21 de março de 2011

Parte 08 - Satisfaction


Brian já é um alcoólatra e viciado em anfetaminas, o que é uma combinação perigosa e não ajuda sua tendência nata de aumentar as coisas fora de proporções.
Reativan
Anfetaminas são geralmente remédios farmacêuticos. São estimulantes, que na gíria americana são chamados de "uppers" (levantadores) ou "speed" (velocidade) e na inglesa chamados de "leapers" (pulantes), graças ao seu poder de acelerar seu ritmo e te deixar "quicando". Dentre os leapers, um dos mais populares era Drinamyl, também conhecido como purple hearts.
Muito popular entre pessoas do show business, especialmente do cinema ou música, que são exigidos durante longas horas de trabalho, sempre tendo que se mostrar alegres e despertos. Para qualquer um com problemas de fadiga, anfetaminas eram um remédio esplêndido. Por exemplo, durante seu período inicial de viuvez, Jacqueline Kennedy era receitada injeções quase diárias contendo anfetaminas com vitaminas. Leapers se tornaram extremamente populares entre os mods. O efeito era de deixar a pessoa extremamente agitada. Abusar a medicação porém tendia a estressar o seu sistema cardíaco, provocar muito suor e perda da coloração da pele.
A Terceira Excursão Americana
Andrew e Mick passaram a selecionar mais os jornalistas aptos a entrevistar e escrever sobre os Stones. Afinal, se a banda Rolling Stones é um meio de vida, então a sugestão implica que a mesma ou será tratado com o devido respeito ou o jornalista não terá acesso a ela. Quesitos essenciais eram conhecimento relativo da música que a banda toca, uma tendência a falar favorável e principalmente serem jovens. Jagger mais do que qualquer outro desconfia de gente com mais idade, concluindo de antemão que não terão uma mente aberta para ouvir sem preconceitos.
A batalha campal entre segurança e público assim como a necessidade de controle austero por parte dos organizadores, invariavelmente estraga a festa com cortes na força e encerramentos precoces. Em Ottawa, o dono do estabelecimento concluiu para a imprensa que faltou um fosso com crocodilos para poder conter o público de querer subir no palco. Num dos hotéis, o porteiro precisou tomar quatro pontos, resultado de suas brigas para conter as meninas querendo entrar.
Keith e Bill
Keith e Bill

Groupies
Foi por volta desta época que Bill Wyman solta a pérola de que a razão pelo qual ele toca com seu baixo quase em pé é para usar o braço do instrumento para tampar os holofotes da vista e assim, poder enxergar melhor as meninas na primeira fila. Ao prestar atenção no Bill durante uma apresentação dos Stones, você poderá notar ele sorrindo para as gatinhas e passando o número do seu quarto.
Também cresce a horda de meninas sempre disponíveis e dispostas a fazer qualquer coisa para ter um relacionamento de ocasião com algum membro de algum grupo de música. Logo, não é tão surpreendente que tenha sido o sexualmente desassossegado Bill Wyman quem cunha o termo 'groupie' para identificar este tipo de fã. Bill mesmo não se recorda de ser especificamente ele o primeiro a usar o temo, mas Keith garante e credita a palavra a Bill. Depois os Stones passaram a se referir as meninas como 'groupies' e o termo rapidamente se espalhou se tornando gíria em todo mundo e dando vazão a outros termos como roadie e druggie, este mais tarde substituído por junkie.
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De Toronto, eles iriam para Chicago para gravar algumas coisas mas Brian já estava extremamente deprimido e descontente com a excursão. Ele voa para Nova York e se hospeda na casa de outro amigo, o DJ Scott Ross, permanecendo lá por três dias, reclamando muito da sua situação dentro da banda. Fala abertamente que foi ele quem criou a concepção do grupo e agora, estão tramando contra ele. Volta a Chicago retornando com a banda a Nova York, tocando dia 26 de Abril no Ed Sullivan Show pela segunda vez.
À noite, Brian, Keith e Mick sobem o Harlem para assistirem Wilson Pickett no Apollo Theater. Na manhã seguinte, Andrew Oldham e Eric Easton chegam de Londres, assistindo dia 02 de Maio, mais uma apresentação no Ed Sullivan Show. Depois todos foram para uma festa no Playboy Club em homenagem a Tom Jones, artista da London Records, representante da Decca na América. Pelo caminho, um conversível com alguns rapazes emparelharam com o carro que levava a banda, seguindo até o clube enquanto insultava os Stones chamando-os de "viados". Ao chegar, Brian imediatamente grita para os demais, "Vamos pegar os colonos!" e pula do seu carro para dentro do conversível, seguidos por Mick e Keith. O pessoal cai na porrada legal enquanto Charlie, Bill e Stu vão para festa.
Flórida
Na manhã seguinte estão gravando o Clay Cole Show, e depois arrumando as malas, seguindo para Georgia. Continuam então em rumo para Flórida, onde tocam em algumas cidades, a última sendo Clearwater, show marcado para o dia 06. Cada Stone amanhece no dia 07 com uma groupie do lado e uma disposição de apenas descansar e não ter pressa para nada, curtindo sem pressa o dia de folga. Enquanto Bill, Mick e mais alguns da equipe, estão descansando à beira da piscina do hotel, aparece uma das meninas cheia de hematomas. Brian havia espancado a garota sem misericórdia. Um dos roadies, Mike Dorsey, indignado, caça Brian e prontamente enche ele de porrada, com aprovação geral, quebrando duas de suas costelas no processo. O incidente foi abafado mas era evidente que Brian estava perdendo a noção das coisas.
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Brian parecia fazer questão de tornar qualquer amizade com ele difícil. Certa vez Ian Stewart o pegou pelo pescoço gritando "Porque você faz tudo para estragar o dia de todos?" Ele vivia se enfiando em brigas, não sabendo como dosar seu comportamento no palco, nem como lidar com criticas. Aos seus olhos, na época em que Mick apenas balançava a cabeça quando cantava, ele já agitava o público pulando e provocando sensualmente e sexualmente com sua guitarra. Agora Jagger fazia o mesmo, roubando a sua cena, imitando sua performance e merecendo mais atenção do público e da imprensa do que ele. Sua inveja paranóica e necessidade extrema de afirmação são a estrada de sua ruína. As drogas apenas pavimentam o caminho.

