2 de março de 2011

Killing Bono - 2011





A comédia independente Killing Bono conta a história real dos irmão Neil e Ivan McCormick, que quando adolescentes formaram a banda Shook Up em Dublin. Só que eles não contavam que seus colegas de escola, Bono e The Edge, também fariam o mesmo.

E com o mega sucesso do U2, lógico que os irmãos McCormick viraram apenas boato. O filme é baseado na autobiografia de Neil, intitulado “I Was Bono’s Doppelganer”, algo como “Eu fui a cópia de Bono”. O livro retrata o período que as duas bandas brigavam por atenção na cena musical de Dublin nas décadas de 70 e 80.


A Gestação de Um Besouro - The Quarrymen - Parte 04

Qualquer analise séria sobre a música dos Beatles irá confirmar que o ponto de mudança do som dos rapazes seria as temporadas em que tocaram em Hamburgo. E o inicio da jornada para a Alemanha começa quando a banda principal do Jacaranda, um grupo chamado The Royal Caribbean Steel Band, deixa o local para tocar em Hamburgo em junho. A primeira providência de Alan Williams é colocar algumas bandas para preencher as vagas da semana, os Silver Beatles retendo as segundas para si. A outra foi de convencer seus dois sócios a ir com ele estudar a vida noturna de Hamburgo. Para poder negociar alguns contratos, caso a oportunidade se apresente, Williams teve a idéia de gravar algumas das bandas de Liverpool entre aquelas que tocavam em um de seus clubes. Ele usou um gravador que John Lennon roubou da faculdade e registrou porções das apresentações ao vivo destas bandas em seu clube.


Williams Descobre Hamburgo
Em Hamburgo, encontraram uma cidade onde se pagava bem por boa diversão. Munidos de uma fita rolo com gravações de bandas como Gerry & the Pacemakers, Cass & the Cassanovas, the Spinners, the Stompers e the Silver Beatles, encontram-se com um dos reis da noite de Hamburgo, um homem chamado Bruno Koschmider. A proposta de um intercâmbio entre bandas inglesas soava interessante para este empresário dono de vários clubes noturnos na cidade. No entanto, quando Williams colocou a fita para tocar, descobrem que ela havia sido desmagnetizada durante a viagem.
Sem ter o que apresentar a Koschmider, as negociações cessaram e a viagem foi considerada um fracasso. De volta em Liverpool outros problemas lhe aguardavam. Larry Parnes havia fechado um acordo com Williams para que outra de suas bandas de Liverpool, Derry & the Seniors, fosse excursionar durante o verão em Blackpool e arredores. Vários músicos da banda largaram seus empregos normais para poderem viajar, porém o projeto foi repentinamente cancelado. Ameaçado de apanhar sozinho, Williams foi "convencido" a levar a turma para Londres e tentarem encontrar Larry Parnes para tomar as devidas satisfações.
Imagem

Williams conhecia o gerente do "2I's Coffee Bar", ponto entre os beatniks londrinos onde Tommy Steel, Cliff Richard e muitos outros foram descobertos. Derry & the Seniors puderam apresentar um set inteiro que agradou bastante o público presente. Acontece que, por um mero acaso, Bruno Koschmider estava lá tomando um café. Aparentemente instigado pelo o que ele ouviu falar das bandas inglesas na conversa com Williams em Hamburgo, ele naturalmente seguiu para Londres, não Liverpool, para conferir ele mesmo. Derry & the Seniors foram contratados ali mesmo e na semana seguinte estavam se apresentando no Kaiserkeller.
Enquanto isto, the Silver Beatles encontraram meramente por acaso, seu próximo baterista. Chegando no Jacaranda um pouco mais cedo do que o habitual para o show das segundas, ouviram um baterista ensaiando na vizinhança. Seguindo o som que os levaram para o outro lado da rua, começaram a gritar para o edifício, algo tipo "Ei, o sujeito tocando bateria. Apareça!" De um dos andares surge a cabeça curiosa de um rapaz. Foi mais ou menos assim que conheceram Norman Chapman, que foi convidado a entrar na banda na hora. Chapman, que tocava bateria apenas como hobby, muito surpreso e lisonjeado, aceitou. Infelizmente, dois meses depois em agosto, Chapman seria convocado para o exército indo servir por dois anos em Kenya e Kuwait. Outra versão conta que ele saiu porque não queria ir para Hamburgo quando o convite surgiu.
Pete Best:
Koschmider havia escrito uma carta para Williams solicitando mais uma banda pois ele pretendia abrir um novo clube chamando the Indra e precisava de uma atração. A primeira escolha de Williams foi Rory Storm & the Hurricanes, porém eles estavam comprometidos tocando em Pwllheli, no País de Gales. Cass & the Cassanovas estavam viajando pela Escócia como banda de apoio de Duffy Power, em outra das excursões montadas por Larry Parnes. Williams então ofereceu a gig para Gerry & the Pacemakers porém eles recusaram. A idéia de ir tocar em um país que há pouco mais de uma década atrás estava bombardeando Liverpool não caiu bem entre os integrantes do grupo. Só então, Williams resolve apelar para os Silver Beatles, com a ressalva de que eles precisarão arrumar um baterista imediatamente para poderem aceitar.
Imagem

Precisando de um baterista bom da noite para o dia, George teve a idéia de convidar Paul a lhe acompanhar até o Casbah para verem como anda Pete Best nos Blackjacks. Gostaram do que ouviram, e no intervalo Paul o convida para tocar com eles em Hamburgo. The Blackjacks a esta altura já estava mesmo na eminência de se separar, portanto Pete aceitou o convite sem remorso. Uma audição foi realizada no Wyvern Social Club no dia 12 de agosto de 1960, segundo alguns, mais para o apresentar a Alan Williams do que para a banda testá-lo.
Williams então escreve para Koschmider confirmando a chegado dos Silver Beatles. Não demorou muito e ele acaba recebendo uma carta dos Seniors se queixando de que, o esquema de Hamburgo promete ser lucrativo, porém se mandar os fraquíssimos Silver Beatles, irão estragar tudo para todos.
The Indra
Este seria o maior salário que já receberam na vida, £15 por semana, bem mais do que o pai de Paul ou George estavam ganhando. Um salário um pouco melhor do que recebiam seus professores no Liverpool Institute, onde Paul deveria estar fazendo suas provas finais para concluir o 2o Grau. Durante a viagem resolvem dispensar o "Silver" e passam a se chamar definitivamente como the Beatles, o nome agora representando apenas Beat Music, além do inseto. Viajaram em uma van que deu defeito no meio do caminho. Em uma parada em Arnhem, cidade holandesa, John Lennon furta de uma loja uma pequena gaita de boca. O 'brinquedinho' acabaria entrando no show e dois anos mais tarde, participando da gravação de "Love Me Do".
The Indra era um antigo bar de strip-tease com um palco bem pequeno que fora projetado para comportar algumas poucas dançarinas de cada vez e não cinco rapazes, uma bateria, amplificadores, caixas de som e microfones. O espaço era apertado e eles começaram suas primeiras apresentações inicialmente duros, praticamente não se mexendo no palco, certamente intimidados pelo país e idioma que não conheciam. No entanto com o tempo os Beatles, mormente John e Paul, aprendem a fazer show. Fazer show ou, como os alemães passaram a gritar, "mach shau!", consiste em uma variação de coisas. Basicamente, a banda passa a pular enlouquecidamente durante os números.
Obrigados a entreter das sete da noite até duas da manhã, passam a tomar Predulin, a versão alemã para o nosso Reativan, que eram vendidos pela bondosa Sra. Rosa, que tomava conta do mictório do estabelecimento. Predulin ou Prellys como eram chamados pelos rapazes, é um regulador de fome que contém anfetamina na sua composição. É para ser usado por pessoas querendo diminuir seus hábitos alimentares. A droga deixa a pessoa cheia de energia por horas, e também dá uma sede danada. Os rapazes então bebiam muita cerveja, geralmente pagas pelos proprios clientes, garçonetes ou quem mais estivesse interessado em agradá-los. Até mesmo porquê quando alguém estava lhe pagando uma bebida, tinha-se a obrigação de aceitar. Muitos dos clientes eram mafiosos que viviam de compra e venda de armas. Ninguém gosta de desagradar alguém que trabalha em um ramo desses.
Mach Shau!
The Beatles no Indra
The Beatles no Indra

