O lançamento de um novo disco do IRON MAIDEN, como sempre, é um 
evento à parte no cenário do heavy metal mundial. Cabe nos dedos de uma 
mão (e sem usá-los todos) o número de bandas dentro do rock pesado 
capazes de provocar semelhante mobilização, polêmica e paixão. Dezenas 
de resenhas são escritas e publicadas nos mais variados veículos e a 
velha discussão acerca do álbum, das expectativas geradas e das 
impressões sobre o mesmo tomam conta das rodas de conversa, dos fóruns 
de internet e de qualquer outro lugar onde se possa reunir um grupo de 
rockeiros. Este redator inclusive foi mais um a fazer um review sobre o 
trabalho. No entanto, quando se escreve uma análise sobre determinado 
disco, acaba havendo a necessidade de obedecer algumas regras de escrita
 e se ater ao objeto que está sendo avaliado. Com isso, por mais que se 
tente dar ao texto um caráter despojado ou mais abrangente, ele 
normalmente ainda guarda uma certa formalidade. Hoje, o que será tentado
 aqui é uma conversa informal, sem a necessidade de seguir muitas regras
 e onde o objetivo não será a análise do disco, mas observar as reações 
que ele tem provocado entre os fãs e tentar entender por que o Maiden 
causa tanta polêmica.
Você
 já deve ter lido ou ouvido em algum lugar que o grupo inglês não tem 
grande variabilidade em sua música, que faz sempre o mesmo tipo de som, 
que nunca inova, etc. Quem diz isso baseia-se no fato de suas canções 
seguirem progressões harmônicas muito semelhantes entre si, além de eles
 sempre introduzirem algumas características básicas, que definem o seu 
som, como as guitarras dobradas, o baixo e os riffs galopantes, a 
marcação típica da bateria. Ledo engano. Embora tudo isso seja correto, 
se há alguém no metal que tem trabalhos totalmente variados em sua 
discografia, por mais que possam parecer semelhantes entre si, esse 
alguém é o Iron Maiden.
 Cada disco deles tem uma característica, um clima e uma identidade 
próprias. Por isso mesmo, a banda conseguiu e ainda consegue atingir um 
número tão grande de pessoas. Afinal, se você ouvir “Killers”, 
“Somewhere In Time”, “Fear Of The Dark” e “The X Factor”, perceberá que são títulos de um mesmo grupo, mas ao mesmo tempo são tão distintos. 
Onde
 se quer chegar com isso tudo? Hoje, pode-se dizer que o Maiden tem três
 tipos básicos de fãs, divididos em outros subtipos. Há aqueles que se 
amarram no som antigo de Steve Harris e cia e que têm grandes 
dificuldades em se acostumar com a nova tendência de sonoridade adotada 
pelo conjunto nesses últimos anos. Existem aqueles (sim, eles existem e 
não são tão poucos assim) que consideram a banda hoje muito mais madura e
 com uma sonoridade muito mais rica e complexa do que em outros tempos. E
 também temos os que admiram todas as fases do agora sexteto, esses 
normalmente dando alguma preferência aos chamados ‘golden years’, mas 
também valorizando muito a fase atual. Fora isso, podemos fragmentar 
ainda mais a coisa, já que cada fase específica também tem seus fãs 
radicais bem como seus detratores. Há quem considere a crueza, a 
brutalidade e a energia quase punk dos tempos de Paul Di’Anno como o 
verdadeiro Maiden. Talvez a maioria curta mais a usina de heavy metal 
dos primeiros anos de Bruce Dickinson
 e do trio “The Number”, “Piece Of Mind” e “Powerslave”. Outros ampliam 
essa fase para o metal elaborado e cheio de novos elementos da segunda 
metade da década de 80, com “Somewhere In Time” e “Seventh Son Of A 
Seventh Son”. 
Depois, veio o período hard/heavy de “No Prayer For The 
Dying” e “Fear Of The Dark”. De forma inesperada, chegou ao mundo a 
controversa ‘era Blaze’, com seu tom sombrio e introspectivo. Pra 
encerrar, a volta de Dickinson e do guitarrista Adrian Smith inaugurou 
uma nova fase, calcada num som mais cadenciado e com mais influências 
progressivas.
A banda conseguiu angariar novos adeptos para suas 
fileiras em cada uma de suas obras. É lógico que um fã conhece um 
artista por um disco, seja ele qual for, e depois acaba descobrindo o 
restante do material do grupo em questão. Só que a Donzela, a cada novo 
lançamento, parecia e parece conquistar uma nova horda de seguidores. 
