intenção com este álbum era tentar coisas diferentes, tanto que a faixa-título teve sua letra escrita pela Rita Lee, além de aqui cantarem sua primeira canção em inglês, “Slow Down”. E a coisa não pára por aí, pois há interpretações para “My Generation” (The Who) e “Hino de Duran” (Chico Buarque).
Mas também foi com “Zumbi” que começam alguns problemas para o Golpe de Estado. Por incrível que pareça, a Eldorado se perdeu no planejamento, pois, mesmo sabendo que o grupo vendia tranquilamente seus 15000 álbuns, liberaram apenas 2000 CDs iniciais, que se esgotaram rapidamente. Resumindo: os fãs querendo comprar e as lojas sem o produto... E o pior, chegou a conhecimento do público atritos e boatos de que Zinner estaria deixando o Golpe, pois o baterista também estava tocando na banda da Rita Lee e não conseguia conciliar as duas agendas.
Mas a vida continua e tudo se ajeita. Bom, mais ou menos... Pois foi no próximo álbum, o primeiro ao vivo chamado “10 Anos Ao Vivo”, que saiu via Paradoxx Music em 96, que o Golpe de Estado teve sua primeira mudança na formação. Mas quem saiu não foi Zinner. Foi Catalau! Alguns problemas pessoais fizeram com que ele deixasse de cumprir seus compromissos profissionais, e o ponto final foi quando o cara simplesmente sumiu na hora de gravar duas canções de estúdio que também entrariam para este registro ao vivo. Quem acabou assumindo as vozes foi Rogério Fernandes (Frickle Pickle e Eletric Funeral) nas canções “Todo mundo tem um lado bicho” e “Cada um bate de um jeito”.
Durante o ano de 1999, com Catalau novamente na banda, o Golpe faz diversas apresentações em grandes festivais. Mas no ano seguinte quem assume de vez o microfone é Kiko Muller, que traz sua voz no álbum “Pra Poder”, de 2004. Com produção musical assinada pela própria banda, a grande maioria dos fãs aprova o novo vocalista, que, se não tem o jeitão malandro de Catalau, consegue surpreender pela atuação sobre o palco.
Uma coisa é certa sobre o Golpe de Estado: sua fama de ser a “maior banda de Hard Rock do Brasil” não ficou muito abalada nem mesmo nos tempos em que ficou afastado dos estúdios. E para ocupar seu trono, seus futuros pretendentes terão que se dedicar muito à causa.
BANDA TAFFO
"Rosa Branca"
(1990 – WEA / CBS Records)
Wander Taffo é um guitarrista da capital paulista, bairro Pompéia. Começou a tocar profissionalmente em 1973 na banda Memphis, que executava covers pelos bailes da cidade, conseguindo inclusive gravar alguns discos. Por toda esta década o guitarrista passou por grupos legendários como Made In Brazil, Joelho de Porco, Secos e Molhados, Gang 90, além de fazer parte da banda da Rita Lee. Já nos anos 80, Taffo iniciou seu trabalho com a banda Radio Taxi, emplacando vários hits pop rock nas rádios populares. Ou seja, experiência é o que não lhe falta.
Mas nossa história começa quando Wander Taffo, já no final dos anos 80, abandona o Radio Taxi e resolve gravar seu primeiro álbum solo. Wander sempre deu aulas particulares de guitarra paralelamente aos grupos em que tocou e, numa destas aulas, perguntou se alguém conhecia um baixista e baterista que fossem bons. Foi então que um dos alunos, Edu Ardanuy, indicou ninguém menos que Andria e Ivan Busic...
Gravado em Los Angeles com o tecladista Marcelo Souss e trazendo a participação de Lobão na canção “Meu punhal”, além de músicas de Lulu Santos e Herbert Vianna, em 1989 é liberado seu primeiro disco-solo, “Wander Taffo”. Este trabalho foi muito bem recebido, sendo que a canção “Prá dizer adeus” constou na trilha sonora da novela "O Salvador da Pátria" e, o melhor, teve as manhas de receber o Prêmio Sharp de Música na categoria “Revelação Pop Rock Masculino”, e, como se isso não bastasse, no ano seguinte Wander foi escolhido pela crítica especializada como o melhor guitarrista do Brasil.
