17 de abril de 2011

La Vallée - 1972





Vivianne, a esposa do Cônsul francês em Melbourne, viaja para novo Guinéu na busca das exóticas plumas do "pássaro do paraíso" para ser vendidas em Paris, mas depois de conhecer a Olivier se une a seu grupo de expedicionários europeus que vão na busca de um vale inexplorado da ilha, que aparece nos mapas como uma zona totalmente desconhecida, "escurecida pelas nuvens", e portanto invisível desde um avião. Só os nativos Mapugas suspeitam de sua existência mas não se atrevem a explorarlo, porque acham que é ali onde vivem os Deuses. Como todo mistério, o vale se transforma em um símbolo. Para os europeus, o vale é o Paraíso; para os primitivos, é a morte.

Toda aparente "inocência" da imaginária hippie é deliberada no filme, uma tentativa de instalar o sentido de maravilha e aventura. Por isso o diretor eliminou toda alusão gratuita ao folklore hippie, para descrever o melhor possível um profundo sentido da aventura e o desconhecido, a estimulação das faculdades, a liberdade sexual e a sensação de estar buscando as raízes e as fontes, e que a natureza e a humanidade se revelarão de alguma maneira desnuda à vista.
Trilha sonora composta pelo Pink Floyd especialmente para o filme.


Direção: Barbet Schroeder
Gênero: Drama
Duração: 106 Minutos

Parte 28 - O Brilho Que é L.A.

Enquanto sua nova banda não estava gravando, Mick Taylor estava fazendo o que mais gostava, ou seja, gravando e namorando. Ele participaria durante o mês de agosto das gravações do Keef Hartley Band tocando sua guitarra na canção "Believe In You". Taylor também passa a morar com sua namorada Rose Miller e os dois contemplam a idéia de se casarem no futuro próximo.


Marlon
No dia 10 de agosto de 1969, nasce o primeiro filho do casal Keith e Anita. O menino ganharia o nome de Marlon, uma homenagem a Marlon Brando, quem tanto Keith quanto Anita admiravam. O casal se mudara para Redlands como era o costume no verão. Keith estava bobo com seu menino. Pegava o bebê no berço, colava seu rosto no dele e sussurrava planos futuros para os dois. "Você e eu baby, não precisamos de mais ninguém." Anita também estava feliz e radiante com a chegada da criança. Depois de vários abortos involuntários, ela começara a acreditar que não podia dar à luz a uma criança. Mas Keith passou a dar tanta atenção a Marlon que Anita começava a sentir ciúmes.
Klein vai perdendo o controle
Quando Mick retornou a Londres, ele se entregou imediatamente ao trabalho da preparação da excursão americana. Seria a primeira excursão dos Stones em três anos e na prática, todo o esquema de shows, aparelhagens e promoção havia mudado muito neste tempo. Os Stones teriam que reaprender muita coisa, mas levaria toda a excursão para as lições serem absorvidas. Com tudo que estava acontecendo, a overdose de Marianne e as filmagens recém encerradas na Austrália, é difícil imaginar quando Mick Jagger encontrou tempo para pensar em um plano para se livrar de Allen Klein, quanto mais calcular meticulosamente sua ordem de ações. Contudo, eis que Jagger consegue fazer exatamente isto.
Mick Jagger
Mick Jagger

Para diminuir o controle de Allen Klein sobre a banda, Jagger recorre aos conselhos profissionais de outra fonte. Assim, a primeira coisa que ele faz é apontar seu consultor financeiro Rupert Lowenstein como responsável pelas finanças da banda e da firma Rolling Stones.
Prince Rupert Ludwig Ferdinand zu Lowenstein-Wertheim-Fruedenberg, mais conhecido como Rupert Lownestein, é um descendente direto da família real da Bavária. Como credenciais, Lownestein ajudou Jonathan Guinness a montar o seu Banco Mercantil, Leopoldo Joseph. Com acesso total aos livros, Lowenstein conseguiria rastrear o dinheiro e garantir que a verba cheguesse aos cofres da banda e não ficassem retidas nos cofres da ABKCO.
Outra função de Lowenstein era ajudar Jagger a montar uma nova corporação para assumir o controle dos Rolling Stones quando o contrato entre a banda e Klein se expirasse. Porém, com a falta de experiência de Lowenstein no mundo da indústria fonográfica, muitas das decisões acabavam mesmo sendo feitas graças a intuição de Mick Jagger. Juntos, Jagger e Lowenstein formam os alicerces desta nova corporação, que ainda não existia oficialmente, mas que seria conhecida dentro de doze meses como "Rolling Stones Records". No prazo de um ano, com seus contatos, Lowenstein cria uma rede internacional de contadores e advogados trabalhando para proteger os Rolling Stones e seu dinheiro. Seria graças a proteção desta rede que os Stones viveriam suas peripécias, quase que sempre à margem da lei, enquanto pulam de país em país, cidade em cidade.
A primeira e principal missão de Lownestein era de encontrar uma solução para tirar os Stones da categoria de super taxação que o governo inglês os situaram. Depois de estudar os livros, a conclusão de Lowenstein era que tudo em relação às finanças da banda até então fora mal planejado. A firma Rolling Stones, como também o grupo, devia tanto dinheiro para a Coroa que a única maneira de garantir as rendas futuras seria o grupo morar em outro país, evitando assim o pesado imposto inglês. A sugestão de se tornarem exilados econômicos não encontrou adesão imediata e a idéia teve que ser digerida lentamente por todos.
Ron Schneider
Ron Schneider

