27 de abril de 2011

Island Of Death - 1975








De férias na ilha de Mikonos, jovem casal decide matar todo mundo que aparece pela frente. Motivo? Nenhum, deu vontade e pronto!
Se fosse apenas um filme "B" qualquer, "Island of Death" não chamaria tanta atenção do público, ainda mais sendo uma produção da Grécia - de onde menos se espera vir um filme de horror.

O que o torna "cult" são mesmo as cenas de nojeira casca-grossa, sem dó nem piedade, que incluem decapitação por motoniveladora, pessoas crucificadas e forçadas a beber cal, empalamentos mil e sexo de todas as formas - inclusive animal e incestuoso! O filme só vai agradar mesmo aos que gostam de se chocar, pois a fita tem sequências feitas para ofender todas as sensibilidades, sem discriminação.

Parte 37 - Los Angeles e Vevey

Dia 14 de dezembro, exatas duas semanas depois de todos deixarem Villefranche-sur-Mer, a polícia francesa invade Nellcôte para prender Keith Richards, sua família e outros ocupantes da residência. Foram recebidos por uma casa vazia, fora alguns poucos empregados que confirmaram a partida de todos poucos dias antes. Encontraram cocaína e heroína em quantidades consideradas tráfico, e mandatos de prisão foram imediatamente expedidos tanto para Keith quanto para Anita. Antes porém, Ian Stewart havia recebido ordens para ir até Nellcôte pegar o caminhão com o Rolling Stones Mobile Unit e levá-lo de volta para Londres. O caminhão e todo o seu equipamento para gravação são então alugados para o Deep Purple, que iria usá-lo para gravar sua apresentação ao vivo em Montreux na Suíça. Em um dos episódios que acabariam se tornando históricos nos anais do rock, a casa iria arder em chamas iniciadas em meio a uma apresentação de Frank Zappa e The Mothers. Deep Purple acaba gravando um álbum inteiro no quarto do hotel, com o caminhão estacionado em frente do local e fiação entrando pela janela do quarto adjacente. Os incidentes que levaram a banda à tão inesperada situação renderiam a letra para seu clássico, "Smoke On The Water", composto e gravado durante estas sessões.


Los Angeles
Mick Jagger e Bianca alugam uma mansão de trinta quartos em Sunset Boulevard, nem muito perto, nem muito longe de onde estava Keith. A residência pertencia a Michael Butler, herdeiro milionário considerado por muitos um hippie grã-fino. Na década de cinqüenta foi amigo e depois conselheiro do então Senador J.F. Kennedy para assuntos referentes ao Oriente Médio e Índia. Butler continuaria nesta função durante o período da presidência de Kennedy. Inicialmente abandonou a política após o assassinato do amigo presidente, mas por uma solicitação do Senador Robert Kennedy, Butler voltaria à política para atuar em Illinois. Defendeu o envolvimento dos Estados Unidos no Vietnã até provar maconha em 1967. Justamente quando seu partido concordava em colocá-lo para concorrer ao Senado como representante do estado de Illinois, Butler resolveu deixar o cabelo crescer e passou a se envolver com a produção da peça Hair.
Mick Taylor, Rosie e Chloé
Mick Taylor, Rosie e Chloé

Mick Taylor e sua família alugaram uma casa em Stone Canyon de frente para a casa ocupada por Keith Richards. Taylor contrata Janie Villiees como cozinheira e babá de Chloé, sua filha. Keith acabaria também contratando-a para cuidar de Marlon. Sobre seu patrão, Janie diria que a primeira vista Keith Richards é a própria imagem do rebelde do rock que a imprensa divulga. Mas ao conhecê-lo pessoalmente, descobrira que Keith na verdade era o mais sensível e amável do grupo.
Jagger, agora em maior contato com Keith e Mick T, está assustado ao perceber o nível de consumo de tóxico dos dois. Keith está tão drogado que não consegue fazer a guitarra de "Torn And Frayed", obrigando-os a contratar Al Perkins para executar a tarefa. Embora nada fosse dito, opções são estudadas para atenuar o problema, tudo como parte dos planos para assegurar o sucesso da próxima excursão americana a ser realizada no verão de 72.
Bill e Charlie permaneceram na França e as duas famílias passaram o Natal juntas. Em janeiro, Bill Wyman iria se mudar para outra residência, agora na cidade de Vence. Mal faz a mudança e Wyman segue para Paris, onde volta a trabalhar com a banda Tucky Buzzard, que inicia as gravações de seu segundo LP. Enquanto isto, Astrid faz sua visita periódica a Inglaterra para ver como Stephen Wyman estava indo na escola, e mantendo o contato entre o menino e o seu saudoso pai.
Noitadas e as Sessões
Em Los Angeles, Mick e Keith foram juntos assistir a um show de Chuck Berry. Existe uma variação muito grande de como essa história é contada, mas basicamente alguém ligado a Chuck Berry, ao ver Mick e Keith os convida a subir no palco e tocar com ele. Keith a todo volume começa a acompanhar "Sweet Little Sixteen" enquanto Mick Jagger dançava. O público enlouqueceu.
Chuck Berry por sua vez, fica logo irritado com a guitarra excessivamente alta de Keith. Depois de sinalizar mais de uma vez para o guitarrista abaixar o volume, acaba expulsando os dois do palco. Versões dão conta que isto ocorreu após duas canções. Mais tarde, Berry afirmaria que nem viu que era Keith Richards. Outra versão conta que Berry chegou a chamá-los de volta, mas era tarde. A dupla já estava dentro de uma limusine negra descendo a estrada.
Vale apontar para o fato que, já há alguns anos, Chuck Berry não sustentava mais uma banda. Ao marcar um show de Chuck Berry você recebe somente Chuck Berry, e ele toca com a banda que o local fornecer. Sua lógica é que qualquer músico que pretenda tocar rock o faz aprendendo o material de Chuck Berry. Assim sendo, o astro não vê mais motivo para carregar uma banda fixa em suas viagens, o que só aumentaria sua despesa.
Seu comentário a respeito do incidente foi algo nos moldes de "ele estava com um chapéu e eu não vi o seu rosto. A guitarra estava muito alta e depois do terceiro aviso, mandei o guitarrista sair. No meu show, mando eu". A opinião geral das pessoas que assistiram o desenrolar do episódio comentam que Chuck Berry provavelmente ficou enciumado pelo público estar dando mais atenção para integrantes da banda do que para ele.
Outra apresentação que Mick Jagger assistira foi a de T. Rex, que estava na cidade. Jagger aproveitou para analisar bem seu estilo 'glitter', uma tendência que se consolidava na Inglaterra. Nos bastidores depois do show, Jagger e Bolan puderam bater um bom papo e se conhecer um pouco melhor. Em outra ocasião, Jagger assistiu Bobby Bland, sendo chamado para subir no palco e cantar com ele. Jagger e Dr. John também foram assistir juntos à cantora Mary Clayton, cuja carreira ascendeu após o sucesso de sua participação na gravação de "Gimmie Shelter".
Dr. John (Mac Rebennack)
Dr. John (Mac Rebennack)

