27 de fevereiro de 2011

Make It Funky - Os Ritmos de New Orleans (Make It Funky!)





Sinopse
Um tributo ao legado musical de New Orleans, recheado de performances inflamadas, seqüências ardentes de arquivo e conversas apimentadas com os notáveis homens e mulheres que criaram o melhor do jazz e do blues.

  • Informações Técnicas
    Título no Brasil:  Make It Funky - Os Ritmos de New Orleans
    Título Original:  Make It Funky!
    País de Origem:  EUA
    Gênero:  Musical
    Tempo de Duração: 109 minutos
    Ano de Lançamento:  2005
    Site Oficial: 
    Estúdio/Distrib.:  Sony Pictures
    Direção:  Michael Murphy
  •  
  • Elenco
    Bonnie Raitt
    Keith Richards 

Parte 03 - Sem Potencial Comercial


Dick Taylor resolveu que era hora de fazer uma escolha. Estava dividido entre os estudos no Royal College of Art e sua música. Concluiu que se pretendia continuar a estudar, precisaria dedicar mais tempo para os estudos imediatamente. Saiu então da banda e continuou afastado da música por um ano. Em 1963 voltaria ao rock formando uma banda de rhythm & blues sua, chamado Pretty Things, homenagem a canção do Bo Diddley, "Pretty Thing" e com eles, conseguindo uma razoável notoriedade.
Os Rollin' Stones arrumaram um baixista chamado Ricky Brown, também conhecido como Ricky Fensen, e outro baterista para as eventuais ausências de Chapman chamado Carlo Little, ambos membros dos Savages. No outono, Stu compra um velho Rover fabricado antes da guerra, que passou a levar o equipamento e a banda para as poucas gigs que arrumavam.
Sem Potencial Comercial
Apartamento em Edith Groove
Apartamento em Edith Groove

Dentro do relacionamento doméstico, Brian e Keith ficavam a cada dia mais camaradas, deixando Mick se sentindo um pouco de fora e enciumado. No apartamento que consistia em um quarto e sala, cozinha e banheiro, na sala ficava uma cama de beliche. Hattrell, Brian e Keith dormiam ali, com Mick dormindo sozinho no quarto menor, onde ele podia estudar, uma vez que ainda estava cursando faculdade de economia no London School of Economics. O lugar além de imundo era uma zona completa.
Mick tentava a tempos aprender a tocar a gaita e estava tendo muita dificuldade. Brian certo dia pegou o instrumento largado sobre a mesa e quase que instantaneamente começou a fazer música. Sorriu ao ver Mick boquiaberto e se ofereceu a ensiná-lo. Keith comenta que lembra chegar em casa no fim do dia e Brian estava arrebentando na gaita, instrumento que nunca tocara antes. A partir daí, Brian começou a procurar Cyril Davies para aprender mais sobre a gaita. Passavam horas tocando juntos e ouvindo discos, Brian estudando e apurando a técnica de torcer ou achatar uma nota. Ele que havia começado a tocar o piano, trocando para o clarinete, depois o saxofone, para finalmente ir a guitarra, estava agora em plena metamorfose passando a se interessar apenas pela gaita, que carregava consigo para onde quer que fosse.
No dia 27 de Outubro a banda, Mick, Brian, Keith, Stu e Tony, se junta no Curley Clayton Studio, perto do campo de futebol do Arsenal, para gravar um demo, naquela época, um disco de acetato. Com apenas um microfone, a equalização era feita mantendo os instrumentos em distancias estratégicas. O piano que era pregado no chão ficou praticamente inaudível. Gravaram em quatro horas "You Can't Judge A Book By It's Cover" de Bo Diddley, "Soon Forgotton" de Muddy Waters e "Close Together" de Jimmy Reed. Mandaram uma copia para a EMI, que rejeitou, e outra para Decca, que respondeu positivamente dizendo "A banda é ótima, mas livrem-se do cantor."
Com poucos shows ou "gigs", como passaram a ser chamados, no geral o inverno foi frio e a fome era negra. Brian e Mick passaram a ocasionalmente dormir com Judy, do andar de baixo, uma farmacêutica não muito vistosa, que arrumava algumas compras e café para ajudar os rapazes. De vez em quando Judy subia e arrumava um pouco a casa. Algumas vezes roubavam batatas para ajudar a aliviar a fome. Mick chegou a dizer que se algum dia tivesse dinheiro, nunca mais comeria uma batata enquanto estivesse vivo. Brian vendeu vários de seus discos para Carlo Little, usando o dinheiro para poder comer. Stu dava seus tickets de refeição que recebia da firma para ajudar os rapazes, que estavam de fato passando fome e frio. Dick Hattrell acaba tendo uma crise de apêndice e volta para Cheltenham. Keith também fica bastante debilitado com febre e suspeita de amigdalite. Volta para a casa dos pais, mas, doente ou não, toca com a banda no Piccadilly Jazz Club no dia 30 de Novembro.
Nanker Pheldge
Como as despesas ficavam pesadas divididas por três, o pessoal não agüentou a barra e logo Mick passou a anunciar em uma das apresentações, a disponibilidade do espaço. Após um show, um rapaz chamado Jimmy Pheldge, topou entrar no racha. De manhã na cozinha, enquanto engraxava os sapatos, Brian e Keith entram e começam as provocações: "Para que engraxar os sapatos se logo estarão sujos novamente?" perguntava Keith. "Tem que engraxar os sapatos e limpar as cuecas, senão o patrão briga." goza Brian. Phelge percebe que precisa rapidamente ganhar o respeito desses dois ou não terá sossego. "Você já trabalhou alguma vez Keith?" perguntou. "Já, uma manhã nos correios. Achei um saco, saí para almoçar e nunca mais voltei." Com isso Brian está às gargalhadas. "Antes eu estudava em Sidcup Art School" Keith conclui. Pheldge responde "É mesmo?" vira pro lado, mira e escarra à meia altura na parede. Vira novamente para Keith como se nada tivesse acontecido e continua, "E como foi lá?" Os dois congelaram em espanto. "Você viu o que ele fez!?" caindo na gargalhada em seguida. Mick entra na cozinha e recebe a noticia, "Esse cara escarrou no meio da parede". Jimmy responde "É, mas este vai pro teto" e manda outro. Mick olha aquilo enojado, "Putz, esse cara serve para ser nosso agente." Pheldge em seguida pega um lapis, circula os escarros e batiza, "esse é Humphrey Amarelo e este Jenkins Scarlat."
Imagem

