25 de abril de 2011

Parte 35 - O Casamento do Ano

Felizes com o primeiro sucesso do selo Rolling Stones Records, foi organizada uma festa comemorando a chegada de 'Brown Sugar' ao primeiro lugar na parada inglesa. A festa, realizada novamente no Cannes Yacht Club, contou com as presenças de Marshall Chess, Ahmet Ertegun, Mick e Bianca, Eddie Barclay, Jo Bergman, e os amigos Bobby Keys e Stephen Stills.


O Segredo Que Todos Sabiam
Nem passara o primeiro mês em St. Tropez e Bianca já estava grávida. Mick liga para seus pais e informa que ele irá se casar, porém que será em segredo. Portanto, era imperativo que eles mantivessem a discrição. Em seguida, Jagger ligou para praticamente todo mundo de importância do pop e da aristocracia inglesa que ele conhecesse e convidou-os para o casamento a ser realizado em 13 de maio. Preparações incluíam o aluguel de um jato particular para levar os parentes e convidados de Londres à Nice, onde um ônibus os levaria em seguida para um hotel em St. Tropez, onde quartos estariam previamente reservados. A todos, ele repetiu a sua única exigência, que não contassem para ninguém, pois não queria que o casamento se transformasse em um circo. Jagger então liga para o seu departamento de divulgação para dar a notícia da cerimônia, completa com data e local e o inevitável aviso que esta informação era para ser mantida em sigilo.
Mick e Bianca
Mick e Bianca

Mick e Bianca adquiriram na França o hábito de fazerem longas caminhadas juntos. Em um destes passeios encontraram uma pequena capela no alto de um morro, com vista para a marina. Era a igreja de St. Anne e supostamente foi neste dia, tomado pelo momento, que Jagger a pediu em casamento. A brisa e a vista das belezas naturais de St. Tropez devem ter nutrido substancialmente este momento tão romântico na vida deste roqueiro. No entanto, o fato de que Bianca estava grávida também deve ter pesado.
A igreja, que era católica, exigiu que Mick fizesse um cursinho de um mês para se inteirar com os fundamentos da fé catolica apostólica romana, uma vez que sua religião, mesmo que não praticante, é originariamente da igreja anglicana. Quando perguntado, o sacerdote que administrou o curso, Padre Abbé Lucien Baud comentou que "o rapaz tem um grande senso e entendimento para com religião. Ele realmente leva jeito". Em meados de abril, a menos de quinze dias da grande data, quando perguntado pela imprensa francesa, Mick categoricamente negou qualquer plano de se casar. Mas uma cópia da lista de convidados já estava nas mãos da imprensa e todos, incluindo os fãs, já sabiam a verdade.
Nova Vizinhança
Villa Nellcôte
Villa Nellcôte

Keith Richards alugou uma propriedade chamada Villa Nellcôte, uma pequena mansão construída em 1899 por um almirante excêntrico inglês que depois acabou se suicidando, pulando do telhado da residência. Alojado entre as montanhas Capt. Ferrat e a baía de Villefranche-sur-Mer, a mansão foi tomada e usada como QG pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. A casa, toda mobiliada, tinha escadarias de mármore e candelabros no teto. O imenso jardim e área exterior estavam repletos de palmeiras, ciprestes, bananeiras, pereiras, laranjeiras e parreiras cheias de cachos de uvas.
Ao final de uma longa escadaria externa encontrava-se uma praia particular. A propriedade era a mais vistosa de Villefranche-sur-Mer, um vilarejo de pescadores, cuja marina é usada pela elite como estacionamento para seus iates, lanchas e escunas. O local foi oferecido pela bagatela de $2.400 por semana, com a opção de compra pelo valor de $2.000.000.00, opção que Keith não pegou. Dentro da primeira quinzena na nova residência, tudo era novidade. Se nos primeiros dias a casa era o grande foco de interesse, logo virou rotina e a novidade passou a ser explorar os arredores.
Nesta etapa, o casal primeiro passou a visitar a marina. Nela, dentre tantos outros barcos, havia uma escuna que fisgou a atenção de Keith, pois pertencia a Errol Flynn. O barco aparentava estar bem baleado, com um mastro quebrado e um rombo no fundo do casco. Ninguém entrara na nau há tempos e ele só não afundava graças a duas bombas que sugavam a água do mar, bombeando-a de volta ao Mediterrâneo, vinte e quatro horas por dia.
Sendo Errol Flynn um ator com fama de rebelde nos áureos tempos e um herói de infância de Keith, procurou-se saber da possibilidade de compra. Acontece que, afora o preço da escuna em si, havia contas devidas da marina, que Flynn parara de pagar desde que seu filho morrera no Vietnã já há alguns anos. A questão estava na justiça e o dono da marina mantinha a embarcação flutuando na esperança de vencer o processo. Segundo as regras marítimas, caso a escuna afundasse, tornar-se-ia dono quem a retirasse do mar.
Keith e Marlon passeiam pela marina
Keith e Marlon passeiam pela marina

Secretamente Keith namorou a idéia de ir no meio da noite até a escuna e desligar as bombas, acreditando que poderia comprar o barco por um preço bem mais em conta, uma vez que os problemas legais teriam ido literalmente por água abaixo. Mas na hora 'H' não teve coragem e não conseguiu convencer nenhum de seus empregados a fazer o serviço. Nem encontrou ninguém que ele pudesse pagar para fazê-lo. A idéia acabaria sendo deixada de lado, embora Keith volta e meia passeasse na marina, "namorando" a escuna.
Novos Amigos
Feito um ímã, apareceu a figura de Jean de Bretieul, um francês que tinha a peculiaridade de ter um olho verde e outro amarelo. Por manter o costume de se vestir sempre com suspensórios vermelhos, Keith passou a se referir a ele pelo nome de Johnny Braces. Jean se apresentou como sendo amigo de William Burroughs, e foi logo explicando que tinha uns papelotes de heroína para apresentar. Em um pequeno estojo de pó de mulher, Jean guardava o que a princípio parecia talco cheiroso de cor levemente rosada. Keith, usando seu canudinho de ouro sempre pendurado no pescoço, deu uma boa cafungada e ficou pouco impressionado. Anita e Tony, seu assistente, também cheiraram cada um uma trilha, todos ligeiramente desconfiados.
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"O que é isso, talco?" perguntou Keith um pouco irritado. "Não" disse Jean, "é heroína da Tailândia". Mas era tarde demais para ouvir a resposta. Keith, Anita e Tony já estavam desmaiados. Quando acordaram poucos minutos depois, Keith agradeçeu a presença e passou a tratá-lo com todo apreço. Jean recebeu o grã tour da casa, bebeu e conversou por horas. No final, Keith pediu para comprar o estojinho de pó e gostaria de manter um contato fixo para futuras remessas.
No entanto, Jean estava a caminho de Londres e a fonte de seu contato ficava em Marseilles, capital da heroína vendida na França. Keith, percebendo que iria ficar mais tempo sem um contato, foi logo oferecendo estadia de duas semanas em sua casa em Cheyne Walk em troca do estojo. Jean aceitou na hora.
O Casamento
Naquela manhã de maio, um jato particular da viação da Dan-Air está taxiando pela pista, pronto para levantar vôo em direção à costa francesa. À bordo está a nata artística e aristocrática inglesa, como também a família imediata de Mick - Joe e Eva Jagger, respectivamente seu pai e sua mãe, mais o irmão Chris Jagger.
Mary, Paul e Linda McCartney
Mary, Paul e Linda McCartney