Satisfação
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Mais tarde no mesmo dia, ainda em Clearwater, Keith mostra no violão algo que ele havia criado minutos antes. Ele conta que acordou com o seu gravador de rolo ligado, girando em falso. Não se recordando de ter gravado nada na noite anterior, ele curiosamente procura ouvir o que está na fita. Nela se ouve apenas um riff repetido por alguns segundos e o resto da fita é dele roncando. Keith conclui dizendo que o tema daria um bom folk para ser usado no próximo disco.
Mesmo não vendo o tema como algo comercialmente viável, seu instinto o fez trabalhar bastante na canção e ao chegaram novamente em Chicago no dia 10 de Maio, a canção estava pronta para ser gravada. A versão, oferecia Brian na gaita fazendo o tema principal. Mick Jagger escrevera uma letra com o riff em mente, e a canção passa a ser batizado de "Satisfaction."
Dois dias depois, já em Los Angeles, gravaram novamente a canção, desta vez, com Keith tocando o tema numa guitarra com fuzz-tone (efeito de um pedal), e Charlie tocando em outro tempo. A música funcionou como nunca, e afora Keith e Mick, todos estavam certos que tinham o próximo hit da banda nas mãos. O resto da sessão foi dedicado a "My Girl," "Good Times," "Cry To Me," "I've Been Loving You Too Long," "One More Try," e "The Spider And The Fly."
Mas antes de se encerrar sessão, Bill Wyman apronta uma brincadeira com a galera. Ao ver um pequeno grupo de groupies aguardando na sala de espera do estúdio, ele as convida a entrarem sobre uma condição... De repente Bill está entrando no estúdio propriamente dito, onde a banda e equipe técnica estão reunidos, com um sorriso matreiro na face. Logo atrás dele entram umas seis meninas totalmente nuas. O sangue e outras coisas sobem e Andrew Oldham é o primeiro a escolher uma, levá-la para o aquário (apelido para a parte do estúdio onde fica todo o equipamento de gravação) e sobre a mesa, começa a ter relações.
Depois todos foram para seus hotéis. Todos menos Andrew, Keith, Mick que como de costume, ficam até mais tarde para trabalhar mais nas músicas. Gravam com o auxilio de Dave Hassinger, o engenheiro de som, os overdubs e vocais, antes de mixar o material, só deixando Los Angeles com tudo pronto.
Califórnia
Depois dos shows em San Francisco e San Bernardino, voltam a Los Angeles e após a sua apresentação, quase são mortos ao tentar deixar o local. Já dentro da van com Stu, uma multidão não permite que o veículo saia nem para frente nem para trás. A histeria é tanta que as pessoas começam a ser esmagadas contra os lados da van, sendo obrigadas a subir no teto para buscar ar e proteção. O teto da van sede e todos tentam evitar uma tragédia, sustentando o teto com as mãos como que pilares humanos. Todos menos Bill Wyman que está ocupado demais cantando algumas das meninas para perceber que a razão dele ter que inclinar pro lado é porque o teto esta cedendo. Logo a realidade assustadora fica impossível de ignorar e a banda inteira está deitada de costas com os pés no teto tentando segurar a massa. Os minutos passam e as pernas começam a doer, querendo começar a dar cãimbra. A polícia em pânico, avançou sobre a população com seus cacetetes, espalhando sangue para todo lado. Muitas pessoas foram depois levadas para o hospital. O veículo seguiu então para o aeroporto e chegando lá, admiram do alto da escadaria do avião, o Sedan todo amassado. Estavam chocados mas aliviados de que sobreviveram ao incidente sem maiores ferimentos.
Filhos
Curiosamente, após uma serie de shows em Nova York, a banda chega em Londres e descobre que existe um processo contra Charlie, acusado de ser pai de uma criança de quatorze meses, que teve com Christine White, de 19 anos, filha de um taxista. Charlie seria absolvido, e a acusação, considerada falsa no mês seguinte.
Mas o mesmo não era o caso de Brian. O casal volta a se separar e Linda Lawrence entra na justiça pedindo pensão para seu filho Julian Mark Jones, que atendia pelo nome de Mark. Obrigado a morar com os pais, que tomam conta do menino enquanto ela trabalha, Linda, que havia começado a trabalhar como cabeleireira, agora desenha e cria roupas jovens, sonhando algum dia ter sua boutique.
Não demorou muito e Pat Andrews também estaria na justiça pedindo pensão para o seu filho Mark Julian Jones, que atendia pelo nome de Julian. O advogado dos Rolling Stones, Dale Parkinson, ficou encarregado de cuidar do assunto que se estenderia por vários meses.
Bob Dylan em Londres
Bob Dylan, 1965
Bob Dylan, 1965

