3 de dezembro de 2010

Device: um grito contra o sistema social em que vivemos

Já mostrando todo seu potencial com o EP “Behold Darkness”, que inclusive atingiu território internacional através do selo inglês Death Toll Records, o Device vem dando alguns passos consideráveis com a brutalidade de seu Heavy Metal. Os brasilienses foram finalistas na seletiva do W:O:A Metal Battle e até mesmo emplacaram suas canções na trilha sonora do filme independente "A Capital dos Mortos”. Tudo isso em 2008.



Agora o Device está liberando seu primeiro álbum oficial, no formato SMD (semi metalic disc), cujo Death Metal continua implacável e mais técnico. A banda tem em sua formação Italo Guardieiro (voz), Marco Di Vicenti (guitarra), Marco Mendes (guitarra), Daniel Gonçalves (baixo) e Victor Lucano (bateria), e o Whiplash! conversou com o pessoal para saber das novidades... Confiram aí:
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Whiplash!: Saudações, pessoal. Ainda que relativamente novo na cena da música extrema, o Device já deu alguns passos consideráveis em sua carreira. Que tal começarmos com um histórico desde sua fundação?
Italo Guardieiro: Saudações, Ben, Whiplash! e todos os leitores. Passos árduos. Com a formação da banda em 2004, nos apresentamos em vários shows do DF; em 2005 mudamos de formação algumas vezes; em 2006 conseguimos gravar o EP “Behold Darkness”; em 2008 tivemos a maior bateria de shows da banda dentro do centro-oeste, participando de grandes seletivas de eventos como Porão do Rock e o W:O:A Metal Battle e também fazendo parte da trilha sonora do filme independente candango “A Capital dos Mortos”; em 2009 conseguimos um contrato com a Death Toll Records na Inglaterra para a distribuição do EP, assim tendo um reconhecimento já mundial, e em 2010 gravamos e lançamos o “Antagonistic”. Contamos com várias participações em coletâneas nacionais e internacionais.
Whiplash!: E como rolou essa parceria com Tiago Belotti, que dirigiu o primeiro longa-metragemnacional sobre zumbis, o independente "A Capital dos Mortos”?
Italo Guardieiro: Eu vi um anúncio em uma comunidade do Orkut que estavam precisando de pessoas paraparticipar de um filme de zumbis, me candidatei na hora, e por coincidência a filmagem foi na casa do Tiago Belotti. Depois das filmagens nós sentamos pra conversar e comentei que tenho uma banda de metal extremo e que estava se preparando pra gravar o nosso primeiro registro. Ele se interessou bastante, gostou e houve essa parceria. Até gravamos um videoclip com o Tiago Belotti contendo cenas do filme.
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Whiplash!: "Antagonistic" está chegando agora ao mercado. Um trabalho muito brutal... Em que aspectos você acha que o novo repertório poderia estar um degrau acima das composições de “Behold Darkness", que já teve uma resposta tão positiva?
Italo Guardieiro: Acredito que nós evoluímos e amadurecemos com o passar do tempo, e com essa nova formação as composições estão mais técnicas e agressivas. Estamos muito satisfeitos de como todas as coisas estão tomando rumo. Se perdermos alguns fãs e ganhamos outros... Já são outros quinhentos!
Daniel Gonçalves: O “Antagonistic” é um trabalho mais técnico e mais maduro, onde nos preocupamos ainda mais com elementos que pudessem enriquecer cada composição, queríamos algo que soasse mais pesado que o anterior. Além de serem dois momentos distintos no caminho da banda, onde no primeiro contávamos com outros integrantes que tinham seu peso nas composições e, com isso, outras idéias.
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Marco Mendes: A reformulação da banda trouxe novas influências, e assim nasceu o “Antagonistic”. É um trabalho mais técnico, buscando aprimorar nosso som.
Whiplash!: Creio que o Brasil, ao lado de alguns países da Europa oriental, consigam proporcionar maiores saídas criativas que dificultam uma estagnação do Heavy Metal extremo. Sendo brasileiros, a que vocês acham que se deve esse fato?
Daniel Gonçalves: Bom, acredito que o Brasil revelou várias e excelentes bandas que tiveram uma contribuição expressiva no cenário brasileiro e mundial, acho que precisamos de mais festivais voltados para a música extrema no Brasil. Incentivo por parte da mídia para revelar talentos que sobrevivem por anos no underground sem ter a chance de gravar um material com qualidade ou divulgar seu trabalho por questões financeiras, ou ainda por falta de oportunidade de se apresentar em grandes festivais.
Marco Mendes: Principalmente, ao entusiasmo das bandas. Alcançar um espaço no mercado fonográfico é muito difícil. A inovação é o que move este mercado.
Whiplash!: “Let Burn", "Mind Decay", "Temptations Desert" e "Pátria dos Porcos" são faixas muito intensas. Como vocês trabalharam o conceito geral das composições? Aliás, as palavras daquele nosso digníssimo ex-presidente ficaram perfeitas como introdução de "Pátria dos Porcos"... Foi uma boa sacada!
Italo Guardieiro: Costumo dizer que nossas letras falam sobre o Apocalipse da Burrice Humana. Eu particularmente gosto de escrever e falar sobre essa temática, na música eu crio meu sistema de protesto.