Empolgado com a recepção e entrosamento entre os músicos, em 1991 Wander monta a Banda Taffo, com uma proposta musical bem mais voltada ao Hard Rock. “Rosa Branca” sai em 1990 e é quase todo cantado em português, é dono de muita técnica e transborda feeling. “Olhos de Neon", "Sonhos de Rock n' Roll" (ambas com boas doses de Van Halen), além de "Chaplin", "Alquimista", as bonitas baladas "Vento Sul" e as acústicas "Um Pouco De Você" e "Rosa Branca", fizeram com que até mesmo o mais ferrenho detrator do Hard Rock brazuca se rendesse a este trabalho.
Além das apresentações pelo Brasil, Wander Taffo já era famoso em função de ser um veterano devidamente premiado, e, com os contatos certos, consegue a oportunidade de apresentar o disco “Rosa Branca” em shows em Nova York, no Limelight e no Cat Club, que foram gravados pela MTV americana e transmitido para vários países.
Mas um músico como Wander não se limitaria apenas à Banda Taffo por muito tempo... Tanto que encerrou suas atividades em 1992, onde então já contava com um vocalista chamado Fernando Nova. Os irmãos Busic se juntaram com Edu Ardanuy e formaram vocês-sabem-quem, enquanto o guitarrista Taffo foi convidado a participar de discos dos mais variados artistas, como Marina Lima, Cássia Eller, Arnaldo Batista, entre inúmeros outros. Somente em 1996 é que Taffo lançou seu segundo álbum-solo, o obscuro “Lola”, naturalmente com músicos diferentes de alguns anos atrás.
Impossível deixar de mencionar que Wander Taffo abriu o conceituado IG&T (Instituto de Guitarra e Tecnologia), algo totalmente inédito na América Latina pelo fato de unir alta tecnologia com centro de conveniência. Dois anos depois o que era IG&T se transformou em EM&T (Escola de Música e Tecnologia), e a partir daí seu empreendimento somente cresceu, contando atualmente com mais de 2500 alunos e cinco certificados internacionais de qualidade.
Inesperadamente, Taffo voltou com o pop rock do Radio Taxi, lançando um CD e DVD ao vivo pela Sony em 2006.
ROSA TATTOOADA
"Rosa Tattooada"
(1992 – Sony Music)
A banda Rosa Tattooada é considerada o maior representante do Hard Rock gaúcho. Formado em meados de 1988 na cidade de Porto Alegre (RS) por Jacques Maciel (voz e guitarra), Paulo Cássio (guitarra), Eduardo Rod (contrabaixo) e Beat Barea (bateria), sua música apresentava muita qualidade em sua proposta com influências de Kiss, Poison, Guns n' Roses, etc.
Já com sua primeira demo emplacam em sua região a balada "O inferno vai ter que esperar", e a repercussão foi tal que o quarteto logo assina com o pequeno selo Nova Idéia e grava o primeiro álbum, “Rosa Tattooada”. Melodias bem sacadas e bons refrões colaboram para o sucesso de outra balada, "Tardes de outono", mas o repertório não é formado só por faixas lentas, tanto que a ótima “Perdedor”, que abre o disco, possui as guitarras mais pesadas do álbum.
A partir daí as coisas começam a acontecer de forma inesperada ao Rosa Tattooada. Durante a passagem do Guns N’ Roses na “Illusion Tour” pelo Brasil, foram enviados álbuns das mais variadas bandas brasileiras para passarem pela audição de Axl e Cia, onde apenas uma seria selecionada para abrir suas apresentações no Rio de Janeiro e São Paulo. E adivinhem quem foi o sortudo?