Tanto Mick quanto Keith passam a andar com o pianista Dr. John. Seu ingresso no projeto até então chamado "Tropical Disease", acaba sendo crucial para o som final do novo trabalho, agora chamado de "Exile On Main Street". Foi ele quem indicou as cantoras Tami Lynn, Vanetta Lee, Clydie King e Shirley Goodman, que efetivamente deram um tom negro para o álbum.
Outra assistência veio através de Billy Preston, que levou Mick Jagger para a igreja assistir o sermão de domingo. Lá, Mick ouviu o coro regido pelo Reverendo James Cleveland. Desta maneira as canções do disco vão tomando seu formato final. Na ausência de Bill Wyman, ainda na França, as linhas de baixo que não foram feitas por Keith ou Mick Taylor são gravadas pelo baixista Bill Plummer. Sua participação pode ser conferida nas canções "Rock's Off", "Turd On The Run" e "All Down The Line".
Outros músicos convidados são Kathy McDonald, que canta em "All Down The Line", uma canção que é na verdade sobra do álbum "Let It Bleed", e Richard Washington, creditado com o nome de Amyl Nitrate ("Lança Perfume") nas percussões em "Sweet Black Angel". Há ainda as presenças de Billy Preston em "Shine A Light" e Dr. John em "Let It Loose". Em um dos últimos retoques gravados, impossibilitado de tocar corretamente tamanho seu estado de dependência, Keith relegou a Al Perkins o trabalho de slide guitar na canção "Torn And Frayed'".
Segredo da Voz
Poucos foram os vocais gravados em Nellcôte que seriam aproveitados sem retoques, e Mick e Keith regravam suas partes novamente, agora no conforto de um estúdio profissional. Na hora de mixar os vocais, Mick insiste em ter sua voz mixada mais baixo do que o padrão. Jimmy Miller ainda tentou convencê-lo que sua voz estava ótima, até perceber que a motivação de Jagger não era fundada em receios. Jagger quer a sua voz presente, porém com um volume igual ao dos outros instrumentos para que soasse como os cantores dos velhos discos de blues, em sua maioria, gravados com a fala meio embolada.
Mick explica que, quando criança, raramente conseguia entender perfeitamente a letra que o cantor cantava. Precisava comprar o disco e ouvir repetidas vezes para tanto. Emulando esta deficiência, Jagger deseja o mesmo de seu público, e principalmente de outras bandas que quisessem incluir versões dos Stones em seu repertório. Numa prática que passaria a ser característica nos discos dos Stones, a voz é mixada um pouco mais baixo em relação à prática do mercado.
Projetos Prometidos
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Estando em Los Angeles, Keith e Gram Parsons se reencontraram e voltam a andar juntos. A proposta de produzir um disco solo de Parsons volta a ser discutida, embora Keith procure deixar claro que isto teria que ser quando os Rolling Stones não estivessem preparando um disco ou excursão. Todavia, Keith incentiva Gram a usar o seu nome para abrir quaisquer portas que precisasse. Gram faria exatamente isto e mesmo após uma série de desapontamentos com projetos desandando na reta final, um disco solo seria efetivamente gravado e lançado pela Reprise em 1973, simplesmente intitulado "G.P." O disco teria a importante participação do amigo Rick Grech e serviria como o ponto de partida da carreira da cantora Emmylou Harris.
Outro a quem estava sendo prometido um álbum solo lançado pela Rolling Stones Records, que nunca veria a luz do dia, foi John Phillips. O encontro aconteceu por intermédio de Gram Parsons, que levou Keith e Mick para conhecerem pessoalmente o compositor e mente por trás dos mundialmente famosos The Mamas & the Papas. Phillips, que havia se separado da segunda mulher, Michelle Phillips, uma das integrantes da referida banda, morava agora com sua terceira mulher e sua filha do primeiro casamento, a então pré-adolescente MacKenzie Phillips, que faria sua estréia na grande tela dentro de dois anos, participando do filme "American Graphitti", aos treze anos de idade. Depois co-estrelaria em 1975 o seriado de televisão "One Day At A Time", que ficaria bastante popular.
Comentando sobre as constantes visitas de Mick Jagger, Keith Richards e Gram Parsons a sua casa no meio da madrugada para tocarem música e tomaram drogas, MacKenzie, então com onze anos, diria que sonhava em dormir com todos eles. Conseguiria realizar sua fantasia pubescente em 1978, dormindo com Mick Jagger.
Quanto ao projeto do primeiro disco solo de John Phillips, que seria produzido por Keith Richards e lançado pela Rolling Stones Records, acabaria feito o disco solo de Gram Parsons. Uma promessa nunca cumprida, embora nunca oficialmente engavetada. Na verdade, Keith e John acabariam se reunindo em 77 especificamente para iniciar as gravações do tal álbum. Porém o abuso de substâncias químicas dos dois atrofiou as pretensões. John Phillips resumiria a questão simplisticamente: "As drogas sempre conseguiam fuder com tudo".
Decca Lança Outra Coletânea
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A Decca e ABKCO não perdem uma oportunidade para levantar um dinheiro em cima dos Stones. Sabendo que estão para lançar um novo álbum e a poucos meses de uma excursão americana, o selo lança a coletânea "Hot Rocks 1964 - 1971", que tem de interessante a inclusão de versões alternativas de "Brown Sugar" (com Eric Clapton) e "Wild Horses". Essas duas músicas seriam retiradas do álbum a partir da segunda prensagem, após um acordo final entre os Rolling Stones e Allen Klein, que encerraria a disputa legal entre a banda e seu ex-empresário.
Planejando A Excursão
Planos para a próxima excursão haviam se iniciado em outubro do ano anterior, mas agora estavam a pleno vapor. Com Altamont ainda na memória, Mick Jagger fazia questão em ter nesta excursão o mais profissional de todos os shows de rock já vistos. Em reuniões realizadas no Hyatt Hotel, Mick e John Morris tramam e montam a equipe buscando não deixar nenhum detalhe, por mais ínfimo que fosse, sem estar previsto.
Um dos primeiros a ser contratados para a equipe seria Peter Rudge, gerente de excursão do The Who, que atuaria ao lado de Morris como co-produtor. Todavia, conforme as preparações foram evoluindo, Rudge acabou se tornando o produtor do espetáculo, enquanto Morris foi retirado da equipe. A visão de Morris incluía os Stones tocando em lugares de médio porte, onde a banda e público poderiam realmente alimentar-se um ao outro, em uma troca de energia ímpar. Embora Keith apoiasse esta visão e Jagger concordasse que seria o ideal, ele sabe que para a excursão poder dar o lucro necessário para tirar os Stones da delicada situação financeira que a banda e sua empresa se encontravam, era preciso tocar nos maiores lugares possíveis. A excursão americana duraria dois meses, o dobro que a anterior de 69, com praticamente o triplo de pessoas trabalhando para sua realização.
Chris O
Chris O