Essa passou a ser uma das muitas brincadeiras nojentas realizadas no cotidiano de Edith Grove. Outras seriam urinar ou jogar lixo pela janela, como também fazer uma fogueira na sacada da frente do apartamento. Keith e Brian tinham uma gíria para caretas e atitudes sujas ou grosseiras que batizaram de "nanker". Logo Jimmy Pheldge passaria a ser chamado de Nanker Pheldge. Depois, durante um período da carreira, quando uma canção é composta por todo grupo, passou-se a creditar a canção a Nanker Peldge. Fundam então a Nanker Pheldge Inc. que cuidaria do recolhimento e distribuição dos direitos autorais dessas canções. Alguns exemplos são Stoned, Play With Fire e I'm All Right.
Final do Pior Ano
Com apenas uma gig nas terças em Ealing e uma ou outra ocasional durante o fim de semana, somados ao frio do inverno e à falta de dinheiro, a banda começa a ficar realmente deprimida. Para piorar, Brian tem que lidar com a eterna instabilidade da cozinha de sua banda. Sem ter um baixista que assuma ficar com a banda, desde a saída de Dick Taylor, e sem um baterista em que se possa confiar que vá aparecer em todos os ensaios ou shows, tudo parece conspirar contra.
Ricky Brown e Carlo Little
Ricky Brown e Carlo Little

Apesar de Ricky Brown e Carlo Little serem realmente muito bons, não querem ficar presos a uma banda como os Rollin' Stones que não tem meios ainda de gerar um mínimo de lucro financeiro. Especialmente Carlo Little que, infinitamente superior a Chapman, não tocava por filantropia. Little, já um baterista respeitado no circuito, foi o primeiro e grande professor de Keith Moon em 1961. Assim, Chapman tem seu lugar assegurado na banda mais uma vez. É irônico que quando começam a discutir abertamente sobre quais rumos a tomar, é justamente Tony Chapman quem fala de um baixista experiente, chamado William Perks, que tem um bom equipamento e que poderia ser bem útil a todos.
William Perks
William George Perks, nascido no dia 24 de Outubro de 1936, tem o orgulho de nascer no mesmo ano que Elvis Presley, Buddy Holly e Jerry Lee Lewis. Sete anos mais velho do que os demais Stones, Bill lembra claramente da Segunda Guerra Mundial, tendo que correr para casa da escola enquanto aviões metralhavam as ruas e depois com as outras crianças, passando a catar as balas espalhadas pelo chão. Ou de se esconder no porão com sua avó, com quem morou, quando soava a sirene de ataque aéreo. Ouviam os bombardeios e depois descobriam metade da vizinhança em escombros. Tudo era uma grande aventura. Só entenderia a magnitude dos eventos quando na escola soube que duas colegas foram mortas.
Sua família era tão pobre que, a cada noite, seu pai botava de castigo um ou dois dos cinco filhos, sem jantar, para que os demais tivessem o suficiente pra comer. Bom aluno, e por isso ganhando uma bolsa para uma ótima instituição de ensino, a poucos meses antes de se formar no segundo grau, seu pai o tirou da escola para trabalhar como book keeper, anotando apostas. Por causa deste serviço, Bill teria problemas para conseguir outro tipo de emprego no futuro. Ficou três anos no exército, iniciados em Janeiro de 1955, servindo na Alemanha. Lá, conheceu muito rock n' roll, que ouvia no rádio através das estações dos aliados americanos.
Assim conheceu pela primeira vez Elvis Presley, Fats Domino, Bill Haley e Little Richard. Bill ouve skiffle através de Lonnie Donahue e o Chris Barber Band e, em Julho de 1956, compra seu primeiro violão, pois como ele mesmo diria, estava alucinado por Elvis Presley. Ajuda a montar uma banda de skiffle com outro soldado, Casey Jones, que mais tarde, entre outras bandas que formaria, teria uma com Eric Clapton. É no exército que ele conhece Lee Whyman, que abastecia os aviões da força aérea de combustível, além de ser um excelente jogador de futebol. Mas foi o seu senso de estilo e bom gosto em roupas, que impressionou Bill a ponto de ele mais tarde homenageá-lo com o seu nome artístico, Bill Wyman.
Os Cliftons
Bill, ao sair do exercito no final do ano, vai ao cinema e assiste o filme "Rock, Rock, Rock". Como ele confessaria mais tarde, tudo estava normal até aparecer Chuck Berry cantando "You Can't Catch Me". Nada o afetara como Chuck Berry, e a partir daí, William Perks se torna um roqueiro. Nesse período ele conhece Diana Cory, de 18 anos, com quem casaria em Outubro de 1959 aos 23 anos. Trabalhando como auxiliar de contador durante o dia, ele forma uma banda com alguns amigos. Ensaiam regularmente e resolvem levar a sério o suficiente para investir dinheiro em equipamentos. Logo conseguiram algumas apresentações e uma pequena notoriedade. The Cliftons, como eram chamados, perdeu seu baterista original e este foi substituído por Tony Chapman. O repertório girava em torno de Coasters, Sam Cooke, Jerry Lee Lewis, Chuck Berry, Lloyd Price, Larry Williams, Fats Domino, Ray Charles e Little Richard.
Imagem

No ano seguinte, ao assistir um show de Barron Knight em Agosto de 1961, Bill se apaixonou pelo som do baixo. Naquela semana, com a ajuda de Tony, comprou um baixo de segunda mão e um amplificador Linear-Concorde de 30watts, além de um alto falante Goodman de 8 polegadas para os graves. A caixa de som para o alto-falante, ele mesmo construiu com madeira e cimento. Tentando ajeitar o baixo, tirou os trastes e descobriu que gostava mais do som dele assim, se tornando possivelmente o primeiro baixista fretless de seu país. Com dois ou três shows por semana, o dinheiro que entrava pagava pelo equipamento comprado à prestação. Em 29 de Março de 1962 , nasce seu filho Stephan Paul Wyman.
Paralelo ao trabalho com os Cliftons, já no segundo ano de existência, Wyman, Chapman e um terceiro rapaz no piano, faziam o circuito de bares, tipo 'happy hour' o que ajudava a angariar um dinheiro extra. Em Setembro, pouco depois de Bill investir uma grana em um baixo novo de qualidade, a banda tomou alguns canos, tocando e não sendo pagos. Deprimidos, o vocalista e o saxofonista saem da banda e The Cliftons implode.
Aprendendo o Blues
Em Dezembro, Tony Chapman começa a conversar com Bill sobre uma outra banda em que ele toca, os Rollin' Stones. Sexta-feira, dia 07 de Dezembro de 1962, levado por Tony, Bill conversa com Stu, a quem conheceu dois dias antes. Este apresenta Mick, que é sempre cordial, depois Brian e Keith, encostados no bar. As diferenças de roupa e cabelo, sem falar em idade, entre os dois Stones e este baixista era tanta que ninguém ficou impressionado com o outro. Bill, bem alinhado, com um corte de cabelo à lá Tony Curtis, batia de frente com as roupas rotas e cabelos longos e despenteados dos dois. Mas as atitudes mudaram quando Bill e Tony, ajudados por Stu, tiraram seu equipamento do carro. Entre os amplificadores havia um Vox Ac30 que Bill prontamente informou ser seu reserva, portanto, "podem usar". Comparando com o equipamento que a banda tinha, agora eles poderia realmente "fazer um barulho!" E quando Bill começou a tocar, ficou evidente que ele conhecia seu instrumento bem. Mas será que ele poderia tocar o blues?
Essa pergunta perdurou por mais de um ensaio. É claro que Bill conhecia Chuck Berry, mas Muddy Waters, Elmore James e Bo Diddley eram músicos ainda muito obscuros, alguns até mesmo na América. No caminho de casa naquela noite, Bill deve ter ficado se perguntando, "Como é que essa turma se reuniu e resolveram tocar essa música de 'uma minoria étnica', com tanta convicção?" Durante o decorrer do ano de 1962, gradualmente um número cada vez maior de pessoas passaram a se interessar em ouvir blues e rhythm & blues na Grã Bretanha. Prensagens inglesas de discos surgiam, passando a ser encontradas nas lojas com maior facilidade. Além dos Rollin' Stones, nasceram o Mann-Hugg Blues Brothers, Blues By Six, Cyrill Davies & the All Stars, sem falar no pai de todos, The Blues Incorporated, a essa altura sem Davies ou Baldrey, mas com Art Wood, irmão mais velho de um ainda adolescente Ron Wood, e que formaria posteriormente a banda Artwoods com John Lord e Keef Hartley.
Mudança Na Cena Musical Londrina
Imagem