Quando Bob Dylan toca no Albert Hall, todos estão lá para assistir, Dylan sendo seguramente o homem mais importante daquele período. Se os Beatles era a banda mais popular do mundo, Bob Dylan era quem todas as bandas respeitavam. Estavam lá todo mundo, os Rolling Stones, os Beatles, os Animals, os Bluesbreakers, etc.
Allen Ginsburg também presente, estava em um estado misto de alívio e admiração. Alívio que nasceu alguém da nova geração que pudesse seguir o trabalho de contestação intelectual iniciado pela Beat Generation a que ele representava, e admiração por Bob Dylan fazer isto tão bem em um período histórico tão propício.
Satisfaction
(I Can't Get No) Satisfaction é lançado inicialmente nos Estados Unidos, rapidamente se tornando No.1 nas paradas da Billboard. Na Europa, a canção vaza através de copias importadas e transmissões em rádios piratas. Ela é rapidamente assimilada pela crescente população jovem como hino contra as regras desta sociedade em que crescem mas não abraçam. Os Rolling Stones se tornam definitivamente a voz da juventude contra a opressão adulta. Adultos (pessoas nascidas muito antes de 1940), são vistos como uma estirpe com códigos de condutas antiquadas, ineficientes e moralmente questionáveis, dada ao cinismo social visivelmente em prática.
Em meio ao vácuo entre as gerações que a cada dia aumenta, escuta-se falar em desejo de paz, mas os governos investem cada vez mais em armamento bélico; dividem a Europa em duas, uma capitalista outra comunista; França faz cada vez mais testes nucleares no pacifico sul e divide com Inglaterra e Bélgica, políticas opressivas em suas possessões na África. Nos Estados Unidos, sua política externa manda cada vez mais tropas para Vietnã, Laos e Camboja, em uma guerra não declarada, enquanto dentro do pais, rechaça violentamente os universitários que exercessem seus direitos constitucionais de protestar contra o envio de mais jovens para a guerra.
Paralelamente, o sistema procura com extrema sutileza, manter a população negra oprimida sobre o domínio do homem branco. Assim, a constituição americana afirma que todos os homens têm direitos iguais, mas a concepção da lei, na prática, exclui o homem negro. (I Can't Get No) Satisfaction portanto é associada à insatisfação de várias injustiças sociais e com o cinismo existente, de onde estas injustiças se escondem. Moralidade cínica onde a castidade de suas filhas é fundamental para a honra da família, mas ao homem é permitido e incentivado buscar prazeres fora do lar. Onde Deus abençoa todos os homens mas está do lado apenas de quem acredita nele da forma que certas facções religiosas entendem.
A canção se torna a mensagem da geração de sessenta, diretamente para o clero, para os empresários, para os políticos, enfim, para as autoridades do mundo em geral, afirmando que o que chamam de "O Mundo Livre", (termo associado aos países capitalistas, em oposição a "Cortina de Ferro", termo associado aos países comunistas), é uma mentira e que os jovens desta geração não estão caindo na conversa. Não desejam perpetuar a farsa. Percebem que o mundo que encontram, agora que chegam à idade da razão, negligencia uma liberdade autêntica de expressão, nega a sexualidade de cada indivíduo, e aprisiona o povo em uma ética regido por conceitos de séculos atrás. Assim, cria-se uma população voltada quase que exclusivamente para a produção em massa, meta maior nesta sociedade tecnocrata.
A canção Satisfaction toca no subconsciente geral dos jovens que através dela estão dizendo que a juventude desta geração enxerga pelas fendas deixadas pela hipocrisia. Que nesta sociedade que supostamente deveriam defender, a liberdade sexual ou liberdade de escolher seu estilo individual de viver a sua vida, não é possível. Portanto não há nada livre neste chamado mundo livre. A canção espelha bem a insatisfação geral entre "a nova geração", e cada vez mais os jovens passam a perceber e tomar consciência de seus pontos em comum. A unidade fundamental para qualquer movimento finalmente nasce e com ela, viria em poucos meses, o movimento hippie e a chamada contracultura.
E o Dinheiro?
Para a surpresa de todos, enquanto o EP ao vivo Got Live If You Want It estava vendendo bem nas lojas, as contas bancarias não estavam exatamente cheias. A banda começa a indagar e perceber que o dinheiro não está entrando, mas o bom credito permite que eles se endividem comprando ou alugando, cada um, uma residência nova.
Brian se mudou para uma casa luxuosa em Chelsea, passando a pagar um aluguel salgado de £272. Apesar do ar aristocrático, seus modos caseiros continuavam os mesmos dos tempos de Edith Grove, tendo somente suas guitarras e seus discos visivelmente cuidados e arrumados. Charlie e Shirley em Julho compram uma casa valorizada em £8.850, construída no século XVI em Lewes, Sussex. A casa já fora do Arcebispo de Canterbury e além de muita área espaçosa, tinha estábulos. O casal, conhecido pela admiração que tem por cavalos, não poderia ter escolhido residência mais apropriada.
Mick e Keith, que moravam juntos em um apartamento no primeiro andar, estavam cansados de chegarem em casa e descobrir a residência invadida por fãs que eventualmente levavam pertences pessoais como souvenirs. Keith passa a procurar um lugar para morar com Linda Keith, sua namorada. Alugou então um apartamento em St. John's Wood, perto de Abbey Road. Mick alugou provisoriamente um apartamento em Marble Arch. Antes de se mudar, Mick morou algumas semanas na casa do fotógrafo David Bailey. Certo dia, Bailey estava fotografando uma modelo desconhecida quando Mick entra no quarto. "-Mick, estas fotos não estão acontecendo. Chega aqui um instante, por favor. Jacqueline, pula nas costas dele." E foi esta foto, que iniciou a carreira de Jacqueline Bissett.
Mick e Chrissie
Embora o casal tenha afeto sincero um pelo outro, Mick e Chrissie invariavelmente estão brigando. As vezes nem sabem porque. Mick odeia cenas mas Chrissie é excessivamente sincera; portanto grita e fala tudo que lhe vem à cabeça. Ao mesmo tempo, ela vai aprendendo até onde uma tática funciona conforme o desejado ou não. O casal briga, se separa, mas acabam voltando pouco depois. As amigas de Chrissie não entendem como ela pode deixá-lo; Mick Jagger, o grande símbolo sexual! Como se, o que mais poderia ela querer?
Esta idéia a incomodava, como se ela não pudesse sobreviver sem um homem. Chrissie começa a criar sua própria proteção, aprendendo conforme vai apanhando. Quando Mick a fez prometer nunca aceitar drogasde ninguém, ela concordou orgulhosa da proteção dispensado e do discernimento do namorado em não cair nas armadilhas do sucesso. Depois em uma festa no the Scotch of St. James Club, promovido por Andrew para todo o escritório dos Rolling Stones Ltd., ao ser oferecida um baseado, ela nega a oferta explicando que Mick não aprova. Nisto as pessoas riram da sua ingenuidade e ela é informada que ele é visto fumando o tempo todo. Complementam informando de que ele estava há pouco "doidão" numa roda, fumando com os demais da banda. Estas coisas doem, mas com a dor, Chrissie aprende.
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Ela percebe como as mudanças que a ambição e o desejo pelo estrelato afetam Mick. Antes, ele levava para o palco a sua personalidade honesta e crua. Depois, ele criou e aperfeiçoou uma persona de palco e outra na vida real. Agora, ela assiste o persona de palco invadir sua personalidade por completo. Chrissie flagra secretamente Mick se observando no espelho, movendo a cabeça e mexendo o corpo, estudando o que funciona melhor. Sua triste conclusão é que o seu namorado cedeu lugar para esta outra persona. Ele está virando um estrela.
Quando Keith comprou um Austin 1100 para sua mãe depois que ela tirou uma carteira de habilitação, Mick procurando carros com o amigo aproveita e compra um Austin Mini branco para Chrissie. Mas ela já sabe sobre Tish, namorada americana de Mick, que está passeando em Londres. A briga escala, ela grita e esperneia em um ataque histérico. Jagger odeia atitudes 'un-cool', odeia cenas, e portanto simplesmente vai embora e passa uma semana com Tish. Chrissie então pega o seu passaporte e vai para a América com o cantor PJ Proby que a vem cantando sempre que tem uma oportunidade. Aproveita a passagem em Nova York e aceita o convite da revista teen americana Tiger Beat, para ser uma colunista, reportando o que se passa na Swinging London.
Mick, em retaliação, coloca Tish morando com ele enquanto ela estiver no país, mas assim que Chrissie volta e o procura, ele está chorando pedindo perdão. Encontram-se no apartamento de Chrissie e ela o obriga a ligar dali, para sua casa e pedir a Tish que se retire. Ela sabe que se não for agora, Mick é capaz de perder a coragem e ficar enrolando indefinidamente. Tish é informada que a lua de mel acabou e Mick em seguida pede a mão de Chrissie em casamento. Pega de surpresa, passam uma noite extremamente romântica. Ela então está autorizada a procurar uma casa bonita para morarem. A cerimônia é planejada para provavelmente a primavera do ano que vem. Quando Mick anuncia os planos de casamento para Andrew, o produtor entra em crise de choro.
Allen Klein
Allen Klein

