12 de abril de 2011

Parte 26 - Hyde Park


Convites Para Guitarristas
A máquina dos Stones se move sempre para frente, e Brian Jones está ficando cada vez mais para trás. Discussões se iniciam entre os membros para saber quem iria substituí-lo. Bill Wyman sugere Pete Frampton, um jovem virtuoso na guitarra com quem já trabalhara, e garante, é capaz de preencher bem o papel. Frampton, que havia encontrado relativo sucesso teen com a banda The Herd entre ‘67 e ‘68, montara recentemente com Steve Marriot, o Humble Pie, uma banda que ainda iria levar algum tempo antes de estourar.
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A primeira opção que vem à mente de Mick e Keith seria convidar Eric Clapton. Porém no tempo entre dezembro e abril, Clapton, ex-guitarrista do Cream, está agora montando um outro grupo chamado Blind Faith. Este supergrupo encabeçado por Eric Clapton e Steve Winwood está gravando o seu primeiro álbum no Olympic Studio com o engenheiro Glyn Johns. Quando o convite lhe foi feito, Clapton confessou que não lhe agradava a idéia de entrar no lugar de Brian Jones. Além do mais, a perspectiva de viver com a constante gritaria e idolatria que acompanha os Rolling Stones também lhe desestimulava.
Lembraram então que o Small Faces estava ensaiando em seu estúdio e resolvem sondar Ron Wood, que entrara recentemente na banda após a saída de Steve Marriot. Quando o telefone tocou no estúdio, foi Ronnie Lane quem interceptou a ligação. Jagger explica a sua intenção de sondar o interesse de Wood de se juntar aos Rolling Stones. Lane lhe informa então que Ronnie não estaria interessado, encurtando logo a conversa e desligando em seguida. Levaria outros cinco anos para Ron Wood ficar sabendo desta história. É dado a Ian Stewart o crédito de sugerir trazer Mick Taylor, jovem guitarrista virtuoso atualmente no John Mayall & the Bluesbreakers. Embora Jagger não conhecesse o rapaz, contempla positivamente o argumento de que se Mick Taylor está tocando para John Mayall a dois anos, ele só pode ser bom de blues.
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Mick Taylor
Nascido Michael Kevin Taylor em 17 de janeiro de 1949, na cidade de Welwyn Garden em Hertfordshire, Inglaterra. Vive a maior parte de sua infância e adolescência em Hatfield, subúrbio de Londres. Incentivado pelo seu tio, aos nove anos começa a aprender a tocar o violão. Seus país, vendo seu interesse e dedicação para com o instrumento, o levam para assistir o show de Bill Haley & the Comets quando estes excursionavam pela Inglaterra. Pronto; Mick Taylor estava viciado em rock 'n' roll.
The Juniors
Sua desenvoltura no instrumento logo mostrou aos seus pais que o menino poderia se tornar um instrumentista prodigioso. Em 1964, aos dezesseis anos de idade, formou sua primeira banda, chamada the Juniors. Tipica banda de bairro, the Juniors ensaiavam em casa sem platéia, mais do que tocavam para algum público. Porém o bom gosto e pureza de som que o jovem Taylor tirava, lhe conferia certo respeito entre os colegas da escola. Talvez ficasse só nisso se não fosse o destino a intervir.
A História da Descoberta
No verão de '65, Eric Clapton deixou o grupo John Mayall & the Bluesbreakers sem aviso prévio, seguindo com mais alguns músicos em um retiro repentino na Grécia. John Mayall somente ficou sabendo que Clapton não iria aparecer já estando no local da apresentação, situado num clube em Hatfield. Mick Taylor, presente nesta noite apenas como espectador, é convencido pela insistência dos amigos, a contar para Mayall que ele conhecia bem o seu repertório. Sem opções, tendo que começar um show sem guitarrista, Mayall deixa o jovem tocar com eles nesta noite, sem compromisso. Não demorou muito para Mayall ficar impressionado com a sua boa sorte. A lenda diz que Mick Taylor fez queixos caírem nesta noite. Não só do público mas dos demais músicos dos Bluesbreakers. Contudo, tímido e calado como era, Mick Taylor foi embora sem sequer deixar um telefone de contato, caso Mayall quisesse novamente chamá-lo.
John Mayall acabaria obrigado a passar o verão apresentando praticamente um guitarrista novo por noite. Destes, quem acabou ficando mais tempo foi Jeff Kribnett. Peter Green depois o substituiu dias antes de Clapton voltar e reassumir seu posto como guitarrista de Mayall. Diferente de Taylor, Green deixaria o seu telefone de contato e acabaria assumindo oficialmente como guitarrista dos Bluesbreakers depois da derradeira saída de Clapton em 1966.
Gods
Neste meio tempo, Mick Taylor deixaria a escola para se dedicar exclusivamente a música, muito embora a realidade o obrigasse a trabalhar alguns meses como entalhador. Montaria sua segunda banda, Gods, cuja formação incluía os irmãos John e Brian Glasscock, respectivamente baixo e bateria, mais Ken Hensley nos teclados e vocais. Extremamente introvertido e sem muita auto-confiança, apesar de já estar tocando muito bem, havia noites que Taylor não conseguia entrar com a banda para tocar, apavorado com o público, em clara exibição de medo de palco. The Gods em muitas ocasiões dividiram o palco com The Thunderbirds, primeira banda de Ron Wood, que depois seria rebatizado de The Birds. Os dois guitarristas acabariam formando uma boa amizade neste período, Wood maravilhado pelo virtuosismo demonstrado por Mick Taylor, aparentemente sem muito esforço. Curiosamente, em noites de medo de palco, Taylor pedia a Ron Wood para tocar em seu lugar.
Gods chegou a gravar um compacto pelo selo Pye, continuando juntos até 1967, quando Taylor deixou o grupo para se juntar definitivamente aos Bluesbreakers. Peter Green, que a esta altura era o guitarrista fixo de John Mayall, seguira com Mick Fleetwood para formarem “Peter Green’s Fleetwood Mac”, mais tarde simplificado para apenas “Fleetwood Mac”. John Mayall se lembrou do pequeno notável que o tirou do sufoco naquela primeira noite sem Clapton e conclui valer a pena o trabalho de achá-lo. Em junho de 1967, telefonou para Mick Taylor e sem muita cerimônia o convidou para assumir a guitarra dos Bluesbreakers que estavam se preparando para excursionar pela Europa.
Embora Gods acabe após a saída de Mick Taylor, Ken Hensley voltaria a montá-la três meses depois com uma formação que iria incluir Lee Kirkland, Paul Newton e depois Greg Lake. Por último, John Glasscock voltaria para assumir o baixo e a banda gravaria um álbum intitulado “Genesis” antes de finalmente encerrar atividades. Paul Newton se juntaria ao grupo Spice, que depois da vinda de Ken Hensley, passaria a se chamar Uriah Heep. Lee Kirkland mais tarde iria compor o que é considerado como a versão clássica desta banda. John Glasscock iria participar da banda Chicken Shack e depois Jethro Tull. Greg Lake iria ajudar a formar a lendária banda progressiva King Crimson. Depois, formaria um dos mais venerados trios do rock progressivo, conhecidos internacionalmente como Emerson, Lake & Palmer.
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The Bluesbreakers
The Bluesbreakers seguiram então em excursão pela Europa. De volta em Londres gravam o album “Crusade”. Este é o primeiro disco que Mick Taylor, então com 19 anos de idade, grava, exceção feita ao seu compacto com o Gods. Esta é a primeira vez que John Mayall cria para os Bluesbreakers uma formação com mais de quatro músicos. Estão como membros oficiais desta banda, John Mayall nos teclados, gaita e vocais, acompanhado por Mick Taylor na guitarra, John McVie no baixo, e na bateria, Keef Hartley, que tocara em Liverpool com Rory Storm & the Hurricanes após a saída do Ringo Starr e também com The Artwoods, banda de Art Wood, irmão de Ron Wood; Chris Mercer e Rif Kant, tocando saxofone durante o primeiro mês, mais Terry Edmonds tocando uma guitarra rítmica.
Voltam à estrada, John Mayall fazendo agora sua primeira excursão americana, o que reforça as vendas do disco “Crusade”. Com a boa promoção trazida pelos shows, as vendas ficam excepcionalmente altas para os patamares da banda. Este é o primeiro disco dos Bluesbreakers a realmente vender na América. Com isto, inadvertidamente, John Mayall acaba contribuindo para reaquecer a cena de blues dentro dos Estados Unidos, especialmente na California. Ao final desta excursão Mick Taylor já era um astro, respeitado e admirado por critica e público dentro do circuito de blues.
John Mayall & the Bluesbreakers, 1967
John Mayall & the Bluesbreakers, 1967

