Após a saída de Roger Waters do PINK FLOYD, em 1985, muito se questionou sobre a capacidade criativa da banda sem o seu mentor intelectual e genial compositor. Humberto Gessinger, dos Engenheiros do Hawaii, chegou a brincar com a situação ao referir, na música “Tribos e Tribunais”, que “PINK FLOYD sem Roger Waters lhe sugere muita sujeira, não lhe cheira nada bem”.
Haveria, então, vida para o Floyd após a briga com Waters?
Quase uma década depois DAVID GILMOUR respondeu essa questão com autoridade ao lançar, junto com Nick Mason e Richard Right, o espetacular “The Division Bell”, talvez um dos 10 melhores discos da década de 90.
O álbum é absolutamente brilhante, harmônico, melódico e com alma, talhado com o perfil indelével de GILMOUR. Eu poderia falar dele e elogiá-lo por horas a fio, tamanha sua qualidade. Contudo, esse post não é sobre o disco, mas sobre uma de suas mais estupendas faixas (a outra é a easy-listening “Lost for Words”).
“High Hopes” é a última música de “Division Bell”, e fecha o seu repertório com chave de ouro.
Assim como “Shine on You Crazy Diamond” e “Dogs”, “High Hopes” é uma canção longa, com variáveis que a tornam épica: a maravilhosa letra, as variações de ritmo, os elementos diferentes na introdução, o já mencionado excepcional solo de GILMOUR.
“High Hopes” também traz consigo uma característica marcante do Floyd: a repetição marcada de algumas características peculiares de outras músicas da banda.
A história sobre a criação de “High Hopes” é extremamente curiosa. Para quem imagina que uma música tão trabalhada e detalhada tenha exigido muito tempo de maturação, GILMOUR traz uma realidade completamente oposta:
“High Hopes era para ser realmente a última, uma espécie de final, de uma forma ou outra. É uma daquelas músicas que você trabalha de forma rápida mas bonita, quase imediatamente. Eu carreguei comigo algumas idéias em uma fita cassete, com apenas alguns compassos de piano, e fui para uma pequena casa em algum lugar com Polly, para tentar fazer algum progresso na escrita lírica. Ela me deu uma frase e muito rapidamente nós a escrevemos. Então voltei ao estúdio, com mais ninguém ali, a completei e coloquei em uma demo. Fiz tudo sozinho e posso dizer que ela se completou virtualmente em um único dia.”
Sir DAVID GILMOUR lançou um DVD esplêndido e altamente recomendado em 2002, chamado DAVID GILMOUR in Concert, de onde advém o vídeo abaixo. Não creio que possamos chamar essa versão de semi-acústica, como é o restante do show, mas ela é, certamente, um pouco diferente da original. As doze afinadíssimas vocalistas de apoio, a grande performance de Caroline Dale no violoncelo e em especial o solo final de GILMOUR com slide/lapsteel, recheado de feeling, fazem valer cada segundo dessa obra prima do rock`n roll. Aumente o volume e aprecie...
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