A culpa foi de Tom Dowd, o lendário produtor norte-americano que tinha sido engenheiro de som do Cream e que no início da década de 70 produzia bandas em seu estúdio favorito, o Criteria Studios, na Flórida. Dowd era uma espécie de homem de confiança de Clapton e foi escalado para produzir o projeto[bb] Derek And The Dominos, uma banda fictícia que o guitarrista inglês estava usando para afogar suas amarguras (dentre elas, as mais daninhas eram as drogas pesadas e Patti Boyd, então esposa de George Harrison).
Dowd era também muito amigo de Duane, inclusive produzia também os discos do Allman Brothers. Num bate papo, Dowd contou para Duane que Clapton havia agendado uma gravação no Criteria e que estaria chegando dentro de alguns dias. Duane ficou empolgadíssimo, pois era devoto do Deus desde a época dos Yardbirds. O mestre do slide pediu para Dowd entrar em contato com Clapton e perguntar se ele poderia pintar no estúdio para conhecê-lo pessoalmente. Clapton adorou a idéia e confessou para Dowd que fundo estava louco de vontade de ver Duane tocar, pois tinha se amarrado no solo de guitarra de Duane na versão que Wilson Pickett fez para “Hey Jude”, dos Beatles.
Clapton aportou na cidade e se instalou confortavelmente com sua banda num hotel na beira do Atlântico. De dia o pessoal curtia o sol e o mar e a noite davam os primeiros passos nas gravações, sem nenhuma pressão por parte da gravadora. Coincidentemente, logo no primeiro fim de semana de Clapton em Miami, o Allman Brothers estava escalado para encerrar um grande festival beneficiente na cidade. O guitarrista inglês cancelou as sessões do fim de semana e se mandou com Dowd para finalmente conferir a performance de Duane.
“Eu só lembro de dirigir na direção daquele parque, e quando estávamos estacionando o carro a uns 800 metros do concerto ao ar livre, ouvi uma guitarra uivando no ar, bem mais alta do que o restante. Ouvíamos a banda de fundo e por cima de tudo aquele som que parecia o de uma sirene. Foi fantástico. Fomos até lá, sentamos perto do palco e lá estavam os Allman Brothers”.
Clapton e Dowd não tinham ingressos mas foram facilmente reconhecidos pelos pessoal dos bastidores que colocou a dupla bem na frente do palco, no famoso ‘chiqueirinho’, aquele local onde os fotógrafos costumam trabalhar, na verdade o pequeno espaço entre o palco e a grade de segurança que ‘segura’ o povão. Eles sentaram no chão, bem na frente de Duane, que estava no meio de um solo de guitarra. Quando o guitarrista dos Allmans reconheceu Clapton, uma tensão absurda pairou sobre sua pessoa. O solo foi bruscamente interrompido, o suor começou a escorrer gelado por suas costeletas e a banda, desesperada, se apressava e fazia de tudo para tapar os ‘buracos’ deixados pela guitarra de Duane, que ficou imóvel, completamente atordoado com a presença de Clapton.
Após o show, Dowd apresentou Clapton a todo o grupo, que foi imediatamente convidado a comparecer no Criteria para uma jam session que durou uma noite inteira (trechos desse marco da história pode ser conferido no box set do Derek and The Dominoes). Interessante o fato de Duane e Clapton terem se dado tão bem. É comum em reuniões de guitarristas o ego falar mais alto. Clapton insistiu para Duane ficar em definitivo com os Dominos, mas o ‘Skydog’ disse que teria de ser leal a sua família acima de tudo e voltou para o seio materno dos Allmans...
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