Aos poucos, os clubes haviam feito a transição de apresentar somente jazz tradicional para blues e rhythm & blues. Com isso, começou a ficar mais fácil achar trabalho. Ao final do ano, Brian que já desistiu de tentar persuadir Carlo Little a entrar na sua banda, passa a praticamente implorar a Charlie Watts para assumir a bateria.
Charlie Robert Watts, um ano mais velho que Brian Jones, aos 14 anos comprou um banjo mas não conseguia toca-lo. Resolveu desmontá-lo para ver como funcionava e acabou se divertindo batucando com uma escova, no corpo do instrumento que tem o formato de um pandeiro. Sua mãe então lhe comprou uma bateria velha, na qual Charlie passou todo o seu tempo disponível praticando. Desenvolveu sua técnica ouvindo discos de jazz e assistindo bateristas. Depois passou a vender seus discos para comprar pratos de melhor qualidade. Os vizinhos reclamavam, mas sua dedicação mostrava aos seus pais que valeria a pena defendê-lo. Terminando o segundo grau em 1957 aos 17 anos, ele passou a estudar no Harrow School of Arts.
Em 1960 começou a trabalhar na Charles, Hobson And Gray, uma firma de propaganda, inicialmente servindo chá, e depois como desenhista gráfico. Era o mais alinhado de uma firma que residia ao lado da Christian Dior. Vez por outra namorava alguma modelo, mas além de um grande senso de estilo, Charlie tinha para sua idade, uma excessiva preocupação em ter recursos financeiros para manter esse padrão de elegância. Tocava em diversas bandas de jazz, geralmente por pequenos períodos de tempo. Em um gig no Troubador Club, Alexis Korner o assiste e convida para tocar em sua banda. Charlie declina o convite, indo para a Dinamarca tocar com o saxofonista americano Don Byas. Voltando em Janeiro de 1962, ele encontra Alexis novamente, que ao lado de Cyril Jones, convence Charlie a entrar na sua banda recém formada, o Blues Incorporated. Charlie não entendia nada de blues e muitas vezes não entendia o que Cyril estava tentando fazer com sua gaita. Seu negocio era jazz, mas como ele mesmo definiria "numa noite boa, soávamos como um cruzamento entre R & B com Mingus." Alexis e Cyril pareciam satisfeitos e ele foi ficando.
Charlie conheceu Shirley Ann Shepard, uma estudante da Royal Collage of Arts. Vez por outra ela vem assistir a banda, e acabam namorando. Mais tarde, quando Brian se juntou ao Blues Inc., ele reconhecia em Charlie um sujeito comprometido com a sua música. Apostando nesse tipo de comprometimento, Brian convida e continuamente insiste para que Charlie se junte a sua banda. Mas Charlie não se sentia seguro em colocar seu trabalho na agência de publicidade em segundo plano. Tanto que, quando o Blues Inc. passou de semi-profissional para profissional, Charlie pediu para ir embora (prontamente substituído por Ginger Baker) porque tocando em muitas datas seguidas, ele vivia cansado e isto estava atrapalhando seu trabalho formal. Mas Charlie percebia que o ramo estava mudando e rhythm & blues estava começando a tomar conta do circuito. As pessoas estavam aos poucos mais informados sobre o estilo e no fundo ele sabia que iria querer continuar a tocar com alguma banda. Se juntou a banda Blues By Six, tocando ao lado de Geoff Bradford, um dos primeiros guitarristas dos Stones. Charlie percebia que a música gerada pelos Stones era a que melhor captava o gênero.
O Lider
Bill Perks não foi imediatamente inserido nos Stones como algumas histórias contam. Na verdade, por ele ser bem mais velho, com vinte e seis anos de idade, trabalhando para sustentar sua mulher e filho, os rapazes ainda tinham suas dúvidas se um sujeito "tão velho" era a pessoa ideal. Então, em alguns shows em Dezembro, Bill não tocou, sendo mantido Ricky Brown. Dick Taylor chegou a tocar novamente com a banda quando se apresentaram em sua faculdade. Mas Bill queria participar do grupo, cativado pela música 'étnica' e pelo carisma de Brian, a quem respeitava como um músico sério, e por ter um evidente conhecimento superior sobre a música que eles estavam tocando.
Brian, que cuidava das finanças da banda, tomava para ele a maior parte do dinheiro, dizendo que era para pagar despesas. Bill, Stu e Tony faziam vistas grossas sabendo que Brian, Mick e Keith estavam mesmo passando fome. Bill e Stu, durante boa parte do inverno, passavam depois do trabalho diurno, a ir até Edith Grove para bancar uns sanduíches para os três. Muitas vezes era tudo que eles comiam naquele dia. Alem do mais, apesar de soar ideológico, o desafio maior ainda era a música e isso era um sentimento compartilhado por todos.
Imagem

Charlie Watts era outro semi-analfabeto em blues e só começou a tomar uma melhor compreensão pelo gênero depois da influência de Brian Jones. Sua paixão pelo estilo era cativante. Bill fez questão de aprender rápido e o fez com gosto. Sua satisfação em ser parte desse grupo ficou claro para os demais quando Bill deixou o cabelo crescer até cobrir as orelhas e mudou o seu penteado. Sua estreia na banda foi no dia 15 de Dezembro de 1962, mas ele só foi considerado baixista definitivo no dia 5 de Janeiro quando apareceu de cabelo à lá Stones.
Mudaram o nome da banda de Rollin' Stones para Rolling Stones, como passou a ser conhecida desde então. Novamente, influenciado por Brian Jones que ainda usava o nome Elmo Lewis, Bill Perks assumiria o nome artístico de Bill Wyman e em 1964, mudaria o nome oficialmente em cartório. Depois de um ano de insistência por parte de Brian, reforçado por Stu, Charlie Watts aceita ser o baterista exclusivo dos Rolling Stones. No ensaio seguinte, dispensam Tony Chapman. Charlie Watts estreia então no dia 14 de Janeiro de 1963 num clube chamado Flamingo, em Soho.

