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30 de março de 2011
Parte 17 - Dilemas e Pressões
Charlie havia feito uma série de desenhos para cartões natalinos. A idéia acabaria sendo aproveitada para os cartões, reproduzidos em grande escala, acompanharem como brinde a edição de dezembro do jornal do fã clube oficial da banda. Antes do natal chegar, o disco Their Santanic Majesties Request, mesmo sendo severamente criticado, teria vendido mais do que The Magical Mystery Tour dos Beatles nos Estados Unidos e chegara à categoria de disco de ouro.
James e Andee
Mick viajou até Nice para se encontrar com Marianne que estava terminando as últimas cenas do filme. De lá, voltam para Londres onde Marianne é convidada por Robin Fox, seu empresário, para uma festa natalina promovida por Dick Bogarde, e realizado no Connaught Hotel. Entre os convidados, havia gente talentosa do teatro inglês como Maggie Smith, Julie Chrissie e Paul Scofield. Mick e Marianne, porém, estavam terrivelmente entediados até uma menina muito bonita, chamar atenção.
A menina, uma criatura magrinha de olhos grandes, com cabelos bem pretos e cortados curto feito um menino, dando-lhe um ar andrógino todo especial. Ela se chamava Andee Cohen e era namorada de James Fox, ator e filho de Robin. Passaram a conversar animadamente os quatro, e a amizade iria se estender para futuros programas.
Procurando Paz nos Trópicos
Mick não gostava muito de ficar quieto em um lugar. Muito energizado naturalmente, as pressões e exigências de seu trabalho são uma excelente válvula de escape para gastar toda essa energia. De férias, Mick é irrequieto e logo arruma idéia de viajarem. Assim, pouco depois da festa natalina, Mick e Marianne viajam para Barbados. Por acharem a decoração do hotel em que estavam cafona, resolveram procurar uma casa para alugar. Passaram a semana indo de ilha em ilha no Caribe procurando um lugar agradável. Marianne trazia com ela uma fita k-7, novidade do mercado, onde ela havia gravado o disco "The Great White Wonder", primeiro disco pirata da historia, com material gravado por Bob Dylan com a banda the Hawks, que depois passaria a ser chamado de The Band.
Marianne diria em retrospecto que algumas músicas daquela fita eram tão pessimistas que ela acabou com medo de morrer em um acidente de avião. Seus temores irritavam Mick e acabam desistindo de toda idéia de ficar no Caribe e resolvem ver o que mais havia pelo mundo. Isto os leva para o Brasil, chegando no Rio de Janeiro no dia 6 de janeiro de 1968.
Do Caribe Para o Brasil
Hospedam-se no Copacabana Palace em um quarto com vista para o mar e tentam despistar usando os nomes Michael Phillip e Marianne Dunbar, mas as roupas modernas contrastam com as roupas de uso no Brasil naquele período, e logo ficou difícil o casal não destoar em meio a multidão.
A história mais conhecida entre os cariocas demonstra bem a distância entre a mentalidade dos jovens do primeiro mundo, representado por Jagger, e do terceiro mundo, representada pela galera "prafrentex" da nossa cultura tupiniquim. O incidente aconteceu no restaurante/bar Antonio's, em Ipanema, point da flora "in" carioca. Sentados em uma mesa, junto ao anfitrião Fernando Sabino, podiam ouvir os sussurros vindo das outras mesas. Com as roupas extravagantes e agora um chapéu lembrando algo que Greta Garbo usaria, Jagger ofende os preconceituosos pela sua falta de preconceito. No típico e desagradável abuso carioca, tudo em nome da brincadeira, alguém toma seu chapéu e zune aos gritos de "barata voa". Depois da "barata voar" de mesa em mesa, outra figura, David Zingg, que viria no futuro ajudar a fundar a banda Joelho de Porco, recaptura o chapéu e o devolve a Jagger oferecendo suas desculpas em nome da cidade. Tipicamente inglês, e sentindo o choque cultural, Mick Jagger apenas sorri e demonstra um sentido de fair-play elogiável.
Não demora muito e a constante caça por parte da imprensa começa a ser insuportável. Eles acabam resignando-se a ficar trancafiados no hotel. Até mesmo porque o calor do verão é insuportável para o casal inglês, que opta por sair sempre ao fim da tarde, quando está mais agradável, sem a ação direto do sol. Acabam conseguindo fazer alguns passeios típicos de turistas, como conhecer o Corcovado, visitar o Recreio dos Bandeirantes, e caminhar na praia de Copacabana, mas no geral, sentiam-se presos ao quarto de hotel, tamanho o assédio da imprensa.
Até Mais Tarde em Itapuã
Resolvem então viajar para Salvador, Bahia, aceitando a dica de outro turista americano que conheceram por acaso. Alugaram uma cabana do Hotel Stela Maris em Itapuã e descansaram pela primeira vez em muito tempo, totalmente incógnitos. Dormiram e fizeram amor pela primeira vez em uma rede, pois não havia camas no local. Nicholas, Marianne e Mick aproveitaram bem a paz da praia deserta, sem televisão, jornal e outros compromissos, podendo dedicar as atenções exclusivamente à companhia um do outro. Neste aspecto, as temporadas de férias seriam consideradas as melhores que Mick já teve em toda sua vida.
Explorando as praias, acabam assistindo duas cerimônias religiosas de origem africana, provavelmente do candomblé. No segundo, Marianne foi convidada a participar, jogando pétalas de rosas no mar como oferenda à Iemenjá enquanto o sol se punha. Romantismo foi o grande anfitrião desta passagem pela Bahia, o que permitiu que o relacionamento entre Mick e Marianne voltasse a fluir harmoniosamente mais uma vez. Perto da época de voltar, fizeram compras no centro, a curiosidade do casal sendo atraído para uma loja de artigos religiosos, praticamente todos de macumba. Não demorou muito para Mick e Marianne repararem em como a vendedora olhava Mick, estudando-o. No primeiro instante, pensaram que ela havia reconhecido o superstar dos Rolling Stones. Mas o tipo e o lugar, não inspirava probabilidade de conhecer o artista inglês. Além do mais, o olhar era de espanto e receio, não de admiração. Perturbados com os olhares suspeitos, se retiram da loja e ao atravessar a rua, reparam dentro de outra loja, uma série de pratos com a imagem de Jesus Cristo. A imagem do Cristo, de barba grossa, parecia-se idêntico ao Mick, que há muito não se barbeava, também portando uma barba espessa. Deixarem o local no dia 24 de janeiro, fazendo baldeação no Rio para Londres.