Outros envolvidos diretos com a organização eram Jo Berman, secretária de Jagger; Alan Dunn, um empregado da Rolling Stones há alguns anos, que começou como motorista particular, passando agora para responsável por transportes; Ian Stewart continuando responsável pelos instrumentos da banda; Chip Monck e sua equipe, novamente cuidando de tudo referente ao palco e iluminação. Chris O'Dell, que trabalhara antes para a Apple Records, era agora secretária particular de Marshall Chess, presidente da Rolling Stones Records. Chris passa a cuidar especificamente dos assuntos da banda Rolling Stones enquanto estiverem em Los Angeles, tornando-se depois uma segunda secretária geral durante a excursão. Contratam a Gibson & Stromberg, uma firma de relações públicas, que cuidaria da divulgação. Gary Stromberg inclusive viajaria com a banda pelo país durante toda a turnê.
Segurança
Uma das principais preocupações de Mick Jagger em relação a esta excursão era ligada à segurança. O assunto foi levantado por Jagger tão repetitivamente que começam a surgir sussurros pelos cantos de que Mick estaria com medo, demonstrando insegurança quanto à idéia de se apresentar diante de milhares de pessoas. Sua preocupação não era gratuita, mas sim intimamente ligada às lembranças ruins que o nome Altamont evocava. Jagger sabia que o menino assassinado, Meredith Hunter, estava armado e poderia estar lá para atirar nele. Contempla portanto a possibilidade que, desta vez, alguém possa resolver mesmo tentar mirar nele ou outra pessoa no palco.
Esta preocupação deu um segundo peso para a proposta de fazerem shows em teatros de tamanho médio. Contudo, a realidade financeira dos Rolling Stones exigia que a banda faturasse muito para poder pagar suas enormes dívidas, e começasse a realmente juntar algum dinheiro. Esta foi a principal razão por trás dos Stones toparem passar, pela primeira vez, dois meses seguidos nesta excursão americana, tocando sempre em estádios, salvo raras exceções.
Ingressos
Os ingressos foram disputados a tapa, com cada comprador tendo o direito ao máximo de quatro. Vendas feitas pelo correio através da firma Ticketron facilitam ainda mais a vasta distribuição de ingressos para cidades vizinhas aos locais dos shows. No entanto, após o lançamento do álbum "Exile On Main Street" em maio e sua subseqüente ida para No.1 nos Estados Unidos, a procura passou a ser sem precedência.
Em Detroit, 140 mil ingressos foram vendidos em um dia. Solicitações para adicionarem datas ao programa original tiveram que ser estudadas cuidadosamente. Logo não havia mais ingressos para serem encontrados nos pontos de vendas. Assim, ingressos que custavam inicialmente $6.50 dólares passam a ser vendidos por trinta ou cinqüenta dólares, às vezes mais. Em Nova York o ingresso mais caro de $13 dólares estava sendo valorizado em $200, e o assunto chegou a ser comentado no Wall Street Journal, jornal dedicado exclusivamente a assuntos ligados à Bolsa de Valores.
Política e Violência na América
Em abril, Jagger fica sabendo de ameaças por parte de gente ligada aos Hell's Angels. Há conversas que sugerem que existia um prêmio pela sua cabeça, bronca remanescente ao episódio em Altamont e como Jagger deixou a culpa cair nos Angels. O clima logicamente fica tenso e o casal decide que ficou perigoso demais para Jade. A família opta então por deixar Los Angeles, seguindo para Bali. Ele retornaria antes de maio a tempo de uma reunião com os advogados e Allen Klein em Nova York. Para a excursão foi acertado que Mick Jagger teria à sua disposição dois guarda-costas particulares.
Os Estados Unidos em 1972 estavam passando por um período bastante tumultuado. Havia eleições presidenciais onde Richard Nixon tentava ser reeleito. Os conflitos no Vietnã continuavam sem indicar um fim. Nixon prometeu diminuir a quantidade de tropas sendo mandadas para aquela parte do mundo, restringindo o envolvimento dos Estados Unidos à assistência médica e financeira. De fato, os números de soldados mandados para o Vietnã diminuem drasticamente entre o fim de 1971 e até a reeleição de Nixon ser consumada. Em seguida à reeleição, os números de tropas remetidas ao Vietnã deslancham, deixando claro que nunca houve real intenção de findar o envolvimento bélico e humano neste conflito. Tudo não passou de uma tática para apaziguar os ânimos até Nixon efetivamente vencer a eleição.
O povo americano, mormente os mais jovens - não somente os que efetivamente corriam risco de ser mandados para o Vietnã, mas também aqueles soldados que tinham voltado da guerra - ficam revoltados e a violência urbana aumenta. Espionagem por parte da FBI de seus próprios cidadãos é incentivada pela administração Nixon, o que é um acinte à constituição americana. Mais e mais protestos deixam de ser pacifistas, gerando confrontos sangrentos contra a polícia. A animosidade entre o cidadão politicamente consciente, vendo seus direitos constitucionais sendo usurpados pelo próprio governo por meio do uso indevido do FBI e CIA, deixa o país à beira de uma ameaça de guerra civil.
Angela
Na Califórnia, havia seis anos que Ronald Reagan era o Governador do Estado, que havia prendido e sentenciado à morte a ativista política Angela Davis. Esta professora de filosofia de vinte de oito anos de idade foi acusada em 1969 de dar assistência à fuga dos irmãos George e Jonathan Jackson, ambos acusados de roubo a mão armada. Em meio à fuga, realizada durante o julgamento destes dois irmãos, morreram o juiz, dois civis e um dos acusados, o caçula Jonathan Jackson. Por ser uma ativista política e membro do Partido Comunista, ela perdeu seu emprego dando aula para a Universidade do Estado, localizada em São Francisco. O próprio governador, Ronald Reagan, jurou que ela jamais trabalharia no estado da Califórnia novamente.
Angela Davis
Angela Davis