Não demorou muito e a banda passou por modificações em sua formação. John McVie deixa o grupo para se juntar ao Fleetwood Mac, e é substituído por uma série de baixistas, o primeiro deles sendo Paul Williams, ex-Zoot Money. Rif Kant é substituído por Dick Hecstall-Smith, ex- Blues Incorporated e Graham Bond Organization. Entra também o trumpetista Henry Lowther.
No verão de 1968, começavam a gravar outro album, “Bare Wire”, já com Tony Reeves no baixo e Jon Hisman, outro ex- membro do Graham Bond Organization, na bateria. Com esta formação fizeram uma segunda excursão Americana ainda mais rentável que a primeira. Nela, em sua apresentação em San Francisco, tocam com Albert King em um show antológico. Depois desta excursão, como é de costume nos Bluesbreakers, a formação não permaneceria intacta por muito tempo. Uma pequena insurreição ocorreu e Hiseman, Reeves e Smith deixariam o grupo para formarem o Colosseum. John Mayall despede o resto e só mantém Mick Taylor. Retorna a uma formação de quarteto com o novato Colin Allen na bateria e Steve Thompson, ex- Georgie Fame & the Blue Flames, no baixo. Ele se muda em seguida para Los Angeles, onde grava o disco “John Mayall - Blues From Laurel Canyon”. Esta formação duraria outro ano quando em maio de 1969, Mick Jagger liga para John Mayall e fala de seu interesse em levar o guitarrista. Mayall desistiria de formar bandas, passando a contratar músicos de acordo com seus projetos. Em tempo ele também iria parar de usar o nome Bluesbreakers.
The Rolling Stones
Mick Taylor chegou no Olympic Studios naquela tarde de primeiro de junho, segundo ele, pensando que estava sendo contratado como sessionman. Enquanto os Bluesbreakers não estão gravando nem excursionando, Mick estava na Inglaterra fazendo diversas gravações para outros artistas. Ele havia a pouco feito algumas gravações com Donavan quando foi chamado para ajudar a concluir uma faixa para os Stones. O album, “Let it Bleed” estava quase pronto e Taylor começou a estranhar quando viu a banda inteira montada no estúdio. Afinal, ele não iria só gravar sua guitarra em uma ou outra faixa?
Os Stones fizeram um pequeno “jam session” onde improvisaram sobre um tema de blues, deixando Mick Taylor livre para solar a vontade e permitindo que os demais, principalmente Keith, analisar melhor ele como músico. Depois levaram “Live With Me” até que finalmente mandaram colocar a fita rolo na máquina e mostraram para Taylor a canção “Honky Tonk Woman”. A canção composta originalmente em Matão, é um country, mas Taylor coloca uma guitarra tão venenosa, que inspira uma levada mais roqueira. Todos se entreolharam e começaram a jogar idéias uns para os outros. Em minutos repensam o arranjo e regravam a canção do zero. A versão antiga passa a ser chamada de "Country Honk". Depois, empolgados que estavam, invadem a madrugada a dentro mixando. Ao final da sessão, convidam Mick Taylor a entrar na banda. Taylor zonzo de cansaço e pego totalmente desprevenido, agradece, mas pede um tempo para pensar. Depois de conversar com John Mayall, procura Jagger e confirma sua adesão.
Atividades Com Keith
Em abril, durante a primavera, Mick, Keith e Anita foram para Roma onde participaram do filme "Umono Non Umano!" dirigido pelo cineasta Mario Schifano, um italiano milionário, meio pintor, meio cineasta, que por ser podre de rico, na prática não precisa trabalhar para se sustentar. Ele e Anita eram namorados antes dela conhecer Brian Jones e se mudar para Inglaterra. Anita foi creditada como co-produtora da película e o filme oferece uma cena de Mick Jagger cantando e dançando para uma gravação de Street Fighting Man. Keith Richards participa da trilha sonora tocando moog durante um tema instrumental. O filme só seria lançado em 1971, porém em novembro de 1969, enquanto os Stones estão excursionando na América, dá-se a premiere do filme "Michael Kolhaas - der Rebell". Outro filme dirigido por Volker Schlondorff, tendo Anita Pallenberg como atriz principal. Desta vez, há uma cena com Keith Richards como um extra.
Keith e Anita em Roma
Keith e Anita em Roma