Com a ajuda das anfetaminsas, os rapazes procuram esticar o conceito de 'mach shau' até onde a imaginação levar. Paul e John passam a fingir que estão brigando, para agitar ainda mais a clientela que quer ver movimentação de seus performers - atitude, e porque não dizer, virilidade. Lennon imita um aleijado, fazendo gestos e caretas grotescas. Passa a xingar e gritar de volta para os fregueses. No lugar de insultados, o público se sentia entretido, aplaudindo e oferecendo mais bebida para os músicos. Toda a provocação só atraía mais público, os freqüentadores mais assíduos passando a chamar a banda de "beknakked Beatles", ou seja, "os alucinados Beatles".
Com toda a atenção que a banda despertava, as prostitutas da vizinhança passaram em quantidade cada vez maior a freqüentar o local. Os cinco meninos não só encontraram sexo, como também aprenderam a prática da orgia, com direito a constantes trocas de companheiras por noitada. A experiencia toda abriu muito os olhos dos garotos - George o mais novo com dezessete, Stu o mais velho com vinte. No distrito de St. Pauli encontrava-se a chamada "Rua da Luz Vermelha", situada na (rua) Herberstrasse. Lá, os rapazes por vezes encontravam alguma menina com quem um deles dera uma rapidinha, muitas vezes em pé mesmo, em um corredor escuro do Indra na noite anterior. Todos os quatro contraíram alguma espécie de doença venérea durante este outono, mas rapidamente tomavam uma injeção de penicilina, fornecida gratuitamente pela saúde pública alemã e continuavam com seus hábitos sexuais inabalados. Contraíram tantas coisas, tantas vezes, que só se curaram de vez após retornarem para Liverpool no final do ano.
O volume de rock 'n' roll, até altas horas da madrugada, obriga alguns moradores da vizinhança a reclamar com a polícia do barulho. Assim, quarenta e oito noites depois de sua estréia, The Indra fecha e os Beatles são levados para The Kaiserkeller, dividindo sets com Derry & the Seniors.
O Kaiserkeller
Mach shau no Kaiserkeller
Mach shau no Kaiserkeller

Tocando no gigantesco palco do Kaiserkeller toda noite por oito horas, sete dias na semana, são movidos quase que exclusivamente a base de álcool e anfetaminas. Em pouco tempo, eles se solidificam como banda, ficando muito bons e com um repertório tão bem ensaiado quanto infindável. Ainda assim, Stu era o músico mais fraco e atrasava o melhor desenvolvimento dos demais.
Com a bebida, Lennon é tranqüilamente o grande personagem e líder da banda. Alucinado a maior parte do tempo, ele faz um pouco de tudo que se possa imaginar de absurdo em um palco. Ele xinga os alemães de krauts, marchando e gritando "Sieg heil!" Grita com a platéia, chamando-os de nazistas e fazendo saudações de "Heil Hitler", ato que era inclusive proibido por lei.
Certa noite Lennon sobe ao palco de ceroulas com um assento de vaso sanitário ao redor do pescoço imitando Adolf Hitler, usando uma suástica e marchando com as pernas esticadas, da forma característica daquele extinto exército. Tudo isto era ilegal na Alemanha desta época. Tudo aplaudido em meio a bebedeira geral. Lennon quando não canaliza sua agressividade para a música, leva a concepção de "mach shau" aos limites. Houve noite em que ele arriou as calças e mostrou a bunda para o público pagante no meio de uma canção. Em outras ocasiões ele simplesmente se jogava do palco para a platéia, coisa que só entraria na moda quinze anos mais tarde com o surgimento do punk.
Com as pílulas e mais birita, os rapazes ficavam acordados pulando e excitados por horas sem fim. E se começava a cair o pique, era então consumido mais pílulas. O sistema nervoso ficava também super sensível. Certa noite, um cliente resolveu subir no palco, possívelmente para dar um abraço de bêbado para bêbado. Lennon ao perceber a pessoa colocar um joelho no palco e começar a subir, instintivamente partiu para cima e chutou o homem duas vezes no rosto. Depois pegou uma faca de carne sob a mesa e jogou no sujeito. Haviam noites que os rapazes chegavam a espumar pelos cantos da boca, de tão ligados que estavam.
Quando o contrato de Derry & the Seniors acabou, eles foram substituídos por Rory Storm & the Hurricanes. Quando o contrato dos Beatles acabou em meados de outubro, foi estendido até final de dezembro. Os Beatles e os Hurricanes logo se tornaram amigos, Rory Storm já conhecendo praticamente todo o grupo quando ele cuidava do "The Morgue", um clube onde The Quarry Men tocava semanalmente. É portanto no Kaiserkeller que a banda vem a conhecer o baterista Ringo Starr.
Ringo Starr
Imagem