A Gestação de Um Besouro - The Quarrymen - Parte 03

John, Paul e George começam a procurar outro nome para a banda. O primeiro que surgiu como opção foi The Rainbows. O trio resolveu se inscrever mais uma vez para o "Carroll Lewis Discovery Competition", realizado ainda em outubro, novamente no Liverpool Empire Theatre.


Johnny & The Moondogs
Passam a cogitar que, estrategicamente, seria viável utilizar a popular tática de ter o nome do líder na frente, como a maioria das bandas faziam, tal como Bill Haley & The Comets ou Buddy Holly & The Crickets. É uma tática que os rapazes procurariam evitar no futuro. No espaço de uma semana mudariam tantas vezes de nome, que alguns amigos passariam a referir-se a eles apenas como "a banda do John", pois de Rainbows passam para Johnny & The Rainbows. Pouco depois surgiu The Moondogs, até que, para a competição, concordam em se chamar Johnny & The Moondogs.
Paul McCartney, John Lennon e George Harrison
Paul McCartney, John Lennon e George Harrison

The Moondogs supostamente teria sido inventado do nada. O nome Moondog foi primeiramente utilizado em 1951 pelo famoso DJ americano Alan Freed, que se auto-apelidou de Moondog, que seria um sujeito da noite, com hábitos noturnos. Antes dele criar o nome "rock and roll", Freed promoveria o "Moondog Coronation Ball", que é considerado o primeiro show de Rock da história. Pode-se especular que a verdadeira origem do nome surgiu daí, muito embora, se tal influência realmente tenha existido, provavelmente foi inconsciente. Nenhum dos três afirmam com certeza de onde apareceu o nome. Quando Carol Lewis, mestre de cerimônias da competição, perguntou a origem do nome aos rapazes, eles afirmaram que Moondog era o nome de um velho índio que gostava de bater latas.
John, dono de um violão de pouca qualidade, viu seu instrumento finalmente se despedaçar durante este evento. Acaba participando apenas cantando, com Paul e George de cada lado com seus violões. Jamais apresentam material próprio nestes eventos, optando nesta noite por tocar "Think it Over" e "It's So Easy", ambos de autoria de Buddy Holly. Embora não ganhem, agradam o suficiente para merecer um convite para retornar ao concurso. Na volta para casa, Lennon casualmente traz consigo um violão que cruzou pelo seu caminho. Coincidentemente, outro vencedor para a próxima etapa foi a banda Jett Storm & The Hurricanes, com seu baterista Ringo Starr. Jett Storm é Al Caldwell, que em pouco tempo passaria a se chamar de Rory Storm. Sua banda logo passaria a ser considerado uma das melhores de Liverpool.
Johnny & The Moondogs
Johnny & The Moondogs

Johnny & the Moondogs tocariam ao todo quatro vezes no Empire Theatre, até serem finalmente derrotados pela banda Connaughts que, ironicamente era o novo nome da antiga banda Sunnyside Skiffle Group, com seu anão astro Nicky Cuff, que os havia derrotado em 1957.
Aparentemente, graças a uma confusão por parte dos organizadores, The Connaughts ganharam mais tempo e puderam tocar dois números enquanto Johnny & The Moondogs respeitaram as regras e tocaram somente um. Reconhecendo a injustiça feita, Carol Lewis os convida para participarem da finalíssima a ser realizada em Manchester em novembro.
Assim, no dia 15, o trio acústico Johnny & The Moondogs segue de trem para Manchester. É durante esta viagem que se credita o nascimento da hoje conhecida brincadeira entre eles. "Where our we going, fellas?" "To the top, Johnny!" "And where's that, lads?" "Why, to the toppermost of the poopermost!" O evento foi realizado no Hippodrome Theatre, e foi longo e demorado. O prêmio prometia uma aparição no programa de TV Discoveries. A lembrança geral conta que os rapazes fizeram uma boa apresentação, porém, as regras exigiam que as bandas aguardassem até o final para determinar os vencedores. Entretanto, com o receio de perder o último trem de volta para Liverpool, não puderam aguardar para saber a colocação oficial.
Procurando um baixista
John está morando em um apartamento divido com Stuart Sutcliffe e Rod Murray em Gambier Terrance. Segundo algumas versões, Lennon dormia dentro de um caixão forrado que Stu encontrara jogado fora e arrastara para casa. O pequeno apartamento era imundo e durante boa parte do inverno não tinha água quente por falta de pagamento. Vida de faculdade de arte é a vida de boêmia beatnik-iana, onde a criatividade é nutrida pela falta de recursos. Com o dinheiro direcionado prioritariamente para comer, comprar tintas e telas, Stu passou aquele inverno usando os móveis como lenha para a lareira, única fonte de calor da residência.
Sentindo a necessidade de mais peso no som do grupo, John convida individualmente Stuart e Rod a entrar na banda, bastando um deles conseguir arrumar um baixo. Um não sabe do convite feito ao outro. Nenhum dos dois tinham a grana para comprar um baixo, amplificador e alto falante necessários. No entanto, a idéia de participar de uma banda soava tão interessante para Rod Murray que ele começou a tentar montar um. Comprou a madeira, mais um manual de instruções, passando a cortar e colar as partes como mostravam as figuras. Tudo na esperança de ter, no final de seu labor, um autêntico instrumento musical.
Na mesma busca por um baixista, George Harrison também tinha alguém em mente para trazer para a banda. Sem usarem um baixista desde a saída de Len Gerry e seu instrumento improvisado, George Harrison procurou o seu colega de infância Arthur Kelly, e ofereceu-lhe a oportunidade de entrar no grupo. A proposta era similar a feita por Lennon ao seus colegas de apartamento: arrume um baixo e amplificador e entre na banda! Sua amizade com Kelly vêm através de seu irmão Peter Harrison. Este é o mesmo Arthur Kelly que participara com Peter e George na primeira banda dos irmãos Harrison, The Rebels. Arthur e George continuaram amigos e andavam juntos, além de terem estudado na mesma escola. No entanto, apesar do convite tentador, Arthur estava a esta altura trabalhando como atendente em um magazine chamado Cunard e não quis largar tudo pela vida incerta de artista. Além do mais, um baixo iria lhe custar quase £60. Arthur Kelly assim, agradece mas dispensa a oportunidade de se juntar ao grupo.
Stuart Sutcliffe
Stuart Sutcliffe
Stuart Sutcliffe