Se sentindo prejudicada em função de sua cor e sua crença, o que vai em direta oposição ao que declara a Constituição Americana, ela se associa aos Panteras Negras, que lhe oferecem auxílio, mantendo-a escondida. Angela Davis foi declarada pelo FBI como uma das dez pessoas mais procuradas do país. Ela acabou sendo encontrada e presa em agosto de 1971, na cidade de Nova York, e levada de volta para a Califórnia, onde seria julgada e, se considerada culpada, seria condenada à prisão perpétua, uma vez que a pena de morte havia sido recentemente abolida.
Este julgamento, que durou dezoito meses, deu início a uma imensa campanha para libertar Angela Davis, campanha essa que encontrou simpatizantes na área artística. John e Yoko Lennon lançam a canção "Angela" em sua homenagem, incluindo uma foto da ativista na capa de seu disco "Sometime in New York City". Os Rolling Stones também se sentiram compelidos pela história desta negra americana, aparentemente injustiçada pelo racismo de sua terra. É para Angela Davis a letra da canção "Sweet Black Angel". Para melhor divulga-la sem serem ostensivamente políticos no processo, incluíram a canção no lado B do primeiro compacto do novo disco.
Angela Davis seria, em fevereiro de 1972, declarada inocente de todas as acusações e posta em liberdade. Ela funda 'The National Alliance Against Racist and Political Repression,' (Aliança Nacional Contra a Repressão Racista e Política), uma entidade cujo propósito é explícito pelo próprio nome. Davis retomou suas aulas na San Francisco State University, indo lecionar depois em outros estados de seu país.
O Fantasma de Brian Jones
Em fevereiro, Bill Wyman e Charlie Watts deixam a França e seguem para Los Angeles. Pouco depois, a polícia francesa passa a exigir o retorno de Keith e Anita para responderem à perguntas pendentes da investigação. Em tempo, todos os Stones serão intimados a se apresentarem à polícia para depoimento.
Jo Bergman mandou uma fita com a cópia do álbum "The Pipes of Pan Joujouka" para Keith que, depois de ouvi-lo, convidou todos a aparecerem uma noite para escutar. Ficaram chocados de quão diferente era esta música, mais séria do que as doideiras que normalmente associavam à lembrança de Brian Jones. Comoveram-se todos, sem bem entender como ou porque esta música tão diferente e que não lhes representava conseguia lhes tocar tão profundamente. Um senso de perda e desperdício novamente recai sobre os integrantes dos Rolling Stones presentes.
Exilado em Montreux
Com três meses em Los Angeles, Keith começava a demonstrar sinais de paranóia novamente. Cismado, Keith estava desconfiando que a polícia local, assim como fizeram a francesa e a inglesa antes, estava com uma escuta ligada a sua linha, ouvindo suas conversas telefônicas e mantendo vigia. Naturalmente o escritório dos Stones ficou atento para estudar uma opção de moradia para Keith, que queria sair o quanto antes de Los Angeles. A opção que mais lhe agradou foi a Suíça.
Em tempo: a neurose de Keith não era gratuita. Anos depois, com a liberação para domínio público de vários documentos do FBI e CIA, ficaram confirmadas as suspeitas do riffman. A FBI havia alugado a casa vizinha à de Keith Richards para vigiar a entrada e saída de todas as pessoas que o visitavam. A vigília foi comandada pelo agente Dale Marr, que uma vez entrevistado sobre o assunto, confessou ter conseguido colocar uma espiã feminina dentro da casa para reportar toda a atividade.
Somando a isso a situação tensa entre Keith e a lei francesa, surgiu espaço para que Mick sugerisse que agora seria uma boa hora para buscar um tratamento para auxilia-lo a eliminar o vício. Keith está igualmente preocupado com a situação de Anita, que com quase sete meses de gravidez estava se injetando três vezes ao dia. Ela havia tentado parar com cinco meses de gravidez e através de um esforço tremendo, sua resolução durou o total de três dias sem a droga. E só.
Foi encontrada e marcada uma internação na clínica de Dr. Denber em Vevey na Suíça. A clínica tinha uma reputação de ser tão cordial quanto discreta em relação a todos os seus clientes. Especulações sugerem que esse tratamento iria custar a Keith a bagatela de $1.000 por dia. Em meados de março, a família Richards segue então para Montreux, onde são hospedados no Hotel Metropole que fica ao lado do Lago de Genebra. Coincidentemente, Vladimir Nabokov, autor do romance "Lolita", estava ocupando um quarto no andar imediatamente acima ao da família Richards. Acompanhando-os está um representante da firmaRolling Stones, a eloqüente e tarimbada quebradora de galhos, June Shelly.
Keith é levado de ambulância e internado no dia 26 de março. A primeira semana foi terrivelmente dolorosa, e as notícias que chegavam a Los Angeles sobre seu estado não eram das mais animadoras. Incapaz de agüentar as cólicas de abstinência, ele permanece sedado a maior parte do tempo. No entanto, passando os primeiros cinco dias, com a chegada de abril, o tratamento deixa de ser tão traumático. Keith ganha até permissão para deixar sua cama e caminhar pelo corredor da clínica. Keith diria: "nos primeiros dias você sobe pelas paredes. Lá pelo quinto dia você já está bem. Dali em diante, depende de você"
Dr. Denber comenta que se Keith seguisse uma dieta e passasse a trabalhar em horários regulares, seu estado físico e mental lhe daria condições para viver uma longa vida. Ele conclui dizendo que dada a incrível capacidade de recuperação de seu paciente, ele autorizaria Keith a deixar o hospital dentro de três, no máximo quatro semanas. Keith no entanto, tinha outros planos, Marlon e Anita tendo prioridade. Assim, sentindo-se bem o suficiente para se locomover livremente pelo hospital, ele exerce pressão para ser liberado imediatamente.
Dandelion
Uma vez que Keith recebe alta, Anita é imediatamente internada. Sua desintoxicação é igualmente difícil porém mais perigosa pelo fato de estar grávida. Sem poder permanecer sedada ininterruptamente, foi nela administrada uma dose mínima de metadona por dia. Em meio a sua desintoxicação, no dia 17 de abril, após as contrações se iniciarem, nasce a primeira filha do casal. Parida prematuramente, ela é saudável embora com uma fenda palatina no céu da boca. Ou seja, o feto desenvolveu-se com um acesso entre a boca e o nariz, permitindo que se veja o septo nasal no fundo da boca. A criança ficou no hospital em tratamento especial. O casal chama a criança de Dandelion, que significa em português a flor dente-de-leão, também título de uma canção de Keith gravada em 1967.
"Prince or pauper beggarman or thing 
Play the game with every flower you bring
Dandelion don't tell no lies 
Dandelion will make you wise
Tell me if she laughs or cry
Blow away dandelion