Curiosamente, e talvez por uma compreensível insegurança por parte dos gaúchos, a oferta é recusada num primeiro momento. A resposta da produção do Guns quanto a esta negativa foi algo mais ou menos assim: “Peçam o que quiserem para tocar!”. Oras, na época, quem quisesse ter as melhores condições para viver de Hard Rock e Heavy Metal tinha que ir para São Paulo, e o Rosa, tão deslocado deste grande pólo rock n´roll, não poderia desperdiçar esta oportunidade única de mostrar sua música a uma gigantesca platéia que viria de todos os cantos do Brasil.
Os músicos sabiamente pedem as melhores condições possíveis para uma boa apresentação – som, luzes, e o que mais fosse necessário para arrasarem – e foram prontamente atendidos pela organização. O resultado não poderia ser outro, ou seja, duas excelentes apresentações do Rosa Tattoada, vista por milhares de fãs do Guns n´Roses e, consequentemente, de Hard Rock. Toda esta exposição fez com que seu primeiro álbum sumisse das prateleiras, e prontamente são contratados pela major Sony Music, que praticamente relançou seu debut auto-intitulado, mas com algumas faixas a mais e outra capa.
Mas era o começo da década de 90, a fase negra que atingiu as bandas de Hard Rock de quase todos os países... A Sony também deixa de apoiar as bandas de seu cast, tanto que dois anos depois o Rosa Tattooada libera “Devotion” pela Paradoxx Music. Agora cantado em inglês, este é considerado seu disco mais poser, cuja repercussão passou longe do trabalho anterior e resultou na separação do conjunto.
Somente em 2001 o Rosa retorna à cena, como um trio. Cabelos a menos, tatuagens a mais, os veteranos Jacques Maciel e Beat Barea são acompanhados pelo baixista Rodrigo Maciel (contrabaixo e irmão de Jacques), e, agora pela gravadora Antídoto, liberam “Carburador”, novamente cantado em português e mais pesado que a sonoridade de outrora.
Dois anos depois, 2003, lançam o muito bom “Hard Rock Deluxe”, que comemora os 15 anos da formação do Rosa Tattooada e tem como produtor Vini Tonello, agora tecladista oficial do grupo. Por fim – mas não o fim – chega a vez de “Rendez-Vous” (06). Particularmente, considero este um dos melhores álbuns de Hard Rock cantado em português lançado no Brasil, e indispensável aos fãs da fase de ouro de bandas comoKISS e Mötley Crüe.
X-RATED
"Animal House"
(1992 – Polygram Records)
Vindo do Rio de Janeiro, o X-Rated começou suas atividades no final de 1989, tendo em sua formação André Chammom (bateria) e Mark DB (guitarra), Bruno Schubnel (baixo) e Lucky Lizard (voz). Como Chammom e DB já haviam tocado respectivamente no Stress e Azul Limão, bandas muito importantes no começo da cena metálica no Brasil, o X-Rated conseguiu a difícil façanha de conquistar o respeito de muitos dos adeptos do Heavy Metal propriamente dito.
Com um time já experiente, no ano seguinte gravam uma demo-tape com três faixas que são divulgadas por rádios-rock como a Fluminense FM (RJ) e 97 FM (SP). Mesmo chamando a atenção, o X-Rated estava numa situação meio difícil, pois naquela época o cenário do rock no Brasil era constituído, em sua imensa maioria, por bandas pop rock cantando em português e apoiadas por grandes gravadoras e, do outro lado, bandas de Thrash e Death Metal cantando em inglês e gravando pelos selos independentes especializados no estilo.
Não havia grande espaço para seu Hard Rock, tanto que o X-Rated fazia suas apresentações ao lado de bandas de Thrash e Death Metal... Sentiam que este não era o caminho certo e batalharam para criar seu próprio nicho. Para tanto, partiram para a gravação de seu primeiro álbum com o selo independente Heavy.
Com uma verba mínima o quarteto grava "Shaking Like A Bad Machine", que, vejam a situação, deveria conter 12 músicas, mas acabou só com 10... O motivo? A fita master terminou quando estavam no meio da décima-primeira música e o estúdio ficava no meio de uma fazenda em Valença, interior do estado do Rio. Não dava para comprar outra a tempo, pois a gravação deveria estar finalizada em apenas cinco períodos. As músicas que ficaram de fora foram "Realize It" (interrompida no meio quando acabou a fita) e "She's A Dancer" (a futura "Dangerous").
