Depois de uma semana cheia, fiz algo que quase nunca faço: o cansaço era tanto que simplesmente apaguei e caí no sono sábado a tarde. Ao acordar, lá pelas 15 horas, acessei o Twitter para ver o que estava acontecendo no mundo e li uma notícia absolutamente senil: após dias de especulação, havia sido anunciado quem abriria o concorridíssimo show de Paul McCartney em Porto Alegre, no próximo sábado, dia 7 de novembro, e, para minha surpresa, os escolhidos haviam sido Kleiton e Kledir. Pensei que continuava dormindo e estava tendo um pesadelo, mas era a mais pura verdade.
Depois dos preços totalmente fora de órbita anunciados pela EMI para o relançamento em vinil da discografia da Legião Urbana, pensei, em minha vã inocência, que seria impossível ouvir uma notícia mais sem sentido em 2010, mas me enganei feio. Kleiton e Kledir são dois irmãos que tem uma carreira que já dura quase quarenta anos, e em todo esse tempo o máximo que conseguiram foi cometer a chatíssima "Deu Pra Ti", considerada pelos porto-alegrenses - ao lado de outras canções - uma espécie de hino paralelo da cidade. Irmãos do genil Vitor Ramil, jamais ostentaram uma fagulha do enorme talento de seu irmão caçula, um dos músicos mais originais do Brasil. E mais: o ostracismo é tanto que a dupla estava semi-aposentada, e agora ressurge abrindo o show de um Beatle.
Antes que me crucifiquem, uma informação importante: eu também sou gaúcho. Mas, ao contrário dos meus conterrâneos, um povo naturalmente arrogante e bairrista, sei que existe muita vida fora do Rio Grande do Sul e nunca endeusei bobagens que são idolatradas no RS, nomes como o péssimo Nenhum de Nós e o supervalorizado Engenheiros do Hawaii.
É claro que, como em qualquer região, no estado também existe uma variadade fauna de ídolos locais, alimentada principalmente pela principal rede de rádio do RS - e de Santa Catarina -, a Atlântida, do grupo RBS, afiliado da Rede Globo. Com emissoras em todo o estado e cobrindo todo o seu território - em SC acontece a mesma coisa -, a Atlântida mantém viva a cena musical do RS, notadamente através do festival Planeta Atlântida, um dos maiores do país, com edições anuais no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Entre esses ídolos há grupos terrivelmente meia-bocas como Tequila Baby, Fresno e ComunidadeNin-Jitsu, que convivem com artistas de inegável qualidade como Nei Lisboa e a rica cena rock contemporânea de nomes como Pata de Elefante, Locomotores e afins.
Dito isso, a pergunta: o que leva alguém em sã consciência a pensar que a escolha de Kleiton e Kledir é a mais adequada para abrir um show do porte do de Paul McCartney? Se era para valorizar um ícone local, a escolha óbvia seria Nei Lisboa, uma espécie de Bob Dylan dos pampas, dono de uma discografia pra lá de interessante. Se era para escolher uma banda de rock, o nome era a Cachorro Grande, um dos principais grupos do Brasil e assumidamente influenciados - além de declaradamente fãs - dos BEATLES. Mas Kleiton e Kledir?!?!?
Em seus melhores momentos, a carreira da dupla foi meramente irrelevante, recheada de composições insossas e constrangedoras que aquela sua tia solteirona adorava cantar quando bebia demais - " ... depois do terceiro ou quarto copo, tudo que vier eu topo, tudo que vier vem bem ...". Kleiton e Kledir não tem relevância artística, importância comercial e muito menos similaridade estilística com Paul McCartney para abrir seu show. Essa escolha é totalmente ridícula, equivocada, patética e sem sentido, digna de quem não entende nada de música e acha que teve uma grande ideia, uma sacada sensacional, quando na verdade está é dando um tremendo tiro no pé!
O show de Paul vai ser inesquecível, afinal estamos falando de um dos maiores artistas da história da música, mas bem que o meu querido Rio Grande do Sul poderia passar sem essa piada sem graça e de mau gosto ...
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