Nasceu Richard Starkey Jr. em 7 de julho de 1940 em Liverpool, filho do casal Richard e Elsie Starkey. A familia distinguia pai e filho como Big Richie e Little Richie até que, aos três anos de idade, seu pai Richard Starkey deixa a casa, e o casal se divorcia. Little Richie veria seu pai apenas em duas ocasiões depois disto, uma no hospital após uma ruptura no apêndice e outra em 1962, pouco antes de se tornar mundialmente famoso.
O pequeno Richie teve uma infância submersa em doenças e pobreza. Morava no bairro de Dingle, área mais pobre de Liverpool e estudava no St. Silas Infant's School, até ser hospitalizado com problemas no apêndice e peritônio, que o levaram a um estado de coma que durou por dois meses. Nesse período o menino sofreu várias operações e os médicos mais de uma vez informaram a sua mãe da probabilidade dele vir a falecer. Richie saiu do coma, mas teve complicações ao cair da cama do hospital no dia do seu aniversário. Acabou levando quase um ano hospitalizado, e quando voltou ao St. Silas Infant's School, estava terrivelmente atrasado em relação aos outros meninos. Entre seus colegas de sala estava Ronaldo Wycherley, que mais tarde seria conhecido em toda Inglaterra como Billy Fury.
Richie iniciou o ginásio no Dingle Vale Secondary Modern, na época em que sua mãe se casou novamente com um simpático pintor e decorador chamado Harry Graves. Aos treze anos, a doença novamente atacou o menino Richie, com um resfriado evoluindo para problemas na pleura e complicações nos pulmões. Richie sai do hospital dois anos depois com dezesseis anos incompletos. Sem condições de retomar os estudos, parte para trabalhos manuais, tendo trabalhado como mensageiro, entregador de jornais e depois garçom em uma barca. Por gostar de ficar batucando nas coisas, seu padrasto, querendo alegrá-lo um pouco, compra uma pequena bateria usada.
Depois do verão, Richie conseguiu um emprego importante na firma Henry Hunt And Sons como aprendiz de marceneiro. Foi nesta firma que ele fez amizades com Eddie Miles, com o qual, junto a outros empregados da empresa, formam em 1957, no rastro da moda skiffle, o quinteto Eddie Clayton Skiffle Group. Dentro de dois anos, ele estaria tocando em outro grupo, o Downtown Skiffle Group, antes de ser convidado a se unir ao Al Caldwell's Texans. Com a moda skiffle acabando, não demoraria muito para este grupo mudar de nome, se tornando Rory Storm & the Hurricanes.
Rory Storm, Ty Brian, Ringo Starr, Lu Walters e Johnny Guitar
Rory Storm, Ty Brian, Ringo Starr, Lu Walters e Johnny Guitar

Foi Rory, conhecido como sendo um grande showman, que lhe conferiu o seu agora famoso nome artístico de Ringo Starr. Também é de Rory a sugestão que Richie, agora Ringo, tivesse um momento especial no show, batizado de "Ringo Starr-time", onde ele cantaria números como "You're Sixteen" ou "Boy's". A formação consistia em Johnny Guitar e Ty Brian nas guitarras, Lu Walters no baixo, Ringo Starr na bateria, além de Rory Storm nos vocais.
The Beatles & the Hurricanes
Lu Walters
Lu Walters

A relação entre os Beatles e os Hurricanes era tão boas que, quando Allan Williams foi visitá-los em Hamburgo, ele resolveu fazer uma gravação utilizando músicos dos dois grupos. Interessado na voz de Lu Walter, o baladeiro dos Hurricanes, Williams coloca o baixista como vocalista, com John, Paul e George fazendo backing. Assim, no dia 15 de outubro de 1960 no Akustik Studios, foram gravadas três canções. "September Song" e "Fever", com Lu Walters, Johnny Guitar, Ty Brian e Ringo Starr e depois "Summertime" com Lu Walter, John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr. Notem a importância histórica desta sessão por ser a primeira vez que John, Paul, George e Ringo tocariam juntos. Nove discos foram feitos, ninguém sabendo se algum sobreviveu o tempo.
Outro coisa que as duas bandas fizeram juntos foi uma certa aposta. O palco do Kaiserkeller já estava velho com as tábuas precisando de reforço. Mas Bruno não estava nem aí para esses detalhes que só resultavam em despesa. Então as duas bandas começaram a tentar conseguir quebrar o palco pulando durante os shows. Vencia a aposta aquela que conseguisse partir uma das tábuas primeiro. Quem ganhou foi Rory, e os rapazes foram depois comemorar no Willy's Café com Champagne. Quando Bruno soube que o incidente que resultou num buraco no palco foi proposital e que as duas bandas estavam comemorando a destruição com Champagne, mandou seus garçons, verdadeiros leões-de-chacaras, ir até Willy's Café dar uma lição aos rapazes. No entanto, apesar do encontro violento, os garçons do Willy's entraram no embate, defendendo o seus clientes e a coisa terminou antes de ficar feia. Nenhum osso foi quebrado e uma trégua foi travada entre Bruno e as duas bandas.
Os Existencialistas
Klaus, Astrid e Stuart
Klaus, Astrid e Stuart

Foi por volta desta época, entre outubro e novembro, que os Beatles conhecem um grupo de amigos que iriam influenciar os Beatles de diversas maneiras. Um estudante de desenho chamado Klaus Voorman briga com a sua namorada Astrid Kirchherr e sai prá noite. Passa pela zona vermelha de Hamburgo e é atraído pela música saindo de um dos clubes. Ao entrar, fica intrigado pela apresentação da banda, Rory Storm & the Hurricanes. Mas quando o próximo grupo toma o palco, Voorman fica fascinado.
Hipnotizado pela música e presença de palco, Voorman dois dias depois traz Astrid, e mais tarde outros amigos, dentro dos quais Jurgon Vollmer. Todos são universitários, estudantes de arte. Dentro da Alemanha, estes serão os amigos intelectuais da banda, estudantes como eles. Astrid e Jurgon se tornariam os primeiros a tirar fotografias profissionais do grupo. Klaus Voorman, que já fazia arte para capas de discos nesta época, foi o primeiro a tentar estabelecer um contato com os integrantes.
Segundo lembra John Lennon: "De repente tinha esse alemão da minha idade enfiando uma capa de disco na minha cara". Como desenhista, Voorman será mais lembrado como o autor da capa do "Revolver", sétimo disco dos Beatles, lançado em 1966. Não demoraria muito para Klaus perder a namorada para um dos membros da banda. Astrid e Stu se apaixonaram sem saberem trocar mais do que vinte palavras um na língua do outro. Logo, o baixista dos Beatles seria convidado a morar no sótão da casa de Astrid, o quarto que era de Klaus. Portanto, Stu deixa para trás as aventuras na "masmorra", apelido dado aos dois cubículos onde os cinco músicos viviam.
A Masmorra
A "masmorra" ficava no Bambi Kino, um cinema na rua vizinha ao Indra que os rapazes tinham acesso pelos fundos do clube. Localizado atrás da tela de projeção, tratava-se de um local sem janelas, úmido e sem luz, onde o odor de mofo se misturava ao cheiro de urina e excremento vindas do banheiro do cinema que ficava ao lado. Eram três quartos ao todo, sendo que em dois só cabia uma cama e ficaram com Paul e Pete. O terceiro era maior e oferecia uma cama beliche e um sofá. John e Stu dividiram o beliche enquanto o pequeno George dormia no sofá. Embora fosse esta a residência dos rapazes, o local só servia para duas atividades, sexo com parceiros múltiplos ou dormir pesadamente até a primeira sessão do cinema começar. O Bambi só passava filmes pornográficos alternando com filmes de gangster, portanto pode-se imaginar os primeiros sons do dia que eles ouviam ao acordar. Conforme a popularidade dos Beatles aumentava, algumas meninas adotaram o hábito de comprar um ingresso para o cinema à tarde, quando o clube ainda estava fechado, para conseguir acesso até a masmorra para acordar os rapazes para a primeira rapidinha do dia.
Pete Best, George Harrison, John Lennon, Paul McCartney e Stuart Sutcliffe
Pete Best, George Harrison, John Lennon, Paul McCartney e Stuart Sutcliffe