Stu estava mais preocupado com a exposição de quadros da qual iria participar. Entre 17 de novembro de 1959 e 17 de janeiro de 1960 foi realizada a segunda bienal do John Moore Exhibition no Walter Art Gallery de Liverpool. Neste evento, diversos quadros estava sendo exibidos, entre eles, vários de Stuart Sutcliffe. Alguns de seus quadros impressionaram muito favoravelmente. Tanto que o próprio John Moore comprou um, pagando-lhe £65, um dinheiro considerável para um quadro de um estudante de 19 anos.
Assim que souberam do dinheiro, John e Paul encostam nele em um café e tentam convencê-lo de qualquer maneira a usar o dinheiro para comprar um baixo e entrar na banda. Atraído pelo glamour do palco e da probabilidade de atrair mais garotas como músico do que como pintor, Stu acaba topando a proposta e é levado à loja para comprar um baixo Hoffner President, já previamente escolhido por John e Paul. Não querendo estourar todo o seu dinheiro no baixo, ele comprou o instrumento à prestação sobrando dinheiro assim para poder comprar também telas e tintas. Sua opção demonstra que mesmo interessado em música, ele não estava disposto a abandonar inteiramente a pintura. Stu Sutcliffe entra assim oficialmente na banda, em fins de janeiro de 1960.
Se não fosse o dinheiro ganho pela venda do quadro durante o concurso, era mais provável supor que Rod Murray teria entrado na banda, apesar que, diferente do que se costuma comentar, Stu sempre teve interesse por música. Além das aulas de piano em seus anos de formação, Stu tentou aprender o violão após o surgimento de Elvis Presley. Seu pai, Charles Sutcliffe, era um marinheiro como Alfred Lennon, pai do John. Na volta de uma de suas viagens, trouxe-lhe um violão espanhol. Ele nunca aprendeu a tocar direito, mas agora com o baixo Hofner, recomeça a fase das bolhas nos dedos. Pertencendo agora à banda, há uma troca artística ainda maior entre os dois amigos. John ensina Stu a tocar o baixo e Stu lhe ensina técnicas mais aprimoradas em pintura e desenho. Stu procuraria se emendar no instrumento tendo aulas com Dave May, membro da banda local The Silhouettes.
Sutcliffe porém se queixa do nome inexpressivo da banda e John concorda. Johnny & The Moondogs era uma opção razoável, porém ainda longe de ser um nome ideal. Como todos admiravam Buddy Holly, Stu aparentemente discursa sobre o duplo sentido do nome Crickets (grilos), que é um inseto como também um esporte (muito popular na Inglaterra e nas suas ex-colônias). O duplo significado do nome chama a atenção de John que passa a noite revirando enciclopédias procurando por um inseto que possa ter um duplo sentido. O nome que chama atenção e agrada aos dois é beetle (besouro), mas Lennon logo muda a grafia para Beatal, como em beat all (vence todos). Depois da morte de John Lennon, passou-se a cogitar que fora de Stu a sugestão do nome Beetles. No entanto enquanto Lennon estava vivo, sempre se aceitou a versão de que foi dele essa escolha.
Durante as filmagens para o documentário Beatles Anthology, vinte e cinco anos após o fim da banda, George e Paul levantaram a hipótese de que Stu possivelmente teria tirado o nome 'Beetle' do filme "The Wild One" (O Selvagem da Motorcicleta), grande sucesso entre o público jovem com Marlon Brando como ator principal. No filme, beetle é o apelido que a turma de motociclistas dão para suas garotas. Porém esta teoria já foi questionada pois, segundo a lembrança, "The Wild One" fora censurado na Inglaterra na decada de cinquenta, só passando em meados dos anos sessenta, como foi outro filme, "The Girl Can't Help It" com Jane Mansfield, que estreou através da televisão em 1969. Porém esta teoria já foi questionada, pois "The Wild One" fora censurado na Inglaterra na década de cinquenta, só passando pela primeira vez em 1967.
Alan Williams
Alan Williams
Alan Williams

A primeira formação com o nome The Beatals têm apenas John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Stu Sutcliffe e durou apenas três meses no início do ano de 1960. Nesta época, em função de sua total falta de interesse com os estudos, John só não é expulso da faculdade, segundo alguns, por ser amigo de Sutcliffe, respeitado como sendo o aluno mais talentoso da instituição. O sucesso de Stu na bienal lhe deu ainda maior prestígio, tendo seu nome se tornado conhecido inclusive fora da faculdade, o que leva Stu a ser contratado por Alan Williams para pintar um mural no banheiro feminino de seu clube, The Jacaranda Coffee Bar. Uma vez que Williams se mostrou bastante satisfeito com o trabalho, Stu aproveitou a oportunidade para falar de sua nova banda e apresentá-lo a John Lennon.
Com a quantidade de bandas que surgiram, multiplicaram instintinvamente a quantidade de locais para eles tocarem. Qualquer lugar onde se pudesse montar alguma espécie de palco, cercar e cobrar ingressos, virava um local para uma dança na noite de sábado. De todos, os mais prolíferos eram os Cafés, lugares onde jovens passam horas conversando, paquerendo e se divertindo ao som de música ao vivo. Em Liverpool, The Jacaranda Coffee Bar se torna o reduto onde Sutcliffe, Lennon, Murray, Harry e muitos outros da faculdade passam a freqüêntar com maior freqüência. Lennon é quem mais aparece em tudo que é horário, enchendo os ouvidos de Alan Williams falando e promovendo sua banda, tentando de todos as maneiras arrumar uma data para tocar no local. Williams não gostava do som dos Beatals, que era considerado por ele ainda bem limitado.
Na semana entre 14 e 20 de março, Eddie Cochran e Gene Vincent tocam no Empire Theatre de Liverpool, em show promovido por Larry Parnes. Percebendo o frenesi entre a garotada por causa do evento, Williams procurou Parnes e conseguiu convencê-lo a trazer de volta as duas atrações para a cidade em maio. Sua intenção era de co-promover com Parnes um evento que contaria também com várias atrações locais.
Rory Storm & The Hurricanes
Rory Storm & The Hurricanes

Marcado para ser realizado no Liverpool Stadium no dia 3 de maio, foram contratados para o evento as bandas de maior prestígio da cidade. Assim foram convidados the Viscounts, Davy Jones (conhecido cantor negro americano cuja carreira se restringe à Inglaterra), Colin Green & The Beat Boys (que conta com Georgie Fame), Peter Wynne, Lance Fortune, Nero & The Gladiators, Cass & The Cassanovas e Rory Storm & The Hurricanes.
Os rapazes do The Beatals ainda tentaram marcar uma audição com Williams e chegaram a ensaiar certa tarde no Jacaranda. Por acaso, o baterista dos Hurricanes, Ringo Starr, estava de passagem pelo clube para conversar com Williams e ouviu um pouco do ensaio. Achou a banda fraquíssima e totalmente amadora. Williams não deu a minima ilusão de que os Beatals pudessem participar. Por educação, sem querer desmerecer tão jovem sonhadores, Williams deu como desculpa o fato de que eles não tinham baterista. Com sua mente criativa, John então bola outro trocadilho para a banda, theBeatles, como em beat-less (sem batida) devido à falta de um baterista na banda.
Gene Vincent
Gene Vincent