Marco Mendes: Compor estas músicas foi como um grito contra a sistemática social em que vivemos. O cidadão é escravo de sua própria existência, e nestas composições expomos a decadência e sofrimento que milhões de pessoas aceitam sem se opor. A fúria contida nestas composições exprime nossa posição política, social e religiosa.
Daniel Gonçalves: Não temos uma receita para isso, nossas músicas vão surgindo naturalmente, mas brincamos que temos uma máquina de fazer música que se chama “Toin” Marco Mendes (risos). Geralmente alguém da banda chega com uma música já pronta ou alguma idéia bem legal, seja ela uma letra ou um riff e vamos trabalhando até ficar em seu resultado final. No caso de "Temptations Desert", tivemos a intenção de colocar mais vocais rasgados pra que a música soasse bem diferente das demais do disco, criando um dueto entre Italo Guardieiro e Marco Mendes.
Whiplash!: Estou sempre interessado em ouvir sobre as diferentes maneiras que as bandas trabalham em estúdio, e o áudio de "Antagonistic" está matador! Como foi o processo de gravação com Caio Duarte (Dynahead) e o contato com Russ Russell (Napalm Death, DIMMU BORGIR, Amorphis)?
Daniel Gonçalves: Trabalhar com o Caio Duarte é sempre muito tranqüilo, ele entende bem o que a banda quer, além de ter muitas ideias legais. Isso vem desde o “Behold Darkness”, que também foi um excelente trabalho dele, e com “Antagonistic” estávamos mais maduros e empolgados com as músicas, e também por gravar com ele e ver logo o resultado do nosso trabalho!
Italo Guardieiro: Escolhemos trabalhar com o Caio por conta do excelente resultado em “Behold Darkness” e manter a qualidade. É muito tranqüilo e o resultado foi satisfatório. Bem... Com o Russ Russell também não foi diferente, é um cara muito atencioso e simpático e sempre respondia nossas dúvidas com rapidez, por e-mail disse que curtiu o som da banda e também gostou de trabalhar com a gente. Com ótimas pessoas na equipe, o resultado não poderia ter sido ruim.
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Whiplash!: Por aqui o disco está saindo de forma independente, mas como ficou a questão do lançamento de "Antagonistic" no mercado externo? Foi divulgado que o selo inglês Death Toll Records iria distribuí-lo, como o fez com o EP “Behold Darkness”...
Italo Guardieiro: Sim, até o começo do ano o álbum seria lançado pela Death Toll, porém não foi possível. Como alguns sabem, a gravadora teve que fechar as portas por motivos de força maior, rolou também a morte dos integrantes do After Death em território brasileiro durante a turnê com o Master, e isso desencadeou uma porrada de problemas emocionais e financeiros que impediu de continuar tocando alguns planos. Porém a gravadora, mesmo com tantos problemas, continuou com o Device e nos ajudou até onde foi possível, como a parte da masterização com o Russ Russell. Mas, mesmo sem gravadora, nós contamos ainda com a força de um grande amigo que é o Miguel Freitas, que era da Death Toll e está representando a banda lá fora de várias maneiras. Já enviei alguns CDs pra ele e estamos aguardando alguma resposta. Distribuição mesmo está sendo feita por todos nós.
Whiplash!: E a agenda de shows do Device, como está?
Italo Guardieiro: Por enquanto está bem devagar. Poucos shows em 2010, esperamos que em 2011 seja diferente. Porém os shows de lançamento do álbum foram ótimos, tocamos com ótimas bandas que nunca tinha dividido palco com a gente, abrimos o show do Master em Goiânia e o show do Death Angel aqui no DF... Poucas apresentações, porém memoráveis.
Whiplash!: Pois bem, disco novo em mãos e um novo ano chegando aí... Considerando que uma banda com trabalho próprio precisa capturar seu público do zero, praticamente sem apoio da mídia e com muito menos palco disponível para tornar as músicas conhecidas, qual o principal foco do Device a partir de agora?
Marco Mendes: Cada vez mais as bandas de metal de Brasília estão unindo forças para manter viva a cena underground. Fazemos parte deste movimento, organizando shows em conjunto com outras bandas, e desta forma almejamos alcançar novos horizontes. Atualmente o foco é divulgar nosso trabalho nestes shows e pela internet, mas já estamos trabalhando em novas composições para o próximo álbum.
Daniel Gonçalves: A principal meta e divulgar o disco e procurar um selo que possa distribuir nosso trabalho pelo Brasil e no mundo, e também estamos vendo à possibilidade de gravar um novo videoclip, a música ainda é segredo (risos).
Whiplash!: Ok, pessoal, o Whiplash! agradece pela entrevista desejando boa sorte na divulgação de "Antagonistic". O espaço é do Device para as considerações finais.
Marco Mendes: Muito obrigado por esta entrevista. Esperamos que os leitores apreciem nosso trabalho e prestigiem cada vez mais as bandas independentes.
Italo Guardieiro: Muito obrigado a vocês por estar cedendo um espaço para nós. Em breve novidades sobre a banda. Aos críticos posers: a ausência de eventos underground é diretamente proporcional ao seu desinteresse. Fiquem firmes!


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