One o'clock two o'clock three o'clock four o'clock chimes
Dandelions don't care about the time
Dandelion don't tell no lies
Dandelion will make you wise
Tell me if she laughs or cry
Blow away dandelion blow away dandelion

Tho' you're older now it's just the same 
You can play this dandelion game
When you're finished with your childlike prayers 
Well you know you should wear it

Tinker tailor soldier sailors lives
Rich man poor man beautiful daughter wives
Dandelion don't tell no lies
Dandelion will make you wise
Blow away dandelion blow away dandelion

Little girls and boys come out to play
Bring your dandelion to blow away
Dandelion don't tell no lies
Dandelion will make you wise
Tell me if she laughs or cry
Blow away dandelion blow away dandelion"

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Anita estava triste, calada e pouco propensa a sair de seu quarto de hotel. Keith ficou tomando conta de Marlon, saindo com ele a passeio todos os dias. O casal voltaria novamente ao uso de cocaína e heroína, provavelmente a maneira que encontraram para manter o espírito alto (cocaína) e apagar a dor, medo e frustração (heroína) em ter uma filha recém-nascida menos que perfeita. Fumando excessivamente e nunca deixando o quarto do hotel para que pudesse passar por limpeza, o local passou a feder terrivelmente. Para solucionar o problema, Keith solicitou um novo quarto. Quando as empregadas do hotel puderam finalmente limpar o local, estava tão empesteado que recomendaram à gerência fumegar o local primeiro.
Enquanto Keith cuidava de Marlon, após deixar o hospital, Dandelion ficara nas mãos de Doris Richards, mãe de Keith, trazida da Inglaterra a pedido do filho. Ciente do estado psicológico do filho e de sua nora, Doris tomou para si a responsabilidade de mudar o nome da neta. Assim, não demorou muito tempo para Dandelion ter seu nome oficialmente mudado para Angela Richards.
Enquanto isto, visando uma jogada promocional, no dia 28 de abril, Mick Jagger recém chegado de Bali, está no Sunset Sound Studio de Los Angeles mixando a canção "Exile On Main St. Blues" e gravando "I Don't Care", ambos temas de voz e piano apenas, que serviriam como um compacto promocional, no formato de flexi-disc, para distribuição gratuita em publicações especializadas pela Europa. No dia 14 de abril foi lançado o compacto "Tumblin' Dice" / "Sweet Black Angel". Então no primeiro dia de maio, todos os cinco Rolling Stones recebem um aviso dos advogados informando de que eles deveria evitar ir para a França. A polícia francesa tem ordem de apreender todos para interrogatório. Mick Jagger segue para Nova York para se encontrar com Lowenstein e Klein.
Mais Stones Vs. Klein
A batalha judicial entre os Rolling Stones e Allen Klein estava a pleno vapor já fazia dois anos. Após uma longa conversa, Lowenstein e Jagger analisaram o quanto poderiam ganhar versus o tempo e os sacrifícios exigidos até efetivamente serem considerados vencedores, e convocam uma reunião entre os integrantes da banda. Segundo Lowenstein, não havia dúvidas que os Stones podiam ganhar a questão na justiça e sair com uma recompensa financeira substancial. Os Rolling Stones pediram inicialmente $25 milhões como ressarcimento pelos prejuízos. Lowenstein calcula que, na pior das hipóteses, a justiça lhes garantiria pelo menos $17 milhões, provavelmente mais. No entanto, para perseguir esta soma, arriscam ter seus bens e suas contas congeladas até a batalha ser resolvida, o que poderia durar pelo menos dois ou até dez anos antes de uma definição.
E se isto não fosse o bastante, Klein já conseguira provar que todo o material contido no álbum "Sticky Fingers" havia sido composto e gravado durante os anos de 69 e 70, um período ainda sob contrato com ele e a Decca. Portanto a ABKCO tem direito de receber uma porcentagem do lucro deste disco. Klein também alegou que a mesma lógica se aplica para algumas composições do novo álbum da banda, mormente "Tumblin' Dice", o primeiro compacto lançado deste disco.
Havia um receio de Klein continuar encontrando brechas na lei para abocanhar mais fatias sobre futuros lançamentos. Negociou-se então a possibilidade de um acordo com Klein fora das cortes. Admitindo que Klein tem o futuro dos Rolling Stones praticamente em cheque-mate, optam por entrar em um acordo extrajudicial. A proposta de Klein obriga os integrantes, principalmente Mick e Keith, a abrir mão de tudo que produziram até ali. Em troca, Klein concordaria em pagar $2 milhões de dólares.
O valor, embora irrisório em face ao que especulavam conseguir pelos trâmites legais, tem como única vantagem encerrar de vez os avanços de Klein sobre futuros produtos da banda, permitindo assim que osRolling Stones pudessem colher todos os frutos produzidos dali em diante. Este dinheiro pago por Klein seria dividido da seguinte forma: $1 milhão dividido entre Mick e Keith pelos direitos autorais, $1 milhão dividido entre os cinco - Mick, Keith, Bill, Charlie e Brian. As despesas do processo seriam divididas, não igualmente, mas em proporção ao valor recebido por cada um. Bill Wyman, furioso com a covardia tática de não lutar na justiça até o fim, foi o mais verbal. No fundo, apenas esperneou a título de terapia e acabou aceitando a proposta após Mick e Keith concordarem em pagar a Bill e Charlie um extra de $50 mil dólares.