Rotina Londrina
Novamente em Londres, apesar de as contas bancárias individuais continuarem ridiculamente magras, se comparadas ao sucesso alcançado, as despesas continuavam. Keith decide alugar um apartamento em Londres. Mick, além de comprar o castelo de Stargroves em Berkshire, aluga também uma casa em Cheyne Walk em Chelsea, enquanto aguarda as obras no castelo concluírem. Jagger então passa a demonstrar uma necessidade obsessiva de manter sua casa sempre impecavelmente limpa e organizada. Absorve o hábito de Brian de gostar de se vestir para todas as ocasiões, só que, com Mick, valem até mesmo as ocasiões mais corriqueiras, como jantar em casa. Exige que Marianne também se vista toda arrumada, mesmo quando não esperam companhia.
Curiosamente, seria Brian um dos primeiros Stones com quem Mick iria se encontrar, os dois rindo pelo fato de ambos estarem portando barba pela primeira vez. Mick iria raspar a sua pouco depois. Os eventos sociais e promocionais para a banda continuam. Mick atende uma festa para The Supremes, que estão em Londres, promovida pelo Duke de Bredford.
Em final de janeiro, Brian havia se juntado com Donavan, Cilla Black e três dos quatro Beatles, para uma recepção promovendo a banda the Grapefruit. Nesta festa, ouviam o disco "John Wesley Harding" de Bob Dylan, pela primeira vez. Presente também estava Jimi Hendrix, que ao ouvir a faixa "All Along The Watchtower", imediatamente exclamou, "Eu tenho que gravar isso!" Juntou algumas pessoas na festa e foram todos para o Olympic Studios, gravando a canção na mesma hora.
Com Hendrix estavam Noel Redding, Mitch Mitchell, Dave Mason, Brian Jones, Linda Keith e Chas Chadler. O engenheiro de som foi Andy Johns, irmão de Glyn Johns. Muito impulsivo e com exata noção do que ele queria e não queria, Hendrix organizava a sessão como um ensaio antes de efetivamente começarem a gravar.
Brian Grava com Hendrix
Dave Mason & Jimi Hendrix
Nestas execuções da música, tínhamos, além do Experience em seus respectivos instrumentos, a somatória de Brian Jones no piano e Dave Mason na guitarra. Depois, concluiriam que um violão de 12 cordas seria melhor e Mason acabou usando um emprestado que pertencia a Glyn Johns. Hendrix e Redding já estavam tendo problemas com relação à forma de trabalhar, experimental demais pra o gosto de Redding, e este acaba por ir embora cedo.
Quando concluiu-se que era hora de gravar, a versão apresenta Jimi Hendrix fazendo slide guitar usando o seu isqueiro, Dave Mason no baixo e guitarra rítmica e Mitch Mitchell na bateria, com mais Brian Jones no piano e tambourine. Chas Chandler produziu a sessão que foi assistida por Linda Keith. A versão que acabaria saindo no seu álbum Electric Ladyland é esta com o piano de Brian e o baixo de Mason apagados. Hendrix optou por fazer o baixo ele mesmo, curiosamente usando o baixo de Bill Wyman que estava guardado no estúdio.
Charlie & Shirley em Casa
Mick nunca desenvolveu uma amizade fora do âmbito profissional com Bill Wyman e evitava ultimamente Brian Jones, porém sua relação com Charlie Watts, mesmo tendo esfriado um pouco desde os tempos que os dois mais Shirley e Chrissie andavam juntos, ainda se manteve. Mick, sempre ativamente social, visita com Marianne a residência de Charlie e Shirley, por vezes pernoitando. Charlie orgulhosamente mostra suas diversas coleções. O grande barato de ser um Rolling Stone para Charlie, é justamente poder ter o dinheiro para enriquecer os volumes de suas coleções. Nelas incluem um vasto catalogo de livros, quadros e discos de jazz; como também artefatos militares, outra paixão sua. Charlie tinha orgulho especial para sua coleção completa de rifles e pistolas da Guerra Civil Americana iniciada na primeira viajem dos Stones à América. Shirley estava nos últimos estágios de sua gravidez e a primeira criança do casal, uma menina que foi chamada de Seraphina, nasceria no dia 18 de março de 1968.
Descobrindo Maquiagem
Mas na maioria das ocasiões Mick e Marianne vão para Redlands buscando a companhia de Keith e Anita. Keith atiçado por Anita, começa a usar maquiagem para escurecer ao redor dos olhos e às vezes até experimenta um toque de baton. Em Keith, tais detalhes estranhamente realçam sua masculinidade e acabam por atiçar o libido de Anita e de outras mulheres. Marianne é uma que ficou encantada com o efeito, como também ficou Mick que logo passou a imitar a idéia do amigo. Porém a maquiagem em Mick não tem exatamente o mesmo efeito de realçar a masculinidade como ocorreu com Keith. Ainda asim, Mick adorou o resultado e passou a explorar cada vez mais com o produto, descobrindo efeitos com outras cores como o verde e o azul.
Em fevereiro, numa destas visitas, Mick e Keith aproveitam e gravam uma fita. A fita teria as canções Highway Child (Jagger-Richard), Hold On! I'm Comin' (Isaac Hayes/David Porter), Primo Grande (titulo inicial para o que viria a ser Street Fighting Man) e Rock Me Baby (Bill Broonzy/Arthur Crudup). Conversas sobre um novo disco começam.
