5 de maio de 2011

Radiohead - Scotch Mist - 2007








Show que o Radiohead transmitiu direto de seu estúdio, através do radiohead.tv ao vivo pela internet. A apresentação caseira e especial do Radiohead foi na verdade um filme. Chamava “Scotch Mist – A Film with Radiohead in It”. O termo “scotch mist” significa “uma coisa que você pensa que viu, mas na verdade não viu”. Tipo fantasma. E por uns dias foi isso: rolou o show na Radiohead.tv, em meio às sempre confusas comemorações de final do ano, depois tudo sumiu do ar. Tipo uma aparição. Mas, agora, a apresentação inteira está na Internet. O filme, todo feito com músicas do album “In Rainbows”.

Parte 44 - A Última Excursão de Mick Taylor

O dia amanheceu com Tony desesperado tocando a campainha e esmurrando a porta. Ele acaba se conformando em ir para casa, onde passa mal pelas próximas horas em crise. Antes que a macaca chegasse com todo o vigor, Keith liga e oferece uma dose salvadora. Mais tarde, Tony consegue com um médico umas prescrições de metadona, com o qual passa a tentar enganar o seu vício em heroína.


Um Fantasma do Passado
Sem mais o peso ou o auxílio do alter-ego Ziggy Stardust, David Bowie realiza seu primeiro especial de televisão. Para o seu próximo projeto, ele pretendia fazer um disco conceitual sobre o livro "1984" de George Orwell. Porém, sem conseguir a permissão da viúva do autor, acaba preparando um álbum inspirado no livro porém sem mencioná-lo especificamente. Este disco somente sairia em 1974, mas Bowie já estava focando toda sua atenção no tema.
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Assim, o especial televisivo é batizado por ele como "The 1980 Floor Show", um trocadilho onde a palavra "floor" (andar) é uma rima óbvia para a palavra "four" (quatro). Nele, Bowie canta uma série de canções de seu repertório assim como material fora dele. Vários são os convidados para o programa, um deles tendo recebido um convite especial direto de Bowie. Trata-se de Marianne Faithfull.
Marianne começou a se recobrar de seu período espiral para a decadência quando o produtor Mike Leander foi procurá-la no muro(!) em St. Anne's Yard, no Soho, com a idéia de gravar um disco. A Gem Music, que bancava o projeto, pagou o aluguel de um pequeno apartamento em Russell Square em Bloomsberry. É uma área não muito prestigiosa da cidade, no entanto, muito melhor do que morar ao lado de um muro em Soho. Ela também se internou no Bowden House com intuito de se desintoxicar, embora na prática, tenha ficado lá por apenas alguns dias, e ainda por cima havia uma pessoa que lhe levava heroína dentro do hospital. Um enfermeiro, ao descobrir, acabaria quebrando dois dentes da frente de Marianne com um soco. Em seguida ela deixou o local.
Marianne grava "Rich Kid Blues" com uma voz tão fraca, que nada profissional se materializou do trabalho. Mas no plano pessoal, ela foi à sua primeira festa depois de um longo hiato, onde além de passar um tempo enorme no banheiro cheirando cocaína com Mick Jagger e Suki Poiter, conhece um aristocrata chamado Oliver Musker, que se apaixona por ela. Marianne passa a morar com Oliver, que por sua vez a colocou nas mãos de Dr. Willis, bancando seu novo tratamento, que consistia em injetar meia grama de heroína a menos do que o habitual, até o organismo se acostumar. Com isto, Marianne se livrou do vício em oito meses.
Foi quando David Bowie aproximou-se dela com o convite para participar de um programa que ele estava preparando. Bowie queria dormir com Marianne, pois sua meta profissional naquele ponto de sua carreira passara a ser chegar ao nível de Mick Jagger. E tudo que era bom para Jagger ele também queria experimentar. Além disso, o vocalista havia trepado com a sua esposa, que mal haveria em dormir com sua ex?
Marianne Faithfull e David Bowie
Marianne Faithfull e David Bowie