Klein e Lowenstein se encontraram em Manhattan em uma reunião que durou aproximadamente trinta e seis horas. Ao final, um acordo foi anunciado oficialmente no dia 9 de maio de 1972. Klein não teria mais direito a nada referente ao material lançado pelos Rolling Stones doravante. No entanto, ele passa a ser o dono de tudo que o grupo gravara e lançara durante seu tempo com a Decca. Isto incluía o material contido em "Sticky Fingers", que embora lançado depois do conjunto deixar a Decca, foi gravado durante os anos em que este contrato continuava válido.
E mais: Allen Klein fica sendo dono dos direitos autorais de todas as composições Jagger-Richard, como também as de parcerias da banda, registradas como Nanker Phelge. Sendo dono das masters e dos direitos autorais deste material, Klein continua com direito a receber uma porcentagem sobre qualquer lançamento feito pelos Stones que contenha uma destas faixas, seja em sua gravação original, versão ao vivo ou regravação pura e simples.
Tendo agora os laços entre os Rolling Stones e Allen Klein finalmente cortados, Jagger encontra tempo para visitar uma sessão de gravação de John Lennon e Yoko Ono, nos estúdios da Record Plant.
Véspera da Excursão Americana
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Os ensaios dos Rolling Stones antes da excursão iniciaram-se em meados de maio. Toda a banda segue para a Suíça, pois apesar dos custos, a lógica ditava que era mais fácil a banda ir até Keith do que ele ir até a banda. Todos os integrantes estão com aproximadamente trinta anos de idade, casados, com filhos e vivem vidas distintas. Não são mais os garotos semi-unidos que foram no passado. Esses ensaios foram projetados para reuni-los novamente, tanto pessoal quanto musicalmente.
Chegaram em Montreux junto com os Stones, Nicky Hopkins, Bobby Keys e Jim Price por volta do dia 12 de maio. Durante aquela semana ensaiaram secretamente durante a madrugada no Rialto Theatre, um teatro alugado pela banda para esse fim. Lá esculpiram um repertório de quarenta e cinco canções, das quais iriam diluir em Los Angeles para utilizar cerca de vinte, que caberiam em um formato de noventa minutos de show.
Uma equipe alemã viera filmá-los, onde além de registrarem versões de "Loving Cup", "Shake Your Hips" e dois improvisos, acabaram também filmando o que seria o clipe promocional de "Tumblin' Dice". Ocasionalmente a polícia aparecia aos ensaios, trazida por reclamações de vizinhos a respeito do barulho.
Durante um jantar com Mick J, Mick T, Keith, Bill, Astrid, Charlie, Stu, June e Marhsall, concluíram que seria de seu melhor interesse abrir uma conta na Suíça para receber o dinheiro devido por Klein e a ABKCO. June Shelly é então encarregada de tratar deste assunto. Os Stones deixam Montreux no dia 21 de maio. Anita e as crianças permanecem na Suíça enquanto Bianca e sua filha Jade estavam morando em Paris. Em uma breve passagem por Londres, os integrantes dos Stones e toda sua equipe recebem da embaixada americana os novos vistos de trabalho necessários para entrarem no país. Aterrisam na América no dia 24 de maio.
Exile On Main Street
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Dia 12 de maio, novamente com um número de catálogo sugestivo - COC 69100, chega às lojas o primeiro álbum duplo da banda, "Exile On Main St". A capa é uma colagem de fotografias, todas tiradas em Los Angeles, por Robert Frank. A arte gráfica e desenho de toda a embalagem são assinados por John Van Hamersveld e Norman Seiff.
Dentro das primeiras prensagens vinha incluída no álbum, uma série de 12 cartões postais, com os cinco Rolling Stones mais Anita Pallenberg na face. Em cada cartão postal, uma foto diferente. Quem guardou esses cartões postais tem hoje um tesouro valioso em memorabília.
Mick Jagger define o álbum como sendo dividido em quatro sets separados e que não deveria ser ouvido todo de uma vez. O primeiro lado é mais acelerado, o segundo mais acústico, o terceiro tem um tom mais country, embora soturno, enquanto o quarto é mais soul. Alguns podem argumentar que o terceiro lado soa mais Keith Richards enquanto o quarto é mais Mick Jagger.
O álbum estava sendo tocado incessantemente nas rádios. Mick dá uma entrevista para Wolfman Jack, último dos grandes DJ da era AM, iniciada na década de cinqüenta, mas que se tornaram cada vez mais raros ao fim da década de sessenta. Sobre o disco, Jagger comentaria: "Fala sobre uma gama de assuntos diversos que eram de nosso interesse até aquele momento". Apesar do estrondoso sucesso do álbum, músicos e técnicos responsáveis pelo disco o consideram de qualidade sonora duvidosa. Jagger teria resumido a questão dizendo: "Foi gravado de uma forma bem amadora".
Jimmy Miller, produtor do disco, fala sobre ele em 1990 com reservas: "Eu nunca fiquei inteiramente satisfeito com o som do álbum, mas um amigo meu me colocou para ouvi-lo cerca de um mês atrás e, considerando as condições em que foi gravado, o disco realmente soava melhor do que eu me lembrava".Miller é o primeiro a elogiar o trabalho de mixagem feito por Joe Zagarino, que no seu entender, salvou o material gravado em Nellcôte.
Atentado de Wallace
Stan Moore
Stan Moore