Mick & Marianne, James & Andee
Marianne e Andee voltaram a se ver, as duas encantadas uma com a outra. James e Mick também se admiravam mutuamente. James Fox era um típico cavaleiro inglês que andava de chapéu coco com guarda-chuva embrulhado na mão, usado como uma bengala. Mas James tinha uma atração para o hip, o novo; o que explica ele estar namorando alguém tão diferente ao seu estilo como Andee. Assim, estar agora freqüentando a companhia de Mick Jagger dos Rolling Stones também tem um aroma de ser moderno. Jagger, por sua vez, tem uma certa atração por gente de posse e pose. O fato de Fox ser um ator de sucesso aumenta seu interesse, pois, Jagger nutria a hipótese de fazer cinema. James Fox havia conseguido ótimas criticas em sua participação em filmes como "The Servant", "King Rat" e "Those Magnificent Men in Their Flying Machines." Então andar com Fox, podendo observar e estudar o ator é para Mick uma chance imperdível.
Geralmente o casal recebia os amigos na cama gigante no quarto. James, um pouco fora de seu ambiente, tem dificuldades de perceber nos comentários o que é brincadeira e o que é sério. Ao chegar atrasado para um encontro na casa de Jagger, chega a tempo de encontrar Mick, Marianne e Andee na cama, conversando e admirando livros de magia de autores como Castañeda, Crowley, Blavatsky e Zohar. Ao entrar no quarto e encontrar sua namorada na cama com o casal de amigos, ele fica desconcertado, sem saber ao certo o que pensar. Mick imediatamente o recebe com um "Olá James, atrasado para a orgia novamente?! Qual sua desculpa desta vez?"
E divertindo-se vendo James cada vez mais perplexo emenda "Por acaso trouxe alguma cocaína para acompanhar este excelente Sauvignon que me foi recomendado?" James, já engasgando nas palavras, confirma que não trouxe nada similar e antes de terminar a sentença Mick continua sua brincadeira enquanto as meninas prendem o riso. "Mas que imprestável! A Princesa Margaret jamais tocaria em uma gota deste vinho maravilhoso sem pelo menos um cajado de coca como entrada." James totalmente perdido na historia se resigna a um "É mesmo, Mick?!" que por sua vez deixa cair finalmente a mascara e esclarece "É claro que não seu tolo! Vai até a cozinha e traga umas taças e ao voltar enrola aquela nota de vinte. Mas antes, vem aqui nos dar um beijo."
Mick gostava de apresentar muita música para James e Andee. Aretha Franklin, Sam & Dave, James Brown, o recém falecido Otis Redding, Joe Tex, Smoking Robinson e muito Motown sempre iam parar na vitrola em dia de visitas. James por sua vez era fanático por Bob Dylan que passou a freqüentar a vitrola ainda mais nestes encontros. Marianne curtia muito Ravi Shankar, que ela achava tão estimulante para leitura quanto para sexo. Certa noite, os quatros conversavam na cama após tomarem um ácido excelente. Marianne e Andee começam a se cariciar de forma extremamente íntima. Quando elas se dão conta do que estão fazendo, olham pro lado e percebem que os dois homens pararam de conversar e estão só olhando, James particularmente espantado. Isto só fez com que elas ficassem ainda mais excitadas e passaram a ter relações sexuais completas, com os dois homens de voyeur, só assistindo. Logo, Mick e James estão se dando as mãos, Mick tomando a iniciativa, os dois engajando em carícias. Os dois casais em puro êxtase, com sexo sem os confinamentos de gênero. Marianne diria anos depois sobre o assunto, "ácido é uma droga extremamente sexual e com ele, o conceito de limitar o sexo a apenas o sexo oposto é ridículo."
O Escritório e as Finanças
O local escolhido para o novo escritório dos Stones, onde teria também um espaço para se montar um estúdio, foi na rua Maddox em Mayfair. Todas os valores das despesas sendo então remetidos para Allen Klein em Nova York donde aguardam a remessa de recursos, para que possam pagar estas contas. Ian Stewart assinou pela banda o contrato de aluguel, uma vez que Mick e Keith estavam fora do país e nem Charlie, nem Bill, aceitaram se colocar em uma posição delicada, onde precisariam esperar por Klein liberar dinheiro.
O Dilema e as Pressões
Não demorou muito, e a desagradável companhia de Sgt. Pilchard e seus homens voltam a importunar Brian. Ele então passa a fugir para Paris, indo e voltando uma, às vezes duas vezes por semana. Em Paris, suas conexões lhe permitem alivio das pressões Londrinas. Mas em pouco tempo, com as dificuldades para liberarem as verbas dentro da organização Rolling Stones, Brian estaria devendo tanto dinheiro naquele solo, que França passa ser um motivo de pressões e paranóia. Surgem boatos de Pilchard sendo visto oferecendo maconha para membros da equipe Rolling Stones em troca de informações sobre onde seria encontrado certos músicos da banda e quais os hábitos concernindo o uso de tóxicos.
Com medo de ser falsamente flagrado, Brian sai de seu apartamento recém alugado, para voltar a morar em quartos de hotel. Ele se hospeda inicialmente no Lygon Arms Hotel em Worcestershire, sai, vai à França e volta desta vez para o Imperial Hotel em Queen's Gate. Em todos esses lugares o ritual de eventos se mantém. Depois de alguns dias, quando muito algumas semanas, o já conhecido detetive e seus homens o descobrem e começam a aparecer para chantageá-lo descaradamente por dinheiro. Se não pagar, garantem que irão encontrar algo e levá-lo para a delegacia.
Brian sabe que não pode ter nenhum incidente pelos próximos três anos, senão ele pode acabar na cadeia. A pressão é insuportável para este ser, já bastante desorientado. O que pouca gente sabe é que depois de sua grande crise após ser encarcerado, Brian começara a experimentar com heroína. Com a estada em Ceilão, a busca por alívio se intensificou e em Paris, ele passa a se abastecer. Durante o decorrer de 1968, Keith também estará sucumbindo às pressões. A pressão da culpa que ele não quer sentir pelo declínio de Brian, a sua insegurança de manter Anita e não perdê-la, acabando como Brian e principalmente, a pressão do relacionamento ambíguo que Mick e Marianne querem ter com ele e com Anita. Tudo isso, somado à curiosidade sobre a droga nova de '68, ajudará Keith a começar a experimentar com heroína, embora sem fazer muito alarde para o assunto.