Andrew Contrata Klein
Apesar de dois anos de excursões extensas, quatro discos de ouro, o último com o recém lançado "Satisfaction," já No.1 no Reino Unido e logo em boa parte da Europa, a banda continuava recebendo a mesma mixaria semanal de £50 referentes a vendas dos seus discos. Mick e Keith ainda contavam com uma soma referente aos direitos autorais, o que ajudava, mas todos na banda imaginavam que o dinheiro demoraria para entrar, mas inevitavelmente entraria.
Enquanto isso, Eric Easton questiona Norman Weiss, o agente que cuida das excursões americanas da banda, sobre os contratos de um milhão de dólares que ele consegue para Epstein com os Beatles e o porque que os Stones não recebem oferta igual? Seu sócio Andrew Oldham por outro lado, toma medidas mais drásticas e contrata Allen Klein e seu advogado Marty Machat.
Allen Klein é um advogado Nova Yorquino com uma vasta clientela em Londres. Ele é odiado por praticamente todos com quem já tenha negociado. Klein joga duro e fez todos os artistas a quem ele representou mais ricos, ganhando com isso uma considerável porcentagem.
Ele chegou a Londres pelas mãos de Mickey Most, produtor e empresário de várias bandas, que o convidou a representar os seus artistas. Seu sucesso em melhorar os contratos de tantos artistas, levou Andrew a contratá-lo como consultor financeiro. Klein agora passa a representar Oldham e todos os negócios que Oldham representa. Easton e Oldham que desde o ano anterior já não conseguem trabalhar como um time, se dividirão de vez.
Porcentagens e Promessas
Oldham & Jagger
Oldham & Jagger

Durante Julho, as negociações intensificaram. Novos contratos teriam que ser assinados. Mick e Keith, acompanhados por Andrew, conversaram e negociaram praticamente todos os detalhes antes de apresentá-los para o resto da banda que sequer ficam sabendo da maioria destas reuniões. No dia 26 de julho, no escritório de Andrew, a banda está reunida para formalmente ser apresentada a Klein, que passaria a receber 20% de tudo que ele negociar.
Três dias depois, em reunião para assinatura de contratos, a banda toma ciência de que a Decca estava pagando 14% de royalties à Impact Sound (Oldham e Easton) enquanto estes repassavam apenas 6%, como fora acordado, sendo que tendo ainda direito a 25% destes 6%. Recebem na hora um cheque de £2.500 libras cada um, como garantia pela mudança de gerenciamento de Oldham para Klein. Ficaram também prometidos dez pagamentos anuais de $7000 dólares vindos da Decca inglesa, portanto cobrindo de julho de 1965 até julho de 1974. Em seguida foram entregues cópias a cada um de uma carta oficializando a passagem de responsabilidades de gerenciamento da banda, que antes cabiam ao Oldham, agora para Klein, representante de Oldham.
Antes de entrarem na sala de reuniões com os advogados da Decca para renegociarem outro contrato com a gravadora, Allen Klein distribui óculos escuros para os cinco membros e instrui para que eles permanecem quietos e impassíveis durante a negociação. Keith Richards comentou anos depois de como foi impressionante assistir aqueles advogados aceitarem todas as exigências de Klein. Os Stones até então haviam faturado um estimado £100.000 libras pelas vendas dos seus discos pela London, representante da Decca nos Estados Unidos, e £150.000 da Decca na Inglaterra. Klein imediatamente transformou isso em um adiantamento de £1.000.000 de libras pela Decca e outro £1.800.000 da London, referente ao mercado americano e canadense. Os Stones estavam ricos e com o melhor contrato de todos, ganhando bem mais até do que os Beatles, mesmo não vendendo tantos discos quanto eles.
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Aquele primeiro contrato em que Brian Jones assinou sozinho, respondendo pela banda Rolling Stones não tem mais validade. Novos percentuais de royalties por disco gravado são designados. Em suma, os cinco Rolling Stones dividem entre si 50% do valor dos royalties devidos enquanto a Impact Sound (Eric Easton e Andrew Oldham) mais Allen Klein, dividem os outros 50%.
O detalhe interessante é que Eric Easton sequer foi convidado à reunião. Klein e Oldham passam a fazer todo o possível para Easton não ter condições de continuar a trabalhar dentro da equipe e inevitavelmente ele saiu em definitivo. Saiu mas apenas de cena. Seu contrato com a banda continuaria válido por mais alguns meses. Easton aguardaria a melhor oportunidade para então processar Andrew Oldham, Allen Klein e os Rolling Stones em uma batalha judicial que iria se prolongar por muitos anos. Dia 28 de Agosto, novos contratos entre Allen Klein, Andrew Oldham e os cinco Stones foram assinados.
Toda Semana Tem
Tanto Brian Jones quanto Bill Wyman estavam com certas reservas em relação a Allen Klein, mas com um cheque gordo já depositado nas contas, ninguém teve muito argumento para contestar o andamento das coisas. Mesmo porque a interminável vida na estrada também contribui para manter a banda ocupado demais para ficar fazendo muitas perguntas. Mick e Keith, sentindo-se devidamente protegidos pela asa de Andrew Oldham, estavam irradiantes com as possibilidades que surgiam para o ano.
Durante todas as negociações, a banda continua se apresentando ao vivo. Quando não estão tocando na Inglaterra, estão na Escócia, Noruega, Finlândia Dinamarca e Suécia. Em Copenhagen, enquanto testando o som, Mick Jagger toma um choque violento do microfone, assim como também Bill Wyman ao tentar auxiliá-lo. Foi Brian Jones quem salvou o dia, puxando a tomada da parede. As mãos de Mick sofreram queimaduras, mas à noite tocaram para 2.000 pessoas. Em outro show, de molecagem ou rebeldia, a guitarra do Brian está extremamente alta, o que não permite a Mick se ouvir.
Outras Idéias
Peter Frampton
Peter Frampton

Bill Wyman acaba fundando sua própria firma, a Freeway Music, que cuidaria de toda sua carreira relacionada a atividades musicais fora dos Rolling Stones. Produziria e empresaria duas bandas, The End e Moon's Train, lançando entre Agosto e Setembro um álbum de cada banda, além do compacto de estreia de outro grupo contratado, The Preachers. Sua equipe de sessionmen (músicos de estúdio), contaria com Tony Chapman e um jovem virtuoso, ainda adolescente, que chama muita atenção de Bill. Seu nome é Peter Frampton. Wyman produziria ainda um dos primeiros trabalhos da banda Groundhog, o compacto "I'll Never Fall In Love Again".
Immediate Records
Andrew Oldham também tinha outras idéias para seu pequeno império. Ele acreditava que para uma banda como os Rolling Stones, é mesmo necessário uma grande estrutura de uma grande gravadora. Porém para os seus outros artistas menos badalados, ele concluíra que uma gravadora menor poderia cuidar melhor, dando um tratamento quase familiar ao artista pequeno ou médio. Com este raciocínio inovador, ele funda o selo Immediate Records que teria seus lançamentos distribuídos pela Phillips Records.
 Andrew Loog Oldham
 Andrew Loog Oldham

A estrutura inicial da firma contaria com Oldham para achar e contratar as bandas; o seu sócio e parceiro, o executivo Tony Calder para cuidar de contratos e outras papeladas; um jovem e talentoso guitarrista de estúdio, Jimmy Page, que cuidaria de produzir as bandas; e mais a assistência da dupla de compositores, Jagger e Richards. Oldham, Jagger e Richards fundam a produtora We Three Productions, para cuidar destes trabalhos em que os três estão envolvidos.
A festa de inauguração da Immediate foi no dia 20 de Agosto e teria presença dos Stones e de amigos como Eric Clapton, Mike Clark dos Byrds e Nico, atriz, modelo e cantora que ainda iria fazer um nome para si ao lado do Velvet Underground, mas antes, teria um compacto seu pela Immediate. O compacto tem em "I'm Not Saying", seu lado B, a participação de Brian Jones tanta nas guitarras como nos backing vocals. O lado A teria a curiosa co-autoria de Oldham-Page chamado "The Last Mile", sem Brian mas com Jimmy Page na guitarra. Nico e Brian também teriam um relacionamento relâmpago.
O pequeno selo independente seria precursor em um empreendimento que ganharia força na decada de setenta, durante a era punk. A Immediate deixaria suas maiores marcas ao lançar as bandas Small Faces, Nice e Humble Pie. Mas no ano de seu lançamento, além de contribuir com composições, Keith Richards grava guitarra no EP de Chris Farlow, chamado In The Midnight Hour, produzido a três mãos por Andrew Oldham, Mick Jagger e Keith Richards (We Three Productions).