Marianne cantou "Twentieth Century Blues", de Noel Coward, e depois fez um dueto com Bowie cantando o velho sucesso de Sonny & Cher, "I Got You Babe". Digno de nota o fato de Marianne aparecer vestida de freira com um decote na parte de trás que ia até a bunda. Detalhe: ela estava sem calcinha...
Vivendo uma relação extremamente aberta com sua esposa Angela, David concluiu não ter nada demais convidar Marianne a acompanha-lo para ver o show dos Rolling Stones em Wembley. Ela aparece naquela tarde vestida como se fosse Mozart e David acaba se perdendo de seu par nos bastidores. Marianne conversou com Mick, Keith e Anita e depois foi para casa de carona com Andrew Oldham. Somente dentro de alguns meses, já em 1974, que Bowie realmente iria trepar com Marianne. Antes porém, bêbados durante uma recepção na casa de Bowie, Marianne paga um boquete para David em um canto escondido da casa, enquanto Oliver e Angela estão conversando animadamente em outro.
European Tour - Etapa Britânica
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Os Stones fazem três shows em Wembley, dois em Manchester, dois em Newcastle seguindo para as terras altas, onde fazem dias 16 e 17, duas apresentações em Glasgow na Escócia. Em todas estas ocasiões, o repertório básico consistia em "Brown Sugar", "Gimme Shelter", "Happy", "Tumbling Dice", "Star Star", "Dancing With Mr. D.", "Doo Doo Doo Doo Doo", "Angie", "You Can't Always Get What You Want", "Midnight Rambler", "Honky Tonk Women", "All Down The Line", "Rip This Joint", "Jumping Jack Flash" e "Street Fighting Man".
Apresentações no País de Gales também estavam inicialmente nos planos mas foram canceladas. Em vez disso, a banda volta para Londres, enquanto Keith vai a Suíça cuidar de seu tratamento. E, logo na primeira etapa da excursão, já fica patente que pela primeira vez em sua carreira, o palco não estava mais imune às conseqüências de seu hábito.
É costume falar de Keith Richards como infalível quando está atuando, afinal, até então o palco era o único santuário que o guitarrista respeitava. Mas agora seu estado estava tal que ele simplesmente não conseguia render o mesmo. Como preparativo durante a excursão, Keith tinha a seu dispor uma série de guitarras, com uma afinação diferente cada, de acordo com a canção. Algumas ainda contavam com um capotraste de acordo com a afinação desejada, para que não fosse necessário se preocupar em fazer pestanas. É válido especular se tais medidas não eram na verdade uma consequência da impossibilidade de Keith conseguir se concentrar o suficiente para afinar ou até mesmo perceber a falta de afinação de sua guitarra. Sem falar no pequeno, porém seguido esforço físico necessário para se fazer e manter uma pestana.
Apesar destas precauções técnicas, Keith vinha oferecendo algumas performances por vezes duvidosas, raramente conseguindo realizar um show completo sem esquecer a letra da única canção que ele cantava, além de constantemente deixar sua palheta cair no chão e ainda por cima demonstrar uma enorme dificuldade para se abaixar e apanhá-la! A solução encontrada para o ridículo dilema foi passar a estocar no bolso palhetas reservas para não ter o trabalho de se abaixar. Jagger perde o respeito pelo parceiro e de vez em quando faz uns comentário irônicos durante o show, tudo com ar de brincadeira de forma a não o insultar de frente nem deixar os fãs perceberem que a dupla não está mais unida como antigamente.
Keith não conseguia enxergar o que a heroína estava fazendo com ele profissionalmente. Negando completamente que estivesse com dificuldades para tocar, chega a comentar para Anita certa vez que excursões eram boas para regular o seu sistema, pois, segundo ele, o veneno deixava o seu corpo através do suor.
Foi às vésperas da apresentação em Manchester que Keith soube do falecimento de seu avô Gus, um parente querido para quem ele creditava em parte a responsabilidade por seu interesse inicial pelo violão. Sua tristeza pode ter lhe inspirado para a apresentação dos Stones. Keith Richards tocou neste show como ainda não tinha feito em todo ano, já que geralmente se limitava a manter os riffs pulsando, deixando os solos para Mick Taylor do outro lado do palco; porém, nesta noite, Keith sola como se cada nota fizesse parte de seu coração. Até cantar "Happy" sem tropeçar na letra ele conseguiu.
A história da transfusão total de sangue
Depois da segunda apresentação em Birmingham, Keith pega um avião e segue para a Suíça, para o seu tratamento. Marshall Chess lhe acompanha, aproveitando a oportunidade não só para dar uma força ao amigo, como também para fazer uma segunda limpeza geral. Keith bancou todas as despesas, incluindo a passagem de ida e volta, estadia e alimentação, o tratamento, duas enfermeiras e um motorista bilíngue para qualquer eventualidade.
Keith, Anita, Marlon, Angela e Marshall aterrisam em Genebra e seguem de táxi até a casa em Villars-sur-Ollon. Dentro de poucas horas chega o médico, que ficara hospedado no Hotel Le Renard, e com isto inicia-se o tratamento. O procedimento ganhou fama de se tratar de uma transfusão total de sangue, mas na verdade, era apenas de uma filtração total do sangue à base de hemodiálise, feita lentamente, durante um período de 48 horas. Depois o paciente ficava sob observação enquanto descansava e se alimentava. O corpo logo se sente fortalecido e pronto para reviver a vida, supostamente com hábitos mais sadios.
European Tour - Outra Esticada
Dia 23, ou seja, quatro dias após o início do tratamento, Keith estava tocando com os Stones em Innsbruck na Áustria, totalmente livre de drogas. Para comemorar, depois do show, ele e Bobby foram cheirar umas carreiras de cocaína. Chega a eles então a notícia da morte de Graham Parsons, que falecera curiosamente no dia do início do tratamento de Keith, que praticamente no mesmo instante também fica sabendo do suicídio de Michael Cooper, fotógrafo amigo de longa data, cujo trabalho mais conhecido são as fotos para a capa do álbum "Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band" dos Beatles. Cooper, após a morte da mulher por overdose, ocorrida havia pouco mais de um ano, entrara em uma fase de profunda depressão. Michael deixou todo o seu espólio artístico no nome de seu filho antes de tomar propositadamente uma dose letal de heroína. O coração adormeceu e sua vida terrena foi encerrada.
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Depois de três apresentações em Berne, Suécia, retornam à Alemanha Ocidental, onde se apresentam em Munich, Frankfurt e em Hamburg no início de outubro. A estação ARD TV filma parte de um dos shows em Munich. Este material se tornaria um mini documentário chamado "Kaetschap". Em Munich inicia-se o relacionamento entre Keith e uma modelo chamada Ushi Obermeirr. Ela segue com a banda na companhia de Keith, enquanto estão na Alemanha.
Ushi
Enquanto os Stones estavam fazendo a esticada inglesa da excursão, Keith Richards resolve aprontar uma contra o seu desafeto Mick Jagger. Keith telefona para a França, onde a modelo alemã Ushi Obermeirr estava trabalhando e a convida para sair. Ushi era uma vistosa jovem de vinte e dois anos, alta, esbelta, com um corpo voluptuoso e uma voz quase soprada, extremamente sexy. A modelo teve um caso com Mick durante a última excursão européia, em 1970. Embora surpresa pela ligação, Ushi é receptiva à idéia de conhecer a outra metade da mola propulsora dos Rolling Stones. Então ficam de se encontrar quando a banda passasse pela sua cidade, Munich.
Ao chegar em Munich, Keith comenta com Mick que ele vai sair com Ushi, o vocalista logo se mostrando interessado em debater a questão, afirmando que ele a viu primeiro e portanto têm preferência. O embate verbal continua como se fossem dois meninos discutindo quem iria brincar com um determinado brinquedo. Keith então encerra a questão dizendo que os dois deveriam ver Ushi e deixar ela escolher com quem quer ficar. Em uma situação que só podia ser real na vida surreal dos Rolling Stones, os dois homens vão bater na casa da jovem modelo, apresentando-lhe o dilema e sugerindo que ela escolha seu par para a noite.
Ushi Obermeirr
Ushi Obermeirr

