Matt Warnock: Qual foi a inspiração para as filmagens do documentário “This is Wishbone Ash”?
Andy Powell: Um documentarista francês, fã de WISHBONE ASH, veio até nós e fez a sugestão. O nome dele é Christian Guyonnet. Ele faz parte dessa espécie rara de fãs proativos que utilizam seus talentos para ajudar a promover a banda. Há muita gente excelente que busca nosso bem-estar de maneiras como essa. É inacreditável e gratificante.
Matt: Em que nível a banda se envolveu no processo de filmagem, ou isso foi deixado nas mãos da equipe de filmagem enquanto vocês de concentravam na música?
Andy Powell: Bem, nós fizemos uma reunião inicial apresentando uma espécie de storyboard. Havia uma lista de coisas que nós queríamos conseguir. Nós sabíamos que queríamos incluir imagens de um concerto ao vivo que estávamos fazendo na França naquele momento. Também queríamos mostrar algumas composições menos conhecidas, do final dos anos 70, que estavam sendo revisitadas e ensaiadas. Canções como "Right or Wrong" e "Rainstorm".
Obviamente, houve alguns lances musicais espontâneos que aconteceram enquanto estávamos filmando. E era precisamente esse tipo de coisa que nós estávamos esperando capturar. Estou falando do nascimento concreto de canções durante o processo de composição. Você pode escutar e ver isso muito claramente com a música nova “Reason to Believe”, em que vocês podem nos ouvir tentando dominar os trechos de guitarra durante o estágio das idéias e reunindo os versos, improvisando idéias líricas ao vivo no estúdio.
Também há uma bela seqüência lírica que o Christian filmou enquanto estávamos tocando o instrumental “Lullaby”. Ele tinha a idéia de construir uma seqüência inteira em torno dessa música com alguns planos no terreno de um velho solar na Normandia, com as pessoas por ali, e sobrepor essa filmagem a cenas da banda mandando ver ao vivo, mas essa filmagem acabou sendo transposta para slow motion. Nem em um milhão de anos eu poderia ter uma idéia dessas. E deu realmente muito certo com as imagens da banda tocando a música nesse pequeno ensaio. Edição genial e grande exemplo da arte do cineasta.
Matt: Você está satisfeito com o filme acabado? Há planos para fazer outros documentários para futuros álbuns ou então para documentar uma turnê?
Andy Powell: Muito satisfeito. Sob o ponto de vista técnico, Christian e sua equipe têm toneladas de experiência em documentários de vários tipos, musicais e tantos outros. Os franceses têm uma grande tradição nesse tipo de filme. Não há muita coisa brilhante e pretensiosa acontecendo, mas sim uma captura profunda da atmosfera, com todas as imperfeições. É muito honesto. Você pode perceber que, no início, nós estamos um pouco nervosos, nos acostumando à presença permanente das câmeras e então, gradualmente, as coisas começam a ficar mais relaxadas, chegando a um ponto em que mal nos damos conta das câmeras.
Não existem planos imediatos para realizar outro documentário, já que só agora estamos nos acostumando com esse que temos agora. É algo completamente novo para nós. Contudo, alguns registros de turnê saíram no nosso recente DVD de 40º aniversário do show em Londres. Foi uma espécie de mini road movie.
Matt: A banda tem permanecido junta, entre saídas e entradas, desde 1969. A que você atribui esse sucesso de longo prazo enquanto muitos de seus pares acabaram caindo no esquecimento ao longo dessas décadas?
Andy Powell: Em primeiro lugar, o WISHBONE ASH tem sido uma entidade permanente, sem interrupção, desde 1969. Se alguém decidiu deixar a banda, foi substituído. As pessoas saíram de uma maneira fragmentada. A banda nunca se separou, ao contrário de tantas dessa era. Houve períodos em que três dos membros originais estavam lá, depois dois, e agora um. E assim é com muitas outras bandas, comoJETHRO TULL, DEEP PURPLE e THIN LIZZY. É um pouco como as equipes esportivas com uma grande história, um grande ethos. É esse espírito que segue adiante com os fãs e com a própria música.
Até certo ponto, eu tenho que relutantemente levar algum crédito por manter banda para frente nos altos e baixos e ao longo das várias mudanças no negócio da música durante esses últimos 41 anos. Eu realmente comprei a idéia original da banda de energia positiva e ação positiva, desde o começo. Nós todos nos comprometemos com isso. Infelizmente, nem sempre é possível para os indivíduos colocar isso em prática o tempo todo. Eu tenho sido afortunado por ter um histórico favorável com essa minha perspectiva de jamais desistir.