Beast - Devildriver

Vários mal-entendidos podem ser cometidos por quem não conhece bem o Devildriver, a começar pelo nome, na realidade, uma referência a um sino de origem italiana que "conduz o mal" para longe.



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Muitos o associaram ao new metal ou, pior, ao metal pula-pula, termos depreciativos. Sempre gostei & defendi o grupo, tendo o CD "Pray For Villains" (2009) como ápice de sua carreira.
Sabia que a tarefa seria árdua para o Devildriver. Manter-se cool num ambiente infestado de teenagers de todo o mundo, na busca da próxima grande banda extrema, é um troço ingrato.
Todo o pacote está lá em "Beast": integrantes tatuados ad nauseam, riffs inspirados, pesadas faixas, vocal gutural bem colocado. O que pesou contra nesta embalagem foram as músicas retilíneas demais. Seria um modo da banda tentar afastar-se do nefasto new metal, estilo em que, erroneamente, foram inseridos pela mídia? Afinal, as bruscas variações nas faixas são uma das maiores características deste ‘novo’ metal. Beast passa reto como um ônibus lotado. Não há músicas como “Bitter Pill” e “Teach Me To Whisper” que abrilhantavam seu predecessor.
Raros são os CDs do Devildriver nas lojas virtuais brasileiras, parecendo haver um desinteresse de alguma das partes (gravadora, banda, consumidores finais) pela totalidade de sua discografia. Uma pena já que encontraremos grandes músicas em todos. Cito “Dead To Rights” e “Black Soul Choir” como minhas prediletas em "Beast", um disco fraco a esconder uma banda de enormes potencialidades.

Truth Or Dare - Oomph!

O metal industrial adquiriu representatividade no mundo da música a partir do momento em que os alemães do RAMMSTEIN mostraram o impacto do gênero no álbum “Sehnsucht” (1997). A sonoridade, que mistura o peso e a obscuridade do metal às referências mais íntimas da música eletrônica, possui outros expoentes no país germânico. Entre esses nomes, o OOMPH! mostra muita ambição na sua nova empreitada. A coletânea “Truth or Dare” compila os maiores sucessos da banda com – pela primeira vez – letras em inglês. O resultado é acima da média.



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Em quase vinte anos de carreira, o OOMPH! certamente pode ser apontado como uma referência do gênero que ajudou a construir, ainda na década de oitenta. De certo modo, Dero Goi (vocal e bateria), Andreas Crap (guitarra e teclado) e Robert Flux (guitarra e baixo) aproveitam praticamente as mesmas influências que proporcionaram ao RAMMSTEIN fama e glória no passado. As programações eletrônicas e os riffs pesados se mostram unidos na sonoridade do grupo, sobretudo a partir do álbum “Sperm” (1994). As letras polêmicas representam uma outra constante dentro da proposta da banda, que ganha um contorno ainda mais ousado pelo visual  assumido por Dero Goi – que usa e abusa da maquiagem à black metal. No entanto, o apelo comercial é o que distancia o OOMPH! do seu conterrâneo mais famoso.
Não há dúvidas de que a proposta de Dero Goi & Cia. perde muito a partir do momento que deixa para trás o que o metal industrial possui de mais obscuro e de mais próximo ao gothic rock. Entretanto, a busca por composições diretas e de impacto imediato não deve ser apontada como um pecado dentro da coletânea “Truth or Dare”. As novas versões, que abdicaram do alemão para assumir o inglês como idioma, se mostram interessantíssimas e verdadeiramente capazes de agradar a gregos e a troianos. Por mais que queira se inserir no mercado mainstream, o OOMPH! não abriu mão de construir uma sonoridade claramente própria. Nas mãos dos caras de Wolfsburg, o metal industrial perdeu o seu caráter “complicado” para virar um gênero mais uniforme e melodicamente intuitivo.
A coletânea conta com uma série de músicas de impacto. De certo modo, os fãs mais assíduos doRAMMSTEIN até podem se decepcionar porque os experimentalismos eletrônicos não contornam as dezesseis faixas de “Truth or Dare”. O que se ouve é – por que não chamar assim – o metal industrial no seu estado mais cru e direto (as composições não ultrapassam a marca de quatro minutos). As melodias de “Ready or Not (I’m Coming)” e de “Burning Desire” não causam estranheza e devem dimensionar as duas faixas como destaques absolutos da obra. No entanto, o direcionamento menos pop (e mais eletrônico) de “God is a Popstar” concede autoridade a esse que pode ser apontado como o melhor momento do discoo. O refrão – extremamente marcante – constitui outra característica que se repete satisfatoriamente bem no restante do repertório.
Embora possua músicas apenas razoáveis – como “Labyrinth” e “The Final Match” –, o álbum apresenta outras versões que devem agradar de imediato os fãs do gênero. De um lado, “Crucified” é que mais se aproxima da referência absoluta chamada RAMMSTEIN. De outro, “Sandman” possui um andamento veloz e diferenciado dentro da proposta mais arrastada e densa do metal industrial. Com o retorno dessas características mais tradicionais, “Land Ahead” – que traz a voz da cantora convidada Sharon den Adel (WITHIN TEMPTATION) – pode ser apontada como outra música de impacto dentro do repertório do OOMPH!.
De certo modo, são poucas as faixas que passam em branco e não chamam a atenção por um motivo ou outro. A agressividade de “Wake Up!” mostra um quê de DEATHSTARS na sonoridade do power-trio alemão. Na sua contramão, “The Power of Love” é um cover excepcional dos britânicos do FRANKIE GOES TO HOLLYWOOD – uma banda que ganhou notoriedade no auge da disco-pop na década de oitenta. Na sequência, a ironia marcante do OOMPH! retorna em “True Beauty is So Painful” e em “The First Time Always Hurts”. As faixas – ao contrário das demais citadas – não evidenciam nenhum motivo para ser mencionadas como destaque da obra. A exceção de ambas fica justamente por conta das (ótimas) letras polêmicas e ousadas. Por fim, a balada quase romântica (?!) “On Course” encerra o álbum. A composição deixa mais do que clara a ambição do trio alemão por novos – e amplos – mercados para além da Alemanha e da Europa.
Por mais que as referências do pop podem gerar controvérsias, é mais do que inegável que a banda possui qualidade técnica e bom senso para construir um repertório coeso e interessante. Entretanto, o limite entre a ousadia e o senso comum pode ser bastante tênue às vezes. O OOMPH! precisa relativizar o seu direcionamento comercial para não perder o impacto e a agressividade íntima do metal. No momento, as circunstâncias que contornam “Truth or Dare” proporcionam uma boa experiência para os fãs. A dica é mais do que válida.
Track-list:
01. Ready or Not (I’m Coming)
02. Burning Desire
03. Song of Death
04. God is a Popstar
05. Labyrinth
06. The Final Match
07. Crucified
08. Sandman
09. Sex is Not Enough
10. Land Ahead
11. Wake Up!
12. The Power of Love
13. True Beauty is So Painful
14. The First Time Always Hurts
15. Dream Here (With Me)
16. On Course

