4 de novembro de 2010

Buffalo, Rock vulcânico direto da Austrália

Costumo brincar com amigos, dizendo que o CD foi a segunda maior invenção humana (só perde para a roda - o fogo foi descoberto, não inventado) pois graças a ele, tivemos acesso a muitas coisas até então completamente desconhecidas, que com certeza ficariam perdidas no tempo. E uma das descobertas (não invenções) que mais me marcou neste quesito foi a existência de um trabalho maravilhoso, totalmente desconhecido (pelo menos aqui no Brasil), registrado por uma banda australiana: o álbum chama-se "Volcanic Rock", e a banda, BUFFALO.



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Sabem aqueles discos que ouvimos e logo no início sentimos um "arrepio", como que antevindo que estamos diante de algo que vai passar a fazer parte de nossa vida? Pois é, foi isto que aconteceu comigo quando recebi pelo correio este CD, que a primeira vista me pareceu muito estranho, pois além da capa "pornográfica", tinha sido porcamente pirateado (sequer o nome das músicas aparecem creditadas na capa, como pode ser visto ao lado - só no selo do CD, que por sinal, foi gravado de um vinilzão cheio de chiados). Entretanto, confiei na palavra do lojista ("se você não gostar, me manda de volta", disse ele), e lá fui eu colocar o bichinho no CD-player... nem preciso dizer que ele permaneceu durante muitos e muitos dias por lá!
Logicamente o próximo passo foi procurar maiores informações sobre a banda, que tinha na época vários outros discos pirateados no mesmo esquema circulando pelas lojas, alguns bons, outros nem tanto, mas que também traziam pouquíssimas informações adicionais (a desinformação era tanta que tinha nego que dizia que eram do Canadá...)
Com a chegada da internet (a terceira maior invenção humana, logo atrás do CD e seguida pelo MP3), finalmente o mistério foi totalmente solucionado. E, nada mais justo que começar esta coluna jogando alguma luz sobre esta maravilhosa banda setentista, digna de figurar ao lado dos grandes nomes da história do Rock.
Como diz a contracapa do "Volcanic Rock": "Now blow your speakers out!"