Narcóticos
Heroína
Ainda não havia entre os jovens, discernimento ou a devida noção do poder de dependência que difere uma droga da outra. Sabemos muito bem hoje em dia, graças a experiências realizadas e divulgadas por esse pessoal da década de sessenta, que hoje, algumas décadas depois, vem à frente e dão testemunho de suas vidas. Apesar de heroína estar no mercado há anos, não há, em sessenta, confiança na palavra do sistema.
O sistema diz que heroína é perigoso, da mesma maneira que maconha é perigoso. Como diferenciar os dois? Qualquer pessoa que já fumou um cigarro irá te dizer que nicotina, vinda do tabaco, é extremamente difícil de largar. Abstinência de cigarro (nicotina), como também álcool, geralmente é acompanhada de nervosismo, ansiedade e tremedeiras. Qualquer um que já fumou maconha irá dizer que quando não há erva no mercado (a chamada época de seca), passam sem o fumo, sem suar frio, tremedeiras ou nenhum outro tipo de problema em função da abstinência. Como então a maconha, a cocaína e a heroína, podem ser tratados com valores iguais pela lei, e cigarro (nicotina) e alcool, ficarem à parte? Como acreditar na sinceridade das fontes?
Cocaína
Muita gente no final da década de sessenta, que flertou com cocaína, passou a consumi-la cada vez mais. Uma vez "ligado", fica difícil de "desligar". Principalmente se há bastante dinheiro disponível para comprar mais. Então uma das formas encontradas para acalmar e até dormir, foi de misturar um pouco de heroína com a cocaína. Assim, além de evitar a sensação de enjôo que geralmente se tem injetando ou cheirando heroína pura, você começa a se acalmar e cai num sono calmo e profundo por alguns minutos. Quando acorda, está se sentindo bem e não drogado.
É claro que se isto soa interessante, não esqueça por um segundo que basta uma vez para se ficar dependente de heroína. Isto não é lenda; leve a sério! Pouquíssimas são as pessoas que experimentaram com esta droga e morreram de velhice. E mesmos estes, que continuam vivos, têm as marcas do uso na face e na alma. Com o uso, inevitavelmente contínuo, há poucas chances de uma vida produtiva. Lou Reed (Velvet Underground) certa vez definiu heroína como sendo "minha vida, minha esposa" e Hugh Cornwell (Stranglers) a definiu como sendo algo que "leva sua alma e deixa apenas seus ossos pra trás." Quase todos começaram procurando evitar alguma dor pessoal. Embora em final de 1967, a era do ácido está cada vez mais popular entre o grande público, para aqueles que começaram a tomá-lo em 65/66, a novidade já não atrai tanto e o discurso de uma maior consciência, via LSD, já é questionável. Esta busca está mudando de ferramenta, passando de ácido para yoga e filosofia hindu. E para segurar o pique de cocaína, muita gente inadvertidamente substitui os calmantes por heroína.
Heroína
Vinda do ópio, a heroína foi criada em 1874 pelos laboratórios da Bayern, com intuito de oferecer um remédio para ajudar pessoas dependentes de morfina a se livrarem do vício. Heroína resolve o problema da morfina de fato, não obstante oferece um problema pior. Na prática, heroína é a anestesia mais forte criada pelo homem. Deixar de tomá-la é um tormento, pois o corpo fica extremamente doente sem a droga no sistema. A abstinência provoca de início angústia, febre, e tremedeiras, seguidos de suor frio, coceiras, disfunções dos órgãos, nausea, diarréia, câimbras, vomito, e convulsões. O tempo mínimo de abstinência é de 72 horas antes de o usuário conseguir voltar a andar e comer normalmente. Ainda assim, o desejo pela droga é uma tortura para o psíquico e pode durar anos.
A Papoula e os Deuses
A papoula, também conhecida como papaver somniferum, é uma planta florida de cores em tons que variam entre verde, vermelho, roxo e branco. É de sua seiva que se obtém o ópio. Registros sugerem que o uso do derivado da papoula vem do sul da Mesopotamia, região que hoje é englobada pelo Iraque. Documentação datando desde cinco mil anos antes de Cristo referem-se a ela como a planta da alegria. Também na antigüidade, registra-se a presença da papoula na Grécia. Foi plantada inicialmente em um povoado perto de Corinto, que passou a ser chamado de Mecônio, por causa da planta. A cidade mais tarde passando a se chamar Cidônia.
Os gregos também registram a papoula em sua arte e mitologia. Seu poder de induzir ao sono lhe dá status de planta mágica. Imagens de vários Deuses são representados segurando ramos e flores da papoula, justamente associando seus efeitos com os poderes dos Deuses. Este é o caso de Hypnos, o Deus do sono, assim como Nyx, o Deus da noite e Thanatos, o Deus da morte, todos identificados com ramos ou bouquets de flores de papoula nas mãos. Deuses mais conhecidos como Apollo, Demeter, Aphrodite e Cybele também contam com a papoula em suas histórias. Conta-se que Demeter, em desespero pelo seqüestro de sua filha, comeu a papoula para esquecer a dor e dormir. Para os adoradores de Afrodite, a planta é sagrada, simbolizando tanto abundância quanto fertilidade.
Ópio e a Rota da Seda
Os Egípcios usavam ópio como anestesia, realizando operações de acordo com a medicina disponível em sua sociedade. Entre os séculos VI e VII, a planta chegou à China, pela rota da seda, através de comércio realizado com os Árabes. Na China, o ópio importado também passou a ser usado como uma forma de medicina por mil anos, até que no século XVII se descobriu que ópio poderia ser fumado. Tornado ilegal pelo governo chinês, o preço do produto no mercado subiu e Inglaterra e Portugal passaram a fazer fortunas fornecendo ópio ilegalmente através de seus territórios na India e Indochina. Em tempo, a Inglaterra tomaria para si este mercado, levando o governo chinês a retaliar, destruindo toda a remessa do produto antes dele entrar em território chinês. Isto deu origem a duas pequenas guerras entre estas duas nações. Foi no tratado de paz desta guerra, que a China foi obrigada, em pagamento ao ópio destruído, a ceder o controle de Hong Kong para a Inglaterra, controle só recentemente retomada pela China.