Os Beatles, influenciados pela amiga Astrid, passam a adotar cada vez mais roupas de couro. Com preços bem mais em conta do que na Inglaterra, os cinco compram casacos, calças e botas de couro, além de um quepe.
O outro grande investimento da banda nesta primeira estada em Hamburgo ficou por conta de John e George, que guardariam dinheiro com o exclusivo propósito de comprar guitarras Rickenbaker.
Desentendimentos
Durante esta primeira estada em Hamburgo, John e depois Paul passaram a malhar Stu constantemente, em parte porque ele estava morando e se alimentando bem graças a namorada, enquanto eles estava morando e se alimentando mal. Mas principalmente por causa de sua falta de evolução como músico. Stu, intimidado, acaba considerando deixar a banda e voltar a estudar arte e desenho, seu talento maior, idéia apoiada por Astrid. Enquanto nenhuma decisão é tomada, outros fatos ocorrem e ajudam a intervir. The Top Ten Club, outra casa noturna, inicia atividades e começa a criar uma severa concorrência para o Kaiserkeller, tendo seu proprietário, Bruno Koschmider, perdido vários de seus garçons para o concorrente, função esta que é primordial para o bom funcionamento de um estabelecimento nesta vizinhança, pois tratam-se de empregados com a dupla missão de servir clientes e garantir a segurança de todos dentro do local. Até Dona Rosa também deixaria o Kaiserkeller para cuidar do mictório do Top Ten, que pagava bem mais. Os Beatles começam a se dar conta que pelo público que atraem para o Kaiserkeller, poderiam estar ganhando bem mais. Procuraram Bruno e pedem um aumento, mas o dono do clube, acostumado a tratar com mafiosos e escória em geral, não só recusou mas também ameaçou quebrar as pernas dos rapazes caso eles tentem quebrar o contrato.
Tony Sheridon
Tony Sheridon

No Top Ten tocava Tony Sheridon, a quem os Beatles consideravam um estrela. Na Inglaterra, Tony foi o primeiro guitar hero inglês a despontar. Guitarrista do Vince Taylor & the Playboys, quando o grupo se separou, formou o Tony Seridon Trio, com direito a seis aparições na televisão, tudo isto no espaço de um ano. Depois foi para Hamburgo onde, segundo ele mesmo, começou a realmente fazer dinheiro. Os Beatles passaram a freqüentar o Top Ten para assistir seus shows e várias foram as ocasiões onde Sheridon os chama para subir no palco e tocar com ele. O dono do Top Ten, Peter Eckhorn, então convida os Beatles a deixar o Kaiserkeller e passar a trabalhar para ele, onde ganhariam quartos com janela, bem mais agradáveis para se hospedarem.
Quando Bruno Koschmider soube que os Beatles estavam se apresentando na casa do inimigo, ficou furioso. O contrato que tinham era apenas verbal e já estava findando. Quando todos foram chamados para o escritório de Bruno, sabiam que era a hora de renegociar um acordo melhor. Koschmider deixou claro que os Beatles nunca iriam tocar para o Top Ten e que seus "capangas" iriam quebrar os dedos de cada um se tentassem. Com isso, toda e qualquer esperança de negociar um aumento voou pela janela. Lennon, então cansado das ameaças, mandou Bruno ir se foder e neste clima ruim seguiu as últimas noites de trabalho no Kaiserkeller.
Imagem

No fim da noite, George Sterner, um dos garçons que servia também como espião para o Koschmider, tentou arrumar uma confusão dando um tapa em uma prostituta que Pete Best estava paquerando. Best e Sterner acabaram saíndo no tapa, o garçon não levando tanta vantagem quanto imaginava. Esta foi a última noite dos Beatles no Kaiserkeller. No dia 17 de novembro a polícia apareceu procurando George Harrison. Como ele era menor de idade, a lei não permitia que ele freqüentasse, e muito menos trabalhasse naquele clube. Harrison foi sumariamente deportado, levado ao aeroporto por Astrid e Stu.
Os quatro restantes resolvem ficar em Hamburgo e se mudam para as acomodações oferecidas pelo dono do Top Ten. Lennon foi o primeiro a pegar suas coisas, se instalando no novo quarto onde iria dividir o beliche agora com Tony Sheridon. Stu, que morava com Astrid, não tinha o que buscar, bastando Paul e Pete reunir o seus pertences para começar uma temporada lucrativa no Top Ten. Mas as coisas não seriam assim tão simples.
Quando Paul e Pete vão buscar suas coisas, para poderem enxergar dentro do quarto, pregam quatro camisinhas de vênus (dois em cada quarto, um em cada extremidade) e os acendem. As peças de borracha, além de fumaça e mal cheiro, criam uma luz mínima, suficiente para que pudessem identificar seus pertences espalhados cada um em seu cubículo. Deixaram a borracha queimar parte do tapete colado na parede do quarto, sabendo que a própria umidade do local não permitiria uma chama duradoura.
No dia 30 de novembro, após uma apresentação no Top Ten Club e uma hora de sono, a polícia apareceu procurando Paul McCartney e Pete Best. Inicialmente levados para uma delegacia, foram formalmente acusados de tentar incendiar o Bambi Kino. São então levados para uma penitenciária. Depois de pouco mais que quatro horas presos sem permissão de deitar e dormir, obrigados a se sentar em posição que incluía os dois pés plantados no chão e as costas eretas, foram então levados ao aeroporto e formalmente deportados, sem bagagem, carregando apenas os passaportes que lhes foram entregues pela polícia. John, sabendo que logo estaria sendo procurado pelas autoridades, se escondeu na casa de Stuart e Astrid. Sem ter como continuar trabalhando, Lennon deixou a Alemanha de trem no dia 10 de dezembro. Somente Stu ficaria para atrás, aos cuidados de Astrid, pois estava resfriado e febril. Neste tempo, o casal ficaria noivo e Stu retornaria para Liverpool com intenção apenas de preparar sua mudança definitiva para Hamburgo.
The Casbah
Desanimados, mesmo estando a banda de volta em Liverpool, ninguém se procurou, afinal haviam seguido para Hamburgo falando em fazer fama e fortuna, mas voltaram sem dinheiro e com uma forte sensação de derrota. Lennon e George ainda trouxeram uma guitarra nova cada um, o que pouco impressionou alguém como Tia Mimi. Mas Paul nada trouxe além da roupa suja e um ar descrito pelo seu pai como sendo "mais velho do que sua idade". Ele acaba seguindo o conselho paterno e arruma um emprego dirigindo um caminhão de entregas para ganhar £7 por semana. Sua intenção a curto prazo era garantir pelo menos algum dinheiro para poder comprar presentes para sua família no Natal vindouro. Pete Best ainda perdeu a bateria nova que havia comprado pouco antes de se juntar aos Beatles e seguir para Hamburgo, pois o instrumento ficara no Top Ten Club, e sem saber quando voltaria para reavê-la, passa a usar sua velha. John soube através de Cynthia que ele perdera o ano por excesso de faltas.
Cartaz do Casbah feito por Mike McCartney
Cartaz do Casbah feito por Mike McCartney