Enquanto a Heavy se preparava para lançar o debut, o X-Rated volta a tocar pelo circuito de bares e também em teatros. Até que em 25 de agosto de 1990, quando tocariam com o Thrash Explicit Hate no Teatro Aurimar Rocha (RJ), houve uma confusão gerada com o público que ficou do lado de fora, que, não podendo entrar em função do local estar lotado, começam a quebrar os vidros da portaria e ainda algumas cadeiras.
Isso gerou um problema para o X-Rated num momento delicado. A dona do teatro telefonou para todos os demais estabelecimentos da cidade para pedir que não permitissem mais shows com a banda. E como "Shaking Like A Bad Machine" foi lançado no mês seguinte, a banda não conseguia se apresentar no Rio em função do quebra-quebra.
De qualquer forma, “Shaking Like A Sex Machine” é apresentado num show no Circo Voador em outubro deste ano, no próprio Rio de Janeiro. Esta apresentação também teve seus momentos, pois abriram para oSEPULTURA e, mesmo vendo toda a platéia Thrash, não se intimidaram e dispararam um cover de Red Hot Chili Peppers. Como é de se supor, parte da platéia não reagiu com a melhor das intenções para com a banda... Mas nem tudo está perdido, pois a partir de novembro o grupo fica como atração fixa das noites de Heavy Metal que estavam começando a acontecer na Boate Luaestrela.
E foi com a terceira posição alcançada pelo X-Rated nas eliminatórias do concurso Escalada do Rock, que selecionaria bandas para tocar no Rock'n Rio, que o quarteto chama a atenção das grandes gravadoras. Fecham um contrato com a Polygram para a gravação de um álbum que, dependendo da repercussão, poderia se estender para mais dois.
O novo registro começou a ser gravado em maio de 1991, com produção de Paulo Junqueiro. Mas a morte de um familiar deste produtor impediu que ele continuasse com as gravações, que foram concluídas pela própria banda e o técnico de som. Neste ponto, o X-Rated consegue a oportunidade de abrir alguns shows do Faith No More no Maracanãzinho (RJ), onde grava cenas que seriam usadas nos videoclipes de “Across The Rush” e “Kill Big Brother”. Além disso, tocaram para mais de 10.000 pessoas em Santo André (SP) na festa de Rádio 97 FM, e ainda no Aeroanta de São Paulo.
Enfim, em fevereiro de 1992 lançam oficialmente no Rio o álbum “Animal House”, onde Lizard chamava a atenção, pois sua voz apresenta alguma semelhança com a de Blackie Lawless (W.A.S.P.). As canções são básicas e ríspidas, se destacando facilmente a nervosa “Kill Big Brother”, “Get Your Things Together” e “Bill Bad Sanchez”.
Mas a gravadora esperava um sucesso imediato, coisa que não aconteceu. Eles avisam à banda que não sairia um novo álbum em 92 devido à crise econômica (desculpa usada com freqüência, não?) e logo depois a Polygram rescinde o contrato com o X-Rated. Porém o conjunto é persistente e continuou se apresentando com freqüência, tanto que depois do Festival Multimídia no Canecão (RJ), o selo Polvo Discos se interessou e assinou com o conjunto. Em abril de 1994 vai para as lojas o CD “Daresafesexdisorder”, e desde então o conjunto não mostrou mais as caras.
BURN
"Sagrado Rock N´ Roll"
(2001 – independente)
O Burn foi fundado em 1978 pelos irmãos Márcio Silva (voz e guitarra) e Vitor Celso (baixo), e foi a primeira banda de rock pesado que surgiu na região de Florianópolis. Em sua bateria passaram vários músicos, inclusive o ex-Secos e Molhados Marcelo Frias, e o respeito que conquistaram ao longo de sua trajetória entre os catarinenses é algo realmente digno de nota.