Durante a era Vitoriana, o ópio passa a ser consumido também na Inglaterra, o povo utilizando-a em forma de pílula. Muito popular também se tornou consumir ópio misturado com álcool, o que passou a ser chamado de laudanum. Em 1803, Friedrich Wilhem Serturner isolou do ópio um alcalóide que batizou de morfina, em homenagem a Morfeu, Deus grego do sono. Morfina se torna rapidamente o melhor e mais eficaz anestésico criado pelo homem, bem mais eficaz e seguro para o paciente do que ópio puro, como se usava no antigo Egito. Do ópio, também já se isolaram outros alcalóides como Codeína, Tebaína, Bensilisoquinolinas, Papaverina e Noscapina, todos sendo usados na medicina. Quando a heroína surgiu, foi como outra forma de anestesia. Vista como uma droga segura e benéfica, passa a ser vendida livremente no mercado farmacêutico como um substituto à morfina. Todavia, com o decorrer dos anos, se percebeu seu potencial viciador e tanto a heroína, quanto morfina, passaram a ser proibidos quando vendidos sem prescrição, à partir de 1920. Nos Estados Unidos, o ópio passa a ter sua importação proibida desde 1877, meros três anos após o surgimento da heroína.
Da França aos Estados Unidos
A papoula passou a ser uma planta muito comum na Indochina, criou um mercado negro naquela região, herdado primeiro pelos franceses, quando estes tomaram posse da região. Os Franceses são responsáveis pela heroína chegar à Europa, a chamada Conexão Francesa, vindo via Marseilles. Depois, em 1955, foi a vez dos americanos, quando estes substituíram os franceses no controle daquela parte do mundo. Com as guerras da Coréia, e depois Vietnã, a ação militar americana na região desenvolvia a industria bélica na pátria mãe. Para obter e manter o controle da região, os militares e a CIA mantiveram relações amigáveis com traficantes locais e ilegalmente passam a auxiliar no acesso às rotas, tornando-se sócios. A produção era feita em grande escala em Laos e Burma, que passavam de 7-8 toneladas ao ano com os Franceses para produzirem cerca de mil toneladas ao ano.
São dois os focos de operações. Primeiramente fornecer a droga para os seus soldados para anestesiar ferimentos físicos e psicológicos sofridos pelos horrores da guerra. O outro tratava de tentar aniquilar a revolta de uma minoria étnica dentro dos Estados Unidos; os negros ativistas.
Heroína na América nos Anos Sessenta
Com a entrada dos anos sessenta, soldados que voltam aos Estados Unidos estão com dificuldades de se readaptar ao convívio social. O uso de heroína já existe há quarenta anos, muito embora em pequena escala, restringindo-se quase que exclusivamente às comunidades negras. Os brancos estão mais propensos a terem contato com morfina, anestesia ainda largamente utilizada em hospitais.
Com a revolução jovem e principalmente com o Movimento dos Direitos Civis tornando-se cada vez mais forte, surgem líderes mais aguerridos, que pregam que o negro deva fazer o uso do direito constitucional de portar armas e se proteger do branco agressor. Um destes líderes, hoje mais conhecido por causa do cinema, era conhecido pelo nome de Malcom X, e acabou assassinado em 1965. As relações entre as raças negras e brancas estavam tensas, com medo e preconceito sendo a base de todo raciocínio lógico. A CIA em pânico escolhe uma opção; a de facilitar a entrada de heroína dentro do país para serem vendida e consumida pelos negros. Escoa-se assim parte da produção para um mercado interno, em Los Angeles e Harlem, enquanto eliminava-se parte da comunidade negra insatisfeita. Toda operação de transporte da heroína da Indochina direto para os Estados Unidos é autorizada e protegida por membros de facções do governo americano, mormente a CIA, FBI, DEA, INS, que pagavam o silêncio de chefes de setores na alfândega, juizes, trabalhadores no Departamento da Justiça e membros do Congresso.
Mesmo toda essa ação sendo ilegal, e sem o governo como um todo estar ciente, por "detrás dos panos" é a própria CIA quem está fornecendo heroína para a máfia vender nas ruas. Durante o final da década de cinqüenta, até o final do governo Nixon em meados da década de setenta, a CIA colocaria a máfia, as polícias estaduais, e o FBI, todos a trabalharem juntos, conforme sua necessidade. Hoje a organização sofre com incontáveis teorias de conspiração sobre vários fatos e incidentes na historia criminal americana deste período.
Nós Contra Eles na América
O Movimento Anti-Guerra
Entre a Primeira Reunião Estudantil Contra A Guerra de Vietnã realizado em 1964 nos Estados Unidos, até a primavera de 1968, muita coisa mudou. O ano é de eleição na América e a situação queria continuar no poder. Havia um esquema montado rendendo milhões de dólares com o gerenciamento da política de guerra e que não poderia arriscar ser desmantelado com a entrada de outra mentalidade no poder.
As manifestações de paz montadas pelos estudantes passam a ser invariavelmente respondidas com força militar. Bombas de gás lacrimogêneo, canhões de água, pastores alemães e muito porrete de borracha em quase todos eles.
Havia uma forte campanha contra o Presidente Democrático Lyndon Johnson, muito graças a seu governo que alimentava a guerra do Vietnã com americanos jovens, obrigados a deixar seus estudos e suas vidas, para irem lutar. Quem não aceita ir "defender o país", é preso e processado. Isto promoveu a grande debandada de jovens a sair de suas casas, suas cidades, e migrarem, optando por uma vida nômade pelo país, como ensina o livro Beatnick, "On The Road" de Jack Kerouac. Começariam a surgir, escondidos dos centros, pequenos acampamentos com hippies vivendo em uma "sociedade alternativa".
O Partido Democrata estava enfraquecido pela falta de apoio de uma gama de afiliados. Estes são contra o Partido Republicano, partido mais conservador, porém também contra o atual governo praticado por Johnson. Acabam se fragmentando em diversos grupos ativistas.