Com todos se preparando para o grande evento em maio, no dia 17 de abril, Eddie Cochran e Gene Vincent sofrem um acidente de carro a caminho de Londres. O táxi em que estavam bateu violentamente na estrada deixando Gene Vincent com um braço quebrado e a perna ruim que já possuía em estado ainda pior. Eddie Cochran foi lançado voando através do vidro da frente do veículo e morreu na hora. Para salvar a data já marcada, Allan Williams e Larry Parnes adicionaram mais bandas ao evento. Atrações como Julian X, Gerry & The Pacemakers, The Walley Group, Bob Evans & His Five Shillings, Dean Webb, Mal Perry e até mesmo aquela banda do anão, The Cannaughts. Todos acabaram participando. Todos menos The Beatles.
Larry Parnes
A importância deste show para toda cena musical de Liverpool que já começa vervilhar é imensa. O fato do público comparecer, mesmo que para ver essencialmente um show com artistas locais, provou que bandas de rock locais dão lucro. Com isso, abriu-se espaço para o rock dentro dos clubes até então considerados reduto exclusivo do jazz, blues e, quando muito, skiffle. O evento também fez Larry Parnes abrir o seus olhos (e ouvidos) para as bandas de Liverpool.
Larry Parnes é um dos grandes empresários da época, um dos primeiros a realmente investir em rock'n'roll e transformar a brincadeira em lucro, tanto para os seus artistas, como para a casa que os receba. No processo, evidentemente ele aglomerou lucro para si mesmo, junto com um tremendo prestígio no país. Basta mencionar que Larry Parners vêm à Liverpool procurando por uma banda para fazer toda a população de músicos da cidade sonhar com estrelato.
Seu começo se deu ao descobrir o talentoso Tommy Steele em 1956 no 2I's Club em Londres. O local passou a ser point instantâneo e acabou gerando também outros artistas ingleses, o maior de todos estes sendo Cliff Richards. Embora Parnes não pode se gabar de ter também achado Cliff, conseguiu um catálogo interesante de artistas, todos com sucesso relativo dentro do país. Em cada um, Parnes lhe batizou com um característico nome artístico.
Além de Tommy Steele (Steel=Aço), havia Marty Wilde (Wild=Selvagem), Duffy Power (Força ou Poder), Georgie Fame (Fama), Lance Fortune (Fortuna), Johnny Gentle (Gentil) e o primeiro artista de Liverpool a ter uma boa projeção no resto do país, Billy Fury (Fúria). Parnes achou muito interessante o som que as bandas desta cidade estava produzindo e acertou com Williams para dentro de uma semana voltar à cidade a procura de bandas de apoio para vários de seus cantores.
Enquanto maio não chega, durante o fim-de-semana prolongado da páscoa, Paul e John vão para Berkshire, onde os primos de Paul são donos de um bar. Lá ajudam trabalhando no bar em troca de uma oportunidade de se apresentar. A dupla, munida apenas de dois violões e nenhum microfone, toca na noite de sábado e na tarde de domingo. Se apresentam com o nome de The Nerk Twins, e além de parte do repertório normal, tocam à pedidos "The World Is Waiting For The Sunrise", um velho sucesso de 1953.
Audições Para Billy
Billy Fury
Billy Fury

Sutcliffe insiste e consegue convencer Williams a inscrever os Beatles para a audição que Larry Parnes faria para encontrar uma banda de apoio para um de seus crooners principais, Billy Fury. Billy, cujo nome verdadeiro é Ronald Wycherley, nasceu em Liverpool e foi colega de sala de Ringo no ginásio, sendo na época respeitado e tido por todos na cidade como um grande astro. Portanto fica fácil entender a boa vontade de Parnes de procurar arrumar para Billy uma banda de Liverpool.
Brian Casser, líder da banda Cass & The Cassanovas, seria de grande ajuda para os Beatles conseguirem a audição, pois garantiu para Williams que eles teriam um baterista de sua indicação, passando a Lennon o endereço de Tommy Moore. Casser teria também comentado com Lennon sobre o nomeBeatles, que considerou um trocadilho ridículo, principalmente para um trabalho tão importante como a de ser a banda para um astro como Billy Fury. Outro detalhe que incomodava era que o nome era curto demais.
Novamente é aquela velha lógica de que todas as bandas importantes tinham nomes grandes e com uma figura central em destaque. Exemplos são Cliff Richards & The Shadows, Vince Taylor & The Playboys, Marty Wilde & The Wild Cats entre os ingleses, assim como Bill Haley & The Comets, Gene Vincent & The Blue Caps e Buddy Holly & The Crickets entre os americanos. Casser sugere então que Lennon mude o nome de sua banda para algo como Long John & The Silver Men, um trocadilho com o personagem Long John Silver, pirata do livro "A Ilha do Tesouro". Lennon não gostou do nome, embora tenha ficado inseguro com a possibilidade de um nome diferente como Beatles pudesse impedi-los de conseguir a 'grande chance'.
Contactado Tommy Moore, descobriram que se tratava de um sujeito de trinta e seis anos e que trabalhava manuseando um guindaste em uma fábrica de garrafas chamada Garston Bottle Works. O dinheiro pago pela curta excursão (apenas três semanas), caso fossem selecionados, valia à pena e Moore concorda em participar. A audição foi realizada durante a manhã e parte da tarde do dia 10 de maio no Wyvern Social Club, outro clube que pertencia a Alan Williams e que mais tarde seria renomeado The Blue Angel. Entre outras bandas ouvidas neste dia estavam Derry & The Seniors, Gerry & The Pacemakers, Cliff Roberts & The Rockets e Cass & The Cassanovas. John, Stu, Paul e George estavam nervosos pois o tempo estava passando e o novo baterista não chegava. O que acontecia era que Tommy Moore estava do outro lado da cidade tentando reaver sua bateria que ficara trancada em um clube ainda fechado. Quando chegou a vez dos rapazes tocarem, na falta de um nome melhor, adotaram The Silver Beetles. Novamente, Brian Casser se mostrou camarada ao ceder seu baterista Johnny Hutchinson para tampar o buraco. Moore chegou com os Silver Beetles ainda se apresentando, tocando nos dois últimos números.
Sutcliffe, Lennon, McCartney, Hutchinson e Harrison
Sutcliffe, Lennon, McCartney, Hutchinson e Harrison

Aparentemente a banda foi muito bem nesta tarde. Presentes e julgando estavam Alan Williams, Larry Parnes e o próprio Billy Fury. Mais do que a musicalidade, foi a movimentação que John e Paul deram à apresentação, sugerindo um grupo com uma noção de presença de palco, que cativou os olhos de Bill Fury. Mas Parnes não teve o mesmo entusiasmo e ficou com certas reservas quanto à banda. O fato de terem um baterista (Moore) tão mais velho lhe parecia ruim para a imagem desejada de uma banda que iria acompanhar Billy Fury.
Outra coisa que o deixara irritado com os Silver Beetles foi o baixista que só tocava de costas. Estava óbvio que ele teria pouca confiança para subir em um palco para tocar para uma casa cheia. Mas como Billy havia gostado deles, Larry Parnes então tentou negociar a banda sem o baixista. Lennon recusou a proposta em detrimento à opinião de Paul. No final, Cass & The Cassanovas foram escolhidos para a excursão e os rapazes voltavam para suas rotinas. John, Stu e Paul tinham obrigações acadêmicas enquanto George, que abandonara definitivamente os estudos, estava trabalhando como eletricista no Blackler's Department Store, que ficava situado em frente à NEMS, a maior loja de discos da cidade, que pertencia à família Epstein. Mas quando Larry Parnes não conseguiu nenhuma banda Londrina para outro de seus cantores, Johnny Gentle, telefonou para Wiliams e solicitou os serviços do Silver Beetles.
The Silver Beats
Imagem