Entre a lista de amigos convidados estão nomes como Eric Clapton, Peter Frampton, Stephen Stills, Donayle Luna, Robert Frazer, Tony Sanchez e sua namorada Madaleine D'Arcy, Donald Cammell, Paul e Linda McCartney e suas crianças, Ringo e Maureen Starkey, Keith e Kim Moon, Doris Troy, Terry Reid, P.P. Arnold, Roger Vadim, Nathalie Delon, Ossie Clark, Leslie Perrin, Lord Patrick Lichfield, Lord Harlech e suas filhas, incluindo a então namorada de Eric Clapton, Alice Ormsby-Gore, os irmãos Andy e Glyn Johns, Jim Horn, Bobby Keys, Nick e Linda Hopkins, Ron e Krissie Wood, Ronnie Lane, Ian McLagan, Kenny Jones, David Brown, Michael Shrieves, Jimmy Miller, Marshall Chess e Ahmet Ertegun.
Ao todo, setenta e cinco pessoas incluindo uma banda caribenha que tocará na recepção. O avião aterrisou em Nice, onde um ônibus levou todos ao 'Hôtel Byblos', onde ficariam hospedados. Todos os membros dos Rolling Stones e suas respectivas estavam igualmente convidados e instalados no hotel.
No dia 12, enquanto convidados e não convidados, jornalistas internacionais e fãs de diferentes partes da Europa disputavam um lugar na capela e arredores, Mick e Bianca discutiam freneticamente, ambos ameaçando cancelar o casamento. Acontece que as leis francesas exigem que o casal opte por um entre dois tipos de união, ou seja, podiam casar com comunhão de bens ou sem comunhão de bens. Bianca exigia um casamento completo, com tudo incluído, enquanto Mick queria assinar um contrato de matrimônio sem comunhão de bens. Bianca foi pega totalmente de surpresa. Em momento algum este assunto fora discutido por ela e Mick antes.
Passaram boa parte da manhã nesta discussão, Jagger devidamente assessorado por advogados, fazendo pressão até Bianca ceder. Resolvido o impasse, saíram então correndo para o Fórum de St. Tropez, aonde o Prefeito Marius Estezan aguardava o casal para realizar o casamento no civil. O local estava igualmente infestado de fãs e gente da imprensa. Jagger ficou descontente com a invasão do público mas teve que se contentar com o fato que, se quisesse mesmo um casamento secreto, ele não deveria ter contado a tanta gente com tanto tempo de antecedência.
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Assinaram como testemunhas o diretor de cinema Roger Vadim e sua esposa, a atriz Nathalie Delon, respectivamente padrinho e madrinha de casamento. Ao entrar no recinto, já com certo atraso, a quantidade de flashes que pipocavam sobre Mick e Bianca era tanta que os cegou. Mick, irritado, parou no meio do caminho e tentou voltar, de tão revoltado com a cena. Jornalistas e fotógrafos chegaram a brigar e discutir durante a cerimônia, cada um lutando pelo melhor lugar para registrar o momento. O Fórum, uma casa antiga, tinha o piso já abalado ao centro e a possibilidade de que com o peso ele cedesse e todos acabassem no porão passou pela cabeça de algumas pessoas.
Uma vez oficialmente casados, seguiram direto para a Igreja onde outra legião de testemunhas oculares se acotovelava para presenciar o momento histórico. Com a noiva e o noivo acumulando uma hora de atraso, todos que foram convidados ao casamento já estavam posicionados dentro da igreja. Sendo assim, todos as portas da capela foram então fechadas e trancadas, para garantir que nenhum furão indesejável entrasse. No entanto, quando o Bentley de Mick Jagger chega, após passar pela multidão de curiosos do lado de fora, não consegue acesso à capela. Ele bate na porta, grita pelo nome de Les Perrin, seu advogado, mas com a zoeira do lado de fora, ninguém lá dentro consegue distinguir sua voz.
Inevitavelmente, alguém finalmente foi verificar quem estava batendo na porta, permitindo que o noivo entrasse. Em seguida o órgão passou a tocar uma seleção que incluía A Marcha de Núpcias de Bach e o tema de Love Story, música do filme homônimo. Bianca Jagger entrou acompanhada de Lord Lichfield, em seu vestido de noiva desenhado por Yves St. Laurent, extremamente decotado, o que renderia comentários nos jornais de fofocas por anos a fio.
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Depois da cerimônia, todos seguiram para a recepção realizada em um pequeno teatro ao lado do Café des Artes, que cuidava da comida. Com cerca de mil convidados, a festa virou a noite. Bianca trocou o vestido de noiva por uma roupa mais confortável. Ela mandara fazer um vestido exclusivo para a recepção mas não conseguiu entrar na peça. Embora não muito visível, havia uma pequena protuberância na sua barriga denunciando o fato de estar no quarto mês de gravidez. Sua opção foi vestir uma saia e blusa de renda semi-transparente mais um turbante. Como detalhe, ela colocou o colar de diamantes presenteado por Mick, que lhe custou a fábula de $10.000.
A Recepção
Embora jornalistas e fotógrafos externos tivessem sido barrados na entrada, alguns conseguiram se infiltrar. O que presenciaram na recepção foi uma orgia de caviar e lagosta, regado a champanhe nacional. Keith aproveitou a oportunidade para quebrar a máquina fotográfica de um dos fotógrafos que penetraram na festa. Além de um grupo local, uma banda de reggae chamada The Rudies foi contratada para tocar a noite toda. Lá pelas tantas, os convidados que eram músicos naturalmente começaram a querer tocar.
Terry Reid foi o primeiro a subir no palco, onde tocou algumas de suas canções antes de Bobby Keys assumir o espaço e começar a organizar um jam. A banda base que surgiu era formada por Keys no sax, Nicky Hopkins no piano elétrico, Stephen Stills na guitarra, e Michael Shrieves na bateria. Vários dos convidados, conforme desejassem, aproveitaram para tocar um pouco. Instigado por Stills com a ajuda dos demais, Mick Jagger finalmente subiu no palco e cantou vários sucessos de soul com Doris Troy e Pat Arnold. Era seu desejo botar os Rolling Stones para fazer um set, mas Keith estava roncando num canto do salão totalmente desinteressado com o que se passava. Aqueles que repararam cochichavam perguntando se Keith não estava se tornando o próximo Brian Jones.
Com Jagger dando atenção a todos menos à noiva, Bianca resolve voltar para o hotel se sentindo totalmente ignorada pelo marido. Às quatro da manhã, um ônibus encostou-se à frente do teatro para apanhar os convidados ingleses para prontamente levá-los ao aeroporto de Nice, onde o jato aguardava para levar todos de volta à Londres.
Encontro de Sócios
Ringo e esposa Maureen no aeroporto
Ringo e esposa Maureen no aeroporto