Extremamente lisonjeada em ter os dois principais Stones disputando sua companhia, ela lhes devolve a incumbência, afirmando que agradece a atenção, admira ambos, e que daria atenção a qualquer um; porém, eles que decidissem entre si quem iria realmente ficar com ela. Mick então utiliza a diplomacia, afirmando que ele deveria passar aquela noite com Ushi, uma vez que no dia seguinte Bianca chegaria e seguiria com a banda pelo restante da turnê. Assim, Keith poderia ficar com Ushi no dia seguinte. Os três entram em acordo e assim foi feito.
Acontece que Keith e Ushi passam a se dar extremamente bem. Ushi respeita Anita Pallenberg, outra modelo alemã famosa no seu país, e portanto sabe que a relação tinha prazo de validade. No entanto, para a surpresa de muitos, Keith se mostra realmente apaixonado, e demonstra uma disposição e atividade sexual há muito não conhecida. O guitarrista e Ushi passam a manter um tórrido romance, resultando em um Keith que aguardava ansiosamente uma próxima oportunidade para que estivessem juntos novamente.
O Conto da Banheira de Champagne
Em Frankfurt, Bobby Keys impressiona uma linda modelo ao convidá-la para tomar um banho em sua banheira cheia de Champagne. Para encher a banheira, Bobby precisou de nada menos do que vinte e oito garrafas de Dom Perignon. Ele e sua parceira entraram na banheira e trataram de beber tudo, tendo ele sumido de vista do restante do grupo por alguns dias. Esta extravagância ficou famosa entre os anais da indústria roqueira como mais um dos grandes contos sobre excessos de uma banda na estrada. Bobby, ao comentar a respeito, teria dito que ele sempre quis saber a sensação de um banho de Champagne e sua companhia fez a brincadeira valer à pena...
European Tour - Etapa Final
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Quando os Stones seguiram de Frankfurt para Hamburgo, tiveram que ir de trem pois o setor de controle de tráfego aéreo entrara em greve, e todos os aeroportos estavam fechados. Por sorte a greve não afetou os planos para a banda deixar o país. Deixando Hamburgo, seguem pela Escandinávia, atuando na Dinamarca e Suécia antes de retornar para a Alemanha uma terceira vez. Um dos shows em Aarhus, Dinamarca, foi filmado em Super 8 por alguém da platéia. A apresentação foi realizada no dia 4 de outubro, no Vejlby-Risskov-Hallen. Passam três dias em Essen e seguem para Rotterdam, Holanda, para três shows em dois dias; o primeiro dos quais sendo gravado. Depois seguem para Antwerp e Bruxelas na Bélgica, onde as apresentações também são gravadas com som retirado da mesa.
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O show de Bruxelas produz um dos mais desejados bootlegs dos Rolling Stones, dada a qualidade de gravação e da apresentação da banda em si. Lançado pela Trade Mark of Quality, a primeira prensagem deste famoso pirata duplo seria chamada "Nasty Music". O álbum oferecia o show completo salvo uma música, "Star, Star." Dia 18 descansam e finalmente retornam para a Alemanha pela quarta e última vez nesta turnê, onde encerram a excursão no dia 19 de outubro, se apresentando agora em Berlim Ocidental.
Bobby Keys passa mal, a química baleando seu corpo a ponto de não mais conseguir produzir. Assim, Keys não participa do último show da excursão, e por esta transgressão inaceitável, é sumariamente expulso da banda, posto em um táxi até o aeroporto e a caminho de Londres antes do show iniciar.
A excursão foi satisfatória financeiramente, acumulando ganhos de £388.815.p contra despesas de £138.673.57p., dando um lucro à firma Rolling Stones de £250.140.57p. exatos. O disco "Goat Head Soup" estava vendendo bem e embora a crítica o considerasse um pouco disperso, venderia três milhões de cópias só nos Estados Unidos, se tornando o quarto álbum de maior vendagem da banda, em grande parte graças à canção "Angie".
Côrte de Instância Maior de Nice
Dia 15 de outubro, enquanto os Rolling Stones se preparavam para sua apresentação em Bruxelas, a Corte de Instância Maior de Nice concluía o julgamento de Keith Richards e Anita Palenberg, considerando os dois culpados de uso, tráfico e distribuição de maconha(?!). Foram sentenciados a um ano de cadeia, sentença suspensa em prol de uma multa de £600 cada. Foram também proibidos de entrar em território francês por dois anos. Bobby Keys, igualmente encontrado culpado de uso de drogas ilícitas, recebeu uma condenação de quatro meses de prisão, sentença igualmente suspensa em troca de uma multa de mil francos franceses. Com este assunto concluído, Keith pôde finalmente, depois de dois anos, parar de pagar o aluguel de £1000 por semana pela residência de Nellcôte.
Eventos no mundo iriam ditar mudanças em todas as indústrias, inclusive de espetáculos. No dia 17 de outubro de 1973, os países produtores de petróleo se unem e aumentam o barril em 70%. Este fato daria início à primeira crise de petróleo da história, causando uma reavaliação de custos em todas as outras áreas do mercado. Assim, a diminuição radical de bandas excursionando, principalmente pela América e Europa, era apenas um dos muitos efeitos sentidos após a crise.
Marlbourough Magistrate
Enquanto Keith estava excursionando, e ao menos teoricamente se desintoxicado, Anita estava em Londres, tentando também largar o vício. No entanto, com o retorno de Keith e com ele, todos os amigos esanguessugas, rapidamente ela retornava para a estaca zero, já que o casal consumia heroína sistematicamente. Keith e Anita, com o amigo Príncipe Stanislaus, iriam no dia 23 de outubro para Malbourough Street participar do julgamento pela batida policial realizada em sua casa em junho. Presentes também no dia, apenas assistindo, estavam Mick Jagger e Andy Johns. Os laboratórios policiais, depois de analisarem as peças confiscadas na casa, encontraram resquícios de maconha e heroína, duas armas de fogo e munição, além de vinte e cinco tabletes de Mandrax, um barbitúrico que serve como relaxante.
A defesa argumenta que as duas armas, mesmo que ilegais na Grã Bretanha, foram ganhas como presente e eram utilizadas exclusivamente para efeito decorativo na residência. Para corroborar esta tese estava o fato que, no momento que a polícia as apreendeu, nenhuma das duas estavam carregadas, nem apresentavam sinais de uso. A caixa de munição para o rifle estava com todos os seus cartuchos, portanto sem uso. Alegam também que o casal estava fora por um longo período de tempo e a casa esteve emprestada para um número diferente de pessoas, finalizando ainda que eles haviam retornado poucos dias antes da batida policial e portanto, os produtos ilegais encontrados poderiam ser de qualquer um dos inquilinos que hospedaram na casa durante os dois anos de ausência do apartamento.
Keith e Anita deixando o tribunal
Keith e Anita deixando o tribunal