Voltando de Roma, Keith e Anita entram em uma discussão durante o vôo. Emputecido, Keith arrasta Anita para dentro do banheiro, em meio aos olhares dos demais passageiros da primeira classe. Longe de por fim à discussão, o atrito só aumentou dentro do pequeno cubículo que é um banheiro de avião. Keith e Anita trocam tapas, com a porta trancada, com as aeromoças e comandantes de bordo tendo que intervir e retirá-los de lá. O casal acabou na lista negra da Alitalia, banidos pela companhia de voar novamente em seus aeroplanos.
Mal Keith chega de Roma e é convidado por George Harrison a participar de uma seção de gravação que ele está produzindo para Billy Preston. Assim, Keith passa um final de tarde e noite gravando as canções "Do What You Want" e "That's The Way God Planned It". A banda montada para estas gravações tem como escrete, além de Billy Preston nos teclados e vocais, a dupla Eric Clapton e George Harrison nas guitarras, Keith Richards no baixo, Ginger Baker na bateria e a cantora Doris Troy ajudando nos backing vocals.
O Anúncio Oficial
Mick Taylor foi inicialmente contratado como guitarrista da banda, recebendo um caprichoso salário de £150 por semana. Dentro dos próximos meses ele seria confirmado como membro efetivo da banda, passando então a ter direito a um quinto do que a banda faturar com shows e vendas de discos. Dia 13 de junho, com presença da banda inteira, foi feito um anúncio oficial para a imprensa. Para muitos, foi a primeira vez que viram Mick Taylor que era conhecido apenas entre os aficionados em blues. Neste dia, foi também anunciado o show gratuito no Hyde Park no dia 5 de julho.
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Para os reporters, Taylor falou de seu trabalho no Bluesbreakers e que acredita que, nos Rolling Stones, haveria espaço para solos tanto dele quanto de Keith. Mick Taylor também comenta que ele sempre compôs músicas, embora não encontrasse espaço para suas canções na banda de Mayall. Ele esperava que nos Rolling Stones, suas composições teriam mais sorte.
"Eu não estou nervoso quanto a tocar com os Rolling Stones. Só estou tentando me acostumar com toda a publicidade" diria. Entre as muitas perguntas pessoais feitas, Mick Taylor respondeu que não come carne, nem consome alcool. Ele bebe apenas chá. Keith espantando, precisou depois confirmar esta declaração. "Aquilo que você falou sobre carne e chá é mentira, não é?", perguntou com uma expressão entre incrédulo e nojo. "É verdade", respondeu Mick com um sorriso. "Se bem que eu não recusaria um baseado se você quiser me oferecer um."
Ensaiando Para o Show
Estando a banda sem apresentar um show completo ao vivo desde 1966, haveria necessidade de muito ensaio nestas três semanas que os separavam do show. Jagger organizou o evento para render à banda um filme, já vendo que o "Rock and Roll Circus" como um projeto caducado e extinto. Os Stones alugaram o Apple Studio em Savile Row como local para ensaios. Lá, testaram alguns números e lentamente moldaram um repertório para a apresentação no parque.
Com o anúncio da morte de Brian Jones, toda a alegria da volta aos palcos tomou contornos mais sombrios. A banda se reuniu no escritório no dia 3, ninguém querendo ficar sozinho em casa, todos instintivamente querendo ficar perto um do outro. Não tendo convívio com Brian, Mick Taylor estava lá porque a agenda do dia exigia. Eles tinham fotos de publicidade para tirar além de uma apresentação em um programa de televisão. Mas Taylor era sensível o suficiente para entender o lamento e tristeza das pessoas presentes. Charlie, Bill, e Stu ficaram juntos sentados tristes, ocasionalmente lembrando passagens pitorescas da vida ou do caráter de Brian. Shirley Arnaldo, chefe do fã clube e primeira a chegar no escritório no dia estava com eles. Mick e Keith estavam em outra sala, discutindo negócios com Allen Klein e Les Perrin.
No Escritório
Ann Wohlin, namorada de Brian e presente ao acidente, chegou mais tarde, trazida por Tom Keylock. Ela conversou com Les Perrin e depois saiu, não podendo mais voltar para Cotchford Farm onde morava com Brian. Mick e Keith já estavam reunidos com os demais e começaram a tentar decidir o que iriam fazer em relação ao show em Hyde Park a ser realizado em dois dias. "Naturalmente vamos ter que cancelar" decreta Mick Jagger. "Como fazê-lo"? É creditada a Charlie Watts a repentina sugestão, "Poderíamos fazer o show como uma homenagem ao Brian". A idéia é imediatamente aceita por todos.
Mick Jagger então dá inicio à máquina de publicidade anunciando aos quatro ventos que o show no Hyde Park seria realizado agora como um memorial a Brian Jones. "Entendo como algumas pessoas vão se sentir, porém pensamos muito a respeito e resolvemos fazer o show por causa dele." Um jovem jornalista achou Keith Richards no corredor e passou a tentar forçar uma declaração dele. Ao enfiar um microfone no rosto do guitarrista, o rapaz metralha uma seqüência de perguntas sensacionalistas, irritando Keith rapidamente. Quando ele finalmente perguntou se não era de mau gosto fazer um show póstumo ao Brian Jones antes mesmo dele ser enterrado, a expressão de Richards mudou. Keith parou imediatamente de andar, virou-se para o jornalista e deu lhe um soco no nariz. O rapaz saiu cambaleando, todo ensangüentado.
Véspera do Show
Na manhã do dia 5, Mick Jagger estava extremamente nervoso, com a expectativa de subir novamente num palco para tanta gente depois de tanto tempo. Havia um excesso de pólen no ar inglês e Mick Jagger começou a sofrer com febre, os olhos lacrimejando muito. Até a hora do show ele estaria com laringite. Marianne Faithfull havia tirado a manhã para assinar os papeis iniciando seu processo de divórcio com John Dunbar.
O parque totalmente tomado por gente, foi a maior freqüência em um show público na história da cidade, recorde mantido até hoje. As pessoas foram chegando no dia anterior, a maioria com sacos de dormir, pernoitando no parque em irmandade hippie. Às onze da noite, alguém pediu dois minutos de silêncio em homenagem a Brian. Foi prontamente atendido, um momento tocante onde calcula-se, cerca de 500 pessoas já estavam presentes no local. O parque normalmente fecha depois das dez porem a polícia observando o comportamento do público permitiu a vigília sem interferir.
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Hyde Park
Por volta do meio dia, já haviam cerca de 25 mil pessoas no parque para ver o show. Mais gente continuava a chegar a cada momento. Para passar o tempo, alguns tocavam violão ou tocavam bongos, enquanto outros cantavam ou encontravam espaço para dançar. Para controlar o público, foram contratados os Hells Angels, cerca de cinqüenta, cercando e protegendo o palco. De aparência ameaçadora, foram bastante eficazes em desestimular bandalheira. O evento não se resumia ao show dos Rolling Stones. Os Stones eram o apogeu, o encerramento de uma tarde inteira dedicado a música e à memória de Brian Jones. Antes, outras bandas se apresentaram. Exatamente a uma da tarde, mostrando que a pontualidade britânica ainda era coisa séria, começou o primeiro entre uma série de shows. Uma banda experimental chamada The Third Ear Band.