O outro golpe de Jagger contra Klein seria tirá-lo totalmente da jogada da preparação da excursão americana. Sua tática foi tão curiosa quanto audaz. Mick Jagger convida Ronnie Schneider, sobrinho e assistente de Allen Klein, a deixar a ABKCO e trabalhar exclusivamente para os Rolling Stones. Schneider percebe logo que irá fazer basicamente o mesmo trabalho que já fazia de qualquer maneira como assistente de Klein, porém recebendo agora na íntegra e não apenas uma porcentagem da comissão. Ao aceitar o convite e romper com o tio, aleija a direção da ABKCO, fazendo com que Klein perca duplamente. Schneider sendo extremamente eficaz como seu tio, faria tudo com perfeição para agradar Mick Jagger e estabelecer seu nome no mercado. Sua primeira ação foi a de criar uma nova firma nos Estados Unidos, que ganha o nome de "Rolling Stones Promotions".
Nada disto faria Allen Klein deixar de ganhar dinheiro com os Rolling Stones, veja bem. Mas diminuia o controle, as embromações e a sensação de estarem presos em suas mãos. As negociações entre Allen Klein e Mick Jagger ainda continuaram e continuarão enquanto o contrato entre Klein e a banda estiver em vigor. Reuniões entre Jagger, Ronnie Schneider e Jo Bergman, secretária particular de Jagger, formam o tripé cerebral do grupo para levar esta excursão, com todos os seus detalhes à frente. Foi decidido que Los Angeles seria a cidade base para a banda, mesmo porquê Mick e Keith queriam ainda mixar e terminar o disco "Let It Bleed".
Marsha Hunt
Mick estava ainda preocupado com Marianne, que estava visivelmente nervosa com a expectativa dele ir para a América e ela ficar sozinha em Londres. Procurou ele então fazer com que se sentisse parte dos preparativos para a excursão, permitindo inclusive que ela escolhesse uma roupa de palco adequada para ele, coisa que nunca fizera antes. Sabendo como Mick era detalhista sobre tudo, mormente suas roupas, Marianne se espanta com a carta branca. Enquanto Jagger mergulhava em reuniões que viravam a madrugada, preparando a excursão, Marianne passava as noites em casa sozinha, uma vez que seu filho Nicholas estava com Eva, sua mãe. Ela ainda se sentia um pouco debilitada fisicamente para curtir as noitadas como em outros tempos.
Embora Marianne acreditasse que Mick estivesse trabalhando a noite toda como em outras épocas, os afazeres de Jagger geralmente se resumiam a parte da tarde. As noites ele passava nos clubes, sempre acompanhado pela vistosa atriz e cantora Marsha Hunt. O caso entre os dois esquentara depois de sua volta da Austrália e Jagger parecia estar realmente atiçado com a novidade.
Marsha Hunt
Marsha Hunt

Marsha é na verdade o nome artístico de Marcia Hunt, uma americana nascida em Philadelphia e que aos 19 anos, estudando em Berkley na Califórnia, resolve tentar a sorte em Londres. Estamos em 1967, era do amor livre, e apesar de ter menos de cinco dólares no bolso, não foi tão complicado assim para Marsha encontrar uma cama para dormir. Dentre as pessoas que ela conheceu houve o pintor David Hockney, que acabaria lhe apresentando a uma menina que depois a levou para conhecer Alexis Korner. Tendo abandonado o nome Blues Incorporated, Alexis chamava sua nova banda de Free At Last e ofereceu a Marsha £5 por semana para ela fazer backing vocals junto com outras duas meninas. Sendo uma negra americana, Marsha chamou muita atenção entre os bluseiros ingleses e por um período, ela passou a morar com John Mayall, recém separado de sua mulher Pamala.
Após uma excursão do Free At Last em um pacote que incluía outras bandas, Marsha conheceu John Baldry, um dos mais antigos cantores de blues inglês, então vocalista do Bluesology. Baldry passa a desejar para sua banda a voz de negra americana autêntica que Marsha pode oferecer. Apesar do Bluesology já contar com as vozes de Julie Driscoli e Rod Stewart, Baldry acaba oferecendo £30 por semana para que Marsha deixe Alexis Korner e passe a cantar para ele. O primeiro trabalho da cantora com Baldry foi a canção "Mexico" que em 1968, acaba sendo aproveitada como tema das Olympíadas, se tornando um hit e chegando a vigésimo lugar nas paradas britânicas. Supostamente teriam sido os ciúmes e insatisfação entre os demais membros do Bluesology que acelerariam o fim da banda.
O Bluesology era empresariado pela firma The Gunnell Agency, que ofereceu à cantora a opção de fazer backing em outra banda associada a agência. Entre Soft Machine e Ferris Wheel, as duas opções dadas a ela, Marsha preferiu a segunda, cujo repertório englobava muitas versões de sucessos da Motown. No entanto, com o passar do tempo, ela começava a se ver como uma imitação inglesa de Diana Ross & The Supremes. Felizmente, a esta altura, apareceu para ela a oportunidade de participar da peça Hair.
Estreando no final de 1968, Marsha tinha poucas linhas na peça, cantava apenas uma música e acabou ficando apenas por seis meses, apesar de Hair continuar em cartaz por sete anos consecutivos. No entanto, carismática com ela é, não é incomum Marsha ser referida pelos jornais como a estrela do espetáculo, coisa que está longe de ser verdade. Mas é seu relacionamento com Mick Jagger, que se firma no final do verão de 1969, que acaba atraindo-lhe todos os holofotes. Jagger porém passou meses na Austrália filmando Ned Kelly, enquanto Marsha, agora grande demais para a peça Hair, ganha as atenções do produtor Robert Stigwood. Acompanhando-o e conhecendo de maneira geral os produtores da indústria, Marsha acaba por assinar um contrato com Kit Lambert e seu novo selo Track Records, o mesmo do The Who, Jimi Hendrix e Arthur Brown & The Thunderclaps.
Marsha Hunt & White Trash
Marsha Hunt & White Trash