Ao retornar para Los Angeles uma semana antes da estréia da banda ao vivo em Vancouver, um incidente novamente deixa Mick Jagger desassossegado com relação a sua segurança nesta excursão. O Senador George Wallace, candidato à presidência para as eleições daquele ano, acabara de sofrer um atentado contra sua vida. Ele tomou alguns tiros dentro de um Shopping Center no estado de Maryland, que lhe deixariam paralisado e condenado a uma cadeira de rodas pelo resto de sua vida. Tanto Mick quanto Keith passam a andar constantemente armados com um revólver calibre 38 carregado.
Foram contratados dois seguranças particulares, Stan Moore e Leroy Leonard, ambos negros, grandes, fortes e ameaçadores, embora extremamente gentis com seus patrões. Suas obrigações eram de permanecer observando Mick e Keith por todo o tempo durante a excursão, Moore guardando corredores e acessos onde os dois estão localizados, Leonard para estar fisicamente no mesmo espaço que eles, dormindo em um quarto ao lado dos dois, jantando e acompanhando os dois onde quer que estejam. E quando Mick e Keith estivessem no palco se apresentando, Leonard estaria junto à cortina assistindo o show na lateral do palco, pronto para qualquer intervenção, caso necessária.

Heaven and Hell - Black Sabbath


Neste mês, há 31 anos atrás, a banda de heavy metal Black Sabbath lançava seu "Heaven and Hell" sem seu primeiro vocalista, o marcante Ozzy Osbourne. No lugar dele, um cantor "velho", de 38 anos, e assustadoramente baixo, com cerca de 1,50 metro de altura, fez sucesso com sua voz rasgada e melódica. Ronnie James Dio transformou o Sabbath das letras sentimentais, pessoais e até de protesto da era Ozzy em um grupo especialista em músicas obscuras e solos instrumentais elaborados.



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Dio também popularizou os famosos "devil horns", os chifres do demônio, após fazer esse símbolo em um show para espantar o mal-olhado diante do público - um costume comum na Itália, de onde seus parentes vieram. Depois de fazer várias vezes o símbolo na turnê, não teve como não comparar a música de Black Sabbath com rituais satânicos, embora a banda nunca faça apologia ao uso de magia negra em suas canções.
“Heaven and Hell”, o álbum que estreou no dia 25 de abril de 1980, abre com “Neon Knights”, que fala sobre ilusão, o bem e o mal e a criação da verdade. Dio  canta correndo, junto com um ritmo muito mais contagiante em comparação ao antigo Sabbath. “Children of Sea”, a primeira composição do novo vocalista com o líder e guitarrista Tony Iommi mostra contraste entre o peso e um acústico de abertura, em ritmo mais lento, falando sobre o fim do mundo e o fim das coisas.
Apelando para refrões pegajosos, apesar do solo extenso de guitarra marcando todo o CD, “Lady Evil” tem uma pegada mais hard rock, para todos os gostos. Já “Heaven and Hell” é a música viciante que mostra tanto o vocal marcante de Dio quanto o baixo de Geezer Butler, que dá um ar mais improvisado e diferente para uma música que fala sobre as contradições do paraíso e do inferno. A ideia da canção é não passar uma impressão óbvia sobre o bem e o mal.
Falando sobre sorte, “Wishing Well” é a faixa mais leve de todo o disco, sem mensagens muito densas. Mudando de contrabaixista, Geezer Butler cede espaço para Craig Gluber, que arrebenta com a música meio blues “Die Young”. A canção fala sobre liberdade juvenil e como ela pode conduzir à morte, em uma clara referência às drogas ou ao que pode limitar a própria vida.
“Walk Away” fala sobre uma presença feminina e atraente que, simultaneamente, desperta o desejo de fugir. Com uma guitarra lenta e inspirada, “Lonely is the Word” é o clímax do disco. A solidão caminha com as pessoas pela dura estrada que é a vida. Com uma sensação de pôr-do-sol, o disco mostra como a contrariedade e a densidade das composições deram vida ao novo Black Sabbath dos anos 80. Não é a toa que esse renascimento, do paraíso ao inferno, é tido como um dos melhores álbuns daquela década para os fãs de heavy metal.

Positivo - Cangaço

Postado por Thiago Pimentel

"SIVUCA, MORBID ANGEL, ZÉ RAMALHO e DEATH". Para uma mente mais fechada - ou pouco criativa - tais nomes não poderiam andar lado a lado, porém essas são algumas das influências do trio de heavy metal pernambucano "CANGAÇO".