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Third Ear Band
A banda originou oriunda da cena "Free Jazz" Londrina da época. Montada pelo baterista Glen Sweeney, procuravam fazer minimalsmo crescente experimental, com composições que muitas vezes começavam com uma nota grave repetida até se desenvolver em algo. Contratados pelo selo Harvest, o mesmo que lançou outras bandas chamadas progressivas, a banda fazia o que chegou a ser chamado de "electric acid raga". Contudo, uma vez seus equipamentos sendo roubados, a banda optou por criar um repertório totalmente acústico. Na prática, substituíram as guitarras por instrumentos como viola, violino, oboé e violoncello.
O repertório incluiu basicamente os temas presentes no único disco da banda até então, chamado "Alchemy". The Third Ear Band contou com a presenças de Melvin Davis no cello e flauta; Richard Coff no violino e viola; Paul Minns no oboe; Colin Sweeney nas percussões e Glen Sweeney na bateria, chimes e tabla. Com uma apresentação competente e agradável, ao findar, foram seguidos por uma banda igualmente obscura; King Crimson.
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King Crimson
A apresentação do King Crimson em sua primeira encarnação, rendeu grande promoção favorável, além de um filme. Subiu no palco nesta tarde, Robert Fripp na guitarra; Ian McDonald tocando vários instrumentos de sopro, teclados, mellotron, e vocais; Greg Lake no baixo, guitarra, e principal vocalista; e Michael Giles na bateria e percussões. O repertório consistia em material de seu primeiro álbum, intitulado apropriadamente, "The Court of the Crimson King". No repertório apresentado figuram as canções "21st Century Schizoid Man", “(Why Don’t You Just) Drop In”, “I Talk To The Wind”, "In The Court Of The Crimson King", "Get Thy Bearings", "Epitaph", "Mantra", "Travel Weary Capricorn", e “War.” Após uma improvisação livre, fecham a noite com "Mars". Este show foi seguramente um dos melhores da tarde, bem acima do que o prato principal iria oferecer.
Screw
A tarde continuou com a banda Screw, empresariada por Sam Cutler que trabalhava dentro da organizaçãoRolling Stones. Um sexteto formado pelos irmãos Graham e Alistar Kinear nas guitarras, Stan Scrivener no baixo, Nick Brotherhood na bateria e um duo de vocalistas e gaita, Pete Hossell e Chris Turner. Embora fizeram uma apresentação com muita adrenalina, muita gente considerou a banda bem fraca e de fato, até o ano findar, seriam esquecidos e acabariam.
The New Church
The New Church é nada menos do que a nova banda de blues liderada por Alexis Korner. A mesma de que Brian Jones quis fazer parte antes de Korner convence-lo a montar uma banda própria. Nos vocais estão sua filha Sappho Gillett Korner, que também cuidou de percussões, e Peter Thorup, co-autor de vários dos números novos e ajudando na guitarra. Complementando o ensemble estão Ray Warleigh no sax e Colin Hodgkinson no baixo. Para algumas pessoas presentes, foi esta apresentação do New Church a coisa mais apta a poder ser chamada de uma homenagem para Brian Jones. Alexis ainda bastante emocionado pela perda, tocou com muito sentimento, que foi assimilado pela sua banda e compartilhado com o público. Outros que criticaram a apresentação, consideraram justamente a carga emocional do dia uma das razões que impediram Korner de dar o seu melhor.
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Family
Depois foi a vez da banda Family tomar o palco. A ex-banda de Ric Gretch, agora tocando com Blind Faith, é possivelmente no verão de 69, a mais popular entre as que tocaram nesta tarde, excluindo os Stones, evidentemente. O show da banda foi considerado por muitos como espetacular, sendo outro conjunto que acabaram agradando bem mais do que o show principal.
Sua formação inclui Roger Chapman e Charlie Whitney, os lideres da banda, respectivamente vocalista e guitarrista; com mais John Weider substituindo Gretch no baixo, Jim King no sax e Rob Townsend na bateria. Antes dos Rolling Stones começarem, teria ainda uma última banda.
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The Battered Ornaments
The Battered Ornaments é uma curiosa banda montada por Peter Brown depois que o Cream acabou. Nela Brown, além de compor as canções e interpretá-las, também toca trumpete. Todavia, para este show, Peter Brown não apareceu. Muita gente sentiu falta de suas extravagancias no repertório. No palco subiram Nisar Ahmned Khan no sax, Chris Spedding na guitarra, Charlie Hart no órgão e violino, Butch Potter no baixo, Rob Tait na bateria, e Pete Bailey cuidando das percussões.
Enquanto o público ouvia este set, iam chegando os convidados especiais para assistir à apresentação dosRolling Stones. Entre o palco e o público geral, havia um espaço separado e garantido pelos Hells Angels, para os convidados. Entre estes estavam Donovan, Mama Cass, Ginger Baker e sua filha, Eric Clapton e sua namorada Alice Ormsby Gore, Paul e Linda McCartney e suas duas filhas Heather e Mary, David Gilmore, Chris Barber, Kenny Lynch, Miranda Hampton, Marsha Hunt, Doreen Samuels e Tony Hicks. Nas laterais do palco estavam Ian Stewart, Allen Klein, Tom Keylock, Michael Cooper, Marianne Faithfull, Astrid e Stephen Wyman.
Para os Rolling Stones poderem chegar até o palco, foram dentro de uma ambulância do exército. Hells Angels abriam uma trilha entre o povo da rua até o palco, enquanto a ambulância lentamente seguia entre a multidão. Dentro da ambulância, Keith, que já passara a usar uma corrente no pescoço com um pequeno canudo como ornamento, pegou o seu vidrinho e deu duas cafungadas. A garrafinha rodou um giro completo entre os ocupantes da ambulância. Mick estava feliz em poder dar umas cafungadas para inflar sua moral, um pouco baixa por causa da gripe. Havia nele um temor natural para alguém que ficara tanto tempo longe de uma plateia. O pó lhe devolveu a coragem extra, logo discursando na base de “vamos dar a esse povo o melhor show de rock da vida deles”. Bill e Charlie dispensaram como era de se esperar, assim como Allen Klein, também presente. Mick Taylor aceitou a cocaína, provavelmente motivado pela intenção de se tornar parte da turma. Dentro da ambulância, além dos Stones, estavam também Michael Cooper e Tony Sanchez, ambos como fotógrafos oficiais. Eles também tiveram acesso aos cristais brancos.
Ian Stewart atrás de Charlie Watts
Ian Stewart atrás de Charlie Watts