Uma das primeiras tentativas feitas para lhe promover a carreira de cantora solo foi de reunir alguns músicos tarimbados de estúdio e montar uma banda para ela. Assim nasce Marsha Hunt & White Trash. Na verdade, White Trash era originalmente uma banda escocesa contratada pela Apple Records. Gravaram e lançaram um disco pelo selo que pouco vendeu e com o tempo, acabaram alterando sua formação. A banda que serve para promover Marsha Hunt é composta por Ged Peck na guitarra, Nick Simper no baixo e Pete Phillips na bateria. Seu grande momento foi a participação no Isle of Wight Festival em agosto daquele ano. A banda e a associação com Marsha, porém, sequer permaneceriam juntos até o final do ano. Simper e Peck seguiriam depois para formar a banda Warhorse.
Como era típico deste casal, Marianne nunca perguntava aonde Mick esteve a noite toda, assim como Jagger nunca perguntou se ela havia voltado a tomar heroína. A rotina do casal seguiria assim por mais outro ano. Jagger pernoitava muitas vezes na casa de Marsha, fumando maconha e trepando até a exaustão. Depois de três semanas, ele e toda a banda seguiam para Los Angeles. Marianne neste ínterim acabaria descobrindo sobre Mick e Marsha, a quem Marianne se referia como 'fuzzy wuzzy' em uma alusão ao seu gigantesco cabelo afro. Nada foi realmente dito entre os dois, mas enquanto os Stones foram para os Estados Unidos, ela se mudou para a casa de sua mãe, onde Marianne não ficaria inteiramente só e poderia recuperar agora um pouco de seu psique.
Leon
Leon Russell
Leon Russell

Pouco antes de outubro, Charlie e Bill participariam ainda de três faixas do disco de Leon Russell - "I Put A Spell On You", "Hurtsome Body" e "Roll Away The Stone". Nestas sessões, os dois Micks, Jagger e Taylor, visitam e acabam gravando uma faixa que ficaria fora do disco. A canção, "Get A Line On You," que seria depois rebatizada de "Shine A Light" e registrada como uma composição Jagger-Richard. A gravação contem as colaborações de Mick Jagger no vocal, Leon Russell no piano, Mick Taylor na guitarra, Bill Wyman no baixo e Charlie Watts na bateria. Leon então seria convidado a participar das sessões contribuindo em algumas faixas para o novo álbum dos Stones.
Montando uma excursão
Mick Jagger, Ronnie Schneider e Jo Bergman montam então a equipe americana para a excursão. Enquanto Jagger filmava Ned Kelly na Austrália, Schneider fechava contratos na América com gente que promove espetáculos e patrocinadores. A lista de exigências por parte dos Stones era extensa, com artigos que determinavam os tamanhos mínimos para camarins e vestiários da banda. A necessidade de um bufê completo que necessariamente incluísse uma dúzia de tipos diferentes de pratos, queijos, frutas, e carnes. A lista de bebidas incluía quantidade e marcas favoritas dos integrantes da banda, geralmente importados. O contrato estendia aos Rolling Stones uma garantia de sessenta por cento do grosso da bilheteria como pagamento mínimo caso não houvesse lotação máxima. Todas essas cláusulas elevaram os ingressos para preços absurdos, considerando os tempos, o mais barato saindo por US$7.50. Ronnie Schneider queria provar o seu valor e tudo que Mick queria, ele de uma forma ou de outra conseguia espremer e arrancar daqueles interessados a promoverem uma apresentação dos Rolling Stones em suas cidades.
Esta excursão seria totalmente diferente de qualquer coisa que os Rolling Stones já fizeram antes. Nesses três anos que a banda ficou longe dos palcos, toda a cena musical em termos de apresentações ao vivo de rock havia mudado. Até 1966, a banda tinha que tocar o mais alto possível para tentar furar o volume de gritaria e histeria do público, em grande parte meninas pré-adolescentes em alegria orgásmica. Agora, as crianças cresceram e o público, mesmo que ainda jovens, querem ouvir a música. Como músicos, os Stones tem pela primeira vez desde 1962 quando eram desconhecidos, uma oportunidade de apresentar um show musical com o foco maior na música.
Outra mudança está no fato que antes eles tocavam em lugares que apresentavam uma variação muito grande de condições. Muitas vezes conhecendo o palco e o sistema de som horas, as vezes minutos, antes da apresentação. Para evitar surpresas desagradáveis quanto a som e palco, haveria uma equipe contratada para inspecionar cada local. Os Stones também se responsabilizam pelo som e luz trazendo consigo toda uma equipe para cuidar da luz e do som de cada local. E falando de local, esta será a primeira excursão em que todos os shows serão realizados em estádios. Será uma experiência nova para a banda, que apresentará suas músicas para um número aglomerado de pessoas nunca antes vistos por eles. As lições aprendidas nesta excursão formariam os alicerces de sua futura carreira.
A equipe
Esta equipe de palco seria liderada por Chip Monck, que recentemente ganhara bastante prestígio dentro do meio pelo seu trabalho em Woodstock. Neste lendário festival, que ainda viria a oferecer um ótimo documentário cinematográfico e trilha sonora, Monck foi o grande responsável pela montagem do palco, o sistema de luz e de som. Ele também recebeu muitos elogios pela calma e psicologia empregada em momentos difíceis daquele festival, conversando com a massa humana durante o início da tempestade de chuva, mantendo todos calmos e evitando assim histeria e tumultos. Trabalhando agora para os Stones, Monck seria responsável pela luz e som em todas os estádios. Ao se encontrar pessoalmente com a banda pela primeira vez em Laurel Canyon, Monck abraça Jagger e se diz extremamente feliz em estar envolvido com a volta dos Rolling Stones tocando ao vivo. Este sentimento seria também compartilhado pela maioria das equipes que trabalhariam nesta excursão.
Ian Stewart cuidaria do transporte dos equipamentos, recebendo e despachando todo o sistema de PA mais os instrumentos da banda. Sam Cutler era o gerente da excursão, pessoa responsável por cuidar dos pormenores e eventualidades que surgissem, cuidando para que os transportes estivessem à disposição na hora combinada, e mantendo o cronograma da equipe razoavelmente dentro do horário. Assim como Mick tem um assistente particular, que é a Jo Bergman, Keith tem seu assistente particular na figura de Tony Sanchez, cuja função principal seria a de carregar sua medicação.
A equipe de divulgação da excursão, promovendo a vinda dos Rolling Stones em cada cidade antes da efetiva chegada da banda, ficou por conta do inglês David Sandison, que trabalhava para Les Perrin e Al Steckler, um americano que trabalhava para Allen Klein. Phil Kaufman seria contratado para resolver qualquer problema e cuidar de todas as necessidades dos Rolling Stones enquanto eles estivessem em Los Angeles. Pete Bennett, contratado por Klein, teria como função de empurrar o disco lançado dois meses antes, "Through The Past Darkly (Big Hits Vol.2)", a ser tocado nas rádios de todas as cidades que tivessem show dos Stones, ainda mais durante a semana em que a banda estivesse na região. O novo álbum "Let it Bleed" também receberia atenção especial assim que fosse lançado. Infelizmente ele sofreria atrasos que o fariam ser lançado somente em dezembro, quando a excursão já findara.
A firma Solters and Sabinson seria contratada para cuidar de relações públicas. Assim, acompanhando a banda pelo país estaria David Horowitz, o relações públicas representando a firma. Outros acompanhantes incluem Michael Lyndon, um jornalista do New York Times, se tornando o colunista oficial e Stanely Booth, contratado para escrever um livro que conta sobre a excursão, ao mesmo tempo que se transforma numa biografia completa da banda. Mais uma vez Mick Jagger quer estar em pé de igualdade com os Beatles, que no ano anterior haviam lançado sua "Biografia Autorizada", escrita por Hunter Davies.
Terry Reid
Terry Reid