Inevitavelmente eles acabaram se reencontrando e organizam os primeiros ensaios. Testam a banda com Paul no baixo mas ficam insatisfeitos com o resultado. Pete Best sugere então chamar Chas Newby, ex- Blackjacks, que estava de férias da faculdade. O jovem estudante de química aceitou ficar na banda por algumas semanas, estreando ao vivo no Casbah, dia 17 de dezembro.
A apresentação dos Beatles nesta ocasião foi memorável, especialmente para a banda. Foi a primeira vez que eles puderam perceber o quanto evoluíram como músicos em relação ao que acontecia no circuito musical de sua cidade. O Casbah até então seria o único local fixo do grupo, tendo demais shows marcados esporádicamente nos mais variados lugares, sempre arrumados por Alan Williams. Entre estes, está o grande ponto de virada da banda. Durante o retorno às atividades em dezembro e janeiro, George e John passam a escrever seguidamente para Stu pedindo pelo seu retorno.
Neil Aspinall, então fazendo faculdade de economia, era grande amigo de Pete Best e estava morando em um quarto alugado na mansão da família. Como todo mundo naquela casa, ele também passou a ser um frequentador assiduo do Casbah e é neste período, com os Beatles se apresentando em shows regulares, que Aspinall e os Beatles se conhecem.
Litherland e The Cavern
O show em Litherland Town Hall no dia 27 de dezembro, foi promovido como "Os Beatles diretamente de Hamburgo". Quando o grupo subiu no palco vestidos todo de couro, cheio de atitude e oferecendo um show de rock agitado como faziam na Alemanha, o salão gelou por segundos e em seguida todo mundo correu para perto dos músicos. Este dia é considerado pelos historiadores como o dia do nascimento da Beatlemania, embora o termo não seria usado até conquistarem Londres em 1963. É também o dia em que conhecem Bob Wooler, um DJ que trabalhava no Cavern Club.
The Cavern em Mathew St.
The Cavern em Mathew St.

A partir deste ponto, os Beatles nunca mais terão dificuldade para agendar shows. Em janeiro de 1961, Stu Sutcliffe retorna para Liverpool, e embora não houvesse queixas do trabalho do Chas Newby, John fazia questão de ter seu amigo na banda. Os cinco Beatles rapidamente se tornavam a sensação da cidade, com o mulheril gritando freneticamente, criando ciúmes nos Teddy Boys da cidade. Stu e George por serem os mais baixos, geralmente eram os alvos prediletos da turma afim de briga. Em uma ocasião, conta-se que juntaram Stu, esmurrando ele até que John e Pete, os dois mais fortes da banda, entraram na briga para proteger o amigo. John saiu desta briga com o dedo quebrado e Stu com um lado da cabeça sangrando.
O rock já estava dominando o interesse sobre o jazz em Liverpool e certos clubes, em nome do lucro, são obrigados a rever seus estatutos. Assim, em fevereiro, os Beatles começam sua histórica temporada no Cavern Club, inicialmente apenas no horário de almoço e mais tarde, à noite no horário nobre.

Parte 04 - Os Rolling Stones Atraem Seu Público


Mudaram o nome da banda de Rollin' Stones para Rolling Stones, como passou a ser conhecida desde então. Novamente, influenciado por Brian Jones que ainda usava o nome Elmo Lewis, Bill Perks assumiria o nome artístico de Bill Wyman e em 1964, mudaria o nome oficialmente em cartório. Depois de quase um ano de insistência por parte de Brian, reforçado por Stu, Charlie Watts é aconselhado pelo amigo Alexis Korner a aceitar o convite de ser o baterista exclusivo dos Rolling Stones. No ensaio seguinte, dispensam Tony Chapman. Charlie Watts estréia então no dia 14 de Janeiro de 1963, num clube chamado Flamingo, em Soho.
Cyril Davies & The All Stars
No ano de 1963, a sorte começou a sorrir para a banda. Certa noite, abriram para The Presidentes, banda cujo cantor Glyn Johns, também trabalhava como engenheiro de som para um estúdio. Ele gostou do som dos Stones e convidou os rapazes a juntar um dinheiro e fazer uma gravação profissional. A idéia soava interessante mas só se realizou dois meses depois. Em outra ocasião abriram para Cyril Davies que havia desfeito sua sociedade com Alexis Korner em novembro de 1962, e agora tinha sua própria banda, The All Stars. Os Rolling Stones adoravam a música de Cyril Davies & The All Stars que tinha com eles Nicky Hopkins no piano, além de Carlo Little, Ricky Brown e Bernie Watson, todos ex-Savages, banda considerada pesada para a época. Somados a gaita e a voz de Cyril Davies, são durante esse período, considerados a melhor banda de blues na Inglaterra. Logo se juntaria aos All Stars, outro ex-membro do Blues Inc., o amigo Long John Baldry.
Cyril Davis & the All Stars
Cyril Davis & the All Stars