Whad Did You Expect From The Vaccines? - Vaccines

Misture Ramones e Strokes, mexa bem e tempere com uma sonoridade oitentista. O resultado é o The Vaccines, o novo queridinho da mídia em todo o mundo. O grupo brinca com o hype descomunal criado ao seu redor no título de seu primeiro álbum, "What Did You Expect From The Vaccines?", que chegou às lojas no último dia 14 de março. A falação foi motivada pelos dois singles que anteciparam o disco - “Wreckin' Bar (Ra Ra Ra) / Blow It Up”, lançado em 19 de novembro do ano passado, e “Post Break-Up Sex”, de 23 de janeiro.



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E você, o que espera do The Vaccines? A estreia do quarteto formado por Justin Young (vocal e guitarra), Anri Hjorvar (baixo e guitarra), Freddie Cowan (teclado) e Pete Robertson (bateria) tem pouco mais de 35 minutos de uma música repleta de energia, que puxa o ouvinte para cima. É rock simples e direto, sem pretensões maiores que adiversão – e por isso é tão legal!
A sonoridade, como já falei lá em cima, vem direto dos anos 1980. Além de Ramones e Strokes, coloque no rol de referências dos caras também os Smiths, como fica claro em “A Lack of Understanding”, uma das melhores faixas de "What Did You Expect From The Vaccines?".
O disco é farto em ótimas faixas, como a abertura com a redondinha “Wreckin' Bar (Ra Ra Ra)”, a descaradamente pop “If You Wanna”, a urgente “Norgaard” e a excelente “Post Break Up Sex”. A única faixa dispensável do álbum é “Family Friend”, odisséia sem sentido com mais de oito minutos cansativos e que não levam à lugar nenhum.
A fórmula do Vaccines é clara: instrumental descomplicado casado às linhas vocais pop de Young, invariavelmente grudentas. As faixas são curtas e diretas, fazendo com que a audição do disco seja perfeita em uma animada reunião de amigos regada a conversa fiada e cerveja gelada.
Desligue os neurônios, ouça e divirta-se!
Faixas:
1 Wreckin' Bar (Ra Ra Ra) 1:22
2 If You Wanna 2:54
3 A Lack of Understanding 2:59
4 Blow It Up 2:36
5 Wetsuit 3:50
6 Nørgaard 1:38
7 Post Break-Up Sex 2:54
8 Under Your Thumb 2:20
9 All in White 4:34
10 Wolf Pack 2:24
11 Family Friend 8:30

Temple's Fall... Time To Reborn - Carniça

Convenhamos, 'Carniça' é um excelente nome para se batizar uma banda de Heavy Metal, não é mesmo? E esse é um nome que já foi bastante lembrado entre os headbangers da região sul do Brasil. Natural de Novo Hamburgo (RS), o Carniça foi formado em 1991 e, ao longo dos anos, liberou cinco fitas-demo que alcançaram vários países da América do Sul e Europa, além de o debut "Rotten Flesh" (99) causar ótima impressão entre a mídia e público. Infelizmente, sua trajetória parou abruptamente em 2003 e levou muito tempo para os caras ficarem novamente juntos.



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Mas o retorno se deu em 2008, e com a formação considerada clássica: Mauriano (voz e baixo), Parahim (guitarra) e Marlo (bateria), que agora estão lançando "Temple´s Fall... Time To Reborn", um discaço que exibe um Carniça ainda evitando se prender aos rótulos (graças!), oferecendo 'apenas' Heavy Metal em sua melhor forma e fortemente influenciado pela estética old school, característica que está mais sólida e sofisticada do que nunca.
Com grande flexibilidade, o resultado é um perfeito amálgama de Death, Thrash e Heavy Metal Tradicional, com uma sensibilidade melódica digna de poucos e que nunca minimiza a atmosfera mais extrema que permeia cada centímetro do repertório. Ok, muitos poderão achar que cinco canções autorais - mais uma matadora versão para "Hell Awaits" (Slayer) e um apropriado instrumental encerrando a audição - é pouco. Bom, pode ser, mas o lance do Carniça é a qualidade e não a quantidade, e canções como "Oil War" e "Immortal" são exemplos que corroboram esse fato.
Com uma produção limpa o suficiente para que se ouça tudo com definição, e sem esterilizar o áudio, o único ponto passível de discórdia fica por conta da imagem que ilustra a capa de "Temple´s Fall... Time To Reborn", cujos traços quase caricatos não conseguem expressar adequadamente o repúdio à hipocrisia humana que sua música transmite tão claramente. Mas sem problemas... Esqueça os títulos e subgêneros, Carniça é a definição de Heavy Metal e uma verdadeira recompensa aos que procuram um antídoto à ambição ao mainstrean que vêm rondando a cena contemporânea!
Contato:

Formação:
Mauriano Lustosa da Silveira - voz e baixo
Parahim Lustosa Neto - guitarra
Marlo Lustosa da Silveira - bateria

Carniça - Temple´s Fall... Time To Reborn
(2011 / independente - nacional)

01. Oil War
02. Till The End
03. Route To Hell
04. Surrender
05. Immortal
06. Hell Awaits (cover do Slayer)
07. Paradise

Evangelion - Behemoth

Com mais de vinte anos de estrada, os poloneses do BEHEMOTH podem ser apontados como uma das maiores referências do black metal moderno. A banda, que une a temática do gênero à sonoridade extrema do death metal, vem conquistando cada vez mais adeptos desde “Demigod” (2004). Na sua empreitada mais recente, o agora quarteto mantém a média de qualidade e constroi um dos discos mais agressivos e sensacionais da sua carreira. “Evangelion”.