Embora sentados em poltronas distantes na ida, um evitando o outro, foi nesta recepção que Paul McCartney e Ringo Starr tiveram a oportunidade de se socializar mais relaxadamente. É a primeira vez que os dois conversam desde o ano anterior, quando ainda faziam parte dos Beatles. O evento serviu para reaproximar os dois sócios apesar de suas pendências jurídicas. Junto com o amanhecer, Paul e sua família seguiram com os demais para Inglaterra, enquanto Ringo e sua esposa permanecem na França, seguindo para o Festival de Cinema de Cannes, onde John e Yoko participavam com dois filmes, 'Apotheosis' e 'Fly', o segundo sendo particularmente bem recebido. Ringo não se encontra com a família Lennon, mas recebe George e Pattie Harrison em seu iate alugado. Juntos acabam escrevendo a canção 'Photograph' que seria seu primeiro No.1 nos Estados Unidos ao final de 1973. Sua estada durante o festival também lhe rende um convite para participar de uma produção italiana, um faroeste que seria chamado 'Blindman'.
A Rebordosa
Eric Clapton acordava na manhã do dia 14 ainda em St. Tropez. "Que festa!" foi o máximo que ele conseguiu articular para Alice ao seu lado. Por ter sentido as tremedeiras, aviso prévio para qualquer viciado em heroína para saber que é hora de seu remédio, optou por não pegar o avião com os demais. Eric, Alice e mais um casal de amigos voltaram até o hotel onde Anita abriu mão de uma quantidade de metadona para eles injetarem, aliviando assim os sintomas de abstinência que já estavam claramente se manifestando. O casal se aplicou com a droga e acabou dormindo no jardim do hotel, acordando com o som dos grilos.
Como lua-de-mel, Mick e Bianca alugaram um iate de 97 pés com intuito de passear pela Riviera Francesa e Italiana. No entanto os paparazzis estragaram o romance, e o casal passou a maior parte do mês em um castelo italiano onde o acesso existente era apenas pelo mar. Eles retornam no final de maio.
Marianne Comemora
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Marianne Faithfull estava em Londres fazendo tratamento contra sua dependência. O tratamento consistia em tomar uma injeção de Valium, duas vezes por semana, paga pelo seu atual namorado Lord Rossmore. Isto porque, para ficar sem tomar heroína e sem sofrer a abstinência, Marianne havia passado a usar barbitúricos e álcool. Uma tática que de fato funciona, todavia, para obter os resultados desejados, a pessoa precisa tomar tanto álcool que se arrisca a morrer mais rapidamente de cirrose. Tendo Marianne passado boa parte do ano de 1970 se sentindo um zumbi, o novo namorado Lord Rossmore lhe encaminhou a um médico que acabou receitando este tratamento questionável à base de Valium. Os resultados finais não resolveram os problemas de dependência de Marianne, tampouco o relacionamento com Lord Rossmore.
Ao voltar de Londres para Goring, onde morava com a mãe, Marianne acaba de tomar sua dose de Valium quando lê a manchete do jornal: "Mick e Bianca Casam à Francesa". Com o choque da notícia, sua reação foi de sair imediatamente em direção ao bar mais próximo e tomar três martinis com vodka em homenagem ao casamento. Sua intenção era em seguida pegar o trem para casa, mas ela não contava com o efeito do álcool quando misturado a uma droga como o Valium. Ela acordou no dia seguinte dentro da cadeia. Foi presa por embriaguez pública e obrigada a pernoitar numa cela. Versões dão conta dela desmaiando dentro de um restaurante chinês. Ao acordar no dia seguinte, foi prontamente liberada e tratada com muita cordialidade, graças a seu status de celebridade. Segundo Marianne, antes de ir embora ela assinou alguns autógrafos para os policiais.
Cem Por Hora
Outro novo amigo que apareceu foi Tommy Webber, que se dizia um ex-piloto de corridas. Ele surgiu um dia em Nellcôte com seus dois filhos. O fato de ser um ex-piloto de corridas impressionou Keith. O fato que Tommy trazer um quilo de cocaína direto de Amsterdã, distribuído em dois embrulhos colados nas costas de cada criança, impressionou mais ainda. Sua esposa aparentemente estava se recuperando no Bowden House para se livrar do seu vício de heroína. De Londres, Tommy pegou as crianças e passou por Amsterdã antes de chegar a St. Tropez.
Anita e Keith no GP de Mônaco
Anita e Keith no GP de Mônaco