Com o sucesso da primeira experiência, Brian negociou com Cyril para que os Stones abrissem sempre seus shows. Foi assim que os Stones voltaram a tocar no Marquee Club. Além de mudanças na formação original dos All Stars, Cyril adicionou um trio feminino de cantoras negras como 'backing vocal', chamados "The Velvettes". Mick Jagger começou a namorar uma das meninas, Cleo Sylvester e sugeriu que a idéia de Cyril poderia funcionar também para os Stones, dando assim, um som mais americano à banda. Cleo então é convidada a se juntar a eles, desde que ela arrumasse mais duas meninas para o coro. Ela arrumou apenas uma amiga chamada Jean, mas no ensaio, as duas provaram serem muito dispersas e Jean não cantava muito bem. A banda ensaiava uma versão de "La Bamba" que virava "Twist And Shout" na qual as meninas erravam seguidamente. Repensaram a questão e a idéia do coral feminino foi abandonada. O público ficava tão elétrico e aplaudia tanto os Rolling Stones, que ficava difícil para Cyril Davies depois manter a casa sacudindo. Mesmo porque, já na terceira semana do acordo, havia tanto ou mais gente na casa para ver os Stones do que para assistir the All Stars. Quando Brian Jones tentou negociar um aumento de cota com Cyril Davies, acabou despedido.
Bo Diddley
Bo Diddley

Em Fevereiro Brian Jones conheceu Giorgio Gomelski, um italiano filho de russo com francesa que fez alguns filmes experimentais. Ele havia alugado recentemente um salão no fundo do Station Hotel no subúrbio de Richmond e transformou o espaço em um clube com bar e música ao vivo. Brian convenceu Giorgio a assistir sua banda que tocava rhythm & blues autêntico, coisa ainda rara naquela época. Giorgio por sua vez já havia estado em Chicago, e quando assistiu os Stones reconheceu logo sua singularidade. Enquanto outras bandas montavam um show para o público, os Rolling Stones ignoravam totalmente o publico presente, tocando sentados, conversando entre as músicas, acendendo seus cigarros ou tomando suas cervejas. Era um 'happening', uma atmosfera que se criava, à parte da música. Eram únicos e o público às vezes demorava a entender o que estava se passando. Mas a música os enlaçava. No final de cada set, tocavam uma versão de 20 minutos de "Pretty Thing" ou de "Craw-Daddy", ambas de Bo Diddley, que hipnotizavam as pessoas presentes.
Mudando Para o Crawdaddy
Giorgio Gomelsky tomou interesse por eles e se tornou informalmente o primeiro empresário da banda. Com sua assistência passaram a tocar até quatro vezes por semana, a banda faturando até sete libras semanais cada um, metade do que Charlie fazia na agência trabalhando oito horas por dia. Giorgio deu algumas dicas sobre como trabalhar com volumes e aguardava a banda amadurecer um pouco mais, porém quando finalmente achou que estavam prontos, deu a eles todos os domingos no seu clube. Mick e Brian estavam extasiados. Há tempos conversavam sobre a necessidade de se encontrar um lugar fixo para tocar. Um lugar que o público pudesse reconhecer como reduto da banda. A casa não tinha nome mas influenciado pelo frenesi que Giorgio percebia nas pessoas ao som de "Craw-Daddy", versão dos Stones, batizou a casa de The Crawdaddy.
Se em meados de 1962 a banda, quando conseguia arrumar trabalho, tocava para até menos de dez pessoas, em Março de 1963, estava enchendo os clubes com umas 300 mulheres histéricas e homens sedentos. Foi neste estado positivo que no dia 11 de Março, todos se reuniram com Glyn Johns no IBC Recording Studio em Portland Place. Gravariam em uma máquina de dois canais, o que seria o primeiro registro dos Rolling Stones com sua formação básica. Em três horas gravaram "Road Runner" e "Diddly Daddy" de Bo Diddley, "I Want to Be Loved" de Muddy Waters, finalizando com "Honey, What's Wrong?" e "Bright Lights, Big City" de Jimmy Reed. A gravação ficou excelente e Brian Jones muitos anos depois, ainda considerava essas as melhores coisas gravadas pela banda. Mas os executivos da IBC não entendiam o que tinham nas mãos e por conseguinte não souberam vender o produto. No final, foram rotulados de "sem potencial comercial" e dispensados.
Os Beatles
Os Beatles e o Produtor George Martin
Os Beatles e o Produtor George Martin

Os Beatles ao fazer sucesso, colocando "Please, Please Me" em primeiro lugar nas paradas, abriram um precedente. Até então, nenhuma banda pop ou rock inglesa era levada realmente a sério. Com isso, mais portas abriram para diversas outras bandas no país. Giorgio, querendo fazer um filme sobre os Beatles, conseguiu contato com eles e os convidou ao Crawdaddy para assistirem os Rolling Stones. Ao aparecerem lá no meio do primeiro set, os Stones se sentiram intimidados, pensando "Putz! São os Beatles!" Conversaram depois, entre sets, todos se dando muito bem. Os Beatles acabaram ficando e assistiram todo o segundo set também, maravilhados pela música e a atmosfera. Depois foram todos para Edith Grove onde ouviram o disco demo gravado por Glyn, alguns discos de Muddy Waters e Jimmy Reed. Conversaram muito sobre a metamorfose que estava se passando entre a juventude e os interesses eclodindo na forma de uma música que a representasse como o rock 'n' roll ao invés do jazz, bolero ou polka que os pais geralmente ouviam.
Brian pediu e ganhou uma foto autografada pelos quatro que ele colocou em um lugar de destaque na casa e todos foram convidados pelo 'fab four' a assistirem a apresentação no Royal Albert Hall na quinta seguinte. Para não precisar pagar ingresso, Mick, Keith e Brian, os únicos que não tinham empregos, compareceram levando as guitarras de John, Paul e George para dentro do teatro, entrado por uma porta lateral. Neste momento, Brian é confundido com um dos Beatles por uma horda de meninas. Essa adoração seduziu os três por um desejo de sucesso que até então nunca demonstraram.
É possível que esse evento possa ter sido a centelha para uma rixa que ainda viria a aparecer na banda. Brian respeitava músicos mas não tinha maiores respeitos por vocalistas e tratava Mick como quem acredita que qualquer um pode cantar. Mas como é sempre o cara na frente quem aparece mais nas fotos, o ciúme estava se instalando. Mick por sua vez, embora soubesse chamar atenção para si, como também instintivamente manipular bem essa atenção, sabia que o grande músico da banda era Brian. E o fato inegável de a banda estar nas mãos de um cara que não tinha maiores respeitos para com o cantor, o deixava inseguro.
Não conseguindo nada com os Beatles, Giorgio resolve então filmar um curta-metragem com os Stones no Crawdaddy. Acerta com os meninos e no domingo convence um jornalista do Record Mirror chamado Peter Jones a assistir a apresentação e escrever sobre eles. Então, no dia 21 de Abril, enquanto Giorgio filmava as filas nas ruas e depois os Stones tocando "Pretty Thing" (transformando tudo posteriormente em um curta de sete minutos), Peter assiste todo o show e fica bem impressionado com o que ouviu da banda e viu do público, dançando sobre as mesas e realmente curtindo. Depois do set, conversou reservadamente com os rapazes, enquanto todos sorviam suas cervejas, e ficou espantado por eles estarem se desculpando por, na opinião da banda, uma má apresentação. Brian como sempre, falou em nome de todos, explicando sobre a música de Jimmy Reed e Muddy Waters, o que os Rolling Stones já fizeram e o que eles ainda pretendiam realizar. O artigo no jornal iria abrir outras portas e atrairia mais jovens para o subúrbio nos domingos.
Em primeiro de fevereiro, Brian havia escrito uma carta para a BBC, solicitando uma oportunidade para a emissora receber sua banda no programa "Jazz Club", que apesar do nome, recebia bandas de rhythm & blues. Brian chamou sua banda, nesta sua carta, de The Rollin' Stones Rhythm & Blues Band. Quando a BBC finalmente respondeu convidando para uma audição, a data foi marcada para o dia 23 de Abril, durante a semana, no meio do horário comercial, o que tornou impraticável para Charlie ou Bill poderem participar. Novamente, Brian procurou socorro nos All Stars, e por uma cota, Ricky Brown e Carlo Little fizeram o gig. Tocaram duas músicas, "I'm A Hog For You Baby", canção do antigo repertório dos Savages e "I'm Moving On". Foram gravados e depois ouvidos por um certo David Dore, gerente de programação da rádio, que dispensou a banda por ter um vocalista que cantava soando como um negro.
Os Rolling Stones Atraem Seu Público
Imagem
Brian conhece Linda Lawrence, uma menina de dezesseis anos, e começam a namorar. Como por um sexto sentido, dias depois, sem aviso prévio, do nada aparece Pat Andrews novamente, com Julian a tiracolo. Ela informa a Brian que se mudou de vez para Londres, trabalhando em uma farmácia, e alugara um apartamento pequeno em Notting Hill Gate. Voltam a ficar juntos, Brian apegando-se a seu filho. Se no primeiro domingo no Crawdaddy, dia 24 de Fevereiro, tocaram para trinta e duas pessoas, a cada domingo os números dobravam. Logo havia fila nas ruas para entrar e vê-los.
Jovens aspirantes de músicos começavam a freqüentar e estudar a banda. Paul Samuel-Smith era um que passou a assistir todos os shows e vivia atrás de Wyman pedindo dicas. Mais tarde ele ajudaria a fundar The Yardbirds. Ron Wood, que já freqüentava os shows do Blues Incorporated para assistir seu irmão Art, assistiu os Stones, que abriam para eles. Wood torna-se agora outro que vez por outra estava em Richmond para assistir à banda, trazendo consigo vários amigos. Eric Clapton também começou a aparecer regularmente nas terças quando a banda tocava no Ealing Club e a casa ficava menos cheia. Ele tocava e cantava "Roll Over Beethovan" com os rapazes; Mick e Eric tornando-se grandes amigos. Os Stones começavam também a atrair pessoas do jet-set londrino como Jean Shrimpton, uma top model famosa da cidade. Sua irmã Chrissie, de 17 anos faz uma aposta com as amigas que conseguiria arrancar um beijo do Jagger. Logo estavam namorando.
Andrew Loog Oldham
Imagem