Vamos encontrar entre 1966-67 o vocalista Dave Tice (que na realidade nasceu na Inglaterra) e o baixista Pete Wells tentando a sorte em diversas bandas na cidade de Brisbane (THE ODD COLOURS, STRANGE BREW e THE CAPITOL SHOW BAND), que embora obtivessem algum êxito local, acabam sem deixar rastros. Ambos resolvem então, no início de 1968, montar o HEAD, que seria o embrião do BUFFALO, ao lado de Neil Jensen (guitarra) e Steve Jones (bateria).
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Decididos a tentar a "sorte grande", o grupo resolve se mudar para Sydney em 1970; entretanto, Jensen e Jones não resistem às dificuldades de morar na metrópole, e acabam caindo fora, sendo substituídos respectivamente por John Baxter e Peter Leighton (que vinham de duas bandas chamadas MANDALA e AFTERMATH).
Em 1971 o grupo faz seu registro fonográfico, com o compacto "Hobo"/ "Sad Song" e "Then" (uma raridade sem tamanho, pois até hoje não foi relançado em nenhum formato), e logo em seguida o baterista Leighton resolve sair da banda, sendo substituído por Paul Balbi, que trouxe consigo mais um vocalista, Allan Milano (também ex-integrante do tal de MANDALA).
Foi aí que, graças ao então empresário da banda, Mal Myles, eles decidem mudar de nome, pois, conforme Myles, além de HEAD ter uma certa conotação com DROGAS e sexo(!), ele achava que deveriam adotar algum nome que começasse com a letra B, afinal, bandas com esta inicial geralmente eram bem sucedidas (BEATLES, BLACK SABBATH, etc). Não se sabe ao certo de onde surgiu a idéia de adotar o nome BUFFALO, mas concretamente quem a propôs foi Milano.
Talvez o empresário tivesse razão, pois em março de 1972 eles conseguem assinar contrato com ninguém menos que a lendária gravadora Vertigo (foi a primeira banda de fora da Inglaterra a conseguir tal feito), que tinha em seu cast ninguém menos que URIAH HEEP e o próprio BLACK SABBATH.
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Com isto, não demorou para registrarem seu primeiro trabalho, "Dead Forever", que sairia em maio de 1972, tendo sido precedido por um compacto com "Suzie Sunshine" e "No Particular Place To Go", esta última um cover de CHUCK BERRY, que não foi editada no álbum. Ainda no mesmo ano mais um compacto, com "Just A Little Rock'N'Roll" e "Barberhop Rock", que também não constavam no LP (estes compactos são outras raridades imensas hoje em dia).
(Curiosamente, o "Dead Forever" chegou a ser relançado em 1991 tanto em CD quanto em LP pela Repertoire Records, mas ficou pouquíssimo tempo em catálogo, pois supostamente a gravadora alemã não detinha os direitos autorais - tanto que, há uma certa controvérsia se ele teria sido ou não masterizado a partir de uma cópia em vinil, pois ouvindo-se atentamente com o fone de ouvido, percebe-se alguns chiados meio característicos...)
Porém, a total falta de repercussão acabou causando uma forte crise interna, que resultou no fim da banda. Tice foi para um grupo chamado MR.MADNESS, enquanto os demais integrantes continuavam ensaiando esporadicamente - com excessão de Milano, que literalmente sumiu do meio musical até meados da década. Parecia o fim.
Porém, um acontecimento iria reverter a situação...
Em janeiro de 1973, o BLACK SABBATH fez uma turnê pela Austrália, e a gravadora, que sabia ter um nome "de peso" (no sentido sonoro da coisa) naquele país, praticamente impôs a presença do Buffalo para abrir os shows, que foram batizados "The Clash Of The Titans", e vendidos como sendo o máximo em experiência auditiva para fãs de Heavy Rock.
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Talvez por nacionalismo exarcebado ou motivos que não são conhecidos, a imprensa local teceu elogios imensos aos seus conterrâneos, e não gostou muito do que apresentou os ingleses (houve até um "crítico" que disse que o Sabbath é que deveria ter aberto o show!). O fato é que parece que eles andavam realmente afinados ao vivo, pois cerca de duas semanas mais tarde abriram para o SLADE e o STATUS QUO, sendo novamente aclamados pela platéia.
Como perceberam que o lance mesmo era tocar "alto e pesado", decidiram que iriam gravar um álbum com este direcionamento, e iniciam os ensaios. Neste meio tempo, Balbi sai da banda, e é substituído por Jimmy Economou, vindo do MANDALA (mais um!).
Sendo assim, com a formação estabilizada em Dave Tice no vocal, John Baxter na guitarra, Peter Wells no baixo e Jimmy Economou na bateria, é editado em 1973 o pesadíssimo (para a época) "Volcanic Rock", a obra-prima da banda, um verdadeiro petardo do início ao fim, que levou ao extremo a proposta de fazer "Heavy-Rock", que já vinha sendo antevista no "Dead Forever", que possui alguns lampejos neste sentido, mas é um trabalho bem mais suave.
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Ainda no mesmo ano sai mais um compacto ("Sunrise" e "Pound Of Flesh"), e logo em seguida a banda inicia as gravações de seu terceiro álbum; neste meio tempo, além de outro compacto ("What's Going On"/ "I'm Coming On"), sai também um EP (aqui no Brasil conhecido como compacto duplo), que traz as faixas "Suzie Sunshine"/ "Dead Forever"/ "Barbershop Rock" e "Sunrise" (as três primeiras são da época do primeiro álbum, só a última foi extraída do segundo).
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Em 1974 é editado o "Only Want You For Your Body", na minha opinião um excelente trabalho, porém bem longe do seu antecessor. E, no final do ano, entra mais um integrante, Norman Roue (egresso do BAND OF LIGHT) na guitarra slide. Porém, o grupo faz pouquíssimas apresentações com cinco na formação, pois logo em seguida uma briga entre John Baxter e o então empresário da banda, Sebastian Chase, faz com que o guitarrista seja demitido, sendo substituído por Colin Stead (ex-SWEET WINE).
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Aparentemente Baxter era um dos pilares da sonoridade do BUFFALO, pois já em seu próximo álbum, "Mother's Choice", nota-se uma certa suavização nas composições, que estavam mais próximas do Rock'N'Roll "tradicional", e sem o peso que caracterizava a banda, que a esta altura do campeonato, já havia substituído Norman Roue por um indivíduo chamado Karl Taylor. Vale mencionar que a intenção original era que o disco se chamasse "Songs For The Frustrated Housewive" ou "Thieves, Punks, Rip-Offs And Liars", mas a gravadora rejeitou ambos títulos.
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Pouco antes do lançamento do álbum, mais dois compactos: "Little Queenie"/ "Girl Can't Help It" e "Lucky"/ "On My Way". As duas faixas do lado-B não saíram no "Mother's...", mas foram inclusas numa compilação editada em 1990 chamada "Skit Lifters (Hightlights & Oversites 1972-1976)", que foi editada em LP e CD (se alguém tiver uma cópia, por favor entre em contato comigo, há anos que procuro este disco...)
Ainda em 1976, Karl Taylor é substituído por Chris Turner (ex-THE ACTION), e logo em seguida quem resolve abandonar o barco é Pete Wells, que monta o ROSE TATTOO, juntamente com Ian Rilen e Angry Anderson. Em seu lugar ingressa um baixista chamado Ross Simms.
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Oficialmente, o BUFFALO encerrou atividades em 16 de novembro de 1976, durante uma turnê do RAINBOW pela Austrália, onde atuaram como banda de abertura. Porém, mais um álbum é lançado no ano seguinte, o "Average Rock'N'Roller", que, desde a capa, já transparece estar bem distantes dos seus primeiros trabalhos, e serve somente para fãs completistas.
Praticamente todos que passaram pelo BUFFALO prosseguiram tocando, porém a maioria em bandas desconhecidas, com exceção do já citado Pete Wells, Chris Turner (que se trata de um músico requisitadíssimo), Dave Tice e John Baxter. Aliás, estes últimos possuem seus próprios websites, a saber:
Chris Turner - www.big-rock.com.au
Dave Tice - www.davetice.com
John Baxter - www.geocities.com/jabaxt
de onde por sinal foram extraídas parte das fotos que ilustram esta matéria, além da própria história da banda.