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Em atividade desde o início dos anos noventa, o BEHEMOTH em poucos anos ganhou notoriedade suficiente para ser apontado como o maior ícone do metal polonês. Nergal (vocal e guitarra), Seth (guitarra), Orion (baixo) e Inferno (bateria) não podem mais ser considerados como um promissor nome do black metal. Pelo contrário. O sucesso a partir do ótimo “Demigod” (2004) – que passa ainda por “The Apostasy” (2007) – mostra a sua faceta mais clara em “Evangelion”. Não é à toa que o álbum venceu o prêmio polonês Fryderyk Award (melhor CD de rock/metal do ano) e conquistou o disco de ouro no seu país (por ultrapassar a marca de cinquenta mil cópias vendidas). O nono registro de Nergal & Cia. transcendeu o underground periférico europeu para se afirmar como uma referência para o gênero no mundo inteiro.
As particularidades que dão à sonoridade da banda um caráter interessantíssimo se desdobram do início ao fim de “Evangelion”. De um lado, o BEHEMOTH mostra qualidade em composições extremas e complexas. De outro, o quarteto polonês comprova a sua desenvoltura também em temas mais ríspidos e diretos. A faixa de abertura, “Daimonos” evidencia um instrumental preciso e técnico, digno dos nomes mais conceituados do death metal brutal. Por outro lado, o ódio que a maioria das bandas de black transpira ganha forma a partir da ótima voz de Nergal, perfeitamente encaixada com o instrumental do grupo. Do mesmo modo, “Ov Fire and the Void” pode ser apontada como outro destaque, sobretudo pela obscuridade das suas melodias e dos seus riffs hipnotizantes de guitarra. Não seria pretensão alguma dizer que “Evangelion” é o ápice da destreza musical de Nergal & Cia.
Para quem não consegue desassociar o black metal à crueza dos seus representantes nórdicos, “Transmigrating Beyong Realms Ov Amenti” é uma faixa interessante de ser acompanhada. A música possui muita velocidade – uma característica que curiosamente não é uma constante no álbum – sem perder o impacto do instrumental extremamente bem elaborado e assinado pelo BEHEMOTH. No entanto, o quarteto polonês mostra um quê diferenciado justamente nas faixas em eles conseguem comprovar toda a sua desenvoltura em uma sonoridade coesa e recheada de variações rítmicas. Nessa perspectiva, “The Seed Ov I” deve atrair muitos dos olhares.
Na sequência de encerramento, a concentração de faixas mais diretas e da composição mais longa do repertório vem aparentemente para agradar a gregos e a troianos. Não há como dizer o contrário. As rápidas “Alas The Lord is Upon Me” e “Defiling Morality Ov Black God” contam com as mesmas referências que contornam “Evangelion” do seu início ao fim. A bateria aparece com a sua velocidade característica e o acompanhamento com os riffs bem definidos nas duas guitarras simboliza o que existe de mais particular na obra do BEHEMOTH. O cuidado em construir um repertório agressivo e muito coeso é evidente em cada um dos quarenta minutos de “Evangelion” – inclusive nos oito em que dura “Lucifer”. Os elementos sinfônicos (que de repente até cairiam bem à proposta dos caras) são abdicados para que os poloneses possam ser rotulados como a banda mais agressiva do gênero.
Em agosto passado, Nergal foi hospitalizado em decorrência de uma leucemia. Porém, em janeiro desse ano uma ótima notícia: o vocalista e guitarrista deixou a unidade do Uniwersyteckie Centrum Kliniczne após um bem sucedido transplante de medula. A banda, que abandonou boa parte da turnê de “Evangelion” por causa disso, deve reconquistar a repercussão extremamente positiva que o seu nono registro de estúdio deixou em aberto. O álbum, que entrou na 55ª colocação da conceituada parada US Billboard 200, ainda dá muito pano para a manga. Não será nenhuma surpresa o dia em que o BEHEMOTH assumir o posto de maior referência (em atividade) do black metal mundial.
Track-list:
01. Daimonos
02. Shemhamforash
03. Ov Fire and the Void
04. Transmigrating Beyong Realms Ov Amenti
05. He Who Breeds Pestilence
06. The Seed Ov I
07. Alas The Lord is Upon Me
08. Defiling Morality Ov Black God
09. Lucifer

30 anos ao vivo - Roupa Nova

Antes de falar propriamente sobre o DVD produzido pela banda em 2010 precisamos entender porque a banda retomou parte da importância conquistada na década de 90 e completamente dissipada na entrada do novo século.