Ele estava indo para Monte Carlo, aonde pretendia assistir o Grande Prêmio de Mônaco. Tommy acabou convencendo Keith e Anita a lhe acompanhar para juntos assistirem o GP com ele. Uma vez em Monte Carlo, riram e beberam muito mais do que prestaram atenção para a evolução dos carros. Neste, que foi um domingo ensolarado, testemunharam a vitória do escocês Jackie Stewart, vencedor da corrida com sua Tyrrill.
Mandrax e Courvoisier
Keith evidentemente comprou uma boa parte daquela remessa e Tommy passou a freqüentar a casa regularmente. No fim de maio, a atriz Michelle Breton que contracenara com Anita em "Performance", passou uns dias na casa em uma visita prolongada, prática que se tornaria cada vez mais comum entre as visitas de Nellcôte. Cheirando cocaína até quase altas horas da madrugada estavam Keith, Anita, Tony, Madaleine, Michelle, e Tommy. Todos ligadaços até demais, resolveram tomar um Mandrax para acalmar. Desceram o barbitúrico com goles de Courvoisier, levando a tropa a cair feito moscas, empilhados sobre a imensa cama Luis XIV no quarto do casal.
Tommy foi o primeiro a despertar horas mais tarde, por volta das cinco da manhã, com o céu já clareando. Ele percebeu que estava praticamente em cima da Anita com Keith roncando do lado. A posição instintivamente o deixou excitado e ele não se conteve e passou a se esfregar levemente nela. Anita acordou, olhou para ele e sorriu arteiramente. Tommy tendo a aceitação, logo colocou a mão na sua coxa e passou a subir lentamente. Anita ri e depois geme baixinho, dando-se então o início de um rala-rala. Não demorou muito e a cama estava balançando ritmicamente, suavemente ao início, e depois com firmeza, os dois em pleno ato sexual. O ritmo pulsante acordou Tony, que temendo o constrangimento e o fim de seu emprego, se fingiu de morto e tentou voltar a dormir.
Preparando As Gravações
Antes de Mick casar e sumir em lua-de-mel, foi acertado que com o seu retorno começariam a trabalhar em material para o novo álbum. Foram escaladas pessoas para o trabalho de olheiro em busca de alguma fazenda nos arredores para servir de estúdio, utilizando o equipamento do Rolling Stones Mobile Unit. Keith exigia porém que o local estivesse perto de sua residência, o que delimitou consideravelmente o raio de ação de todos encarregados de encontrar um lugar apto.
Um jovem fotógrafo francês de vinte e três anos chamado Dominique Tarlé conseguiu contato com osRolling Stones ainda em Londres, antes deles se mudarem, buscando oferecer seus serviços. Após fechar contrato com a firma Rolling Stones em Londres, Dominique chega uma manhã em Nellcôte para conversar com Keith sob detalhes do tipo quando e aonde se dará o início às referidas sessões de gravação que ele registraria em fotografias.
Passeio na Marina de Beaulieu
Informado sobre uma lancha com motor turbo à venda na Marina vizinha de Beaulieu, Keith convida Dominique a se juntar à tropa e acompanhá-lo para ver o barco. Distribuíram as pessoas em dois carros: Anita, Michelle, Tommy e Dominique foram no Dodge cinza com um motorista particular chamado David, enquanto Keith dirigia seu Jaguar vermelho conversível, acompanhado de Tony com Marlon no seu colo. Uma chuva de verão rápida caiu com sol à pino e durante este passeio Tony comenta com Keith o que viu. Tentando tapar o solo com a peneira, Tony fala de Tommy tomando vantagem da Anita, bolinando ela enquanto dormia. Keith ouvia em silêncio sem nada comentar, embora estivesse na cara que ele estava fervendo por dentro. Tony pede sigilo quanto à fonte, coisa que Keith concordou na hora.
Ao chegar na Marina, encostam perto de uma casa que parecia ser o escritório, e esperam encontrar alguém ou alguma indicação que eles estavam no ponto certo do cais. Foi quando apareceu outro Jaguar, que calcula mal a largura da rua estreita e ao passar pelo carro estacionado, arranha com a ponta lateral do pára-choque a lataria do Jaguar de Keith. Pronto. Keith explode, ofendendo o casal de italianos que estava no carro agressor de tudo quanto é nome. O casal tenta se desculpar mas Keith estava literalmente soltando os cachorros. De repente, ele tira uma faca de caçador de sua bolsa e parte pra cima do italiano, obrigando Tony a sair correndo e tentar segurá-lo. O responsável pelo lugar, atraído pela balbúrdia, sai da oficina e manda os italianos entrarem, acenando para o jovem cabeludo manter sua distância. Isto enlouqueceu Keith, que desata a ofender o homem, que não falava inglês e não entendia verbalmente o que ele dizia.
Mesmo assim, o responsável, que era um homem forte, também perde a compostura, e começa a responder gritaria com gritaria. Então temos em cena dois homens se ofendendo mutuamente, cada um em uma língua diferente sem entender o que o outro estava dizendo. Keith, talvez tentando intimidar o sujeito, mostra sua faca, e este responde imediatamente com um soco na cara. Keith cambaleia pro lado, perde o equilíbrio e cai no chão. O francês então parte para cima de Tony, que desfere um soco certeiro no rosto do homem. Foi o tempo de Keith levantar e partir imediatamente para o carro. Ele tira das mãos de Marlon sua pistola de brinquedo e aponta para o francês com um olhar assassino. O homem na mesma hora saca um revólver de verdade, e já estava prestes a atirar quando Tony se mete no meio, tomando a pistola de brinquedo de Keith e jogando-a longe, gesticulando em seguida para o francês dizendo que tudo era um mal entendido. O homem entra no escritório e em dois minutos já se ouviam as sirenes da polícia chegando.
Keith mandou Tony fugir no Jaguar enquanto ele se esconderia no Dodge e de fato, ao arrancar no carro potente, foi para o Jaguar que o francês apontou quando a polícia chegava. Deu-se então o início de uma perseguição, com o Jaguar sumindo rapidamente no horizonte. Ao chegar em Nellcôte, Tony esconde o carro no jardim e tranca os pesados portões de ferro que separam a propriedade da rua. Horas mais tarde Keith e o pessoal chegam. Keith ri e parabeniza Tony pela corrida. A idéia de comprar uma lancha fica para outro dia.
Resolvendo a Questão
Keith então telefonou para seus advogados, que foram imediatamente se encontrar com ele em Nellcôte. Telefonaram para a polícia local e um oficial foi até a casa entregar uma notificação de que Keith teria que comparecer a delegacia para prestar depoimento na manhã seguinte, às dez da manhã. Isto resolvido, Keith foi tomar satisfações com Anita, que inicialmente se faz de desentendida. "Eu sei de tudo. Tony me contou!" Depois que a poeira baixou, Tommy foi convidado a deixar a hospitalidade de Nellcôte.
Na manhã seguinte, Keith estava com ar de criança arteira novamente. Ele havia lido uma estória sobre Errol Flynn que, depois de uma briga similar aquela que eles viveram, foi ordenado a ir prestar depoimento ao delegado mas se recusou. No fim, o delegado é que teve que ir até sua casa para tomar o depoimento. Keith resolveu fazer o mesmo. Tony foi sozinho dar o seu depoimento e à tarde o delegado veio até Nellcôte, recebido por Keith e a equipe de advogados.
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Keith declarou que seu filho machucara a cabeça quando o responsável pela Marina o agrediu gratuitamente e portanto era de sua intenção processar o homem. Depois de muita conversa em francês com os advogados, o delegado foi convidado a jantar com eles e ganhou uma série de álbuns autografados por Keith. Sendo Tony o único que acertara o homem, foi aconselhado a se declarar culpado, tendo Keith pago sua multa, de aproximadamente $12.000 dólares e lhe concedido umas férias, ocasião em que ele sai do país por algumas semanas. Ficaram sabendo mais tarde que na semana seguinte a espôsa de Tommy havia falecido. Apesar de parecer que Keith saiu de mais essa situação impune, na verdade a polícia marcou o local e a pessoa.
Outras Ocorrências Políticas
Angela Davis, uma professora negra americana, é acusada de participar da tentativa de fuga de dois prisioneiros em 1969, tentativa esta que resultou na morte de três pessoas. Caçada pelo FBI, ela se manteve escondida com a ajuda dos Panteras Negras. Uma vez encontrada e presa em 1971, deu-se início a uma série de manifestações populares, reivindicando sua imediata libertação. Angela Davis passa a se tornar um símbolo do cidadão oprimido. Estas manifestações não se resumiram à Califórnia, estado onde ela havia sido acusada e portanto onde seria julgada. Em Paris, Mick e Bianca Jagger são vistos participando de uma ação popular para libertar Angela Davis, realizada no Place de la Bastille. Angela Davis é um perfeito símbolo de opressão para Mick, pois era uma mulher, negra, e acima de tudo inteligente e carismática. Angela era uma professora de Filosofia extremamente bem qualificada, e não tinha medo de exprimir opinião própria contrária à do governo. No entanto, durante a manifestação, Jagger repara que alguns dos jovens estão adotando a bandeira comunista da União Soviética. Isto lhe assusta e se inicia uma pequena discussão filosófica, com ele acusando a USSR de dizimar milhares de pessoas como Angela Davis, e por fim deixando o local perplexo e triste. Em casa, Jagger escreve então uma letra pensando em Angela, chamada "Sweet Black Angel".
Só para variar um pouquinho, o nome dos Rolling Stones está nos jornais através de Shirley Watts, mulher de Charlie. Em Nice, ela se irrita com oficiais da alfândega no aeroporto que, sobre a guisa de eficiência, implicam com os menores e mais elementares detalhes. Shirley se sentindo provocada gratuitamente, perde a postura e agride o oficial. Existe uma histórica inimizade natural entre o inglês e o francês e esta pode ter sido uma das razões do incidente. Presa e acusada de agredir um oficial alfandegário, que constitui um crime federal, seus advogados aconselharam-na a deixar o país, o que ela faz prontamente. Dia 2 de junho, Shirley foi condenada a seis meses de prisão e $75 dólares de multa. Os advogados apelaram, e em agosto a sentença foi reduzida para quinze dias de cadeia, porém suspensa. Shirley então pôde voltar a França.
Chamada Geral
Ao retornar a St. Tropez, Mick Jagger estava pronto para começar a trabalhar e não demorou muito para ele começar a agitar as coisas. Concluiu-se que seria mais produtivo manter o estúdio perto de Keith, pois ele habitualmente é quem mais se atrasa. Keith ofereceu então a sua adega no sótão da casa como uma opção para estúdio. De fato, o local oferecia bastante espaço que poderia ser bem aproveitado. Ian Stewart então recebeu o aguardado telefonema para trazer o caminhão carregando o Rolling Stones Mobile Unit até Villefrenche-sur-mer. Outro telefonema foi para John Morris, um 'promoter' americano que trabalhava em Londres já havia algum tempo. Ele foi convidado a vir até St. Tropez para ajudar nos preparativos de uma excursão pelos Estados Unidos para o ano seguinte. Outros telefonemas seguiriam para diversas seções da organização Rolling Stones, para Mick se situar em relação ao andamento da firma.
Keith e Bill ensaiando na sala
Keith e Bill ensaiando na sala

