“O rock ainda continua e a prova maior disso é o Casa das Máquinas. Nós resolvemos voltar justamente porque o que plantamos lá em 74 e 75 ainda está vivo”. É assim que Mário Testoni define a volta do Casa das Máquinas aos palcos, após uma pausa de mais 30 anos. Após gravarem dois álbuns que se tornaram verdadeiras obras primas do rock nacional, os integrantes seguiram outros rumos.
Nesse meio tempo, Mário Testoni e Marinho Thomaz tocaram durante oito anos com Rita Lee. “Marinho tocou também com Guilherme Arantes, eu toquei o Radio Táxi”, recorda Testoni, que também participou da banda Pholhas. Em 2006, a banda resolveu voltar “em doses homeopáticas” e no ano passado retomou definitivamente a estrada, fazendo shows com a nova formação. Atualmente, a banda é formada por Mário Testoni (teclados) e Marinho Thomaz (bateria), que entraram na banda em 1975. A nova geração do Casa das Máquinas é formada por João Luiz (vocal), Fábio César (baixo) e Leandro Testoni (guitarra), filho de Mário.
A banda não conta mais com a participação do fundador Netinho, por isso não se apresenta mais com duas baterias. Mas engana-se quem pensa que as mudanças e a nova formação apagam a originalidade e a qualidade dos arranjos nas apresentações. No palco, a banda demonstra perfeita sintonia e resgata o mesmo viço presente nos álbuns "Lar de Maravilhas" (1975) e "Casa de Rock" (1976) – empenho e dedicação evidentes, ainda, na insistência em deixar o som perfeito para a hora do show.
Quem assistiu a apresentação da banda no último sábado, dia 26, em Pato Branco - PR, certamente ainda está anestesiado com o que presenciou: muitos fizeram rock na década de setenta, mas poucos ainda sobem aos palcos e têm seus versos e acordes cantados em coro. Esse é um retrato raro, presente somente na música daqueles que conseguiram se tornar referência num estilo musical, com canções que ultrapassaram gerações.
Antes de passar o som, na tarde do último sábado, Mário Testoni, Marinho Thomaz e João Luiz concederam uma entrevista a Zine Sindromina, numa calçada da rua Caramuru; entre o barulho de motos e carros que passavam ao lado munidos de música sertaneja, contrastando com o que Pato Branco ouviria algumas horas depois: um bombardeio do melhor e mais influente rock n´roll brasileiro que aqui já aportou.
Esse bate-papo, inesquecível, você confere a seguir.
Zine: Como foi voltar após essa pausa de mais de 30 anos? Como tem sido a receptividade do público?
Marinho: Olha, até pra nós foi uma surpresa…
Mário Testoni: Gosto de frisar que tem gente que não sabe que o Casa está voltando em doses homeopáticas desde 2006. No ano passado decidimos de fato voltar, montar uma estrutura pra sair para shows.
João Luiz: Desde que a banda resolveu voltar pra valer, sem doses homeopáticas, a reação do público é excepcional. Mês passado fizemos um show numa casa tradicional em São Paulo, cara, a casa tava lotada, as pessoas cantando, foi inacreditável! E não tinha só velharada não…
Zine: E há planos para um novo trabalho, novas composições?
Mário Testoni: Brevemente estaremos lançando duas músicas. Resolvemos esta noite, vindo pra cá, que o próximo passo é ir para um estúdio e lançar duas músicas. Não adianta querer lançar um CD, porque o mercado hoje é bem diferente.
Zine: Tanto porque a Internet mudou bastante as coisas, hoje o acesso é bem maior né… Imagino que por conta disso, vocês recebam um grande retorno do público.
Mário Testoni: Ah, com certeza. A Internet nos traz muita surpresa. A gente se comunica com o Brasil todo, até fora do Brasil, graças a Internet. Eu sou totalmente plugado (risos).
Zine: Como foi a escolha dos novos integrantes?
Marinho: Achar a pessoa certa, pra cair na estrada, é difícil, tem que encaixar, tem a convivência… Agora tá dando certo, já era a turbulência (risos).
João Luiz: Eu tinha uma banda cover do Led Zeppelin com ele (Marinho), e ele disse “pô, esse cara seria legal para cantar no Casas”. Eu não conhecia Casas das Máquinas direito, conhecia só os clássicos, até que o Marinho me mostrou. Até que em abril do ano passado comecei a tocar na banda, houve outras mudanças, até chegar no ponto ideal do bolo.
Zine: Para vocês, qual foi a principal mudança no cenário musical brasileiro desde a década de 70?
Mário Testoni: Na verdade, sempre teve uma mudança, assim como sempre teve alguma coisa que está na moda. O problema é que a cultura do nosso país teve uma queda muito grande, então o que está na moda agora é o que estava na moda há 20 anos, não teve nada novo.
Zine: E essa queda cultural na música, o tendêncionismo da indústria fonográfica, isso tem prejudicado o retorno de vocês?
João Luiz: Antigamente era o contrário, as gravadoras é que investiam no artista…
Mário Testoni: Infelizmente, quando você tem uma queda na cultura, muita coisa se perde. Olha, não só a nós (prejudica), pra nós lógico que há uma dificuldade, mas para o Casa das Máquinas ter uma gravadora por trás ou não ter vai ser a mesma coisa, é mais preocupante para quem está numa gravadora grande do que para nós. Na realidade, as gravadoras todas estão pedindo pelo amor de Deus que aconteça algo novo!
Zine: E como é ter, fazer parte, de uma música que rompe gerações?
Mário Testoni: Isso é muito legal, é um orgasmo total. (risos)
Marinho: Eles (o público) nunca deixam de cobrar um novo trabalho.
Mário Testoni: Às vezes tem até uma comparação: “quando é que vocês vão fazer um 'Casa de Rock', um 'Lar de Maravilhas'”. Quer dizer, tudo o que marca você tem como padrão. Chegou uma hora que não dá mais pra suportar o que está acontecendo no nosso país, não só na música, mas no artístico e político.
Zine: Vocês pretendem seguir o rock progressivo, o que a gente pode esperar?
Mário Testoni: Lógico, a gente vai seguir a linha progressiva do Casa das Máquinas. É claro que as coisas vão estar mais atuais, mas a filosofia vai ser a mesma.
Publicado originalmente no Zine Sindromina
Matéria: Jozieli Wolff
Fotos: Laiane Carniel
Colaboração: Ketlyn Lourenço e Diogo Suttili
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