Por Micael Machado
Chapman Stick, Touch Guitar, Warr Guitar, Frippertronic. Se você não for fã do KING CRIMSON, provavelmente nunca ouviu estes nomes, nem conhece estes instrumentos ou tem ideia de como eles soam. Se você sabe do que estou falando, saiba que passei quase duas horas na última sexta-feira (18) ao som destas belezinhas, e foi muito bom!
O nome do grupo era STICK MEN TRIO, o que, em si não dizia muita coisa para mim. Mas quando se sabe que ele é composto por dois membros do KING CRIMSON a coisa muda de figura. O genial e monstruoso “baixista” Tony Levin (o baixista aqui é entre aspas mesmo, pois chamar apenas de baixista um cara que toca baixo elétrico, Chapman Stick, Upright Bass, contrabaixo e outros instrumentosexóticos é subestimar a sua capacidade...) – que também tocou com PETER GABRIEL, ANDERSON, BRUFORD, WAKEMAN & HOWE, LIQUID TENSION EXPERIMENT e muitos outros - e o percussionista Pat Mastelotto são dois terços do trio, completado pelo guitarrista alemão Markus Reuter, que tem uma carreira solo e, ao que pude entender, foi aluno de Robert Fripp (o guitarrista e “dono” do KING CRIMSON), e tem um estilo semelhante ao do mestre de tocar, apesar de se apresentar em pé, e não sentado como o inglês.
Tentar explicar o que são o Chapman Stick e a Touch Guitar é complicado. São instrumentos que misturam cordas e afinações de baixo e guitarra em um mesmo corpo (ou braço, no caso do Stick), e podem soar tanto como um quanto como o outro. Além disso, é tocado usando-se a técnica do tapping, ou pressionando a corda como em uma steel guitar. Nada de palhetas, ou de puxar as cordas como em um baixo comum.
Parece que os músicos estão tocando piano nas cordas dos instrumentos, e a sonoridade que sai deles lembra a guitarra e/ou o baixo, dependendo de quais cordas se usa, mas não é exatamente igual. Só ouvindo mesmo para sacar o lance, mas é diferente do que se ouve convencionalmente por aí.
Abrindo com uma música própria (que não foi anunciada), logo em seguida tocaram “Vrooom Vrooom”, do disco "Thrak" (1995) do KING CRIMSON, mostrando que a banda dos “famosos” não seria esquecida. A partir daí o show alternou músicas do disco lançado pelo trio, e que infelizmente não estava à venda no local (como “Soup” e “Hands”), músicas novas (como “A Crack in the Sky”, “Speedball”, as poucas anunciadas), poucas canções do KING CRIMSON (“Industry” e “Indiscipline” apenas, sendo que na última Tony Levin assumiu os vocais, não devendo nada a Adrian Belew – o que não é tão difícil assim), uma música do álbum "Exposure" (1979), de Robert Fripp (a saber, “Breathless”), e fechando o set regular com uma versão de 15 minutos para alguns movimentos da “Firebird Suite” de Igor Stravinsky, conhecida de muitos por ter o encerramento da mesma como tema de abertura dos shows do YES nos anos 70.
Foi um show recheado de melodias à la KING CRIMSON, principalmente dos discos "The Power to Believe" (2003) e "The ConstruKction of Light" (2000). Definitivamente, como disse Robert Fripp certa vez, um tipo de música para ouvir com o cérebro, e não com os pés. E prestando atenção para absorver as sonoridades que os instrumentistas criam.
Após o bis (com “Indiscipline” e “Breathless”, que segundo Levin foi apresentada possivelmente pela primeira vez ao vivo em toda a história!), a banda recebeu os fãs para fotos e autógrafos. Bastante cordiais e solícitos, eles não vieram juntos, mas um de cada vez, e conversaram bastante com quem se dispôs a esperá-los. Eu e alguns amigos que estavam no show recebemos até algumas dicas de bateria de Pat Mastelotto depois de eu ter dito a ele que achava surpreendente como ele conseguia manter o ritmo com tantas quebradas e mudanças de tempo durante os sons.
Ou seja, além de tocarem muito, os caras ainda são super gente fina! Que voltem logo ao Brasil, seja com o grande Rei Escarlate (coisa que, segundo Pat, é altamente improvável, tendo em vista o fato do KING CRIMSON estar em recesso), com algum outro grupo paralelo ou com o próprio STICK MEN TRIO!
Ah, só para constar, não foram permitidas fotos ou gravações durante o show, e as que ilustram este post foram tiradas de forma “clandestina”, já durante o bis. Portanto, desculpem a falta de qualidade que possam apresentar, mas o registro deste fato único é mais importante que eventuais falhas de foco.
“I do remember one thing...”
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