O caminhão chegou de Londres no dia 7 de junho e ficou estacionado ao lado da casa. Monitores para retorno, amplificadores e demais equipamentos, assim como instrumentos musicais, foram instalados no sótão. Algumas câmeras foram posicionadas estrategicamente no novo estúdio que se criou, ligadas a monitores de TV situados junto à mesa de som e ao gravador dentro do caminhão. Assim os técnicos podiam acompanhar visualmente tudo que está se passando enquanto os músicos tocam. Cabos passavam pela janela da cozinha e seguiam até o sótão. O estúdio no porão passa a ser chamado de "Keith's Coffee House."
Apesar de estarem todos tecnicamente prontos, a banda estava soando mal junta, ninguém totalmente focalizado no trabalho. A música que produziram nesta primeira semana naturalmente refletiu esta dispersão. Mas antes que a banda pudesse realmente se aquecer, Keith apronta outro problema que atrasa tudo.
Andando de Kart, Keith consegue cair do carro ralando bastante as costas. Com muitas dores, passa a semana seguinte de molho e a banda fica então mais alguns dias sem ensaios. Bill Wyman, que havia começado a produzir o disco de John Walker no final de maio, aproveita o equipamento e retorna ao trabalho em Nellcôte. No fim desta segunda semana de junho, um Keith novamente animado estava participando das gravações tocando baixo em duas canções no disco de Walker.
Os ensaios começaram a ganhar pique na terceira semana de junho, começando religiosamente às oito da noite e terminando por volta das três da manhã. Como nos velhos tempos, Bill e Charlie chegam pontualmente na hora marcada e ficam esperando pelos demais. Keith está sempre ocupado com algo e desce sempre um pouco mais tarde. Algumas coisas são gravadas apenas para servir como referência, mas tudo soa tecnicamente pobre. A banda continua sem pegada. Keith batiza essas sessões de junho de "Sessões de Doença Tropical".
Jean de Bretieul
Jean de Bretieul havia viajado para Londres com um acordo fechado em que Keith lhe garantia duas semanas de moradia gratuita em seu apartamento em Cheyne Walk. Se ele resolvesse ficar mais tempo, passaria a pagar um aluguel de $600 por semana. Jean gostou tanto do lugar que telefonou de Londres para Marseilles, encomendando uma entrega à domicílio e dando o endereço de Nellcôte. No mesmo dia, um carro chegou na casa de Keith com dois tipos com pinta de mafiosos. Conversaram com Keith e lhe apresentaram um saco que poderia ser confundido com um quilo de açúcar, não fosse a brilhosa coloração rosa. Era heroína tailandesa pura. Tão pura, que antes de Keith poder usá-la, foi obrigado a aguardar até que uma mão mais experiente a diluísse com o dobro de quantidade em glicose. Em função da cor, Keith passou a se referir à droga pelo nome de 'algodão-doce'. As entregas passariam a ser periódicas, cada saco desses custando por volta de £4.000, aproximadamente $9.000, câmbio da época. O saco quase durou o mês.
Em Londres, durante uma visita a Thalita Getty, Marianne Faithfull conhece Jean de Bretieul, que acaba estendendo sua estada em Londres por mais tempo, fincando residência em Cheyne Walk por vários meses. Ele estava com uma boa clientela, vendendo bem e faturando alto. Quando Jean Paul Getty II se internou para tentar se livrar de sua dependência, se apaixonou por sua enfermeira Victoria Brooks, e avisou para sua esposa Thalita que ele não voltaria mais para ela. Thalita por sua vez acabou sucumbindo ao charme francês de Jean de Bretieul, seu novo vizinho e amante. O fato dela ser uma junkie e ele um fornecedor de mercadoria de primeira era apenas um detalhe insignificante na relação, com certeza. Quando Thalita precisou retornar à Itália para conversar com seu marido sobre o filho ainda pequeno do casal, Marianne naturalmente entrou no seu lugar como dama da vez.
Marianne Faithfull
Marianne Faithfull