Algo que tem me mantido numa posição favorável é a humildade e o pragmatismo. Por um lado, eu acredito que a banda tem fortes raízes nos anos 70 e a ética do trabalho que todos nós tínhamos naquela época ainda permanece. Além disso, percebi que nós somos essencialmente uma banda de apresentações ao vivo, e é justamente aí que a coisa fica séria. É aí que acontece a verdadeira ação, ao vivo no palco. Antigamente, de tempos em tempos éramos deixados de lado pelos selos das gravadoras e suas prioridades. Então, havia os managers, ou seja lá quem fosse, tentando justificar suas posições, mas a solução era sempre continuar tocando, se apresentando e gravando.
Além disso, nós nunca fomos estereotipados com insanidades do tipo “vocês só são tão bons quanto seu último single”. Nós simplesmente jamais tivemos singles que fossem grandes hits. Isso nos permitiu ficar um pouco fora do radar e, ao mesmo tempo, nos deixou aptos a tocar ao redor do mundo em todos os contextos imagináveis. Assim, só no ano passado, nós visitamos todos os países da Europa, América do Norte, Canadá, além de Japão e África do Sul. Nada mal. Ontem à noite cheguei em casa depois de retornar de Dublin, minha sexagésima apresentação só este ano.
Matt: Quais foram algumas das maiores mudanças, boas e ruins, que você percebeu na indústria da música nessas últimas quatro décadas?
Andy Powell: A especialização da música, a categorização de tudo. Parece que se você é R&B não pode ser Folk ou se você for Prog, então não pode fazer Blues, esse tipo de coisa. O que era maravilhoso no começo dos anos 70 é que você podia fazer o que bem quisesse. Há também uma vida útil curta para tudo agora. As coisas não duram. Naquela época, estávamos ditando as regras e produzindo clássicos de certo modo duradouros.
Isso não quer dizer que as pessoas tenham menos talento agora. Não é isso. É apenas sociologicamente diferente. Agora, a sociedade se tornou Rock n’ Roll. Os baby boomers empurraram seus ideais no mundo inteiro, para o bem ou para o mal. Não há muito contra o que se rebelar, exceto a ganância corporativa e o novo stablishment, o que não é fácil dada a imensidão demográfica dessa sociedade em envelhecimento que temos agora.
No nível empresarial, é muito daquilo que sempre foi. Todos aqueles ideais de alternativas e de um negócio gerido pelo próprio músico deram lugar à coisa corporativa, do tipo Live Nation. Você tem simplesmente que passar por cima e trabalhar ao largo disso tudo. Isso não tem muito impacto sobre o WISHBONE ASH.
Matt: Em 1998 houve alguma controvérsia envolvendo o copyright do nome da banda. Essa questão foi resolvida e todos foram capazes de seguir em frente e voltar o foco para a música?
Andy Powell: Deixe-me dizer isso, o foco do WISHBONE ASH é cem por cento na música. Sempre foi. Não houve controvérsia em 1998 sobre a questão da marca. Houve uma percepção depois, e uma tentativa subseqüente de três dos membros originais em registrar o nome para seu uso próprio. Isso aconteceu há uns dois anos, depois de 20 anos fora da banda, no caso de alguns indivíduos.
Eu registrei o nome junto às autoridades de marca em 1998. Acredito que foi há 13 anos, especialmente porque nunca houve um registro anterior. Eu percebi que a cena estava se tornando cada vez mais confusa com todas essas bandas de tributo e que estava ficando difícil de distinguir o que havia de verdade nessa realidade.
O legado dessa grande banda, WISHBONE ASH, pode estar realmente ameaçado dessa maneira, como tem acontecido com outras bandas. De fato, eu estava fazendo um favor aos ex-membros originais da banda ao proteger o nome do mau uso por impostores musicais e de outros tipos. Eu tive que regularmente proteger o nome da banda do uso indevido, de empresas de vestuário a cachorros de desenhos animados.
Todos os membros originais tomaram seus próprios rumos e estavam vivendo no interior cultivando hortaliças ou algo do gênero e, na maioria dos casos, não estavam fazendo música. Por insistência de uma terceira parte interessada, os caras tentaram fazer o registro, como eu disse. As autoridades de registro imediatamente decidiram em desfavor deles. Na Alemanha, por exemplo, o judiciário de lá deu proferiu uma decisão contra o uso indevido do nome num certo local, que estava confundindo os fãs quanto a quem realmente estava se apresentando por lá, nesse local na Baviera. Eles estavam anunciando que o WISHBONE ASH estava se apresentando na cidade, numa casa de shows em Würtzburg. Esse tipo de lance está acontecendo muito agora. É uma espécie de coisa da recessão desesperada.