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Em 1980 sai uma compilação chamada "Rock Legends", que não traz nada de novo, apenas faixas extraídas dos LPs. "I'm A Skirt Lifter" seria editada numa compilação chamada "Boogie, Balls & Blues Vol.1 OZ Hard Rock Of The 70s" e "Till My Death" no "Golden Miles - Australian Progressive Rock 1969-1974".
Em 4 de junho de 2000, é realizada em Sydney uma reunião dos antigos membros do BUFFALO, contando com Dave Tice, Pete Wells, Allan Milano, Jimmy Economou, John Baxter e Chris Turner, que sobem todos juntos ao palco para uma versão de "Gloria" e de "Crossroads". Há um vídeo pirata do evento circulando entre os colecionadores e, até onde sei, só existe uma gravação ao vivo da década de setenta, feita no show em que abriram para o BLACK SABBATH pelo próprio John Baxter, aparentemente de forma precária (ele disse numa entrevista que usou um gravador de quatro canais, mas não deixou claro se este fora plugado na mesa ou se estava simplesmente do lado do palco...).
Há planos de se relançar oficialmente todo o catálogo do BUFFALO, mas, de qualquer forma, o melhor da banda (em minha opinião) pode ser encontrado numa edição dois-em-um remasterizada lançada pela Second Battle e em formato digipack, trazendo o "Volcanic Rock" e "Only Want You For Your Body". Vale a pena gastar uma graninha para adquirir - se você não gostar, me manda de volta...

Um comentário:

  1. que bosta de blog, copiou o texto do Whiplash na cara dura

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