No final de junho Jean e Marianne visitam Keith e Anita e seguem depois para Paris, onde ficaram hospedados no L'Hotel. Ao que tudo indica, Jean teve Jim Morrison como um de seus clientes, pois Marianne conta que, no dia 3 de julho, Pamela Morrison ligou assustada e Jean correu para o hotel onde ela e Morrison estavam hospedados. Quando voltou deu instruções para fazer as malas imediatamente. Seguiram correndo para o aeroporto, aterrisando em Tangier, no Marrocos, dentro de algumas poucas horas.
Jim Morrison passa a ser a outra grande baixa recente no rock. Nove dias depois era a vez de Thalita Getty ser encontrada em sua piscina em Roma, morta por uma overdose de heroína. Dentro de alguns meses morreria também Pamela Morrison, igualmente como o namorado famoso de quem adotou o nome, também por overdose de heroína.
Keith Richards e Gram Parsons
Os ensaios passam a ser encaradas mais seriamente a partir da chegada dos engenheiros de som Glyn e Andy Johns, junto com Jimmy Miller, no dia 6 de julho. A função primordial de Miller, o produtor, seria de colocar ordem na casa e ajudar a banda a se focalizar no trabalho. Com ocasionais tempestades de verão, as gravações tinham que ser canceladas pois a força acabava, toda a casa ficando às escuras. A fiação antiquada da residência mostrava logo sinais de estafa diante das necessidades de consumo de toda aquela maquinaria. Membros da equipe de som encontraram uma estação de força da ferrovia francesa não muito longe da casa. Autorizados por Keith, puxaram um gato direto para Nellcôte que passou a alimentar não só os estúdios assim como toda a casa.
Keith, Gram e Gretchen
Keith, Gram e Gretchen

As mortes de velhos amigos e conhecidos não alteraram em nada a disposição de Keith e Anita. Gram Parsons e sua mulher Gretchen foram convidados por Keith a passar uma temporada em Nellcôte. Parsons, um ávido consumidor de heroína, se maravilhou com o pó servido em St. Tropez. O consumo dos dois aumenta quantitativamente. Keith passara a se injetar no músculo, no lugar da veia, para lhe dar uma falsa sensação de controle sobre o vício. Com o uso contínuo, manchas e marcas começam a aparecer. Seus dentes estavam aos poucos escurecendo e Keith passaria a sofrer de constipação, outro problema comum, porém pouco mencionado, entre os dependentes de drogas químicas.
Com Mick agora tão envolvido com Bianca, Keith adota Gram como parceiro para canalizar o seu lado Country, uma música que ele sempre amou desde os tempos de fã de Roy Rogers, mas que pouco utilizou dentro da fórmula adotada pelos Rolling Stones. Trabalharam em um clima extremamente descontraído preparando material para o anunciado disco dos dois. Este período foi de grande importância para Keith Richards aprimorar sua versatilidade no violão. Gram Parsons lhe ensina as mecânicas aprimoradas do Country, dando profundidade histórica aos acordes e palhetadas. Keith aprende a reconhecer e executar as duas escolas de Country existentes, a de Nashville e a de Bakersville. Comentando a respeito deste período recentemente, Keith teria dito, "Gram foi um gênio que reinterpretou o Country, sua influência alterando o gênero completamente depois dele. E ninguém sequer percebeu".
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Execution (Split-CD) - Evil Emperor / Corrosivo

Postado por Christiano K.O.D.A.

Eis um split-CD de grandes talentos de nossa terrinha. E vindas do Rio Grande do sul, então, já é sinônimo de brutalidade.