As atrações contratadas para esquentar o público antes dos Rolling Stones tomarem o palco foram Chuck Berry, BB King, Ike & Tina Turner com sua banda King of Rhythm e o trio vocal feminino The Ikettes. Abrindo para todas essas atrações a cada noite uma novidade inglesa, o cantor de blues Terry Reid e seu trio. Embora esta não fosse a primeira vez que ele se apresenta nos Estados Unidos, tendo ele excursionado parte do país no ano anterior abrindo os shows da turnê dos Moody Blues, ele continuava efetivamente sendo um desconhecido para a maior parte do público americano.
Cogitou-se alugar um Boeing para cuidar de todo o transporte da banda no país, porém os preços foram proibitivos. A opção foi usar vôos comerciais, sempre de primeira classe, e em casos de cidades relativamente próximas, contratava-se um pequeno jato particular.
Mick Jagger, Keith Richard, Bill Wyman, Mick Taylor e Charlie Watts
Mick Jagger, Keith Richard, Bill Wyman, Mick Taylor e Charlie Watts

Quando as cidade eram bem próximas, viajariam de carro em comboio. Um contrato com a Chrysler, fábrica americana de auto- móveis, foi assinado. O acordo garante à banda e a toda equipe envolvido com os concertos carros para transporte em todo o país em troca da fábrica poder usar o nome dos Rolling Stones para seus anúncios durante o próximo ano. Para proteger esse nome, Jon Jaymes, representante da Crysler, e seu assistente Gary Stark foram designados a acompanhar a banda e evitar através de "qualquer" artifício, que a banda tivesse problemas ou incidentes que poderiam gerar publicidade negativa.
Laurel Canyon
Aterrissando finalmente em Los Angeles no dia 17 de outubro, cada membro da banda se hospeda em um lugar diferente espalhado pela cidade. Bill e Astrid preferem as mordomias do Beverley Wilshire Hotel, enquanto a família Watts alugam uma linda casa em Oriole Drive, que pertence à família DuPont. A casa também serviu como escritório para Ronnie Schneider. Mick Jagger, Mick Taylor e Keith Richards acabam se hospedando em uma suntuosa residência em Laurel Canyon, no alto de um morro acima da casa de Frank Zappa. A casa pertencera a Carmem Miranda há algumas décadas. Mais recentemente pertencera a Peter Tork dos Monkees, que a vendera para Stephen Stills, que por sua vez a alugara aos Stones por três meses. Com piscina e quadra de tênis, além de vários cômodos, a casa serve também como estúdio de ensaio e escritório geral. Inevitavelmente é em Laurel Canyon que a banda se encontra sempre antes de seguirem para qualquer atividade. Todos os Stones trazem esposas, filhos e namoradas, a única que recusa o convite é Marianne Faithfull, debilitada e magoada. Passam os dia curtindo o sol da Califórnia durante as semanas antes do inicio da excursão.
Keith Richard e Gram Parsons
Keith Richard e Gram Parsons

Gravações de overdubs e mixagens também fazem parte do pacote de afazeres. Músicos contratados em L.A. incluem Ry Cooder, Al Kooper, Nanette Newman, Merry Clayton, Byron Berline, Leon Russell e Bobby Keys. Outro que visitou a banda, embora não tenha tocado com eles, foi Gram Parsons, que passou algumas tardes inteiras com Keith Richards, jogando tênis e conversando nos jardins da casa enquanto fumavam um charuto.
A amizade entre os dois se fortifica, Parsons influenciando Richards em querer se reaproximar do country, sua paixão original antes de descobrir o blues ou o rock. Parsons, que deixara recentemente os Byrds, montava sua nova banda, The Flying Burrito Brothers.
O brilho que é lei
É difícil quase quarenta anos depois passar a idéia de como Los Angeles recebeu Mick Jagger e os Rolling Stones. Todo mundo queria saber deles. O noticiário da TV não passava um dia sem mencionar alguma coisa em relação a Mick Jagger ou os Rolling Stones. Groupies estavam sempre à disposição para ajudar em "qualquer coisa" a qualquer hora. "Fornecedores" disputavam entre si pela oportunidade de dar presentes para a banda. Tão generosos eram seus presentes, que a banda não precisou comprar absolutamente nada durante os três meses que ficaram no país.
Tinham o que queriam, quando queriam, em mais quantidade do que poderiam querer. Tudo da maior pureza, vindo diretamente do outro lado da fronteira. Para se ter uma idéia, o pessoal não recebia maconha prensada, feitas de folhas que não se sabe quando foram colidas. Não. Tampouco seu estoque havia chegado em diversos sacos de folhas soltas. A maconha entregue em Laurel Canyon chegava na forma de seis arbustos, da altura de um menino cada. Seis potes cada um com um pé de Acapulco Gold, maconha mexicana da melhor qualidade, todos guardados na cozinha.
Imagem