Portanto, a conclusão a que se chega é de que se não houvesse grandes 
doses de talento em cada um desses discos eles não seriam capazes de 
renovar por três gerações sua legião de fãs. Aí eu pergunto (e o leitor 
me permita passar o texto agora para primeira pessoa): como agradar ao 
mesmo tempo a tanta gente, que se identifica com fases tão distintas de 
uma mesma banda? Por isso mesmo, será bem difícil para o ‘coitado’ do 
Iron voltar a ser uma unanimidade mesmo entre sua base de fãs. A minha 
opinião sobre o mais recente disco eu já dei em outro texto. Não estou 
aqui hoje para discuti-lo, mas para levantar para discussão todas as 
polêmicas que hoje se suscita baseando-se nele. Só que não estão de todo
 errados aqueles que argumentam, como já vi aqui mesmo algumas vezes, 
que se há gente que considera que o grupo tem cometido equívocos há uns 
vinte anos, por que continuar seguindo-o depois de tanto tempo.
O 
Maiden ‘das antigas’ também tinha músicas bem trabalhadas, melodiosas, 
com mudanças de tempo, cheias de variações, e tudo isso atraía (e atrai 
até hoje) um contingente enorme de headbangers. 
Todavia, o que parecia 
ser mais sedutor no som da banda era seu ritmo acelerado, sua energia 
descomunal e a empolgação que isso conseguia despertar no ouvinte. O som
 dos últimos anos cada vez mais se caracteriza por um cuidado maior nos 
arranjos, por uma maior complexidade e também por uma maior cadência. É 
uma música mais lenta, mais reflexiva, que reflete mais as influências 
que os integrantes da banda têm de um som progressivo, aparentemente 
feito mais para se contemplar do que para se agitar.
Nada disso 
seria problema se esses fãs hoje não promovessem discussões infindáveis e
 quase que uma guerra entre os que gostam dessa nova fase do grupo e os 
que a consideram fraca, enjoativa e sem inspiração. Isso acontece já faz
 um bom tempo e o lançamento de “The Final Frontier” é apenas mais uma 
oportunidade de se observar toda a polêmica. A pergunta que se faz é: 
quem tem razão nessa história toda?
E a resposta é muito simples: 
ninguém. Em algumas situações pode ser observado que algumas pessoas 
chegam a se incomodar de verdade com a opinião de outras. É como se todo
 fã da banda fosse obrigado a gostar de tudo o que eles lançam e, no 
caso de não gostar, esse mesmo fã fosse alguém incapaz de evoluir, 
apegado a um passado que não volta mais e para quem qualquer coisa 
lançada pelo sexteto inglês jamais será satisfatória, por melhor que 
seja. Da mesma forma, a lógica inversa também é válida. Temos gente que 
não admite que a Donzela possa agradar a tanta gente com essa nova 
proposta, como se ela fosse realmente ruim. Daí, passa a se considerar 
que aquele que aprecia os novos sons do conjunto seja algum fanático, 
incapaz de perceber os defeitos de sua banda favorita e para quem 
qualquer ‘porcaria’ que os caras coloquem no mercado é uma obra 
perfeita.
Ora, nem um lado e nem o outro têm razão, ainda mais 
quando levamos em conta o que foi discutido há pouco sobre a banda 
atrair perfis de público variados dentro do metal. É salutar e 
necessário que as pessoas tenham opiniões diversas, que tenham o direito
 de expô-las e que tenham lugar para fazer isso, bem como citar os 
motivos que as fazem achar algo bom ou ruim. No entanto, discordar de 
alguém nem sempre é veredicto de que o outro esteja errado, ainda mais 
em se tratando de algo tão pessoal quanto ouvir música. Um disco ou uma 
música podem e irão mexer com várias pessoas e não conseguirão produzir o
 mesmo efeito em inúmeras outras. Quem garante que se o Maiden lançasse 
hoje um novo “The Number Of The Beast” não iria aparecer alguém pra 
dizer que deram um passo atrás, que abortaram uma tendência de 
modernidade que estavam seguindo, que tentam sem o mesmo brilho copiar o
 passado, dentre outros argumentos? Afinal de contas, existe aquela 
história do gosto, que diz que cada um tem o seu. E é irônico pensar que
 na eventualidade de um novo show da banda, todos esses que tanto 
discordam entre si estarão enfileirados lado a lado, muitas vezes 
abraçados, cantando a plenos pulmões músicas que agora um exalta e o 
outro desdenha.
Por tudo isso, caro leitor, você deve ter 
percebido que o objetivo hoje não foi tomar partido seu ou daquele que 
discorda de você, mas provocar ambos. É lógico que pode acontecer, mas 
sinceramente não sei se o Iron Maiden
 lançará algum dia uma nova obra que agrade todo mundo e que não suscite
 essas discussões que vemos por aí todo santo dia. A banda já não é mais
 apenas uma banda, é uma instituição, e chega a tanta gente de 
características diversas que será complicado saciar todas as suas 
camadas de fãs com a mesma eficiência. Discuta (no bom sentido da 
palavra), argumente, mas não perca de vista o respeito pela opinião e 
pelo gosto do outro, até porque normalmente as pessoas não mudam de 
ideia pelo que ouvem de alguém e, sim, por aquilo que elas mesmas vão 
descobrindo.
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