Andrew Loog Oldham ficou sabendo do alarde que esses rapazes estavam criando em Richmond e imediatamente se interessou em conhecê-los. Andrew era um típico mod de 19 anos com um incrível senso de moda, uma percepção aguçada para antever tendências relacionadas à sua geração e um desejo de ganhar muita grana no circuito musical. Seu talento para gerar promoção chamou a atenção de Brian Epstein que o contratou para divulgar o segundo compacto dos Beatles, "Please, Please Me". Antes de trabalhar com eles, Andrew já conhecia os Beatles e a tempos falava para qualquer um que desse ouvidos, que aquele quarteto seria um sucesso. Agora que suas previsões se mostravam frutíferas, Oldham não podia ser totalmente ignorado. Portanto quando Andrew procurou Eric Easton, um agente de trinta e seis anos, com escritório na Regente Street, sobre passar o domingo em Richmond para tentar assinar uma banda com o nome de Rolling Stones, mesmo cético, Easton topou.
Ficaram muito impressionados, especialmente Oldham, que resumiria o primeiro impacto como sendo: "uma mistura de musicalidade e sex-appeal que eu nunca vi em nenhum outro grupo". Easton comentaria posteriormente: "De vez em quando alguém saía do salão para poder respirar. Foi o primeiro banho turco gratuito que eu tomei na vida. Nunca presenciei coisa igual e os Stones estavam adorando tudo, produzindo um som fantástico que obviamente batia em cheio com o seu público." Procuraram Mick e Brian após o show e marcaram uma reunião no escritório para o dia seguinte.
Stu, Wyman e Watts trabalhavam durante o dia e não puderam comparecer, Jagger tinha aula e Richards não tinha interesse. Brian Jones chegou então no escritório de Easton sozinho na hora marcada e este logo explicou que não poderia fazer nenhuma promessa. Andrew então calmamente conta uma historia, que quando ele estava em Doncaster, assistiu os Beatles pela primeira vez. Eram a oitava atração da noite, atrás de gente como Helen Shapiro e Tommy Roe. Bastou ouvi-los aquela noite, para saber que eles iriam ser a maior coisa que já se tinha notícia. Sua intuição lhe dizia que uma vez grandes, haveria todo um outro público querendo ouvir o oposto do que os Beatles representavam. Depois de trabalhar com Epstein e os Beatles, isso ficou mais claro ainda na sua mente. Andrew então dá a facada final, dizendo que ele achava que os Stones poderia ser essa banda e que ele saberia vendê-los como tal. A noite em Edith Grove, Brian explica todos os detalhes da conversa para o restante da banda, que naturalmente são tomados por muito entusiasmo com a promessa de melhores dias.
Assinando os Papéis
Brian voltaria ao escritório de Easton nos próximos dias para discutir detalhes sobre a proposta contratual, mas não antes de sondar informações sobre trabalhos anteriores, tanto de Easton como de Oldham. Já a dupla Oldham e Easton, estudava como fazer uma gravadora grande entender o som que estavam querendo. Concluem que seria difícil e cansativo, portanto a contraproposta seria a banda, Andrew e Eric, gravarem e produzirem tudo eles mesmos e então vender o produto final para a gravadora. Assim eles teriam um maior controle de todo o processo e teriam uma porcentagem bem maior do que sendo simplesmente mais uma banda na cartela de uma gravadora. Uma concepção completamente nova na Inglaterra mas que gente como Phil Spector e alguns outros já faziam com sucesso nos Estados Unidos. Assim, fundaram a Impact Sound, a primeira gravadora independente da Inglaterra.
No dia 1º de Maio de 1963, depois de discutir algumas horas com Eric e Andrew sobre minúcias, Brian leva o contrato para uma casa de chá na esquina oposta do escritório onde Mick e Keith aguardam ansiosamente. Depois do acordo coletivo entre eles, Brian volta e assina. O contrato tem a duração de três anos a começar pelo dia 6 de Maio de 1963, e prevê o gerenciamento dos Rolling Stones representado por Brian Jones, pela Impact Sound representado por Andrew Oldham e Eric Easton. Os Stones tinham agora um novo empresário e um agente.
A Decca e em especial Dick Rowe, tinham virado a piada do ano por ter recusado os Beatles em 1962, e estavam desesperados atrás de uma banda que devolvesse a moral e o respeito à gravadora. George Harrison encontrou com Rowe em Liverpool em certa ocasião e sugeriu que ele fosse a Richmond assistir os Rolling Stones. "Seria uma boa idéia contratá-los" disse-lhe George. Rowe foi, assistindo à apresentação do dia 6 de Maio. Oldham e Easton, aproveitando-se desse momento de fragilidade em que se encontravam Rowe e a gravadora, fechou um contrato em que as gravações seriam licenciadas à Decca, porém a banda não só teria total controle sobre o que seria lançado, como continuariam sendo os donos das fitas masters. Vendo a EMI dominar as paradas de sucesso, com os Beatles vendendo discos em quantidades inacreditáveis, a Decca, e principalmente Dick Rowe, não poderiam arriscar perder outra banda tão promissora, e aceitou este contrato incomum.
Andrew Cria a Imagem Ideal
Ian Stewart
Ian Stewart