Como Florianópolis não tinha bandas, consequentemente também não havia apresentações... Então o Burn surgiu preenchendo todo este vácuo. A banda usava instrumentos confeccionados pelos próprios músicos e seus ensaios arrastavam todo o pessoal das redondezas que curtia rock pesado e, como no local destes ensaios não cabiam todos os cabeludos, muitos ficavam escutando as canções pela rua mesmo.
Dois anos depois, o grupo faz sua primeira apresentação e, tomando gosto pela coisa, resolveram começar a agir como uma "empresa". Passaram a alugar ginásios e teatros para promover seus shows, tinham uma equipe de apoio que se revezava na montagem do equipamento e na cobrança de ingressos, além de batalhar pelo seu próprio equipamento de som.
Neste esquema bem estruturado, promoviam um show por ano em cada cidade de Santa Catarina, em espetáculos com direito a pirotecnia e performances memoráveis, como um avião construído pelo próprio pessoal, que dava um rasante sobre o público e bombardeava-o com pétalas e talco. Tudo isso sem nenhum álbum lançado, apesar das inúmeras composições próprias.
Para o leitor ter uma noção do que eram suas apresentações, em maio de 1983 o Burn tocou no Teatro Álvares de Carvalho, o famoso ‘TAC’ de Florianópolis. Até então esta foi a maior lotação num show musical deste estabelecimento, e a porrada sonora foi tamanha que sua digníssima direção não permitiu mais que o grupo tocasse novamente sobre aquele palco, temendo a “integridade” das estruturas do espaço. É mole?
Em 1986 o Burn já era um sucesso no sucesso no circuito underground de Santa Catarina. Sua música "Nuvens negras" alcançou o primeiro lugar nas paradas da rádio Atlântida FM, ficando três semanas consecutivas em primeiro lugar, um feito até hoje nunca alcançado por alguma banda de rock da Grande Florianópolis. Mas na segunda metade dos anos 80 o rock pesado estava passando por profundas mudanças. Se chamava Heavy Metal, era bem mais veloz e as letras abordavam a guerra, violência urbana e magia negra. Isso tudo ia ao contrário da proposta do Burn, cujas letras buscavam a paz. E esta nova geração de fãs não simpatizava tanto assim com a sonoridade mais retrô da banda.
As pressões para mudar sua linha musical não surtiram efeitos, mas o desânimo bateu forte quando o Burn perdeu a oportunidade de gravar seu primeiro e tão aguardado disco, que se chamaria "Era da Paz". Nesta época, o Brasil passava por um plano econômico mais ineficaz que o outro, tentando controlar uma inflação absurda. E o tal plano que prejudicou a carreira do grupo se chamava "Lei Sarney", que, é claro, também não resolveu os problemas pelo qual o país passava...
A última apresentação aconteceu no ano 1990, e logo depois o Burn saiu de cena. Venderam praticamente todo seu equipamento e o "Rock Pesado", “Hard Rock” ou "Heavy Metal" na Grande Florianópolis nunca mais foi o mesmo. Nenhuma outra banda surgida depois teve a organização e o cacife que o Burn tinha para promover grandes shows.
Mas em 2001 o Burn voltou à ativa, tendo somente Márcio como músico fundador, e dois anos depois liberou enfim seu primeiro álbum, agora chamado "Sagrado Rock´n´Roll". Contando com Nico no baixo e Hermínio Ávila na bateria, este é um discaço que resgata todo o alto astral da sonoridade dos anos 70 em canções como a faixa-título, “Masmorras Escuras” e “Nuvens Negras”. Hoje a banda continua com os dois irmãos Silva, mas agora Vítor Celso toca bateria e o baixo fica aos cuidados de Guilherme.
Lembram-se quando foi dito que a banda não poderia mais tocar no tal ‘TAC’ de Floripa? Pois bem... Os tempos mudam e a consciência também. Graças! A própria e atual administração convidou o Burn para tocar novamente aí, fazendo um show de lançamento de seu segundo álbum, que sairá em julho deste ano sob o título “Tempos Perdidos”. E podem ter a certeza de que estarei lá! Para curtir a música e, quem sabe, presenciar algum eventual histórico abalo nas estruturas do Teatro Álvaro de Carvalho.
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