Sem ter como comprovar que a maconha e heroína pertencia ao casal, a situação lhes favoreceu. O Principe Stanislaus também foi inocentado de todas as acusações, tendo sido provado que ele apenas pernoitara na residência e portanto nada tinha a ver com o que foi encontrado pela casa. Anita Pallenberg foi absolvida pelo porte dos Mandrax e Keith Richards pagou uma multa de £125 pelas armas de fogo e £80 pelas drogas.
Londonderry & Rainbow
O Londonderry House Hotel fica na esquina junto à entrada principal para o Hyde Park. É um hotel situado em um ponto estratégico que a banda vinha usando desde 1969. Keith e Anita já haviam passado longas temporadas no hotel em ocasiões passadas. Mas nada disto importou muito quando, no dia seguinte a sua passagem pela justiça, Keith causa outro acidente. Seu hábito deapagar, nitidamente dormindo em meio a uma frase apenas para acordar minutos depois, continuando onde ele havia parado, já fora engraçado no passado, pois justamente apagando assim ao volante que ele sofreu seus vários acidentes de carro, sem contar a quantidade de colchões que ele queimara (não vamos nem entrar nos méritos das roupa de cama chamuscadas).
Porém os últimos incidentes foram os piores. Três meses antes ele causara o incêndio que destruíra sua casa em Redland e poderia ter matado quase toda a sua família. Agora, na sua suíte no Londonderry House, enquanto há uma festa acontecendo por conta do bom resultado nos tribunais do dia anterior, Keith está na cama assistindo Marlon e o filho de Andy John brincando quando de repente apaga. Logo o cigarro ainda entre seus dedos está queimando a roupa de cama que entra em chamas. Foi quando as crianças começaram a gritar para que alguém viesse socorrê-los. Keith é acordado com um belíssimo esporro. Felizmente ninguém se machucou e o prejuízo foi mínimo, no entanto não só Keith mas todos os Stones passam a ser banidos do estabelecimento. Enquanto isto, em outra parte da cidade, Bill Wyman está comemorando trinta e sete anos de idade.
No dia 25 de outubro, Billy Preston se apresenta no Rainbow Theatre com seu grupo, The God Squad, umensemble que conta com três tecladistas, Billy Preston, Huby Heard e Kenny Lupert, mais um baterista, Manuel Kellough. Uma atração especial foi o comparecimento de Mick Jagger e Mick Taylor, que participaram com a banda de uma rendição de "Shine A Light" (Jagger-Richard) e "Will The Circle Be Unbroken" (trad.).
Dragões e Demônios
Mick Taylor estava bastante insatisfeito com o modo de vida que andava levando. Prometera a sua mulher e a si mesmo que procuraria um ambiente melhor para sua filha e que, para tanto, adotaria hábitos mais sadios. Dois anos já haviam se passado e de lá para cá sua dependência só havia aumentado estando Rose, sua esposa, agora igualmente viciada e tendo um caso secreto com seu fornecedor. Na realidade, o que ocorre é que, quando se mantém uma relação com alguém viciado em algo como heroína das duas uma: ou se abandona esta pessoa ou passa a ser também um usuário. Esta afirmação possivelmente não está escrita em lugar algum, mas é o resultado de observações seguidas na conduta de casais viciados, onde invariavelmente o eixo de importância principal deixa de ser as pessoas em si, passando a ser a droga. Assim é a vida.
E as pressões na vida de um Stone, sempre na estrada e sempre seguido por uma horda de gente, que estão sempre prontos para oferecer de tudo a qualquer hora, é um grande fator nesta equação. Há muita tentação, muito cansaço e muita necessidade de compostos químicos com intuito de se desligar das exigências constantes. Vida na estrada é cansativa, exigente e em alguns casos, capaz de fazer pessoas sãs cometerem loucuras apenas para quebrar o tédio. Vida de artista consiste em começar a trabalhar enquanto o resto da cidade está buscando diversão.
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Quando em casa, acostumado que está com a batida intensa da estrada, às vezes é difícil abaixar o ritmo e voltar ao pique sereno que deveria ser o ambiente de uma casa. Ainda mais se tratando de uma casa com uma criança pequena. Uma casa de família. Sua família: aquela pelo qual se sai para trabalhar para sustentar e melhor proteger. Todos esses pensamentos vinham constantemente fluindo pela mente de Mick T.
Em parte, já está um pouco tarde. Rose cansou de falar e reclamar de sua vida. Ela vem bombardeando seu marido para deixar os Rolling Stones e buscar um outro grupo. Intuia, como se fosse fato estabelecido, que a situação toxicômana de Keith Richards era tal que ele não sobreviveria por muito tempo. Portanto seria sensato assumir o fato que os Stones iriam acabar. Tudo isto vinha sendo dito por ela há um ano. A incapacidade de Taylor de assumir uma atitude faz com que ela comece a desprezar seu marido. Rose, que já vinha mantendo um caso, dá o próximo passo e sai de casa, levando Chloe para morar com o amigo da família, Roy Martin. Mick T sabe que ele precisa mudar a sua maneira de viver e não vê como fazer isto dentro de uma organização intoxicada como a dos Rolling Stones.
Afora seus problemas emocionais, há também os problemas profissionais. Mick Taylor se sente super desprestigiado dentro dos Stones. Seus esforços são pouco reconhecidos pela dupla Keith e Mick J, e suas colaborações com as composições no último disco ficaram totalmente ignoradas na ficha técnica. Isto já seria o suficiente para aborrecer este guitarrista calado e incapaz de enfrentar os leões e defender seus direitos. Mas para piorar a situação, mesmo calado, um dos leões está lhe complicando as coisas. Nos últimos tempos, trabalhar com Keith Richards vinha sendo um bocado extenuante.
Taylor não estava nada ansioso para voltar a entrar no estúdio com os Stones. Mas, ao mesmo tempo, não tem nada acontecendo e ele se sente demasiadamente desorientado fisica e emocionalmente para conseguir concluir corretamente uma linha de ação, e acaba por seguir levando as coisas como estavam. Pelo menos por algum tempo.
Munich
Muitos fatores conspiraram a favor para que os Rolling Stones escolhessem Munich como o local para gravarem seu próximo disco. O fato de Keith estar mantendo um caso com uma linda modelo que mora na cidade era apenas um deles. Outro era a Alemanha ser um país onde se encontrava heroína com certa facilidade. Mas o principal motivo mesmo era o novo estúdio que havia sido construído na cidade. Trata-se do Musicland Studios, que pertencia ao inglês Peter Bellotte e ao italiano Giorgio Moroder, trazendo o que havia de mais moderno em equipamentos, e com isto o local consegue rapidamente uma boa fama, passando a ser o preferido por bandas como Electric Light Orchestra, Deep Purple, Faces e os Rolling Stones.
A banda teoricamente se reuniria em Munich a partir do dia 13 de novembro. Mas na prática nem todos comparecem e as sessões acabam durando somente onze dias. Mick Taylor é o grande ausente, preferindo permanecer em Londres, se internando em uma casa de saúde e dando início ao tratamento visando sua desintoxicação. Oficialmente, para a imprensa, Taylor estaria adoentado e portanto iria ficar em Londres para se recuperar. Um quinto músico porém viajou com a banda, o tecladista Billy Preston.
Material destas sessões incluem "If You Can't Rock Me" e um cover de "Ain't Too Proud To Beg" (Norman Whitfield/Eddie Holland), mais três instrumentais, "Fingerprint File", "Broken Head Blues" e "Slow Down And Stop." Os três iriam ainda ganhar letra com tempo, "Broken Head Blues" depois sendo rebatizado de "Black Limousine." Ron Wood foi convidado a aparecer e de fato participou em um dia, tocando apenas em "Broken Head Blues." Houve também um instrumental sem nome com uma banda formada por Mick Jagger e Keith Richards nas guitarras, Ian Stewart no piano, Billy Preston no órgão, Charlie Watts na bateria e Giorgio Moroder no baixo.
The Glimmer Twins
Por um prisma histórico, esta seria a primeira série de sessões oficiais dos Rolling Stones em que a produção estaria oficialmente creditada aos Glimmer Twins, ou seja, a Mick Jagger e Keith Richards. Jimmy Miller não estava mais com o grupo, sua carreira havia entrado em um período de decadência enquanto ele passava por problemas relacionados com drogas e álcool. Andy Johns foi novamente chamado para cuidar das sessões, com Keith Harwood como segundo engenheiro de som.
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Porém a dupla Jagger e Richards não estava mais caminhando na mesma direção musicalmente e portanto houve um ajuste natural. A música, em parte auxiliada pela influência de Billy Preston, estava cada vez mais Funk, o caminho encontrado entre o interesse pelo Reggae de Keith e o interesse pelo Soul de Mick. Isto em parte explica a regravação de "Ain't To Proud To Beg," sucesso dos Temptations em 1966, ou as de própria autoria como "Fingerprint File", que é totalmente Funk em sua concepção, além de "Luxury", que é um meio termo entre Reggae e Funk. Charlie Watts encontrava extrema dificuldade em tocar Reggae corretamente, o que certamente diminuiu as chances de uma maior influência do gênero sobre as músicas deste álbum.
O Musicland Studios agradou e ficou acertado retornarem a Munich depois das festividades de fim de ano. Retornando à Inglaterra, Mick Jagger quer ouvir novamente aquela fita que gravaram no estúdio do Ron Wood. Uma sessão então é realizada no Wick para ouvirem a gravação de "It's Only Rock 'n' Roll." A noite acaba rendendo uma segunda sessão de gravação com Wood colocando outra guitarra e baixo, tendo Mick refeito a sua parte nos vocais. Acompanhando Jagger estava David Bowie, que participa ajudando no coro e palmas.
Inglewood
Bill Wyman segue para Los Angeles onde pretende iniciar de forma mais séria as gravações de seu prometido trabalho solo. Na primeira semana de trabalho, as sessões foram realizadas no Elektra Studios, mas Wyman não gostou de trabalhar naquele local e a partir da segunda semana, passa a alugar o estúdio de Ike Turner, o Bolic Studios. Durante este período Bill Wyman gravou as bases para "I'll Pull You Thro'," "It's A Wonder," "I Wanna Get Me A Gun," "Mighty Fine Time," "Monkey Grip Glue," "Pussy," "What A Blow" e "White Lightnin'." Todas estas composições são de Wyman, com a excessão de "What A Blow", que tem co-autoria de Wyman e Mac Rebenack. A banda básica era formada por Dallas Taylor na bateria, Joe Lala nas percussões, e Danny Kortchmar na guitarra e algumas percussões. Bill, além de cantar e tocar baixo, também executou partes na guitarra, piano e gaita de boca. Os engenheiros de som para todas as sessões deste projeto são os irmãos Howard e Ron Albert.
Festas de Confraternização
As sessões foram consideradas encerradas dia 14 de dezembro e ficou combinada uma festinha para comemorar o fim desta etapa do trabalho, assim como também a chegada do Natal. Na festa, estavam entre outros amigos, os músicos Dave Mason, Wayne Perkins, Todd Rudgren e Leon Russell. O pessoal acabou tocando junto, como geralmente acontece em um lugar onde há uma grande agolmeração de músicos e instrumentos. A brincadeira foi gravada e contou com Jay Windig no órgão, Wayne Perkins no baixo, Dallas Taylor na bateria, com mais Bill Wyman, Danny Kortchmar, Dave Mason, Todd Rudgren e Leon Russell, todos cinco nas guitarras. Segundo conta Bill Wyman, a banda ficou mais interessante no papel do que na prática.
Mick Jagger e John Lennon
Mick Jagger e John Lennon