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Apresento as bandas Evil Emperor e Corrosivo. A primeira banda já abre a podreira com um belo soco na cara – amúsica cantada em português “Maldição”. Ao menos é o que se deduz pelo título, já que infelizmente não tive acesso às letras do trabalho. Quanto aos outros títulos, deduz-se serem calcadas em nojeiras em geral, para a alegria dos adoradores de putrefações.
O vocal curiosamente é bem rasgado, como os de bandasblack metal, mas se alterna com potentes guturais, que particularmente funcionam melhor nas músicas. Mas no geral, a mistura ficou bem interessante!
E não se deixe enganar pelo nome e logotipo da banda. A Evil Emperor executa um encorpado brutal death metal com claras influências de Cannibal Corpse e Krisiun. As músicas alternam partes ultra-velozes e cadenciadas, que acabam gerando um bom equilíbrio no resultado final das composições. Fazem um som sem soar maçante, apesar de bastante tradicional. A gravação está acima da média, outro ponto positivo para o conjunto.
Já a banda Corrosivo aposta num thrash com pitadas death bastante comum, a não ser pelo fato de ser todo cantado em português. Não espere grande velocidade nas 4 músicas do conjunto. O vocalista/baixista Tiago Steiner se sobressai entre os outros integrantes, com uma voz poderosa, que lembra muito o timbre do Marcus D’Angelo (Claustrofobia). Sua voz é bastante inteligível, surpreendente! Destaque para o delicioso andamento de “Agonizando”, que parece ter sido feito para bater cabeça mesmo. Por outro lado, a qualidade da gravação é um pouco inferior à da Evil Emperor, em especial na música “Predador”, que destoa ainda mais do resto do material.
No final das contas, a Corrosivo peca um pouco por uma certa falta de criatividade em suas composições. Entretanto, para fãs de um thrash/death bem tradicionalzão, soa bem agradável. A capa do split é caprichada, e ambos os logotipos das bandas são muito bonitos.
A Evil Emperor anunciou que lançará mais um disco esse ano. Só resta aguardar. Abaixo, devidamente autorizado pela banda, vai o link para download do split:

Evil Emperor
01. Maldição
02. Vobiscum Obscurum
03. Devoured By Inner Bestiality
04. Butcher of Souls

Corrosivo
05. Máquina do Ódio
06. Agonizando
07. Predador
08. Corrosivo
Fonte desta matéria: Som Extremo

Burial Ground - Expurgo

Por Christiano K.O.D.A.

Mais uma maldade da Black Hole Productions. Logo de cara, o que chama atenção é o encarte do CD, com uma arte fantástica, uma capa muitíssimo bem trabalhada, enfim, um encarte bem caprichado e profissional. Já deixou uma ótima impressão inicial.



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E ao dar play no disco, ela continua em alta. Os mineiros arrebentam com um excelente grindcore que consegue ser ao mesmo tempo tradicional e novo, trabalhado. Bebem nas melhores fontes – Brutal Truth, Nasum, Terrorizer e Napalm Death, entre outras - para dar uma noção desse pesadelo aqui. Destilam 29 pedradas em quase 40 minutos. Uma tarefa difícil inclusive é destacar uma ou outra música. São todas infernais.
Quanto aos músicos, todos estão acima da média, valendo citar os vocais alternados de Bruno e Philipe, que também é guitarrista.
As letras da Expurgo são aquelas típicas do estilo: protestos contra injustiças político-sociais, mas com uma leve puxada para o gore (confira “Purging the Phlegm”). Quase todas são cantadas em inglês. As exceções são “Sofrer em Paz”, “Não (part I)” e “Não (Part II)”, em português, sendo essas duas últimas limitadas ao próprio título, mostrando que a banda também tem seu lado bem humorado, assim como “Regurfecontovoremintoegues”. Aliás, essa é um mistério. Que língua seria?
A gravação também é excepcional, permitindo ao ouvinte distinguir claramente todos os instrumentos. E o mais interessante é que esse som cristalino é paradoxalmente sujo e pesado, criando um clima perfeito para o tipo de música que esses caras fazem. O único senão ocorre quando a bateria está no blast beat: a caixa praticamente some na audição. Mas é um detalhe que não chega a comprometer o trabalho da Expurgo. Esses caras acertaram a mão em “Burial Ground”, o full-length de estréia. Estou para dizer que são uma promessa do grind nacional.
FAIXAS
1. Blast of Truth
2. Only the Depressive Trades
3. No Chance to Refuse
4. Afected by Disequilibrium
5. Trapped
6. Nothing Becomes Ruin
7. Palestine Guts
8. Brain Pulsing
9. Human Hardware Dysfunction
10. Plasma Arc
11. Interruption Request
12. Aufklärung
13. End of Line
14. Madness and Reason
15. Spell or Xenophobism
16. Sofrer em Paz
17. Sense Power, be Dead!
18. Exploitation
19. Condemned
20. Time Rips Us Out
21. Worthless Anger
22. Purging the Phlegm
23. One Day of Terror
24. Chaotic State of Addiction
25. Spread Our Cancer
26. Não (Part. 1)
27. Regurfecontocoremintocegues
28. Não (Part. 2)
29. Grey Waste II - O Cocito
Fonte desta matéria: Som Extremo

Sticky Fingers - Rolling Stones

Por Pedro Lucas Sousa

23 de abril de 1971. Quarenta anos atrás era lançado um dos melhores álbuns dos Rolling Stones, "Sticky Fingers". Os veteranos do rock and roll podem chiar e falar, “Quem esse moleque pensa que é para falar desse álbum? Não era nem vivo na época!”, mas essa é um das características que tornam esse disco tão especial. Mesmo depois de tanto tempo, ainda é um disco marcante, daqueles que você não para de escutar. Confesso que faz muito tempo que não o escutava, mas ao lembrar dele hoje e colocar para tocar, me veio aquela sensação de saudade de bons tempos que não vivi. Rock and Roll não tem idade, e "Sticky Fingers" é um bom exemplo disso.