Uma vez sabendo da gravação feita pelo IBC Recording Studio com Glyn Johns, Andrew imediatamente compra de volta a fita por £106. O detalhe seguinte no esquema de Andrew quanto à imagem da banda atingiria o pianista. Ian Stewart não tinha absolutamente nenhum "sex appeal" e segundo Andrew, estragava a imagem de uma banda jovem e excitante que se queria criar em torno deles. Por causa de uma meningite mal curada quando criança, Stu teve problemas com calcificação e o resultado foi uma mandíbula protuberante. Ele operou aos dezoito anos mas ainda assim continuou bastante singular. Sendo muito sensível em relação à sua aparência, ele se sentiu impotente para discutir a questão. Esperou que a banda o defendesse, mas a fome pelo sucesso falou mais alto que a lealdade. Oldham ofereceu uma alternativa em que Stu poderia gravar com os Stones mas não posar como um membro. Ele seria o gerente de palco, encarregado de cuidar de todo o equipamento da banda, desde transporte até montagem no palco. Stu aceitou o encargo e a situação. No exterior ele demonstrava muita tranqüilidade com seu novo papel de gerente de palco, mas no fundo, nunca mais confiou em Brian por não ter criado nenhum obstáculo à Oldham para evitar retirá-lo da banda. A ideologia musical de antes dava lugar rapidamente para rixas e tensões. Tendo isso concluído, Oldham anunciou que na próxima semana gravariam seu primeiro compacto pela Decca.
Brian foi então chamado para assinar outro contrato. Três dias depois do contrato de gerenciamento entre as partes entrar em vigor, lhe é apresentado um contrato para as gravações. Nesse contrato, que também duraria três anos, os Rolling Stones receberiam 6% para serem divididos entre os cinco, o que já excluía Stu como membro. Existe também, um contrato de licenciamento das gravações, entre a Impact Sounds e a Decca, oferecendo a esta a primeira opção. Giorgio Gomelsky, que tinha um acordo verbal com os Stones, estava viajando por conta de um parente doente. Quando volta e percebe o que os Stones fizeram, logicamente se sente traído, principalmente por Brian. Porém seu tino comercial falaria mais alto, e Gomelsky ainda iria arrumar vários shows para os Rolling Stones tocarem, vários em que o resultado acabou sendo significativo na história da banda.
Hora de Estúdio
Brian e Keith
Brian e Keith

Andrew nunca entrara em um estúdio de gravação, muito menos produzira uma banda. Então as primeiras duas sessões para gravarem o novo compacto foram infrutíferas e somente na terceira tentativa conseguiram uma versão mais apresentável para as rádios. Escolheram estrear com "Come On" de Chuck Berry por ela ser mais comercial, embora os membros da banda fossem os primeiros a admitir que a canção gravada não representava o melhor dos Stones. Assim, Come On/I Want To Be Loved foi lançado em 7 de Junho, 1963. Jagger definiria a sessão como sendo "um monte de amadores, totalmente ignorantes, fazendo um hit." O compacto conseguiu no máximo chegar a 20º lugar, mas permaneceu em posições variadas das paradas por quatro meses, um fato em si impressionante.
Para promovê-lo foram fazer sua primeira aparição na TV no programa Thanks Your Lucky Stars. Na manhã da apresentação, todos foram com Andrew comprar suas roupas de palco, que incluiriam calças jeans pretas apertadas e uma sweater de gola rolê. Para os pés, vestiram o que ficou conhecido mundialmente como botas beatles. Mick, Keith e Brian odiaram a idéia de uniformização e usaram uma jaqueta por cima da roupa para manter o ar de "casual". Só as botas fizeram algum sucesso, especialmente com Keith e Brian. Mick, o mais alto entre eles, recusou usá-las, continuando a calçar salto baixo. A banda em playback, faziam a mímica para a canção "Come On" para o programa e ao saírem, Andrew fala sobre excursionar com os Everly Brothers no outono.
No dia seguinte, o resultante da estreia televisiva foi muita promoção ruim, falando demasiadamente mal dos cabelos terrivelmente longos, dos trejeitos bissexuais de Jagger, da atitude excessivamente agressiva de Brian no palco e muito pouco sobre a música. Basicamente queixavam que os Rolling Stones haviam passado consideravelmente dos limites instaurados pelos Beatles. Iniciou-se assim a rixa entre os fãs, fomentada pela imprensa, entre os Beatles, os meninos que encantaram a nação, e os Rolling Stones, os rapazes prontos a dar um chute nela.
Bill, Brian, Keith, Charlie e Mick
Bill, Brian, Keith, Charlie e Mick

Embora ficassem atordoados com as coisas ruins que liam, Andrew adorou a controvérsia e fez questão de dar mais gás para o assunto. Sua lógica era de que controvérsia vendia jornais e os jornais venderiam os Stones, portanto quanto mais controvérsia gerassem para os adultos, mais os seus filhos iriam adorá-los. Andrew instruiu a banda, principalmente Brian e Mick, os homens de frente, a não serem corteses com os jornalistas e a jogada promocional se mostrou extremamente funcional.
Pat e Julian, então com dois anos, aparecem no backstage em uma das apresentações da banda e Brian não resiste em ficar brincando com seu filho, apresentando-o a todos. Ele é chamado atenção severamente por Andrew, que acusa sua atitude de ferir a imagem de um roqueiro durão. Ele não poderia mais divulgar que era um pai. Tinha que se mostrar "disponível" para as fãs. Esta era a imagem! Brian mesmo a contragosto, obedece.