Parte do pessoal seguiu depois para outra festa, esta realizada nos estúdios Record Plant West em Sausalito. Lá encontraram Mick e Bianca Jagger, John e Yoko Lennon e mais uma galeria de músicos e celebridades. Nesta noite, a programação acabou rendendo uma sessão de gravação. John Lennon produziu Mick Jagger gravando "Too Many Cooks" (Willie Dixon). Depois, foi a vez de Mick Jagger produzir John Lennon que gravou "Bring It On Home" (Sam Cooke).
Depois do trabalho mais sério, uma brincadeira descontraída incluiu um improviso com as participações de John Lennon, Jesse Ed Davis e Danny Kortchmar nas guitarras, Mike Finnegan, Al Kooper e/ou Billy Preston nos teclados, Bill Wyman, Jack Bruce e Wolfgang Metz no baixo, Rocky Djubano cuida das percussões e finalmente Jim Keltner e Bruce Gary na bateria. Bobby Keys e Trevor Lawrence atacam de saxofone, enquanto Harry Nilsson e mais algumas meninas participam no coro.
Fim de Ano
Mick e Bianca passam o final do ano em Trinidade e Tobago onde, dentre outras coisas, o casal assiste às partidas de Crickett. Keith e Anita continuam brigando em Cheyne Walk. Charlie e Shirley, assim como Mick T e Rose, estão em suas respectivas residências nos arredores de Londres. Bill e Astrid permanecem em Los Angeles onde Bill retormaria as sessões para o seu álbum no dia 5 de janeiro.