As groupies passavam os momentos de ócio catando folhas dos galhos e botando para secar durante o sol da manhã e tarde. Depois enrolavam os baseados e deixavam sobre a mesa para quem quisesse. Com um fumo de melhor qualidade, mesmo com o entra e sai de pessoas na casa, não havia consumo suficiente para tantos baseados, e a pilha foi crescendo. As meninas continuavam colhendo folhas de manhã e apertando baseados à noite.
Com tanta atenção dispensada sobre ele, é natural que Mick começasse a ficar muito mais seguro de si. Pode-se dizer que ele se deixou ser sugado pelo delírio e adoração. Com a chuva de xoxota, Mick voltou a brincar com suas fantasias sexuais, coisa que ele não fazia desde aqueles primeiros três anos de sucesso.
Uma de suas parceiras principais em Los Angeles seria Pamala Miller, que era conhecida como a Miss Pamela da banda GTO's - Girls Together Outrageously. Mas como tudo que vêm fácil e em excesso, a magia da novidade se desfez rapidamente. Logo ele estava entediado e passou a recorrer cada vez mais à tática de seu amigo e sócio Keith Richards, ou seja, a de se envolver com algo que o distrai sem o complicado envolvimento sentimental. Mick passou a preferir se distrair cheirando uma maior quantidade de cocaína.
Fazendo um uso cada vez mais freqüente de pó, egos inflaram rapidamente. Percebe-se entre aqueles que trabalham diretamente com Jagger no escritório dos Rolling Stones, que ele está mudando, agora dificilmente trata as coisas de modo casual. Se antes havia o Mick Jagger superstar para o grande público e o Mick Jagger companheiro brincalhão e um pouco mais desleixado no escritório, este segundo personagem deixou de exigir. Mick passou a acreditar no estrelismo que o grande público fazia questão de oferecer-lhe, e vai se transformando cada vez mais em uma variação do seu personagem Turner no filme "Performance".
Na noite
Chuck Berry
Chuck Berry

Certa noite depois do jantar, vão todos assistir um show do Chuck Berry no Whiskey A-Go-Go. Os donos da casa imediatamente abrem espaço e esvaziam as melhores mesas para Mick Jagger e seus amigos. A banda que acompanha Chuck não recebe maiores considerações, porém os membros dos Stones ficam sempre felizes em ouvir o velho mestre. Dali seguem para The Corral Club em Topanga Canyon, onde ficaram de ir prestigiar o show dos Flying Burrito Brothers. Musicalmente o show dos Flying Burritos agradou mais, particularmente para Keith, que está já algum tempo namorando novamente o country americano. Junto com a turma dos Stones na mesa estão Miss Christine e Miss Mercy, ambas da banda GTO, como também Bruce Johnston dos Beach Boys. Em outra noite foram assistir Taj Mahal em Ash Grove.
Mario
Marianne não iria ficar nessa de morar com mamãe e filhinho por muito tempo. Uma vez se sentindo novamente forte e refeita, ela ansiava por voltar a freqüentar lugares e conhecer gente. Ela já concluira que seu casamento com Mick acabara e que não o amava mais. Passou então a telefonar para os velhos amigos e marcar programas. Certa noite, em uma festa na casa de Robert Frazer, Anita apresenta Mario Schiffano, já pensando na propensão deles de fazerem travessuras juntos.
Mario Schifano
Mario Schifano