Os Rolling Stones
Os Stones se juntaram em uma área atrás do palco, tentando afinar osinstrumentos com a ajuda de uma gaita, porem a zoeira e barulho geral não deixava condições de uma afinação apropriada. Ao subir no palco, a multidão mais lembrava a de um estádio de futebol após a entrada da seleção. O público os saudou com alegria contagiante. Mick pretendia se vestir para a ocasião com uma roupa que assemelhava-se a couro de cobra. Todavia com o calor do dia e Jagger ainda se sentindo bastante indisposto, acabou optando pela sua roupa branca que se assemelha a um vestido. Com a garganta ainda doendo, ele pediu um pouco de silêncio para poder ler um trecho de Shelly.
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O trecho lido, retirado de “Adonis” escrito por Percy Bysshe Shelly segue assim:
Peace, peace! He is not dead, he doth not sleep
He has awakened from the dream of life
‘Tis we, who lost in stormy visions, keep
With phantoms an unprofitable strife,
And in mad trance, strike with our spirit’s knife
Invulnerable nothings. – We decay
Like corpses in a charnel; fear and grief
Convulse us and consume us day by day,
And cold hopes swarm like worms within our living day.

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Em outra passagem, ele continua:
Heaven’s light forever shines, 
Earth’s shadows fly;
Stains the white radiance of Eternity,
Until death tramples it to fragments. – Die,
If thou wouldst be that which thou dost seek!