Circle Regenerated - Norther

Por Thiago Macedo Linhares

“Circle Regenerated” (2011) é o primeiro álbum da banda desde a saída do vocalista Petri Lindross (que está atualmente no ENSIFERUM), estreiando o vocalista Aleksi Sihvonen. O disco foi produzido e mixado no Astia Studios, sendo lançado em 18 de abril.



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Houve uma séria e drástica mudança no som da banda, que antes fazia um death metal "frio", poderoso e melódico como visto nos álbuns “Mirror of Madness” (2003), “Death Unlimited” (2004) e “'Till Death Unites Us” (2006). As composições de “Circle Regenerated” agora, beiram o death metal melódico comum, igual ouvimos de muitas bandas genéricas por aí.
Não há muito para descrever as músicas, que são bastante semelhantes entre si, tanto no sentido lírico, quanto melódico. Os vocais limpos são o ponto baixo do álbum, demasiadamente exagerados e "forçados", soando as vezes estranho e feminino. E os teclados, sempre presentes na sonoridade da banda, também ficaram saturados e em alguns trechos, contribuindo para o baixo nível das músicas. Não há destaques no CD, visto que todas as canções possuem os mesmos elementos e falhas.
Não obstante, os riffs e arranjos de guitarra estão bem feitos e mais técnicos, assim como as linhas de bateria. O vocal de Aleksi não está de todo ruim neste CD, seu gutural consegue chegar a um nível bom, excedendo expectativas.
"Circle Regenerated" tinha tudo para ser um bom CD, mas foi uma tentativa falha. A banda certamente errou em mudar tanto a sonoridade, gerando assim uma "mancha" em sua discografia impecável. Com certeza os tempos do verdadeiro NORTHER se foram, deixando para trás tudo aquilo que a banda realmente foi.
Portanto, poucos gostarão deste álbum. Simplesmente descartável e cheio de firulas.
Tracklist:
1. Through It All - 03:46
2. The Hate I Bear - 04:07
3. Truth - 04:04
4. Some Day - 04:49
5. Break Myself Away - 04:06
6. Believe - 04:23
7. Falling - 04:22
8. We Do Not Care - 04:16
9. The Last Time - 04:17
10. Closing In - 05:49

Acid Eaters - Ramones

Por Maximiliano P.

Adoro quando alguém consagrado grava um cover ou uma versão de uma música alheia. É a oportunidade de provarmos quem são suas influências e de testar sua capacidade criativa. Sempre digo que para você conhecer a certidão de bons antecedentes roqueiros de uma banda basta conhecer os covers que eles fizeram ou fazem.