Anita diria na década de noventa, sobre o episódio, que Marianne estava mesmo precisando de um romance fora do matrimônio para se sentir viva novamente. Anita torçe para que Marianne faça bom proveito das habilidades sexuais de Mario, a quem Anita já testara quando eram namorados em 1965, antes dela conhecer Brian Jones. Marianne ficou doida para transar com ele, e quando Mario a convidou, ela foi ao delírio. Foi a melhor transa que Marianne teve em muito tempo, contaria ela. Todavia, para a surpressa de Anita, Marianne se apaixona. Seduzida pelo charme intelectual deste Romano, adorou ser desejada novamente e entregou não só o sexo mas também o coração. Mario, por sua vez, também se apaixonou por esta mulher ainda muito bonita, além de extremamente inteligente e intelectualizada.
O casal foi então passar uma temporada em Roma, onde as noites de luar eram melhor apreciadas à base de demorados calistênicos sexuais, intercalados com papos inteligentes. A disposição é re-alimentada pelo uso de cocaína, a droga preferida do Mario.
Para infelicidade do casal, ainda no aeroporto de Londres, alguns jornalistas reconhecem Marianne e tentam entrevistá-la. Marianne falou provocativamente que estava à caminho da Itália porquê encontrara finalmente o amor de sua vida. Uma foto sua acabou aparecendo no jornal ao lado de uma nota comentando sua declaração. Ao ler isto em Los Angeles, Mick têm sua vaidade extremamente ferida. Se ele é o rei absoluto de L.A., esta notícia nos jornais fere sua imagem e o deixa à mercê do ridículo. Ele manda alguém em Londres procurar por ela em Roma e trazê-la para Los Angeles imediatamente.
O reencontro
Quando Marianne aterrisa em Los Angeles, ela está magérrima. Phil Kaufman, que lhe aguarda no aeroporto, opta por levá-la primeiro para um Spa. Bem à moda de Los Angeles, lhe é servida uma série de sucos de frutas, vitaminas, massagens e medicação que reativam seu sistema até ela ficar mais vistosa e portanto em condições para ser apresentada a Mick. O reencontro não ajuda em nada o relacionamento do casal. Jagger está ocupado demais tentando terminar as gravações e mixagem do disco novo e cuidando para que tudo em relação à excursão que iria começar em outubro estivesse em ordem. Além do mais, ele se sente traído por ela. O instante não lhe é propício para tentar arquitetar uma reconciliação.
Este é um momento marcante na vida de Mick Jagger. Ele realmente amava Marianne Faithfull, apesar do limitado diálogo sobre sentimentos próprios que sofria o relacionamento deste casal. Mick sempre procurou protegê-la e sempre a incentivou nas coisas artísticas que ela quisesse fazer. O ato de Marianne fugir com um outro homem, fazendo questão de contar para os jornais, é um sinal claro de que ela tentava feri-lo profissionalmente, denegrindo sua imagem. Mesmo se escondendo atrás de seu persona Mick Jagger o estrela, Mick é sensivelmente afetado pela traição de Marianne. De fato, nunca mais em sua vida ele iria amar alguém sem ter um pé atrás e certas reservas. Esta autodefesa se iniciaria dentro do próprio relacionamento como a Marianne. No fundo Mick a chamou apenas para poder ficar de olho nela, ou melhor, ter o seu pessoal a vigiando. Desta forma, Marianne não aparece nos jornais com outros homens e ele não fica com cara de tacho.
Passeios e festas
Não demorou muito para Marianne perceber a total disposição da cidade de se jogar aos pés de Mick Jagger. Certa noite, foram todos para um clube tomar vinho gelado e absorver a noite de Los Angeles. Chegaram no Roxy e encontraram a casa em um agito só, a banda tocando, pessoas dançando e todo mundo conversando ao mesmo tempo. Bastou reconhecer Jagger no grupo de pessoas que acabara de entrar que um silêncio passou a imperar sobre o lugar. O povo parara de conversar, de dançar - até a banda no palco interrompera seu número! Todos hipnotizados pela curiosidade e admiração. Por todo o recinto só havia uma coisa na mente de todos: "Mick Jagger acabara de chegar". Um silêncio gélido e nervoso tomou conta. Jagger então quebra o gelo ao agradecer fazendo um pequeno gesto de reverência tipicamente feminino, fingindo pegar as pontas de uma saia imaginária com os dedos, dobrando levemente os joelhos enquanto curva a cabeça para frente. Todos começam a rir, o ambiente relaxa novamente, e Jagger e seus acompanhantes foram logo levados à suas mesas.
The Joshua Tree
Enquanto Mick e os Stones trabalhavam, Marianne passava o seu tempo na companhia das amigas Pamela Mayall e Andee Cohen. Geralmente as manhãs eram na piscina cheirando cocaína. À tarde, quando Anita acordava, as duas saíam de carro com chofer particular para rodarem pela cidade sem destino certo. Anita invariavelmente arrumava um ácido e as duas mulheres voltavam aos velhos prazeres.
Marianne em Joshua Tree
Marianne em Joshua Tree

Phil Kaufman e Gram Parsons levaram a turma em um passeio para conhecer o deserto de Mojave. Um grupo composto pelos amigos Michael Cooper, Tony Sanchez, Mick Jagger, Keith Richards, Anita Pallenberg, Marianne Faithfull, e mais algumas pessoas foram levados à uma área do deserto chamada The Joshua Tree National Park. Uma vez lá, ouvindo estórias sobre índios e seus rituais, a turma toda começou a mastigar mescalina no sol quente. Cooper tirou várias fotos do local até o pôr do sol. Fizeram uma fogueira, beberam vinho e contaram mais estórias folclóricas sobre índios e aventureiros, até que começaram a ouvir os uivos dos coiotes. Foi o sinal para os ingleses resolveram que era hora de ir embora.
Não muito depois disso, Anita e Marianne voltariam para Londres, enquanto Rose, a namorada de Mick Taylor, Astrid, namorada de Bill Wyman e Shirley, esposa de Charlie Watts, ficariam e viajariam com a banda. Mick passaria a ter um caso mais fixo com Pamela Miller, groupie -mor. Keith também se engajou em um caso com uma jovem negra chamada Emmaretta Marks. A dupla Jagger e Richards mantém esses casos apenas enquanto estivessem estacionados na Califórnia. Marianne retornaria à Roma e aos braços de Mario enquanto Anita, entediada em casa com o recém nascido Marlon, passaria a ter um caso sério com heroína.
Aniversário do Bill
No dia 24 de outubro, exatos dez dias antes do primeiro show da excursão, comemorou-se o aniversário de Bill Wyman. A festa, realizada na casa em Laurel Canyon, foi bem ao estilo dos Rolling Stones, e pouco ao estilo do Bill. Em clima de festa surpresa, Bill e Astrid chegam na casa cheia de gente da comitiva Rolling Stones, além de amigos de Mick, Keith e groupies que normalmente freqüentam o lugar. Foram as groupies, aliás, que ficaram com a tarefa de fazer o bolo de aniversario, na verdade seis bolos de aproximadamente cinco quilos cada um.
Bill iria passar mal depois. Ninguém lhe avisou, mas os seis bolos eram basicamente de maconha. Apenas uma brincadeira entre os rapazes que queriam ver o caretão Wyman chapado. Bill, zonzo e sem total discernimento do que haviam aprontado, está constantemente indo ao banheiro para jogar água fria no rosto. Inevitavelmente ele se retira cedo de "sua" festa, sendo levado para casa por Ian Stewart, e sob os cuidados de Astrid. Na viagem de volta, Bill entra em pânico dentro do carro em crise de claustrofobia. Stewart corre desesperado pelas ruas americanas tentando chegar o mais rápido possível no hotel para que Bill possa se sentir novamente confortável. Este incidente seria significativo para aumentar ainda mais a relação de desconfiança e isolamento entre Bill Wyman e a dupla Jagger e Richards.
Os ensaios
Neste mês de outubro, entre banhos de sol e piscina, o album "Let it Bleed" estava gravado e mixado, todos os locais onde os Stones iriam se apresentar já devidamente conferidos por Chip Monck e Ian Stewart, e a banda já havia feito inúmeras entrevistas coletivas e sessões fotográficas visando promover tanto o disco como os shows.
Imagem