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Além da ótima qualidade musical, o álbum é marco histórico de grandes momentos na carreira dos Stones. É o primeiro álbum em que Mick Taylor, que substituiu Brian Jones (morto em 1969) exerce totalmente sua função de guitarrista e é o primeirodisco lançado pela Rolling Stones Records, selo criado após o rompimento da banda com a gravadora Decca Records.
Os atrativos do disco já começam pela criativa e polêmica capa, que mostra umjovem com um jeans apertado e um pênis supostamente ereto e que continha um zíper de verdade que poderia ser aberto, mas teve que ser trocado, pois estava causando danos ao disco. Por causa da temática sexual da capa ela foi modificada em vários países como na Espanha, onde foi trocada por dedos femininos entrando em uma lata com um liquido preto. Agora, vamos deixar as calças, os pênis e zíperes de lado e vamos direto ao que interessa.
"Sticky Fingers" é um álbum bastante balanceado, explorando a criatividade dos Stones em diversos aspectos. O disco abre com a excelente “Brown Sugar”, um clássico que acompanha os Stones até hoje em qualquer show que façam. Uma música intensa, envolvente, com melodia marcante. É uma das músicas que mostram bem a energia dos Stones. Logo em seguida vem “Sway” já um pouco mais lenta mas com uma pegada forte, onde Jagger participa da gravação das guitarras.
Dando meio que uma cortada no clima, vem “Wild Horses”. Uma baladinha lenta, romântica, que talvez soaria melhor em outro disco, não é um grande destaque, mas não chega a ser ruim. O mesmo já não acontece “I got the Blues”, que tem mais a cara do disco e “tapa” o buraco deixado por “Wild Horses”.
“You Gotta Move”, “Sister Morphine” e “Dead Flowers” são faixas que devem ser ouvidas com atenção. São faixas carregadas da identidade do Stones, principalmente “You Gotta Move”, com suas raízes fincadas no blues “slide”. “Bitch” e “Moonlight Mile” também são pontos interessantes do disco, com ritmos mais lentos e melodias envolventes.
Um trabalho marcante tanto para a carreira da banda como para a história do Rock and Roll, sendo incluído nos 200 álbuns definitivos do Rock and Roll Hall Of Fame. Extremante importante para qualquer fã da década de 70, "Sticky Fingers" contém a receita certa para um bom disco, daqueles que só os Stones conseguem fazer.

Shin-Ken - Persefone

Por Andras Ellendersen

PERSEFONE é uma banda andorrana de death metal progressivo formada em 2001. A banda até hoje lançou três albuns de estúdio, e cada um deles, com seu toque especial, mostram técnica e musicalidade impecáveis. Os andorranos conseguiram estabelecer logo no primeiro álbum um estilo próprio e característico, mostrando que são uma banda que vale a pena ouvir. Porém, parecem simplesmente não receber o reconhecimento que merecem. Essa será uma review sobre o último álbum lançado em 2009, "Shin-ken", que servirá também para mostrar ao público brasileiro mais uma maravilhosa banda para quem aprecia o metal.



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A banda lançou seu primeiro álbum em 2004, entitulado "Truth Inside the Shades", no qual pode ser ouvido muitos elementos de música clássica aplicados às músicas de metal. Já o segundo, "Core", lançado em 2006, mostra o grupo numa veia puramente progressiva, sendo o álbum constituído basicamente de 3 músicas que duram mais de 20 minutos cada. Porém, agora é hora de falar do álbum "Shin-ken", lançado em 2009 pela Soundholic Records. Nesse álbum as canções são mais curtas que nos outros álbuns, mas as composições são ainda mais criativas e envolventes.
Os vocais guturais de Marc Martins Pia são agudos e sujos, em contraste com os vocais limpos do tecladista Miguel Espinosa Ortiz. As guitarras de Jordi Gorgues Mateu e Carlos Lozano Quintanilla soam bem rasgadas e agressivas, contrastando com algumas belas partes de som limpo. O modo que Marc Mas Marti toca bateria se destaca muito nas faixas, influenciando as músicas de forma poderosa e complexa. O teclado de Ortiz e o baixo de Toni Mestre Coy também mostram-se sempre indispensáveis para cada música particularmente. Basicamente é um som bastante técnico, com ritmos ímpares e agressivos, acompanhados de magníficas melodias.
Agora falaremos das faixas em si. A estrutura do álbum inclui 5 faixas entituladas no padrão "The ___ Book", cada uma representando um elemento da natureza. São músicas calmas e curtas que introduzem o ouvinte à atmosfera que o levará a música seguinte. O disco tem seu início com "The Ground Book", que transporta o ouvinte a uma cachoeira distante, acompanhado de uma bela melodia. Mas apenas na música "Fall to Rise" é que o disco realmente começa. Essa é provavelmente a melhor faixa de "Shin-ken", começando com um poderoso groove e ficando apenas melhor ao longo da música. "Death Before Dishonour" mostra o peso e habilidade da banda. "The Endless Path" apresenta uma linha mais melódica, porém ainda com partes agressivas e pesadas.
Já "Purity", em contraste com as outras, é uma canção extremamente bela, inteiramente limpa, sem guitarras distorcidas ou vocais guturais. "Rage Stained Blade" é uma faixa mais curta e rápida, porém muito bem trabalhada e envolvente. Agora ao início de "Kusanagi" é impossível não sentir uma imensa vontade de bater cabeça como um louco! Uma excelente faixa. Agora sim, chega a hora de falar da faixa-título, "Shin-ken", que é dividida em 2 partes. A primeira delas é mais pesada e agressiva, e muito bem tocada, contrastando com a Parte II que é acompanhada por uma calma e bonita melodia no piano. Para finalizar, a fabulosa "Japanese Poem" transporta o ouvinte a um pacífico e distante cenário no oriente, completamente isolado de qualquer tipo de problema, encerrando mais um belo lançamento deste grande grupo.
Esse é um daqueles álbuns que quanto mais se escuta, mais se aprecia, pois ele se completa, transformando vários pedaços de pura agressividade e outros de fantásticas melodias em uma única e magnífica obra-prima. Um registro no qual eu simplesmente não consigo achar falhas. Agora fica apenas no ar a pergunta: porque essa banda não tem o reconhecimento que merece? Porque tão desconhecida no mundo do metal? Que fique a dica para quem aprecia um metal progressivo de boa qualidade!
Setlist de Shin-ken:
01. The Ground Book (Intro) 01:19
02. Fall to Rise 06:13
03. Death Before Dishonour 07:11
04. The Water Book 02:26
05. The Endless Path 06:41
06. The Wind Book 02:27
07. Purity 05:07
08. Rage Stained Blade 04:38
09. The Fire Book 02:42
10. Kusanagi 08:02
11. Shin-Ken Part 1 05:35
12. Shin-Ken part 2 05:18
13. The Void Book 00:25
14. Japanese Poem 03:13
15. Sword of The Warrior (Cacophony cover) 05:18