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No EP intitulado "Positivo", o primeiro lançamento oficial - levando em consideração que o anteriores haviam sido demos -, quem acompanha o trabalho da banda irá se surpreender: apenas uma composição desse trabalho possui seu conteúdo lírico em inglês ("The Second Hour") - idioma que havia sido usado em todas as outras letras do "CANGAÇO".
É sábido que o grupo - formado por Magno Lima (baixo e vocais), Rafael Cadena (guitarras e vocais) e, estreiando, André Lira (bateria) - já havia quebrado algumas barreiras em suas duas primeiros demos. Sim, refiro-me a incrível e inesperada fusão entre a música regional nordestina e o death metal que, além da competência técnica, certamente contribuiu para o trio, cujo tempo de estrada não chega aos dois anos, já ter participado de festivais como o "Wacken" e, mais recentemente, o "Abril Pro Rock".
A faixa-título abre o EP exibindo os riffs (experimente contá-los) já característicos do grupo, ou seja, com influência de melodias regionais e uma pegada bem pesada característica. Os caras conseguiram aqui, em menos de três minutos, uma ótima síntese do trabalho da banda.
"Positivo" é uma faixa bem orgânica, que mesmo com tantas variações pode soar simples (para os desavisados) pela naturalidade em que flui. O que é um bom sinal: o virtuosismo dos três não soa forçado. A letra é bem interessante: difere do comum por parecer, de fato, um poema (repente talvez? Haha). Desde que a presenciei em um show essa composição me mostrou o quanto os caras estão amadurecendo e desenvolvendo bem o próprio estilo. Ótimo cartão de visitas.
Na sequência vem a já citada composição em inglês ("The Second Hour") que, inicialmente, exibe uma veia mais tradicional, pesada e técnica. Porém segue com contornos mais "regionais" - ouça o interlúdio acústico. O violão duetado com a guitarra distorcida na introdução é um recurso bem interessante e que pode tornar-se marca da banda. Aliás o trabalho de guitarra de Rafael amadureceu muito - incorporar acordes mais abertos, na guitarra ainda distorcida, sem necessariamente usá-la limpa ou com o uso violões deixou seus riffs ainda mais característicos. Aliás, seu solo aqui é bem insano, caótico. Arrisco dizer que deixaria Trey Azagthoth (MORBID ANGEL) orgulhoso.
A terceira composição (de acordo com o encarte: "Sete Orelhas") inicia com uma linha de baixo que me fez achá-la prima - irmã, talvez - de "Ghost of Blood" (da primeira demo). O baixo domina bastante essa faixa, preenchendo (bem) várias lacunas. Já André Lira exibe umas ótimas linhas na bateria: soam mais percussivas, regionais - algo que senti falta até então. A música também chama bastante atenção pelas linhas vocais empolgantes, duetadas agressivamente por Rafael e Magno. Talvez fossem as melhores linhas vocais do EP se a última faixa ("Deserto do Real") não existisse.
"Al-Rasif" já mostra as referências desde seu título: significa - mais ou menos - o nome da capital pernambucana (Recife) em árabe. As letras são ácidas, críticas e bem feitas. Chamo atenção para as sessões instrumentais: são as mais insanas, jazzísticas e progressivas do EP. Tal canção mostra, de vez, a dedicação dos caras em criar arte e honrar a proposta do grupo.
A última faixa de "Positivo" é justamente a melhor: "Deserto do Real" tem ótimas linhas vocais duetadas e possui uma excelente letra como apoio. Filosófica e regional ao mesmo tempo. Algo com a qualidade que um "Zé Ramalho" escreveria, arrisco. Sua conclusão é uma das parte mais empolgantes do disco soando totalmente death metal. Essa faixa merece estar presente no setlist dos caras, com toda certeza!
Enfim, o fato das letras de "Positivo" serem, em sua maioria, em português é apenas mais uma barreira quebrada pelo grupo. Não sei se "Positivo" foi um experimento isolado, mas acredito que mesclar os idiomas entre as composições, tal como as bandas de folk européias fazem em seus discos, seja uma excelente opção para os caras. As composições em si estão ótimas, a execução excelente e as letras possuem uma qualidade rara. Todavia, senti falta de refrões mais grudentos, como o de "Devices of Astral" ou "Corpus Alienum", por exemplo. A produção está ótima e limpa. O cuidado na confecção da arte do EP também deve ser mencionado: tudo bem pensado para te transportar para o clima. Parafraseando Magno: "sempre em busca da identidade do heavy metal nordestino". Parabéns a banda por mais um (grande) passo.
Dica: experimente ouvir lendo as letras (o arquivo possui scans dos encartes, e pode ser baixado emHangover Music.
Formação:
Magno Lima (baixo e vocal)
Rafael Cadena (guitarra e vocal)
André Lira (bateria)

Tracklist (de acordo com o encarte):
01 - Positivo
02 - The Second Hour
03 - Sete Orelhas
04 - Al Rasif
05 - Deserto do Real

Mais informações (e demos para download):
Fonte desta matéria: Hangover Music

Clinic for Dolls - Unsun


A questão aqui é simples: você gosta daquele pop gothic metal com vocais femininos, executado por bandas como o Lacuna Coil? Se sim, ouça o Unsun. Se não for a sua praia, passe longe.



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Formado na cidade polonesa de Szczytno em 2006, a banda de Aya (vocal), Maurycy Stefanowicz (guitarra), Filip Halucha (baixo) e Wawrzyniec Dramowicz (bateria) é mais conhecida por ser o novo grupo de Maurycy, o “Mauser”, ex-guitarrista do Vader. Mauser gravou cinco discos com o Vader – "Litany" (2000), "Revelations" (2002), "The Beast" (2004), "Impressions in Blood" (2006) e "XXV" (2008) -, e, pelo que você já deve ter imaginado, faz um som bem diferente no Unsun.
"Clinic for Dolls", lançado lá fora em 11 de outubro de 2010, é o segundo álbum do Unsun – o debut, "The End of Life", saiu em 2008. O disco é muito bem produzido, embalado por uma performance instrumental bem executada e pretensamente agressiva, e um visual gótico de butique.
O encarte, com citações de nomes como Oscar Wilde, Jim Morrison, Fryderyk Nietzsche e outros, tenta transmitir uma sensação de profundidade artística e intelectual, mas só consegue transparecer uma pretensiosa e rasa filosofia. O mesmo encarte traz impressa a frase “creativity is the art of taking a fresh look at old knownledge”. Sugiro que a banda aprenda com a sua própria dica da próxima vez, porque o que ouvimos em “Clinic for Dolls” não tem nada de original ou criativo, e apenas recicla ideias já exploradas com um brilhantismo muito maior por outros grupos.
A simpática “The Lost Way” abre o play, seguida pela faixa-título, cujas linhas vocais são exageradamente pops. Em uma avaliação menos criteriosa, “Not Enough” até passaria, mas se elevarmos um pouco o nível de exigência ela não sobrevive, assim como a grande maioria das faixas do álbum. A balada “The Last Tear”, levada ao piano, tem tudo para cair no gosto dos órfãos de Amy Lee e seu Evanescence. A pesada “Home” se destaca pelo bom instrumental, enquanto “I Ceased” tem seus méritos.
O álbum melhora consideravelmente no seu final, com as duas últimas músicas, “A Single Touch” e “Why”, apresentando elementos que o Unsun poderia ter explorado com mais profundidade no restante do disco, como uma maior dose de peso nas composições, melodias de guitarra mais elaboradas e linhas vocais que fogem do óbvio.
De uma maneira geral, "Clinic for Dolls" é um álbum sem maiores atrativos, sem brilho e com composições de qualidade discutível. Não há praticamente nada que justifique a sua audição, a não ser uma ou outra faixa em um momento isolado. Até mesmo no segmento em que se enquadra, o pop metal com elementos góticos, o som do Unsun soa repetitivo e sem nenhum diferencial.
A não ser que você seja um ferrenho fã do estilo, nada justifica a aquisição de "Clinic for Dolls" para a sua coleção.
Faixas:
1 The Lost Way
2 Clinic for Dolls
3 Time
4 Mockers
5 Not Enough
6 The Last Tear
7 Home
8 I Ceased
9 A Single Touch
10 Why
Fonte desta matéria: Collector's Room