Ao fim, o público encerra seu silêncio e a banda igualmente inquieta, deslancha com a primeira canção, “I’m Yours, She’s Mine”. Com ela, 3.500 borboletas brancas são soltas no ar, tentando simbolizar talvez, a alma de Brian Jones. Infelizmente com o calor de verão, estando presas por tanto tempo, as borboletas, em sua maioria, voaram poucos metros antes de caírem mortas sobre o público.
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O volume do som estava excepcionalmente alto, com a banda sendo ouvida a quilômetros de distancia, mesmo contra o vento. Todavia, a banda não fez uma de suas melhores apresentações, com os instrumentos desafinados e o pique muito arrastado. Mick Jagger apesar de doente, deu tudo de si, pulando e dançando e flertando com o público. Apesar de seus esforços, ele também, ocasionalmente percebia que estava fora do tempo. Em uma hora de show, tocaram “Jumpin' Jack Flash”, “Mercy, Mercy”, “Down-Home Girl”, “Lovin' Cup”, “Honky Tonk Woman”, “Midnight Rambler”, “Satisfaction”, “Street Fighting Man”, “Sympathy For the Devil”, “Love in Vain”, “I’m Free”, “Stray Cat Blues” e encerraram com “No Expectations”.
A apresentação renderia três filmes. “The Rolling Stones In The Park”, produzido por Jo Durden Smith e Leslie Woodhead teve sua estréia na televisão britânica em setembro. “Under My Thumb” produzido por Peter Ungerleiden, é uma outra versão do mesmo concerto, desta vez muda, e teve no New Art Lab em Camden, Londres, sua estréia em março de 1970. Uma terceira equipe filmou o concerto, esta versão para o diretor Kenneth Anger, que utilizou partes da apresentação para compor o seu filme “Invocation of My Demon Brother”.
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Muitas pessoas passaram mal com o calor, mas no final do dia, todos acharam que valeu a pena. No dia seguinte, Mick e Marianne estavam deixando o país em rota para a Austrália. Assim, o casal não freqüenta o enterro de Brian. Da banda, somente Bill Wyman, Ian Stewart e Charlie Watts estarão prestando as últimas homenagens.

At Donington UK: Live 1983 & 1987 - Dio

Por Elton Sena

Tudo o que poderia ser dito de bom a respeito do Dio já disseram. Todos vimos as homenagens que lhe ofereceram quando de sua súbita e inesperada morte. Dio deixou um legado imenso na música, seja nas bandas que passou ou em sua carreira solo. O álbum “At Donington UK: Live 1983 & 1987” traz um pouco desse legado para acalmar nossos ouvidos carentes por um pouco mais da voz desse gigante da música.



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Todos esperavam por um disco ao vivo do início de sua carreira solo. At Donington UK preenche esse vazio na discografia, e o faz com grandes méritos. Registro de duas apresentações de Dio no festival Monsters Of Rock, na cidade de Donington, nos anos de 1983 e 1987, durante as turnês dos álbuns Holy Diver e Dream Evil, respectivamente, os CDs trazem setlists impecáveis cobrindo a carreira de Dio como um todo, passando pelas bandas que integrou e por sua carreira solo.
O primeiro CD abre com "Stand Up And Shout" e "Straight Throug The Heart" de seu então recém lançado álbum Holy Diver, continua com uma das melhores de ambos os discos, "Children Of The Sea", com uma interpretação sensacional de Dio  onde mostra do que era capaz. "Rainbow In The Dark" e "Holy Diver" dão seguimento ao show e já mostravam que se tornariam clássicos absolutos do Rock/Metal. Tem então um solo de bateria de Vinnie Appice, em seguida "Stargazer", do RAINBOW, e depois um solo de guitarra de Vivian Campbell. Chegamos então a "Heaven And Hell" música gravada por Dio em sua passagem pelo BLACK SABBATH, sua interpretação nessa música é de uma qualidade suprema. Fechando o disco temos um medley de "Man On The Silver Mountain" e "Startruck".
O segundo CD abre com a música título do álbum que estava sendo promovido "Dream Evil", segue por "Neon Knights" (BLACK SABBATH), "Naked In The Rain" e "Rock And Roll Children" (DIO). A próxima é "Long Live Rock 'n' Roll" do RAINBOW, "The Last In Line" mantém o nível do show no mais alto nível. "Children Of The Sea" e "Holy Diver" são os clássicos seguintes a serem apresentados. A obrigatória "Heaven And Hell" dá as caras novamente seguida de "Man On The Silver Mountain". Temos então o que, em minha opinião, é o destaque desse show de 1987, "All The Fools Sailed Away", música presente no disco Dream Evil e que é, para mim, umas das melhores de toda a carreira do Dio. Temos então a volta de "The Last In Line" e fechando o concerto, e também o CD, "Rainbow In The Dark".
A qualidade de áudio está muito boa, ligeiramente melhor no primeiro disco, as bandas são muito boas e executam as músicas com perfeição. Dio é um capítulo a parte, cativa a todos com sua performance e carisma além de ter uma das melhores vozes do Rock/Metal.
A parte gráfica do pacote merece também destaque, lançado aqui pela Hellion em um digipack muito bonito e com um acabamento muito bom, embalagens assim faz com que compremos material original.
Disco essencial para quem deseja conhecer e entender o por que de tamanha devoção a Dio, e as bandas por onde passou, como também é um disco lançado para os fãs que ainda estão de luto pela perda desse pilar da cultura do Rock e Metal. Comprem sem medo.
É como diz a vinheta que inicia o show de 1987: DIO. Rock 'n' Roll!
Tracklist:
CD 1: 1983
01. Stand Up And Shout
02. Straight Through The Heart
03. Children Of The Sea
04. Rainbow In The Dark
05. Holy Diver
06. Drum Solo
07. Stargazer
08. Guitar Solo
09. Heaven And Hell
10. Man On The Silver Mountain
11. Starstruck
12. Man On The Silver Mountain (Reprise)