Um grupo passou a se chamar MOBE - National Mobilization to End the War in Vietnam (Mobilização Nacional para o Fim da Guerra de Vietnã), outro, é o SDS - Students for a Democratic Society (Estudantes para uma Sociedade Democrática), e uma terceira, liderado pelo jovem estudante ativista Abbie Hoffman, seriam batizados de Yippies - Youth International Party (Partido Internacional do Jovem).
Eventos Pertinentes
Em novembro de 1967, o Senador Eugene McCarthy seria o primeiro a correr para a presidência, contra o atual Presidente americano, dentro do seu partido. Em final de janeiro, os Vietcongs avançam e por 77 dias cercam e invadem Saigon, Vietnã do Sul; ataques atingindo a embaixada americana e provocando uma demanda maciça de soldados, mandados para o Vietnã. Cerca de 542 mil soldados só no ano de 1968, o que aumentaria a opinião publica contra a continuação do envolvimento do país nesta guerra. Richard Nixon e George Wallace, na primeira semana de fevereiro, oficializam suas entradas para concorrer à nomeação do representante do Partido Republicano para a corrida presidencial.
Em março, uma tropa americana, comandada pelo Tenente Kelly, invade uma pequena vila Norte Vietnamita e assassinam todos os 300 habitantes, todos civis, incluindo idosos, mulheres e crianças, que moravam no local. O ocorrido seria mantido em sigilo até o final de 1969. Mas com grande parte da população insatisfeita com os Estados Unidos participando em uma guerra que nada tem a ver com o país, mais protestos nas ruas se espalham. Em 16 de março, o Senador Robert F. Kennedy oficialmente afirma entrar na corrida para a nomeação do representante do Partido Democrata. Na semana seguinte, os partidos MOBE, SDS e Yippies se unem em apoio a Kennedy e para estudarem estratégias contra os Republicanos.
Em meio a uma greve de lixeiros organizada pelo Movimento dos Direitos Civis, e que se estende em um impasse por tempo demais, a pressão política criada é imensa. Alguns consideram esta greve o estopim que levou no dia 4 de abril de 1968, o Reverendo Martin Luther King Jr. ser assassinado em plena luz do dia.
Nós Contra Eles na América
A Comunidade Negra Organizada Se Protege
Quando as manifestações eram para exigir os direitos dos negros, as ações da polícia eram ainda mais covardes. Humilhações, como também assassinatos de pessoas desarmadas não eram de se espantar. Houveram protestos gravíssimos durante os próximos dias, seguidos à morte do Reverendo King com confrontos entre brancos e negros em mais de cem cidades espalhadas pelo país. O prefeito de Chicago, Richard J. Bailey critica abertamente seu Chefe de Polícia por dar ordem explícita a seus homens para atirar com intúito de matar ou aleijar qualquer negro protestando. Nove negros foram assassinados e quase doze quarteirões acabaram incendiados no levante popular étnico.
The Black Panthers - Os seis primeiros
Uma facção do Movimento dos Direitos Civis, vendo que o governo não dá o devido interesse ao bem estar do povo negro, tomam para sí obrigações que deveriam ser do governo. Em outubro de 1966, na costa oeste americana, os amigos Bobby Seale e Huey P. Newman criam The Black Panther Party For Self Defense (Partido Para Defesa Pessoal Panteras Negras). Este grupo se tornaria famoso em todo o mundo e seria vendido para a mídia como terroristas.
Os Panteras Negras
Os Panteras Negras nasceu da urgência de se dizer “não”. São na prática um subproduto da opção infeliz da CIA de injetar heroína nas comunidades negras americanas. Promovem ações comunitárias como o programa "Café da Manhã Gratuito" para as crianças menos favorecidas poderem ir para a escola devidamente nutridas. Programas de alfabetização para adultos em aulas noturnas para aqueles que se interessam ainda em expandir seus horizontes. Programas de assistência médica preventiva totalmente gratuito. Um total de doze programas são criados pelos Pantera Negras e seus representantes passam a se espalhar pelo país, organizando as comunidades carentes.
Passam a comprar armamentos, como rifles, pistolas e munição, podendo assim policiar as ruas da comunidade com maior rigor e coibir, até certo ponto, o tráfego de heroína que passara a ser encontrada por preços quase gratúitos nos guetos. As armas são também para responder com fogo a brancos, sejam civis ou policiais, que abusam da sua dita autoridade para espancar e humilhar gratuitamente o negro. Evidentemente a imagem de negros militarmente organizados, armados e sem nenhum intuito de permitir se continuar a discriminação clara e gratuita da lei contra aquela etnia, assustou muita gente.
Quanto à heroína apanhada sendo vendida nos guetos, passam a ser revendidas para os brancos com uma margem de lucro. Este lucro ajuda a pagar os custos dos programas, locomoção de organizadores e munição. Ao se armarem e enfrentarem "forças de opressão política", dentro do país, os Panteras Negras seriam caçados até que seus líderes e vários de seus membros sejam mortos.
O programa do FBI chamado COINTELPRO (Counter Intelligence Program), criado para aleijar a esquerda ativista organizada, serviria para ameaçar, perseguir e assassinar vários membros dos Black Panthers.
Funeral de Bobby Hutton,assistido por Marlon Brando
Em 1967, chacinam Bobby Hutton, ateando fogo em sua casa e atirando assim que ele saiu. Décadas mais tarde, a lei ordenaria ao governo pagar substancial soma à família Hutton, como forma de indenização pelas ações ilegais tomadas no caso.
Não Há Só Flores em San Francisco
As músicas tomam enorme participação com os eventos correntes, cobrindo temas sociais pungentes da época. Se Bob Dylan anos atrás comentava de forma poética a sina do homem e a guerra com "Blowin' In The Wind", ele também anuncia secamente que "The Times They Are A-Changin'". Barry McGuire responderia com a pessimista "Eva of Destruction", canção que analisa a violência excessiva não só no oriente médio como também no próprio país. Mas nenhuma canção tocou tão bem na realidade do que estava sendo 1967 e 68, como "For What It's Worth" de Buffalo Springfield. A letra de Stephen Stills procura conscientizar todos de que os tempos realmente mudaram, e muito cuidado para não morrer de bobeira é recomendável.