A tendência agora é que vários músicos que entregaram os pontos no passado resolveram sair da toca, percebendo que esse é o melhor momento de suas vidas e tentaram ressuscitar aquele sentimento em si mesmos, além de fazer um pouco de dinheiro pelo caminho. Quanto a mim? Eu jamais tive que manter esse diálogo comigo, simplesmente porque eu nunca abandonei turnês e gravações, e nunca deixei o WISHBONE ASH. Ponto final.
Matt: Como você se sente em relação ao projeto do Martin Tuner que ele chama “MARTIN TURNER’S WISHBONE ASH”?
Andy Powell: Ele originalmente decidiu voltar a tocar baixo de novo, cerca de cinco anos atrás. Eu aplaudi isso. Ele me perguntou se eu me importaria caso ele utilizasse o nome “MARTIN TURNER’S WISHBONE”. Eu disse que não. Ele, então, na última hora, saiu-se com esse nome que você mencionou, o que causou, subseqüentemente, o tipo de controvérsia ao qual você se referiu anteriormente.
O triste disso é que promoters e managers passaram por cima dessa confusão mercadológica, e, como eu temia, exploraram esse comportamento em busca de grana rápida. Desse modo, jogam pra baixo valores e trabalham para acumular nossos territórios duramente conquistados, sempre utilizando as palavras WISHBONE ASH em sua publicidade. O público, então, acredita que se trata da única e mesma entidade que tem dedicadamente produzido CDs e DVDs por 41 anos. É terrível para o retorno do Marty da música, maculando tudo o que ele faz agora. Completa perda de credibilidade. Triste para ele e para seu legado.
Matt: Quais guitarras você utilize hoje em dia nos palcos e no estúdio?
Andy Powell: Agora sim uma pergunta bem mais interessante! Eu tenho várias Flying V’s, é claro. Ninguém esperaria o contrário. Há algumas Gibson, minha original '67, meu modelo branco '72 , além de alguns modelos customizados por gente como Kevin Chilcott e, também um recente do Jon Case. Ambos esses caras são excelentes luthiers no Reino Unido.
Recentemente ressuscitei minha Telecaster original de 1952, que pertencia ao ROY BUCHANAN, e a tenho utilizado nos palcos. É uma guitarra animal, realmente um instrumento formidável. Além disso, eu uso Suhr, Music Man e, mais recentemente, Duesenberg alemã. Eu tenho desde uma Strat mexicana fantástica, que eu comprei por $400, até uma cara Fender Custom Shop reedição '54, e assim por diante. Eu também tenho uns amplificadores Fender vintage dos anos 50, tweed combo, que eu sempre usei em estúdio, como Bassmans e Concert amps. Eu adoro aqueles alto-falantes de 10 polegadas.
Matt: Exatamente agora você está na estrada nos EUA e, depois, de volta à Europa. A vida na estrada não se torna muita cansativa ou a energia que vocês recebem em suas apresentações mantém em vocês o amor pela programação constante das turnês?
Andy Powell: Ah, por favor! É como perguntar “a sua vida nunca se torna cansativa”? Bem, às vezes eu passo um dia ruim, em pé numa fila da segurança de aeroporto, mas ser um músico é a minha vida e, em resposta à questão: sim, eu tenho um prazer imenso em tocar, gravar, fazer DVDs etc. Você recebe muita energia de volta da música. Esse é o melhor “trabalho” no mundo: viajar, conhecer pessoas, visitar culturas interessantes e ser instigado por diferentes atitudes, costumes, culinária, cenários. Se você está disposto a isso, então se torna estimulante.
Todavia, não é para todo mundo. Minha mãe de 90 anos me disse que eu sempre fui uma criança inquieta. Eu sempre quis saber o que estava acontecendo além do muro do quintal e sempre fugia pra longe do nosso bairro, à medida que crescia. Na verdade, na primeira vez que saí de casa eu viajei por terra até Marrocos, saindo de Londres. Eu tinha cerca de 17 anos na época. Aparentemente, nunca olhei pra trás para dar adeus.
Confira a matéria (em inglês) e algumas fotos no link abaixo.
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