CD 2: 1987
01. Dream Evil
02. Neon Knights
03. Naked In The Rain
04. Rock And Roll Children
05. Long Live Rock ‘n’ Roll
06. The Last In Line
07. Children Of The Sea
08. Holy Diver
09. Heaven And Hell
10. Man On The Silver Mountain
11. All The Fools Sailed Away
12. The Last In Line (Reprise)
13. Rainbow In The Dark
Fonte desta matéria: Music is my Core

Live at Grimey's - Metallica


Em 2000 a imagem do METALLICA se desgastou um pouco quando o grupo bateu de frente com Shawn Fanning na corte americana. A banda, que nunca concordou com o compartilhamento de músicas promovido pelo Napster, jamais conseguiu amenizar a derrocada das gravadoras por suas próprias mãos. Para encerrar a polêmica da sua atitude, o quarteto preparou o exclusivo e curioso “Live at Grimey’s”. O disco, que é comercializado apenas em lojas independentes, mostra que Hetfield & Cia. nunca viraram as costas para o underground, mesmo dizendo um sonoro não à popularização do mp3.



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Não há dúvidas de que a história por trás de “Live at Grimey’s” é muito interessante. O registro ao vivo, realizado no porão da pequena loja Grimey’s New & Prevelod Music em Nashville (Tennessee), contou com uma modesta platéia de apenas uma centena de pessoas. A iniciativa, que foi promovida pelos criadores do Record Store Day, inaugurou o Back to Black Friday (o evento que deu o pontapé de abertura no Dia de Ação de Graças no comércio norte-americano). O show realizado em junho de 2008 não representou nada mais do que uma data extra da tour de “Death Magnetic” (2008) pelo país. No entanto, para os fãs a apresentação simboliza o retorno do METALLICA às suas raízes fincadas no underground. A banda, que em pouco tempo se tornou o nome mais imponente do thrash metal de São Francisco, vem reinventando o seu repertório mais antigo nos seus espetáculos mais recentes. O clima de “Live at Grimey’s” não poderia ser outro – e tampouco mais adequado.
O álbum, que é vendido com exclusividade por lojas pequenas e independentes no território norte-americano, pode ser adquirido pelos fãs mais fanáticos (e colecionadores) através do site oficial da banda. Em CD ou em vinil duplo, “Live at Grimey’s” obviamente não enriquece a discografia do METALLICA. Por outro lado, os caras assinaram aqui uma apresentação visceral, nitidamente mais agressiva se comparada aos demais shows realizados pelo grupo ao redor do mundo. No disco – que não ultrapassa uma hora de música –, o repertório escolhido por James Hetfield (vocal e guitarra), Kirk Hammett (guitarra), Robert Trujillo (baixo) e Lars Ulrich (bateria) pode ser apontado como o diferencial de “Live at Grimey’. Com o intuito de destacar o ambiente underground que contorna a obra, o METALLICA separou as suas músicas mais antigas – que não costumam aparecer com frequência pelo set-list do grupo.
O clássico “Kill ‘Em All” (1983), que projetou o METALLICA ao reconhecimento mundial, é extremamente bem representado em “Live at Grimey’s”. As duas primeiras músicas retiradas do debut – “No Remorse” e “Motorbreath” – podem não possuir o mesmo impacto de hinos do metal escritos por Hetfield & Ulrich nas décadas de oitenta e de noventa. Porém, são inclusões verdadeiramente valiosas, sobretudo para os fãs mais antigos e sedentos por versões repaginadas das faixas que deram notoriedade ao quarteto norte-americano. Não só a performance do grupo merece honrarias. A gravação de “Live at Grimey’s” mostra uma qualidade muito superior à média. Em contrapartida, a presença de “Master of Puppets” e de “Sad but True” – rotineiramente incluídas no set-list da banda – serve para agradar a gregos e a troianos. Embora não possua uma sequência comprida, “Live at Grimey’s” soube misturar as composições obrigatórias doMETALLICA com sinceros presentes dedicados aos fãs mais sedentos.
De qualquer modo – e é até de se estranhar –, nenhuma música retirada do “Death Magnetic” (2008) compõe o repertório de “Live at Grimey’s”. Entre as mais recentes, somente “Fuel” aparece em meio às ótimas (e clássicas) “For Whom the Bells Tolls” e “Seek and Destroy” (mais uma retirada de “Kill ‘Em All”, 1983). Por mais que músicas como “Haverster of Sorrow” e “Welcome Home (Sanitarium)” podem ser apontadas como datadas, a relevância de ambas para a história do metal ainda é imensa. Por isso, não há como renegar sequer uma das nove faixas escolhidas que formam o inusitadoo “Live at Grimey’s”. O passado – e até mesmo o presente relativamente inóspito – são representados verdadeiramente bem no disco. A iniciativa da banda (assim como o valor sugestivo de US$ 9.99) pode simbolizar um novo caminho para a indústria fonográfica.
Track-list:
01. No Remorse
02. Fuel
03. Harvester of Sorrow
04. Welcome Home (Sanitarium)
05. For Whom the Bells Tolls
06. Master of Puppets
07. Sad but True
08. Motorbreath
09. Seek and Destroy