Os Silver Beetles seriam então aproveitados, ganhando £16 cada músico, por apresentação. Antes de serem confirmados para a excursão, a banda havia marcado dois shows, um dos quais eles teriam que cancelar por estarem já na Escócia. Para estas apresentações eles se chamaram The Silver Beats.
Lennon, que tinha um trabalho de escola para entregar, deixou Cynthia encarregada de fazer o dever e entregá-lo no seu lugar. Paul, que deveria estar estudando para suas provas, convence o seu pai que ele terá tempo suficiente para estudar e fazer a segunda chamada. Tommy pediu licença no emprego e George simplesmente se demitiu. Para a turnê na Escócia, o quarteto resolve cada um criar um nome artístico para si. John era o Long John, Paul passa a ser Paul Ramon, George homenageia Carl Perkins se tornando Carl Harrison e Stu lembra o pintor expressionista russo, Nicholas de Staël ao se chamar de Stu de Staël. Tommy Moore não entrou na brincadeira.
Johnny Gentle & The Silver Beetles
Esta se torna oficialmente a primeira excursão do grupo, que duraria nove dias. Os locais ficavam no raio de 110 quilômetros um do outro, porém marcados aleatoriamente, e leva o comboio a ficar indo e voltando diversas vezes na estrada. Tanta viagem causou considerável estafa, além de despesas individuais extras para cada músico. Os ânimos ficam tensos com Lennon destilando seu veneno impiedosamente contra os dois mais recentes na banda.
Johnny Gentle & The Silver Beetles
Johnny Gentle & The Silver Beetles

A excursão completa os leva a tocar entre dias 20 e 28 de maio. A primeira cidade, Clackmannanshire, foi a único ao sul do país, as demais todas ficavam no nordeste da Escócia, na região conhecida como Highlands. As cidades foram Inverness-shire, Aberdeenshire, Banffshire, Morayshire, Nairnshire, e depois encerrando em nova apresentação em Aberdeenshire.
Todo glamour inicial da primeira excursão durou muito pouco. Os locais eram os piores possíveis em cidadezinhas menores. No fim, serviu de experiência para abrir os olhos dos rapazes.
Johnny Gentle não gostou muito dos Silver Beetles, nem da banda, nem dos músicos individualmente. Pelo o que ele podia perceber, a união na banda era inexistente. O guitarrista vivia sacaneando todo mundo e o baterista odiava o guitarrista com paixão. E o resultado desta desunião era audível na hora de tocarem. Algumas das casas onde passaram chegaram a telefonar para Parnes fazendo queixa deles.
A situação financeira também se tornara crítica e inclui histórias envolvendo a banda fugindo de um hotel em Forres por não ter como pagar a conta. Mas o incidente mais trágico foi em Banff, quando a Van com Johnny Gentle e os Silver Beetles bateu em um carro. Um estojo de guitarra lá trás voou acertando Tommy Moore no rosto, fazendo-o perder alguns dentes da frente. Ele teve que ser hospitalizado, mas quando a hora chegou, foi retirado do hospital e colocado diante de sua bateria pois o show têm que continuar. Após o fim da excursão, Tommy Moore ainda se apresentaria com a banda em outras cinco ocasiões antes de se demitir.
O Circuito de Liverpool
Depois da excursão pela Escócia, Alan Williams passou a atuar como empresário do grupo, tudo resolvido em um acordo verbal. Rapidamente, Williams havia garantido para eles uma série de shows que pagavam à banda £10 por noite, os rapazes repassando £1 para Williams e £1 para garantir e agradar o leão de chácara.
Gerry and The Pacemakers
Gerry and The Pacemakers

Entre junho e julho, The Silver Beetles passavam a tocar praticamente todas as segunda-feiras no Jacaranda e todas as quintas no The Institute em Chelshire, enquanto aos sábados se apresentam no Grosvenor Ballroom em Wallasey, geralmente dividindo a noite com outra banda bem mais popular, Gerry & The Pacemakers.
Porém os locais eram verdadeiros antros de delinqüência juvenil. Os Teddy Boys dali eram do tipo que vão para os lugares com correntes e facas e vestem botas com o bico revestido em aço. Com uma série de ponta pés bem dados, pode-se aleijar alguém, precisamente o intuito. As áreas mais visadas para essas gangues eram as de Bootle, Garston e Litherland. Há um relato de que certa noite durante uma apresentação em Neston, um rapaz de dezesseis anos apanhou até quase morrer bem diante deles, que sem nada poder fazer, apenas continuaram tocando para não apanharem também.
Os leões-de-chácara eram igualmente violentos e o clima geral era quase como se a música fosse apenas uma desculpa para reunir as gangues, um fundo para o mata-mata, pois o programa mesmo era o duelo entre as gangues. Apesar da violência, The Silver Beetles estava pelo menos duas vezes por semana se apresentando nestas áreas. Tão sistemáticos eram os problemas de violência em certas regiões, que em início de agosto os shows foram cancelados forçosamente pela polícia, cansados das seguidas brigassanguinárias. No fim, quem levou a culpa por tudo foi o rock 'n' roll.
Havia um acordo verbal travado ainda durante a excursão na Escócia, entre Larry Parnes e Alan Williams. O acordo era de que o Silver Beetles voltaria para a Escócia como banda de Dickie Pride, seu mais novo crooner. Quando confirmou-se que esta excursão não iria acontecer, Tommy Moore resolve abandonar o grupo sem maiores avisos, devidamente incentivado pela namorada. Ele simplesmente não apareceu para se encontrar com os rapazes. Tommy estava já de saco cheio de aturar este grupo de garotos liderados por um encrenqueiro metido a esperto, que achava divertido agredi-lo verbalmente a toda hora. Passado em muito a hora marcada, Williams e Lennon o procuraram em casa. Encontra sua namorada que, sem muito rodeios, manda todo mundo para aquele lugar antes de informar que Tommy havia se demitido. Williams e Lennon seguem então tentando encontrá-lo no seu antigo emprego. Lá encontram Moore no plantão noturno da velha fabrica de garrafas. Tommy se recusou a ir com eles naquela noite, embora tenha ainda tocado mais uma vez com os Silver Beetles no dia 13 de junho.
Todavia para aquela noite de 10 de junho, Lennon subiu no palco e informou aos presentes que o baterista acabara de comunicar que deixou o grupo. Ele aproveita então para perguntar se não há ninguém entre o público que queira assumir a posição. Quem se prontificou foi um Teddy Boy chamado Ronnie, líder de sua gangue de arruaceiros, que provavelmente nunca chegou perto de uma bateria em toda sua vida. Bebeu de graça por conta da banda, que tiveram que tocar com ele para não apanharem. Lennon ainda conseguiu ligar para Allan Williams pedindo socorro, este chegando ao local e com muita habilidade e diplomacia, conseguiu tirar a banda e o equipamento sem serem agredidos por Ronnie e seus amigos.
Janice & The Silver Beatles
No final de junho, John muda novamente a grafia do nome do grupo, tornando-se agora the Silver Beatles. Sem baterista porém cheio de shows para fazerem, Paul assume a lacuna, variando conforme a necessidade entre bateria, uma terceira guitarra ou o piano. Paul descobriu que tinha gabarito para tocar o instrumento por acaso. Seu irmão Michael, agora cada vez mais seguindo o caminho de Paul e investindo em música, passou a estudar a bateria com afinco. Tendo o instrumento em casa, Paul naturalmente sentou um dia para brincar. Michael conta que para sua surpresa, em menos de quinze minutos Paul estava tocando tão bem quanto ele que estava estudando havia meses. Michael abandonou a bateria em desânimo e Paul passou a praticá-la regularmente como passatempo. Meses depois, ele acaba servindo como baterista temporário de sua banda.
É durante este período que, além de seus shows normais, eles passaram a tocar para uma stripper chamada Janice no New Cabaret Artistes, outro clube que pertencia a Alan Williams, que ficava em Parliament Street, zona das meretrizes de Liverpool. A peituda Janice só trabalhava com músicos e não com discos, que segundo ela, não lhe dava a devida atmosfera para sua arte. Embora Janice oferecesse à sua banda partituras de Beethovan e Khachaturian, os Silver Beatles não sabiam ler música e portanto, elas de nada serviam. Janice e os rapazes concordaram com um repertório que incluía "The Henry Lime Theme", "Summertime", "Moonglow", "September Song", "Ramrod", "It's A Long Way To Tipperary" e "Begin the Beguine".