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Após ter lançado dois discos bastante importantes (o imprescindível “Loco Live” e o excelente “Mondo Bizarro”), os fãs esperavam pela direção do próximo trabalho dos RAMONES. No último disco as canções tomaram uma linha mais madura e trabalhada. As músicas curtas e rápidas de três acordes subsistiram, mas dividiram espaço com baladas (“Poison Heart”), covers (“Take It As It Comes”), e até mesmo faixas com solos de guitarra (“Cabbies On Crack”).
O grande sucesso comercial de “Mondo Bizarro”, em especialda faixa “Take It As It Comes”, fez com que os RAMONES  tirassem do armário um projeto de gravar um disco só de covers. Cada um dos membros escolheu canções marcantes do final dos anos 60, mais especificamente lançadas entre 1966 e 1970. Era a época áurea do psicodelismo e do consumo desenfreado de ácido pelos roqueiros, daí a escolha do nome “Acid Eaters” para o álbum.
Os covers nunca foram novidade para os RAMONES (e eles são bons nisso...). Na maior parte das vezes em que foram gravados atenderam a um desejo manifesto do vocalista Joey Ramone. “Let’s Dance”, do seu primeiro disco (original de Chris Montez), a belíssima “Needles and Pins” (original dos Searchers), e a clássica “Do You Wanna Dance”, de Bobby Freeman são alguns exemplos.
Essa foi a linha escolhida pela banda para lançar outro álbum inovador em relação a ela mesma. “Acid Eaters”, décimo terceiro e penúltimo disco estúdio dos RAMONES, é um tributo dos Ramones às bandas que os influenciaram nos anos 60 e 70.
"Acid Eaters” foi lançado em dezembro de 1993. É um disco consistente, inovador e enraizado em ótimas influências. As 12 faixas transitam por várias vertentes: surf music, rock psicodélico, folk rock, rock’n roll, garage rock e hard rock. Entretanto, resume-se igualmente a tudo o que os RAMONES fizeram até hoje: classic rock.
“Journey To The Center Of Your Mind” abre o disco de forma impactante. Afinal de contas, ela é cantada pelo baixista CJ e está recheada de solos de guitarra, que acompanham os riffs tradicionais. Mesmo com essas “novidades”, traz toda a intensidade e rapidez esperadas. A faixa é original de Amboy Dukes (1968), mas foi o seventista Ted Nugent (ex-guitarrista da própria Amboy) quem a imortalizou.
Em “Substitute”, clássico do The Who, o guitarrista Pete Townshend foi o backing vocal de Joey. A interpretação ficou atraente, apesar de ter faltado à banda um pouquinho de ousadia. Minha impressão é que, por respeito excessivo à Pete e ao próprio The Who, os RAMONES preferiram apenas acelerar a canção original.
Em seguida a melhor faixa do disco, na minha opinião. A inesperada baldada “Out Of Time”, dos Stones, ficou à feição para a voz de Joey Ramone. A majestosa variação de graves e agudos e a paixão na deliciosa interpretação do cara fizeram que essa versão superasse a original. Qualquer semelhança com o que aconteceu quando eles regravaram “Needles and Pins” não é mera coincidência...
“The Shape of Things To Come” sintetiza a nova fase dos Ramones. A música é de uma banda chamada Max Frost And The Troopers, fundada no rock e com psicodelia no sangue. São visíveis essas influências múltiplas e o som mais limpo, obviamente sempre sem cortar as raízes de velocidade e simplicidade do punk.
Outro grande momento advindo da psicodelia surge em “Somebody To Love”, canção popularizada pela ótima banda Jefferson Airplane. A atriz pornô Traci Lords participa dos vocais e novamente a batida acelerada da bateria e os vocais de Joey são um show à parte.
“When I Was Young” é mais uma regravação soberba. As músicas do Animals trazem consigo uma atmosfera diferente, um clima nebuloso, que conseguiu ser recriado pelos RAMONES. Joey sempre foi mestre em saber cantar com maestria o sujo e o límpido. Essa linda balada traz um ar sombrio e pesado, alicerçada em teclados psicodélicos marcantes. Impecável...
“7 And 7 Is”, da banda Love, é a faixa mais punk rock de todas. Uma martelada atrás da outra. A batida alucinada e velocíssima da batera de Marky rouba a cena. Quando ouço essa música lembro sempre de uma locomotiva que vai descarrilhar por excesso de velocidade.
Uma das grandes surpresas do disco aparece em “My Back Pages”, uma das maiores composições de Bob Dylan, imortalizada pelos Byrds. Os vocais são novamente de CJ, e mais uma vez o ritmo ligeiro, o solo melódico e a pegada punk dão o ar da graça. Elogiar solos em música dos RAMONES parece um contrassenso, né?
Em “Can’t Seem To Make You Mine” a banda tira o pé do acelerador e produz uma faixa sem o brilho das demais. A canção é da banda The Seeds, que muitos consideram ter esboçado os primeiros traços, mesmo que ainda muito tênues, do punk rock. A versão dos RAMONES apenas trouxe a interessante original para uma roupagem mais moderna, valendo pela homenagem histórica.
A recuperação dos caras vem logo em seguida, com “Have You Ever Seen The Rain”. Quando ganhei o CD, em 1994, esta foi a primeira faixa que ouvi, por uma mórbida curiosidade: como uma banda punk regravaria uma das mais clássicas baladas do rock’n roll? Óbvio... Acelerando! Novamente temos um speed punk de qualidade, com a brilhante condução da guitarra de Johnny.
“I Can’t Control Myself”, dos Troggs, é outra boa releitura de quem também rascunhou o punk no final dos anos 60. Ao contrário da falta de sal da canção dos Seeds, nesta os RAMONES colocaram seu carimbo. Se a música estivesse no Mondo Bizarro, por exemplo, todos pensariam que seria deles.
“Surf City”, que fecha o disco, é um tributo muito mais letrista do que musical. A linha mestra das letras dos RAMONES sempre foi a curtição (no sentido mais amplo da palavra), o surf, a praia, as garotas, e a original de Jan and Dean tem tudo a ver com isso. Exatamente como haviam feito com “California Sun”, em um disco anterior, os RAMONES conseguiram inventar a “Surf Punk Music” nessas versões...
“Acid Eaters” não é o melhor disco dos RAMONES, tampouco o mais vendido, menos ainda o mais importante. Longe disso, até. Não quero e nem posso compará-lo aos indispensáveis “Ramones”, “Rocket To Russia” e “Brain Drain”, por exemplo.
Entretanto, nenhum álbum deles nos mostra melhor de onde vieram e quanto amadureceram como banda ao longo dos anos. Se eu tivesse que indicar um álbum deles para quem conhece pouco sobre os caras, certamente apontaria esse. “Diga-me quem te influencia e eu te direi quem és...”
Abaixo, vídeo de “Have You Ever Seen The Rain”, gravado ao vivo na Argentina em 1996, na última tour mundial dos RAMONES. A maior banda punk de todos os tempos estava próxima de finalizar sua brilhante carreira, mas Joey, Johnny, CJ e Marky ainda conseguiam fazer barulho ao vivo como poucos...
Gabba Gabba Hey!!
Fonte desta matéria: rockrevista.blogspot.com

Imaginations Through The Looking Glass - Blind Guardian


Já faz algum tempo que o DVD faz parte da vida de todo fã de música. Em seu início um prato cheio para os aficionados por cinema, que ganharam centenas de edições especiais de seus filmes favoritos, com o passar dos anos começou a ser explorado em todas as suas possibilidades pelas bandas, gerando resultados excepcionais, como os obrigatórios “Rock In Rio” do Iron Maiden, “Rush In Rio” do Rush, “Go Home” do U2, “Perfect Square” do REM e “World Misanthropy” do Dimmu Borgir, só para ficar nos títulos que vieram mais fáceis à cabeça. Pois esta lista acaba de ganhar mais um nome: “Imaginations Through The Looking Glass”, da banda alemã Blind Guardian.