Writ Of Sword - Crimfall

Por Renato Spacek

Symphonic Blackened Folk Power Viking Metal, esse sim seria o rótulo certo para o Crimfall, que passa por diversas subdivisões do Metal. Na primeira música podemos ver uma agressividade extra na guitarra, tanto na melodia do riff quanto, principalmente, no timbre, que além de sujo e pesado, parece estar expressando a raiva do guitarrista, remete bem a timbres típicos do Groove Metal, que logo contrasta com orquestras e, com a entrada de um poderoso e agressivo gutural, podemos ver um som extremamente bem feito e harmonioso, calcado num peso extremo.



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Vocais femininos (um dos melhores vocais femininos que eu já escutei, diga-se de passagem) dão um toque totalmente singular e especial à banda, contrastanto com o peso e guturais agressivos. Em certas partes temos bases orquestradas magníficas guiadas pela melodia principal doviolino, seguido de partes acústicas que lembram música celta e gritos bárbaros em coro.
Cáhceravga, uma pequena faixa acústica com vocais femininos, é seguida de músicas com mais ênfase no peso e na agressividade, um pouco mais puxadas para o Black Metal, mas sem deixar as atmosferas Folk e Viking e asorquestras de lado. Ainda mais épicas que as faixas anteriores, "Shackles Of The Moirai" e as seguintes são repletas de várias coisas, principalmente temáticas bastante épicas e mais peso do que as primeiras faixas do disco.
1. Dicembré - 01:43
2. Storm Before The Calm - 05:56
3. Frost Upon Their Graves - 05:31
4. Cáhceravga - 01:11
5. Shackles Of The Moirai - 05:01
6. The Writ Of Sword - 06:53
7. Geadgái - 04:35
8. Silver And Bones - 08:21
9. Son Of North - 05:49

Jakke Viitala - Guitar, Orchestration, Programming
Mikko Häkkinen - Vocals
Helena Haaparanta - Vocals
Miska Sipiläinen - Bass
Janne Jukarainen - Drums

Session members:
Olli Vänskä - Violin

Guest members:
Tapio Wilska - Vocals
Ville Seponpoika Sorvali - Vocals
Mathias "Vreth" Lillmåns - Vocals
Mathias Nygård - Vocals
Fonte desta matéria: ocaralhoa4.blogspot.com

Tiurida - Falkenbach


Tendo tomado forma em 1989, o Falkenbach (em português: 'arroio dos falcões') é um nome que figura entre os precursores do chamado Viking Metal. Seu mentor, o alemão e multi-instrumentista Vratyas Vakyas, sempre mostrou dedicação e total controle sobre sua Arte, o que, somado à recusa em tocar ao vivo, tornou a ‘banda-de-um-homem-só’ um objeto de culto entre o público amante do gênero.



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"Tiurida" é seu quinto álbum, onde o Falkenbach interrompe os seis anos da reclusão a que se impôs. Sua fórmula agora segue explorando mais fortemente a veia folclórica, principalmente se comparado com o resultado do furioso antecessor "Heralding - The Fireblade" (cujo repertório foi preenchido com as regravações das velhas demos). De qualquer forma, os que possuem intimidade com sua discografia não encontrarão absolutamente nada de inovador por aqui, pelo contrário, conseguirão traçar paralelos com várias canções já apresentadas no passado.
Ainda que essa falta de ousadia tenha resultado em reciclagens ocasionais, a simplicidade tão eficaz que Vratyas sempre revelou em seus arranjos - fortemente influenciados pelo mestre Bathory - se torna um elemento positivo e que contrabalanceia a sensação de déjà vu. Às vezes Falkenbach combina seções que se aproximam do Black Metal, cadenciado e épico, com uma infinidade deinstrumentos  como violões, flautas e cânticos lamentosos, tudo na mesma canção, ou segrega estas características em faixas distintas, e é esta intercalação que se torna a peça-chave de todo o dinamismo alcançado.
O alto-astral da longa instrumental "Tanfana" é um bom exemplo de como tudo flui bem por aqui, transportando o ouvinte diretamente ao passado nórdico. E, se temos "Time Between Dog And Wolf" e "In Flames" levantando a bandeira Black Metal em uma fortíssima atmosfera guerreira, é em "Runes Shall You Know" e na derradeira "Sunnavend" que as seções acústicas assumem a liderança e se sobrepõe à pulsante distorção elétrica.
Com letras cantadas em inglês, alemão e outras não familiares a este humilde escriba, "Tiurida" é um item importado, mas que pode ser adquirido por um preço bastante competitivo, pois foi liberado pelo selo argentino Icarus Music (bastante ativo, por sinal), o que torna fácil encomendá-lo através das lojas brasileiras. Muito bom!
Músicos:
Vratyas Vakyas (Markus Tümmers) - voz e instrumentos

Convidados:
Tyrann - voz
Hagalaz - guitarra e teclados
Alboin - baixo
Boltthorn - bateria

Falkenbach - Tiurida
(2011 - Napalm Records / Icarus Music - importado)

01. Intro
02. ...Where His Ravens Fly...
03. Time Between Dog And Wolf
04. Tanfana
05. Runes Shall You Know
06. In Flames
07. Sunnavend