For What It's Worth
There's something happening here
And what it is ain't exactly clear
There's a man with a gun over there
Telling me I've got to beware
I think it's time we stop,
Children, what's that sound?
Everybody look, what's goin' down
There's battle lines being drawn
Nobody's right if everybody's wrong
Young people speaking their minds
Are getting so much resistance from behind
Time we stop,
Hey, what's that sound?
Everybody look, what's goin' down
What a field day for the heat
A thousand people in the street
Singin' songs and carryin' signs
Mostly say "hooray for our side"
It's time we stop,
Hey, what's that sound?
Everybody look, what's goin' down
Paranoia strikes deep
Into your life it will creep
It starts when you're always afraid
Step outta line, the man come and take you away
We better stop,
Hey, what's that sound?
Everybody look, what's goin' down
1968
O relato de todos estes eventos ajuda a nos trazer ao estado de espírito da época. As belas músicas que cercam o período não podem nos fazer esquecer como foi árduo sobreviver em certos países no ano de 1968. Não alheio ao que está ocorrendo no mundo, Mick Jagger está em Londres falando sobre os tempos e o significado destes eventos, que para ele são todos interligados com a insatisfação dos jovens de verem suas vidas dependerem de gente velha com leis antiquadas que não correspondem às realidades do mundo moderno.
Paralelamente, os Stones como uma banda sabem que há uma necessidade para voltar a trabalhar em um novo disco o quanto antes. Eles estão em um momento crucial onde a imagem da banda, um pouco queimada pelo disco anterior, precisa ser reerguida. Mick telefona e conversa com os demais, prometendo uma maior participação nas composições tanto para Bill quanto para Brian. O grupo volta a se encontrar e trabalhar juntos em março.
Unforgivin - Within Temptation
Caros leitores do Whiplash!, ouso a dizer que estejamos diante de um clássico. O WITHIN TEMPTATION deu mais uma prova do porquê de ter conseguido alçar voos tão altos nos últimos anos, nos presenteando com um disco que desde já é candidato a melhor trabalho do ano em seu estilo.
Desde o final do ano passado a banda veio deixando os fãs inteirados sobre os processos que envolviam a produção do disco, com pequenas amostras, fotos e vídeos de bastidores, novidades sobre a HQ que será lançada juntamente com o CD (trazendo o conceito por trás das letras) e uma infinidade de pequenos spoilers que deixavam nos fãs com uma curiosidade aguçadíssima e uma ânsia sem tamanho por poder ouvir o material novo. E a espera valeu demais a pena.
A primeira faixa é um prelúdio chamado "Why Not Me", uma narração misteriosa da personagem principal da história. Os sons por trás dela criam um clima obscuro e tenso, que abre o disco de vez. Logo em seguida começa "Shot in the Dark"; não haveria maneira melhor de abrir o disco, uma música grandiosa, com os tradicionais arranjos sinfônicos, mesclados com uma veia heavy mais saliente, moderna e ao mesmo tempo com ares oitentistas. Uma peça única, criativa, original e que é só o abre-alas do que ainda está por vir.
A terceira faixa faz o disco valer por inteiro. "In the Middle of the Night" é ainda mais portentosa, com riffs cortantes e acelerados, um andamento empolgante, mais arranjos sinfônicos grandiosos, um refrão de arrepiar e uma interpretação impecável da vocalista Sharon den Adel. Em futuros shows, com certeza há de ser o ápice de empolgação do público, sensacional!
"Faster" já era conhecida depois da divulgação do primeiro vídeo/curta metragem dos três que serão lançados para promover “The Unforgiving”. Tem uma cara bem anos oitenta, de levada cadenciada mas com bastante peso e mais um ótimo refrão. Nota positiva pela boa aparição do baixo de Jeroen Van Veen; outro belo destaque. Os saudosistas da sonoridade do disco “Mother Earth” (2000) ficaram deliciados com a bela balada "Fire and Ice", construída em cima de uma melodia de piano melancólica e intimista, mas que cresce e se torna um som forte e intenso, esbanjando um feeling tocante. Lindíssima!
Logo depois chega mais um petardo: "Iron" é uma das mais pesadas do disco, com bons riffs e atuação intensa do novo baterista Mike Coolen. Uma música coesa e compactada, com a letra construida inteligentemente, transmitindo uma energia espetacular. Sharon mais uma vez dá show. A próxima faixa foi a primeira a ser divulgada, "Where is the Edge". Tem bem a cara do trabalho anterior, “The Heart of Everythig”(2007), mas sabe ter sua personalidade. É mais lenta, mas não menos bem trabalhada e com ares de grandiosos. Na comparação com as demais faixas pode parecer a mais fraca do disco, mas eu não usaria essas palavras, só diria que é menos perfeita.
O disco se encerra de forma sublime com a power-balada "Stairway to the Skies". Feeling, leveza, peso, grandiosidade... tudo aglutinado numa química perfeita e irretocável. Não é preciso louvar ainda mais Sharon, mas sua interpretação nesta música é ainda mais especial, conduzindo o ouvinte ao final da história deixando-o emocionado, relembrando todas as fortes sensações que teve no decorrer do disco. Um encerramento mais que perfeito!
Decididamente a banda abandonou as características que foram marcantes no disco de estreia, “Enter”, do distante ano de 1997. Pessoalmente não vejo isso como problema, já que pelo menos a mim aquele ar gothic/doom arrastado demais me dá sono. Muitos fãs mais extremistas afirmam que a banda se vendeu ao longo dos anos, tornando-se uma banda comercial. Acho um exagero absurdo dizer isso; o que de fato aconteceu foi uma amadurecimento natural, corriqueiro em todas as bandas grandes que conseguiram se manter em alta ao longo da carreira.
Mas mesmo com esse amadurecimento o WITHIN TEMPATION nunca deixou de lado as características que o consagraram e o botaram no hall das maiores bandas do metal sinfônico, e isso fica absolutamente claro neste maravilhoso “The Unforgiving”. Temos as orquestrações épicas, melodias bem construídas, a voz linda e cristalina da inigualável Sharon den Adel, peso e beleza alquimicamente unidos, guitarras não geniais mas muito competentes, uma cozinha de respeito e o clima único que essa grande banda sabe dar às suas composições. Tudo isso aliado com a inventividade e originalidade de novas ideias, resultando num material com muita identidade própria, mas que é intrinsecamente ligado ao passado. Essa é a receita para fazer um grande disco que se tornará clássico.
