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5 de abril de 2009
John Lennon - A Vida
"Beatle queria comer a mãe"; "Yoko diz: John tinha tesão por Paul"; "Beatle ameaça matar o pai"; "Após encher a cara, beatle manda amigo pro hospital". Se vivo fosse, o saudoso "Notícias Populares" poderia usar qualquer uma dessas manchetes para anunciar o lançamento de "John Lennon - A Vida", a aguardada biografia escrita por Philip Norman.
Não que o livro seja sensacionalista. A trajetória de Lennon, uma das figuras mais marcantes do século 20, foi realmente cheia de lances pitorescos. Mesmo se esquecermos a metade mais conhecida de sua vida, depois que se tornou um Beatle, seus primeiros 20 anos também dariam --como deram-- um livro formidável.
Filho de um marinheiro mercante, Freddie, e de uma boêmia, Julia, Lennon teve a infância marcada pela ausência prolongada do pai, a aberta infidelidade da mãe e as brigas constantes dos dois. Aos seis anos, num episódio que o marcaria profundamente, teve de escolher entre a mãe (que já vivia com um amante) e o pai. Ficou com ela, mulher bonita e sedutora, mas emocionalmente incapaz de criá-lo --Julia praticamente o deu para a irmã, Mimi, uma matrona fria e calculista, que o criou como se fosse seu.
A cinzenta Liverpool
O que há de mais interessante no livro de Norman é justamente esse panorama da juventude de John na cinzenta Liverpool do pós-guerra. Vivendo uma vida burguesa de privilégios --cortesia da tia Mimi--, mas irresistivelmente atraído pela rudeza das docas, Lennon cresceu obcecado pela literatura surrealista de Lewis Carroll, pelo humor anárquico dos programas de rádio de Spike Milligan e Peter Sellers e pelo rock'n'roll primitivo de Elvis Presley, Chuck Berry e Little Richard. O resultado foi um jovem dotado de senso de humor corrosivo, uma língua ferina e um profundo desrespeito por qualquer tipo de autoridade.
Norman, que já havia escrito uma ótima biografia dos Beatles, "Shout", não se furta a esmiuçar os detalhes mais delicados da vida de Lennon. Entrevistando vários amigos e desencavando antigas entrevistas, o autor reconta como, aos 14 anos, deitado na cama da mãe, ele "acidentalmente tocou o seio de Julia". "Eu me perguntava se devia fazer algo mais", disse Lennon. "Sempre achei que devia ter feito. Presumivelmente, ela teria permitido."
Freud teria um prato cheio com John Lennon. Além do complexo de Édipo e da total ausência de uma figura paterna, ele viu quatro de suas pessoas mais queridas morrerem de forma violenta e inesperada: primeiro foi o amado tio George, marido de Mimi; depois, a mãe, Julia, atropelada quando ele tinha 17 anos. A lista de fatalidades continuou com Stu Sutcliffe, baixista de uma das primeiras formações dos Beatles e grande ídolo do líder da banda, e com Brian Epstein, o jovem e brilhante agente dos Beatles, morto de overdose, com quem Lennon supostamente teve um rápido caso amoroso.
Orgias e bebedeiras
A história do surgimento, ascensão e queda dos Beatles, embora contada e recontada mil vezes, é sempre emocionante. As orgias e bebedeiras dos primeiros shows em Hamburgo, a explosão da beatlemania, o apogeu criativo com os revolucionários álbuns "Rubber Soul" (1965), "Revolver" (1966) e "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" (1967), as brigas com Paul e George, o romance com Yoko Ono, o fim dos Beatles, a carreira solo, tudo é contado por Norman em riqueza de detalhes.
Claro que alguns fãs --e os Beatles, mais do que qualquer banda, têm admiradores xiitas-- vão reclamar de omissões ou supostos ataques a Lennon. Mas, no geral, o livro é fabuloso e uma leitura fácil, apesar de seu tamanho de enciclopédia --mais de 800 páginas.
Lennon sai da história não como super-herói, e sim como um sujeito inseguro, por vezes violento e venenoso, mas também capaz de gestos de extrema bondade, dono de um talento criativo sem igual e de uma coragem incomparável para exorcizar seus demônios em público, por meio da música.
"JOHN LENNON - A VIDA"
Autor: Philip Norman
Tradução: Roberto Muggiati
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 69 (856 págs.)
Avaliação: ótimo
Eu ainda não tive a oportunidade de ver este livro mas espero ler ele em breve.criticas muito boas mesmo.
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