Se todos os aspectos da excursão estavam sendo observados com rigor, são nos ensaios que a banda se mostra mais indisciplinada. Ensaios estes que eram marcados para iniciar às sete da noite, porém invariavelmente Keith é o último a ficar pronto. Quando sai para jantar, às vezes o guitarrista só retornaria por volta de uma da manhã, obrigando todos a esperar. E quando chega, não têm pressa. Acende primeiro um baseado enquanto afina sua guitarra e ninguém reclama, até porque, não adiantaria nada.
No meio do ensaio Keith vai até a cozinha, vasculhando onde ele havia malocado uma latinha de se guardar filme (hoje são de plástico), e com o canudinho que fica sempre pendurado ao redor de seu pescoço, dá uma rápida cafungada. Alimenta então a outra narina com sua farinha eletrizante, fecha a latinha, guarda, e volta para o ensaio que só vai terminar por volta de sete da manhã. O dia seguinte é folga porque todo mundo está "gasto" até o osso. Os ensaios passam a ser uma rotina noturna repetida a cada dois dias.
Imagem

O visto de trabalho ainda não saiu e portanto não poderiam estar dentro de um estúdio, seja trabalhando no disco ou ensaiando ainda para o show. A situação de ilegalidade provoca a sensação de bandidagem e oposição à lei que tanto agrada Keith. Sentado num canto do estúdio, com a guitarra no colo, segura com uma mão o braço do seu instrumento, enquanto na outra prende entre os dedos um baseado da grossura de um charuto Havana. Vestido em uma camisa de seda rosa com um pequeno rasgo, um casaco de couro ultra surrado, calças pretas bem apertadas e para completar, cinto e botas feitas de couro de cobra. Sua corrente com um canudinho dourado assemelhando-se a um pau de bambu, pendurada ao redor do pescoço e um brinco com um dente canino como penduricalho na orelha esquerda. Esta é a imagem de Keith Richards que sorri mostrando rugas já visíveis e dentes escurecidos, enquanto no alto falante em um volume altíssimo toca "Midnight Rambler".
Acomodando as diferenças
Lentamente a banda foi montando um repertório dando atenção maior para as músicas do novo disco e do disco anterior, somando este material com alguns números que sempre agradam. Percebeu-se logo que tomaria muito tempo retrabalhar o material antigo. Quando os Stones contavam com Brian Jones, as duas guitarras complementavam-se uma com a outra. Brian tocava pensando no arranjo em sua totalidade, enquanto Keith podia sobressair em seus solos. Ian Stewart certa vez comparou as guitarras de Brian e Keith como sendo a mão direita e a esquerda de uma pessoa. Com Mick Taylor, todo o raciocínio teria que ser mudado. Quando Brian não estava mais produzindo como músico, e a banda não podia mais contar com ele, Keith assumiu a tarefa. No processo, ele cresceu como instrumentista, bolando e executando as partes da guitarra em praticamente todas as canções. Tornou-se mais fácil e prático executar este material mais recente do que mexer muito com as musicas mais antigas e memoráveis dos tempos de Brian.
Imagem

Mick e Keith apostaram também que, pelo fato de terem gravados três álbuns nesses três anos, havia muita coisa que nunca fora tocado ao vivo antes. Portanto este material seria em si uma atração. Desta maneira, o repertório passou a ser predominantemente em torno dos álbuns "Beggar's Banquet" e "Let it Bleed", com quatro canções de cada. Os dois últimos compactos "Honky Tonk Woman" e "Jumpin' Jack Flash", a eterna "Satisfaction" e dois números de Chuck Berry, que é repertório obrigatório saber tocar para qualquer um que pretende ser roqueiro.
Após muito deliberarem, acabam optando por "Gimmie Shelter", "Carol", "Sympathy For The Devil", "Stray Cat Blues" e "Midnight Rambler" entre os números mais movimentados. Depois abaixam o volume e a adrenalina com uma seqüência que inclui "Love In Vain", "I'm Free" e "Let It Bleed".
Terminado o ensaio, Keith comenta que sente falta de algo como "Under My Thumb" e Mick concorda com a sugestão. Mick, vendo Bill de calças brancas distraído, aproveita para lhe dar um chute no traseiro propositadamente marcando suas calças com o preto da sola de seu sapato. Bill revida o chute mas Mick de calças pretas apenas retruca "Vai fundo querido. Pode colocar lá dentro quando quiser" deixando Bill um pouco desconcertado e sem saber exatamente o que responder de volta.

Book Of Dowth - Suidakra


Nada mal... Dez álbuns em 16 anos de existência provam que o Suidakra consegue manter uma regularidade invejável no que diz respeito a seus lançamentos. E, mesmo que o mais experimental "Command To Charge" (05) tenha dividido as opiniões mundo afora, é indiscutível que este conjunto esteja entre os melhores na proposta em fundir Death Metal Melódico com sonoridades folclóricas e celtas.