Aqua - Angra

O futuro do ANGRA parecia incerto após o fraco “Aurora Consurgens” (2006). A banda, que se envolveu em uma série de conflitos como seu ex-empresário, por pouco não encerrou as atividades. No entanto, quatro anos se passaram e o quinteto paulista – que repatriou o baterista Ricardo Confessori – deu a volta por cima. O ótimo “Aqua” remarca o território abandonado e coloca novamente o grupo entre os principais nomes do gênero que ajudou a construir vinte anos atrás.



Imagem

Depois que resolveu todas as questões que envolviam os direitos do nome da banda e o seu antigo empresário, o ANGRA retomou as suas atividades em 2009 com uma série de shows pelo país ao lado do SEPULTURA. O grupo, que se preparava para entrar em estúdio no ano seguinte, baseou o sétimo disco da sua carreira na obra “A Tempestade”, de William Shakespeare. A sonoridade, que une o metal melódico às referências da música brasileira, permanece intacta em “Aqua”. O disco, que ainda marca a volta de Ricardo Confessori às baquetas, possui as mesmas músicas de impacto que fizeram história a partir de “Angels Cry” (1993) até “Temple fo Shadows” (2004).
Embora tenha saído primeiramente em formato independente aqui no Brasil, “Aqua” conta com o suporte da JVC/Victor no Japão e da SPV/Steamhammer na Europa, onde o disco foi muito bem recebido até o momento. Na verdade, aqui o cenário não tem sido diferente. Os melhores momentos que marcaram a “nova” fase banda em “Rebirth” (2001) são reproduzidas nessa obra, que conta mais uma vez com a performance irrepreensível do vocalista Edu Falaschi. Os músicos, não só mais maduros no quesito técnico, esbanjam qualidade e criatividade no processo de composição do álbum. Não há dúvidas de que os quatro anos distante dos holofotes não comprometeram – e até contribuíram – para o resultado acima da média de “Aqua”.
Depois da curta e introdutória “Viderunt Te Aquae”, o disco abre com uma sequência verdadeiramente matadora, que desde “Holy Land” (1996) não se via em um trabalho do ANGRA. A rápida e certeira “Arising Thunder” pode ser considerada – e por que não – uma das melhores composições assinadas pela banda nos últimos dez anos. De outro lado, “Awake from Darkness” mostra o peso que a banda nunca abrir mão, assim como a cadenciada “Lease of Life”, que mostra como o grupo possui uma incrível capacidade de construir músicas mais densas e emotivas. No entanto, “The Rage of the Waters” retoma o peso do disco e certamente se sobressai como um outro destaque extremamente positivo da obra.
Embora possa parecer no disco sem muito brilho, “Spirit of the Air” é competente na sua proposta de unir as características da música brasileira às influências do metal progressivo, gênero que a banda vem explorando paulatinamente desde “Temple of Shadows” (2004). As mesmas referências se encontram em “Hollow”, só que com uma dose extra de peso por parte das guitarras – o que pode agradar (e muito) os fãs mais exigentes. A faixa, que não possui o mesmo impacto imediato das suas antecessoras, corre um pouco por fora para ser um dos destaques da obra, mesmo que sejam evidentes as suas qualidades.
Na sequência, “A Monster in Her Eyes” pode não chamar tanto a atenção em virtude do seu andamento denso e melancólico, mas “Weakness of a Man” mistura com maestria as influências da música brasileira em sua introdução e mostra um clima mais para cima, não melancólico como a anterior. De qualquer modo, as últimas faixas de “Aqua” não conseguem se sobressair ao trabalho apresentado na sua primeira metade, mas os fãs certamente encontrarão momentos interessantíssimos, sobretudo em “Ashes”, que relembra (e muito) as composições mais lentas (e de sucesso comercial) que o ANGRA escreveu no passado. Por fim, uma versão remixada de “Lease of Life” – que parece assumir a ponta como a música de trabalho – que não traz uma nova sonoridade, apenas uma edição mais exigente.
Não há dúvidas de que o ANGRA está de volta à vida, como a letra da clássica “Nova Era” sugere. As más impressões deixadas por “Aurora Consurgens” (2006) ficaram para trás e os próximos anos, a partir desse excelente “Aqua”, se mostram extremamente bem-vindos ao quinteto. Embora muitos insistam em não creditar a banda como ela merece, claramente não existe mais nada que o ANGRA precise provar. Os fãs que ainda não sabem disso vão abrir os olhos em “Aqua”.
Track-list:
01. Viderunt Te Aquae
02. Arising Thunder
03. Awake from Darkness
04. Lease of Life
05. The Rage of the Waters
06. Spirit of the Air
07. Hollow
08. A Monster in Her Eyes
09. Weakness of a Man
10. Ashes
11. Lease of Life (Remixed Version)