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Vítima da pirataria, o mercado fonográfico buscou alguns meios de manter as contas em um vermelho menos rubro. A queda era iminente e mesmo com uma baixa dos preços em termos percentuais de 60% a 80%, o consumidor passou a se sentir à vontade com um produto que não era original. Em 2002 começa a explosão das vendas dos produtos que reproduziam mp3. Simultaneamente, o fã de música (de qualquer estilo) começa a entender os mecânismos simples que envolvia os downloads.
Downloads = mp3 = player mp3. A fácil equação começa a transformar o mercado de música no mundo. Há uma revolução na relação do ouvinte com seu produto de veneração. As rádios passam a exercer um poder menor de influência. Através dos zilhões de sites especializados, a audiência passa a escolher seus preferidos, sem um apontamento específico. Agora cada um poderia fazer seu playlist, criar sua própria rádio, com um programação personalizada.
As tecnologias que envolviam a qualidade de som, as mudanças de bitrate através de players simples como Windows Media Player, os artistas se rendendo divulgando seus singles em seus sites/myspace; tudo isso vai mudando o perfil da indústria e do ouvinte.
E agora, como criar produtos rentáveis, já que de graça, qualquer um poderia buscar canções de seu artista favorito e descobrir outros?
No início da década o mercado do DVD começa a ser aquecido, não só pela pirataria (que já conseguia fazer cópias perfeitas de originais que custavam entre 60 e 120 reais), mas também pela queda de preço que tentava (em vão) competir com os produtos vendidos em qualquer esquina. Artistas começam a investir – até de maneira independente – nas produções dos shows, trazendo convidados especiais, comemorando discos de sucesso ou apelando para o formato acústico. De fato, isso ajudou muito artista e fazia com que o público quisesse ir ao show da qual ele assistiu o DVD.
E foi mais ou menos nesse cenário que o Roupa Nova fez enorme sucesso com o “Acústico” (2004), disco caprichadíssimo que ganharia um bis, o “Acústico 2” (2006), este com menor repercussão. Ambos receberam o apreço musical característico da banda, com muitas orquestrações, convidados especialíssimos (como Ed Motta) e um repertório lotado de hits.
Roupa Nova seria uma banda que dispensaria maiores apresentações por se tratar de uma das bandas mais antigas do Brasil com a mesma formação, por contar em sua composição com músicos de excelência e ter um dos melhores conjuntos vocais de música pop da América Latina. No entanto, a banda estranhamente nunca recebeu muito respeito dos críticos, embora mantenha um público fiel e que se renova.
Junções hipotéticas como esta são sempre repletas de subjetividade mas o Roupa Nova é uma espécie de junção de Chicago/América/Toto. Seus compositores sempre primaram por canções com formatos ‘redondos’, com refrões grudentos e letras bem encaixadas. Talvez no repertório de outros cantores e intérpretes, pode ser confundido com o mais popularesco gosto popular, mas a banda há muito se destaca, sem fazer sucesso apelando para receitas manjadas, até porque não é uma banda fake, é um banda de músicos de verdade.
Tudo bem que receberam uma baita força da Rede Globo por terem suas canções em várias novelas da década de 80/90. Algumas feitas de encomenda (como foi o caso de A Viagem) mas isso em nada desmerece o grande talento de uma das melhores bandas do país.
Mas por que então a banda nunca foi alvo de homenagens ou de críticas avassaladoramente positivas?
Talvez porque não se envergonhem da veia pop que carregam desde os primórdios. Se há 20 anos parte da crítica musical valorizava a banda alternativa da Nova Zelândia, que tem em sua formação um chinês, um chileno e um brasileiro, apenas porque ninguém havia juntando 3 personas de línguas diferentes numa só banda, imaginem agora que a linha tênue que divide o underground e o alternativo foi pro espaço…
O outro motivo talvez (sempre usarei este advérbio) seja o fato de bandas que explorem arranjos vocais apurados dificilmente conquistem algum sucesso no Brasil. O que é uma bobagem. Quando o grupo Fat Family surgiu no cenário musical não apenas chamou a atenção pelo seu visual “diferente” mas pela sua vasta qualidade vocal. Em contrapartida conjuntos como Boca Livre, 14 Bis, Quarteto em Cy jamais conseguiram ser unânimes fora de um público mais sofisticado.
Bem, de verdade e certeza só podemos ter alguns fatos. Um deles por exemplo é que, graças a valorização das produções de shows em DVDs, a banda re-encontrou seu espaço midiático e voltou a estar mais na TV e no rádio como há muito não se via. Um dos motivos da sobrevida é que a banda continua sendo excelente no que faz: cantando e tocando.
O “Roupa Nova 30 anos” (Roupa Nova Music) é um mais do mesmo de sucessos, que em um primeiro momento pode afastar o ouvinte nada nostálgico, mas a qualidade da produção deixa qualquer um de boca aberta, até o crítico mais rigoroso.
O DVD começa com o classudo “Sapato Velho”(Mú Carvalho, Cláudio Nucci e Paulinho Tapajós), hit presente em todos os luais e serenatas das quais você um dia participou ou participará. A canção que está no repertório da banda desde 1981 é uma excelente prova da qualidade musical dos seus integrantes, com falsetes precisos e uma sofisticado arranjo, que mesmo com 30 anos, soa moderno de tão original e pouco usual na música pop brasileira. Vale observar que a versão apresentada além de valorizar o arranjo supracitado, tem um “q” mais pesado, com várias viradas de bateria e muito peso nas ‘cabeças’ da nota da harmonia intrincada da canção.
Além dos clássicos “Linda Demais” e “A Viagem”, em seguida uma merecida homenagem a um dos músicos que conferiu DNA à música brasileira e que anda sumido, com discos de pouca exposição e breves aparições: Milton Nascimento. O cantor a quem Gal Costa se referiu dizendo que se Deus tivesse voz teria a voz de Milton Nascimento, canta “Nos Bailes da Vida com Ricardo Feghali e é ovacionado pela galera presente ao Credicard Hall, espaço onde o DVD fora gravado. A canção que é um hino da MPB ganhou versão definitiva e justa reverência do sexteto.
Como o repertório de hits da banda parece infindo o recurso medley é muito bem vindo e é através dele que Serginho (uma das vozes mais bonitas da música pop desde sempre) embala “Seguindo no Trem Azul” passando por “Anjo” até “Começo, Meio e Fim”. Destaque absoluto para o baixo eletroacústico de Nando, utilizado com propriedade entre os intervalos da harmonia e conferindo um charme especial a cada canção.
Acho que versões sempre pioram canções cristalizadas. Eis aqui uma exceção. “A Paz” (Heal The World) tem uma letra caprichada (a canção original já é uma pérola do Rei do Pop, Michael Jackson) sem as apelações características das canções que falam de sentimentos das quais o homem deseja muito mas conhece pouco. A presença do Pe. Fábio de Melo não maculou a interpretação, pelo contrário, o eclesiástico tem talento e sua presença sublinhou o teor da canção.
Em seguida “Coração Pirata”, uma das canções mais interessantes do repertório da banda. Com letra dedicada à personagem da novela Rainha da Sucata (1990), o tema fala de uma pessoa arrogante que não se envergonha do seu jeito de ser e nem de dizê-lo. A harmonia e a música parecem pouco combinar com dureza e a crueldade do perfil cantado, o que torna a canção mais especial ainda.
Após mais um medley composto por “Sábado”/”Lumiar”/”Maria, Maria” a banda embala “Chuva de Prata” com a participação especial da cantora Sandy numa interpretação insossa. A intérprete e compositora parece não ter perdido nem um tostão da fragilidade vocal do tempo em que fazia dupla com seu irmão. A canção – talvez a mais assumidamente brega do repertório – serve para contar a história mas pouco acrescenta ao show.
Depois da canção “Todas Elas” (junto com “Cantar faz feliz o Coração” e “Lembranças”) que faz parte do disco “Roupa Nova em Londres” (2008), a banda emenda “Dona” e “Meu Universo é Você”, dois clássicos do Roupa Nova e que não podem faltar ao repertório da banda em qualquer ocasião. Destaque para o dueto inicial de “Dona” entre Nando e Ricardo ao violão.
Temos mais um medley que mostra um pouco de toda a contribuição da banda para MPB ao selecionar várias canções que fizeram parte do repertório de várias gerações; desde a canção tema do Rock In Rio até o “Tema da Vitória”, conhecida como a canção de Ayrton Senna, com certeza um momento de emoção no palco e entre o público.
Agora mais uma participação especial, desta vez da banda Fresno na canção “Show de Rock and Roll”. Segundo a explicação de Serginho Herval a banda fora convidada porque demonstrara ser fã do RN há algum tempo. Nem o grupo gaúcho consegue estragar o momento de celebração no palco.
O show encerra com “Whisky a Go Go”, “Lembranças” e “Canção de Verão”, primeira música do Roupa Nova a fazer sucesso radiofônico e não por um acaso trilha sonora da novela “Três Marias” em 1980.
O que se vê no palco é uma banda de rock. Enxuta, madura e suficiente. Mesmo com dezenas de músicas românticas, percebe-se nitidamente a influência de bandas como Journey, Toto e tantas outras que “abusaram” das harmonizações vocais e das baladas para mostrarem seu trabalho. Com um leque de hits de dar inveja em muito gringo idolatrado e com uma qualidade de produção (e composição) que não recebeu às devidas homenagens. Infelizmente alguns artistas no Brasil só recebem veneração, citação e tributos quando “partem desta para melhor” e deixam o lugar de artistas de valor para se tornarem deuses da hora (ou dependendo da circunstância, do mês, do ano).
Fonte desta matéria: Aliterasom