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Um dos grupos mais originais do heavy metal, o Blind Guardian conquistou uma enormidade de fãs apaixonados justamente pelas características únicas de seu som. Aliando o peso à melodias épicas e únicas, o grupo foi construindo a sua música aos poucos, até chegar ao resultado estupendo apresentado nos álbuns “Imaginations From The Other Side”, “Nightfall In Middle-Earth” e “A Night At The Opera”, lançados em 95, 98 e 2002, respectivamente.
Com uma temática quase que totalmente baseada no universo criado pelo escritoringlês J. R. R. Tolkien (para quem não vive neste planeta, nada menos do que o autor de “O Senhor dos Anéis”), o Blind Guardian  conseguiu, principalmente no álbum “Nightfall In Middle-Earth”, uma união entre música e letra poucas vezes alcançado na música. Um resultado tão primoroso que desencadeou entre milhares de fãs em todo o mundo uma grande campanha para que o grupo estivesse presente na trilha da versão cinematográfica da obra de Tolkien, comandada pelo diretor neo-zelandês Peter Jackson (que ganhou nada menos do que dezessete Oscars, além de dezenas de outros prêmios, pela sua trilogia – “O Senhor dos Anéis”, “As Duas Torres” e “O Retorno do Rei”). Este clima pode ser sentido no DVD, com os fãs tendo orgulho de ser verdadeiros “bardos do metal”, “guerreiros da música”.
O perfeccionismo é uma das características mais fortes da banda, e neste DVD não poderia ser diferente. Tudo que cerca a produção do vídeo é grandioso. Gravado na cidade alemã de Coburg, durante a realização da primeira edição do “Blind Guardian Open Air Festival”, o vídeo é uma celebração à obra, às músicas, à banda, ao fãs e, acima de tudo, ao “Blind-Guardian-way-of-life”. A paixão está em cada frame do DVD, tanto dos fãs pelos seus ídolos, quanto da banda pelo público.
Gravado com doze câmeras, o vídeo capturou com extrema fidelidade a atmosfera de um show dos bardos alemães, mantendo intacta a energia entra a banda e a platéia. A abertura já prenuncia que o que vamos ver nas próximas duas horas marcará nossas vidas, em uma experiência de tirar o fôlego.
O set list destaca o material dos três últimos, e melhores, álbuns da banda, sem deixar de olhar para o passado com reverência, através de clássicos absolutos como “Banish From Sanctuary”, “Valhalla” e “Somewhere Far Beyond”. O destaque maior, como não poderia deixar de ser, vai para o hino “The Bard´s Song (In The Forest)” e a impressionante “Mirror Mirror”.
O cuidado da banda com o material é extendido para a execução das músicas, com os integrandes mostrando a sua habitual competência em cada instrumento. O destaque vai para o baterista Thomas Stauch, que infelizmente não está mais com o grupo. A sua forma de tocar é de cair o queixo, aliando técnica e força, fazendo com que você, mesmo sem perceber, preste mais atenção na bateria das músicas do que no resto dos instrumentos. Os guitarristas Andre Olbrich e Marcus Siepen possuem um entrosamento absurdo, com destaque para os solos do primeiro e os belíssimos backing vocals do segundo (aliás, a paixão de Siepen em tocar as músicas pode ser percebido em inúmeros momentos durante o vídeo, empolgando quem está do lado de cá da TV). O time principal é completado pela voz única de Hansi Kursch, que executa as intricadíssimas e belas linhas vocais do grupo com competência ímpar. Explorando os extremos de sua voz, Hansi ora utiliza vocais mais limpos, ora extremamente agressivos, em uma performace que em nada deixa a desejar ao resultado obtido em estúdio (a fidelidade da banda aos arranjos originais das músicas é impressionante, atestando mais uma vez a capacidade excepcional dos músicos). Alguns poderão sentir falta durante o DVD de uma performance mais estilo “bruce-dickinson” de Hansi Kursch, mas isso se mostra totalmente desnecessário dentro do conceito da banda.
Além dos quatro membros originais, vale mencionar também o baixista Oliver Holzwarth, contido na maior parte do tempo, mas com o seu instrumento em perfeita sintonia não só com o baterista Thomas Stauch, mas com toda a banda. O DVD também conta com um tecladista convidado, encarregado das partes orquestradas originalmente presentes nas versões de estúdio.
Um dos maiores, senão o maior destaque de “Imaginations Through The Looking Glass”, é a participação empolgante dos apaixonados fãs do Blind Guardian, que cantam absolutamente todas as músicas do set list a plenos pulmões, gerando situações curiosas como quando a banda pára de tocar “Valhalla” para observar a cantoria dos fãs, e quando o refrão desta música volta a ser cantado de forma ensurdecedora quase no final do set list.
O disco 2 apresenta diversos extras, com destaque para as quatro músicas que ficaram de fora do show principal (“Majesty” gravada durante o show da banda no Festival de Wacken em 2002, e “Into The Storm”, “Welcome To Dying” e “Lost In The Twilight Hall”, registradas em Stuttgart no mesmo ano), além de um ótimo documentário sobre a produção do festival (que, inexplicavelmente, possui legenda apenas em inglês, um tropeço que a Century Media poderia ter corrigido na versão nacional do DVD), entrevista com a banda e um slideshow apresentando fotos da turnê.
Se não bastasse toda a qualidade apresentada no vídeo e nas músicas, merece elogios também a belíssima embalagem digipack disponibilizada de forma limitada pela Century Media. Com ilustrações do pintor russo Leon Hao (que já fez trabalhos para grupos como Iced Earth e Nocturnal Rites), nos leva em uma viagem sem escalas à Terra Média de Tolkien, com direito a orcs, elfos e a presença do anão Gimli, do arqueiro Legolas e do próprio mago Gandalf, com uma câmera em punho para registrar o show. A qualidade se estende para as ilustrações internas, com um ar antigo que deleita não só o fã do grupo, mas qualquer apreciador da boa arte.
Um item obrigatório não só na coleção de qualquer fã, mas tanto para quem gosta de música quanto para quem procura um dos DVDs mais completos já lançados aqui por estas terras. Compre e guarde com carinho, ao lado do box com os três filmes do “Senhor dos Anéis”.
Faixas:
Disco 1 – Blind Guardian Open Air 2003
1. War Of Wrath
2. Time Stands Still (At The Iron Hill)
3. Banish From Sanctuary
4. Nightfall
5. The Script For My Requiem
6. Valhalla
7. A Past And Future Secret
8. Punishment Divine
9. Mordred´s Song
10. The Last Candle
11. Bright Eyes
12. Lord Of The Rings
13. I´m Alive
14. Another Holy War
15. And Then There Was Silence
16. Somewhere Far Beyond
17. The Bard´s Song (In The Forest)
18. Imaginations From The Other Side
19. And The Story Ends
20. Mirror Mirror

Disco 2 – Extras
- Making Of “The Blind Guardian Festival Coburg 2003”
- Slideshow
- Entrevista com a banda
- Músicas bônus: “Majesty”, “Into The Storm”, “Welcome To Dying” e “Lost In The Twilight Hall”