Ítem obrigatório na coleção de todos os fãs.
O Within Temptation é:
Sharon den Adel – Vocais
Robert Westerholt – Guitarra
Ruud Jolie – Guitarra
Jeroen van Veen – Baixo
Mike Coolen – Bateria
Track List:
1. Why Not Me (0:36)
2. Shot in the Dark (5:02)
3. In the Middle of the Night (5:11)
4. Faster (4:23)
5. Fire and Ice (3:51)
6. Iron (5:38)
7. Where is the edge (3:59)
8. Sinéad (4:26)
9. Lost (5:16)
10. Murder (4:16)
11. A Demon's Fate (5:30)
12. Stairway to the Skies (5:32)
Paradise Lost - Aztec Jade
Por Fabrício Boppré
A Aztec Jade é uma banda americana que pratica um prog metal um pouco menos afetado, quero dizer, não existem verdadeiramente aqueles momentos progressivos no meio de suas músicas, como gosta de fazer o Dream Theater, por exemplo. A banda prima pela técnica de seus instrumentistas e por composições quebradas e com um certo nível de complexidade em alguns momentos, seguindo a linha do material antigo de bandas como Queensryche e Fates Warning. Mas é notável também a pretensão do conjunto em deixar seu som mais acessível, mais equilibrado e com mais melodia, tornando-se assim injusto rotulá-la como simplesmente uma banda de prog metal. Em alguns momentos o Aztec flerta com o metal melódico, e, devido ao trabalho de guitarras mais sujas e descompromissadas em certas partes, desanda para o bom e velho hard rock sem firulas.
Feitas essas divagações para situar o leitor quanto ao tipo de música que o Aztec produz (e os tão discutidos rótulos servem unicamente para isso), podemos analisar a música propriamente dita. “Paradise Lost”, lançado pelo selo italiano Adrenaline Records, contém os dois primeiros trabalhos da banda, o EP "Modern Prophet", de 1995, e o álbum "Frame Of Mind", de 1997, além de uma nova faixa. São 17 faixas no total, geralmente curtas e bem acabadas, com a banda mostrando entrosamento e habilidades individuais em seus respectivos instrumentos. As melodias não possuem lá muita originalidade e a produção não é exatamente perfeita, mas consegue equilibrar bem os instrumentos. Teclados, a cargo de Tim Becker, são usados em todas as músicas, naquele mesmo esquema tradicional de fundo-atmosférico. O guitarrista Matt Howenstein sabe o que faz, e em faixas como “Mad Not Crazy” e “Desperate Land”, deixa claro que uma de suas principais influências é John Petrucci. Constrói outros excelentes solos também em faixas como “Soul Inside Of Me” e “Modern Prophet”. O baterista Rick Miller também está à vontade e não deixa a peteca cair, destacando-se em alguns momentos, como na quebrada faixa de abertura, “Regatta Fugue Part I”. O vocal de Leon Ozug é limpo e segue a linha de André Mattos e de outros, como a do vocalista do Time Machine. Em alguns momentos Leon abusa da técnica, forçando e trabalhando demais a voz, acabando por soar nada natural. De qualquer maneira, deve agradar aos fãs do estilo, que muitas vezes dão mais valor a técnica do que propriamente ao feeling. Por fim, o baixista Brian Kowalski é discreto e mantém seu instrumento na média, estruturando bem as canções e não aparecendo muito.
As faixas que se destacam são as empolgantes “Mad Not Crazy” e “Requiem” (essa última é muito boa, a melhor do disco), a climática “Atlantis”, a sinistra e bela “Nosferatu”, e “Gates of Babylon” (nada a ver com a música homônima do Rainbow). Os músicos são bons e esforçados, as composições possuem bons momentos (alguns são realmente muito inspirados), mas aparentemente falta alguma coisa para que o grupo decole e se torne referência no estilo. Mas tem potencial, e o público do prog metal deve conhecer o quinteto imediatamente.
Taken By Force - Scorpions
Por Marcos Vinicius Carra
Todos sabem da capacidade dos Scorpions para fazer Hard Rock, e no álbum "Taken by Force" isso está mais do que explícito. Este foi o quinto álbum de estúdio feito pelos alemães, gravado entre junho e outubro de 1977 e lançado apenas em janeiro do ano seguinte. Foi também o último trabalho de Ulrich Roth com a banda nos estúdios - Uli ainda estaria presente no primeiro álbum ao vivo "Tokyo Tapes" de 1978 -, pois decidiu formar sua própria banda, a Electric Sun. Em seu lugar entraria Matthias Jabs, que está na banda até hoje.
Na época, os Scorpions ainda não haviam obtido a fama que teriam nos anos 80, mas já tinham uma pegada pesada e produziam baladas com belas harmonias, o que é provado em "Taken by Force". Sua dupla de guitarristas se encaixa perfeitamente com a rapidez do baixo e da percussão, isso sem considerar o vocal de Klaus Meine, que sabe se expressar tanto melodicamente quanto de um modo mais agressivo comprovado nas canções mais pesadas do álbum como "I've Got to Be Free", "The Sails of Charon" e "He's a Woman - She's a Man", estas duas últimas possuem um riff e uma rapidez contagiante. A faixa que fecha o álbum é "Polar Nights", que já havia entrado no álbum anterior, o "Virgin Killer" de 1976, polêmico devido a sua capa conter uma jovem menor de idade nua.
Tracklist:
1. Steamrock Fever
2. We'll Burn the Sky
3. I've Got to Be Free
4. The Riot of Your Time
5. The Sails of Charon
6. Your Light
7. He's a Woman - She's a Man
8. Born to Touch Your Fellings
9. Suspender Love
10. Polar Nights
Line-Up:
Klaus Maine - Vocal
Ulrich Roth - Guitarra
Rudolf Schenker - Guitarra, vocais
Francis Buchholz - Baixo, vocais
Herman Rarebell - Bateria, percussão