Imagem

Agora, sob a tutela da AFM Records, está chegando ao mercado "Book Of Dowth", um novo disco que mostra toda a força e beleza daquelas melodias que os alemães invariavelmente oferecem, com tanta facilidade, ao mundo. O grande lance que envolve a música do Suidakra é a capacidade e eficiência em proporcionar uma emoção estimulante em composições que tendem a ser bem simples, mesmo que seus integrantes sejam meticulosos no momento de estruturar os instrumentos elétricos e acústicos, como gaita de foles, flautas, violões e violinos.
Aliado à maleabilidade e equilíbrio proporcionado por tantosinstrumentos  díspares, a capacidade em transferir linhas vocais limpas aos rosnados ameaçadores é de muito bom gosto, com refrões excelentes, combinando e engrandecendo uma sonoridade que já é naturalmente bombástica. Ainda que a audição seja deliciosa e muito coerente, canções como "Dowth 2059", "Battle-Cairns", "Mag Mell" e a majestosa e triste "Biróg's Oath", com suas vocalizações femininas e atrativos acústicos, são alguns dos destaques imediatos.
Tendo como conceito uma história manjada, mas inspirada na antiga mitologia celta (é claro!), onde uma obscura raça de seres denominados 'Fomor' entra em guerra contra a raça humana, "Book Of Dowth" é um disco que possui uma fórmula experimentada, testada e aprovada, sem nenhuma necessidade de inovação. Certamente este é um produto importado e de preço considerável, mas que merece ser conferido não somente pelos fãs do estilo, e sim pelos das mais variadas vertentes metálicas.
Contato:

Formação:
Arkadius 'Akki' Antonik - voz, guitarra e teclados
Marcus Riewaldt - baixo
Lars Wehner - bateria

Suidakra - Book Of Dowth
(2011 / AFM Records - importado)

01. Over Nine Waves
02. Dowth 2059
03. Battle-Cairns
04. Biróg's Oath
05. Mag Mell
06. The Dark Mound
07. Balor
08. Stone Of The Seven Suns
09. Fury Fomoraigh
10. Otherworlds Collide

Wicked Testimonies - Thy Antichrist


Faz tempos que os fãs do Black Metal dos anos 90 sentem falta de bandas de potencial, que se mantenham fiéis aos padrões estabelecidos na época, sem muitas inovações e que não se adequem às tendências mais modernas. E é para estes que este que vos escreve diz algo de assombroso: basta parar de olhar para fora da América Latina e encontrará muitas bandas com firmes convicções sonoras, visuais e ideológicas, como PATRIA, e o THY ANTICHRIST, foco desta resenha.



Imagem

Vindos da Colômbia, mais especificamente de Medellín, esses veteranos (estão na ativa desde 1998) ainda são bem pouco conhecidos por estas bandas, mas merecem respeito e uma ouvida muito cuidadosa por parte dos fãs do gênero, especialmente neste excelente ‘Wicked Testimonies’, que é originalmente de 2004, mas que nos chega agora em um relançamento de 2009, com algumas ótimas faixas extras.
A produção visual ficou muito legal e acima da média, e a parte sonora poderia ser um pouco melhor, embora o poder de fogo musical da banda não fique oculto por este motivo, mas que pelo contrário, se torna ainda mais forte. É das adversidades que surgem os grandes...
A banda trilha algo entre o EMPEROR da fase ‘In the Nightside Eclipse’, umas pitadas de MAYHEM antigo, um dedinho de DARKTHRONE aqui e ali, mas muita personalidade e algumas melodias soturnas bem feitas e encaixadas. Não dá para ouvir este CD e ficar indiferente, pois ou se ama ou se odeia, e este que vos escreve fica no primeiro grupo.
Guitarras bem secas e insanas, com solos e harmonias bem feitas e bem naquele clima frio e tenebroso dos anos de 91 a 94, baixo pulsante e com vários ótimos momentos, e vocais absurdamente gritados e urrados, mas com ótima interpretação. E creiam: não estou exagerando.
O CD é nivelado por cima, mas não se pode deixar de destacar as ótimas ‘Pseudo Gods’, esta cheia de variações de andamentos, indo da velocidade à cadência sem pudor, mas sem perder o peso; ‘Over the Humanity in Ruins’, bem pesada e climática; a tétrica ‘Destruction Times’, ‘The Invocation – Transfiguration’, onde vêm à mente alguns momentos do inspirado debut do MYSTERIIS; ‘Satan's Black Light’, que apesar de curta, é um delírio só, uma autêntica pedrada à lá MAYHEM ‘old’; ‘6 6 6’, extremamente mórbida devido às melodias gélidas; ‘Satan Inside Me’, e tome peso e velocidade moderada; e ‘Where is Your God?’, que é uma faixa excelente e bem marcante, tanto que não dá para esquecer os ótimos riffs de guitarra ou os vocais insanos que deixam o ouvinte em êxtase, fora as variações de andamento.
Esperamos que eles lancem logo mais um CD, que seja lançado logo por aqui, e que agraciem o Brasil com alguns shows, pois estes ‘hermanos’ nossos tem muito a mostrar para os fãs do estilo por aqui.
Cheio de vida e energia, e extremamente recomendado, e sem medo de ser feliz.
Imagem
Formação:
Antichrist 666 - Vocais
Xekthor - Guitarras
T. Shalsgeroth - Baixo

Tracklist:
01. Lo Temporal
02. The Beast is the Chaos
03. Pseudo Gods
04. Over the Humanity in Ruins
05. Destruction Times
06. Transmigraciones
07. First Enochian Key Recital
08. The Invocation - Transfiguration
09. Satan's Black Light
10. 6 6 6
11. Destruction Times (Live 2008)
12. Over the Humanity in Ruins (Live 2008)
13. Satan Inside of Me (Remake 2009)
14. Where is your God?
15. Epitaph of my Death

Contatos: