16 de janeiro de 2011

Amy WhineHouse:15/01/11




Bom galera ontem foi o ultimo show de Amy WhineHouse aqui no nosso país.E eu estava lá para conferir!
Primeiro tenho que falar que o festival como um todo estava ótimo.A organização esteve muito boa, pelo menos não presenciei nada fora do controle, a não ser o preço dos produtos vendidos  no recinto, mas já era esperado.A pista premium não tapou a visão das pessoas que estavam na pista normal(como eu).Enfim gostei  da organização.
As primeiras apresentações foram boas e serviram para esquentar ainda mais o publico em um sábado de muito sol e nem um pingo de chuva,contrariando várias previsões.Não sei o nome das apresentações iniciais, e nem foram divulgadas no site, uma falha do evento.Mas como eu disse foram muito boas, e creio que a maioria dos presentes gostaram pois estavam todos dançando e interagindo com os músicos, muito bons por sinal, as duas mulheres, a da primeira e a da segunda apresentação estavam ótimas, não conhecia elas.

Bom falando das apresentações principais, vou falar sem muito conhecer os dois que antecederam a Amy, primeiro Mayer Hawthorne, uma palavra, magistral, imaginem uma mistura de antigos cantores de Soul e Blues americanos da década de 60 e 70, com a galã e o carisma de um cantor como Bono Vox do U2, e mais a técnica de vocal e composição de mestres como Smokey Robinson, Curtis Mayfield, e o lendário compositor e trio Lamont Dozier, Brian Holland, e Eddie Holland Jr.Considerado uma versão masculina de Amy(sem os problemas com drogas) está construindo sua história na música e o  primeiro albúm é simplesmente ótimo muito bom mesmo, e pra quem pode conferir de perto sua apresentação pode afirmar mesmo que foi memorável, e outra sua banda de apoio é sensacional, o baixista é uma figura unica, além de tocar muito os caras realmente sabem como conduzir um show de soul, ou neo soul como ele é classificado.

Já a segunda apresentação a de Janelle Monae foi surpreendente, bom eu já conhecia um pouco de seu trabalho,mas ao vivo, em poucas palavras...MEU DEUS O QUE FOI QUE PASSOU AQUI...foi o que pensei quando ela se despediu do publico com o cabelo todo desarrumado, encharcada de água e praticamente arrastada pelos integrantes da banda.Mas bem, não querendo comparar mas vou tentar apenas citar alguns artistas que lembram seu estilo.Michael Jackson estava nela, eu tenho certeza disso, assim como James Brown, e não era o cabelo ou cor que estou dizendo e sim, o vigor físico que os dois tinham para dançar e cantar, fazer apresentações teatrais sem deixar que toda a ginástica desempenhada no palco atrapalhasse a sua poderosa voz, sim ela ainda canta muito, divas do Soul, do Blues, do Funk, do Glam e da musica Black ficariam felizes em ouvi-lá,ela mistura vários estilos que parecerem distintos, mas com ela, lembra quando o Rei do Pop lançou seu albúm de maior sucesso, tinha tudo que um artista precisa ser para não ser "mais do mesmo" ousado, isso ela é muito.O ponto alto do show pra mim foi o inicio, o meio e o fim...vamos ser sinceros...foi muito bom.Galera em dado momento entrou no palco uma tela e uma caixa de tinta, não entendi nada, mas enquanto ela declama os versos da música ela molhando o pincel e de certa forma ela estava pintando uma tela, loucura total, muito bom ver aquilo,o quadro abstrato que ela fez pra mim é como a música dela, "sem sentido pra quem não entende e não gosta, mas algo tão belo e sublime, pra quem sabe e gosta de apreciar uma boa arte".E o momento final foi melhor ainda...deixando 2 músicas agitadas e contagiantes pro final, quando ela voltou ao palco para fazer a sua ultima música e a banda deu a introdução ela entrou com um algo a mais.Estava possuída(no bom sentido) mas ela parecia que estava literalmente encarnando um certo cantor de cabelo parecido com o dela, homossexual assumido e que botava platéias a baixo quando tocava apenas sentado em um piano o hit Tutti-Frutti(espero que vocês saibam de quem falo), mas enfim, a idéia de pegar fogo com ela quase que foi algo literal, nos instantes finais, teve muita coisa, uns dizem que foi estrelismo, outros que ela estava tentando ser algo que ela não é; pois bem, eu digo que ela tudo e um pouco mais se se jogar ao chão, espernear e ainda jogar em si mesma uma garrafa inteira de água, não quer dizer nada, ou melhor, quer dizer apenas que ela não é normal.

Amy Whinehouse, a mais aguardada da noite, mesmo tendo como abertura ótimas apresentações o publico ainda queria e muito a Amy.Bom primeiro uma definição,Divã.Dizer que ela lembra cantoras como Sara Vaughan é verdade, mas podemos dizer também que ela tem um pouco de Janis Joplin(sim em tudo até nas confusões), ela tem muito de muitos, bebe de farias fontes antigas do Soul,Blues e Jazz.Ela sabe o que faz, o show de Sampa, não lembrou em nada os outros shows que ela fez no país.Ela estava mais animada, mais contagiante, menos cambaleante, não estava errando as letras, e sim essa branquela e negra por dentro.Ela mostrou isso em algumas músicas, sua voz é muito boa.Suas brincadeiras no palco faziam o publico delirar, todo e qualquer gesto dela era analisada e muitas vezes, aplaudido e incentivado, suas corridinhas até o fundo e seus pulinhos de uma bailarina iniciante eram muito engraçados, e ótimos pra ela.Quando ela foi embora com uma despedida curta alguns já começaram a ir embora, reclamando como a maioria da mídia que não entende de nada, do tempo do show, mas algo aconteceu, os gritos e aplausos fizeram ela voltar, ou talvez o choro de uma menina que estava em prantos na minha frente.Enfim, ela voltou e cantou mais 2 músicas, a ultima, muito aplaudida e esperada Me & Mr Jones.Posso dizer a todos que ouvi ao vivo a maior e melhor voz feminina da música Soul da atualidade, ou como citam alguns da década.


Por Fernando Jesus de Almeida

Tesão pela vida: A Historia de Iggy Pop - Parte 03

"1968 foi o ano em que o impasse entre as gerações finalmente entrou abertamente em erupção, atos de guerrilha que transcendem completamente as antigas batalhas da Guerra Fria" - Allen Ginsberg


Festival da Vida
Em fevereiro de 1968, o ativista Abbie Hoffman procura Allen Ginsberg e o consulta sobre a hipótese de montar um Festival da Vida em agosto em Chicago durante a semana que haveria a Convenção do Partido Democrático.
Promovido pelo Chicago Seven (Abbie Hoffman, Rennie Davis, Tom Hayden, Jerry Rubin, Lee Weiner, John Froines e David Dellinger), aproveitariam o festival para promover o Youth International Party, que passaria a ser conhecido informalmente pelo nome Yippies, e seu candidato à presidência seria um porco chamado Pigasus. A prefeitura não deu permissão para o evento, marcado para ser realizado no Lincoln Park, mas ele se realizou mesmo assim.
Centenas de jovens foram no dia 25 de agosto de 1968 para o Lincoln Park no intuito de assistir música e ouvir discursos contra o governo do Presidente Lyndon Johnson. O prefeito Richard Daley deu ordem à polícia que atirasse para matar. Naquela tarde de domingo, cerca de 10.000 jovens encontraram 11.500 policiais, 5.500 guardas nacionais, além de 7.500 tropas de choque, vindo do Texas a mando do Presidente, em pessoa.
As bandas que iriam tocar naquela tarde todas se acovardaram, menos o MC-5. Depois de atiçar o público com a música, John Sinclair fez seu discurso inflamado. Allen Ginsberg cantou "Hare Krishna" e "The Grey Monk", seguido de outro set com o MC-5 novamente inflamando a galera. Momentos depois de terminarem de tocar, a polícia, que assistia tudo à distância, entra pelas bordas do parque e passou a atacar a todos, indiscriminadamente.
Durante a semana da convenção, ocorreram outros incidentes entre a policia e manifestantes resultando no total de 1.025 pessoas com ferimentos leves, 101 hospitalizados, 668 pessoas presas. Entre os policiais, 192 foram feridos.
O prefeito Richard Daley, ao ser entrevistado, por um telejornal fez a seguinte declaração: "A polícia não está aqui para criar desordem, mas sim para preservar a desordem." Óbvio engano com as palavras, o ato falho do prefeito foi visto, por muitos, como um indicativo de suas reais intenções, e mais coerente com as ações comandadas por ele.
Elektra Records
Com uma média de no mínimo duas apresentações por mês, aos poucos, os temas abstratos executados pelos Psychedelic Stooges começavam a ganhar mais estrutura, e até riffs. As apresentações da banda variavam entre 18 minutos para meia hora, dependendo da noite. Geralmente o público fica boquiaberto com as apresentações da banda, mas para aqueles que não gostam e vaiam ou gritam comentários menos elogiosos, Iggy logo manda o sujeito ir se fuder.
Dois colunistas locais, Bob Rudnick e Dennis Farley, contactaram Danny Fields, diretor e caçador de talentos da Elektra Records, bombardeando ele com noticias sobre os sensacionais MC5. Quando a banda tocou em Chicago no Lincoln Park durante as demonstrações realizadas paralelamente a Convenção Nacional do Partido Democrata, em um evento que terminou em pancadaria selvagem entre a policia e manifestantes que protestavam contra o governo em gestão, o nome MC5 passou a ser ouvido nacionalmente. Até o escritor Norman Mailer chegou a fazer menção a eles. Para Danny Fields, pareceu o momento certo para verificar qual é desta banda.
Assim, no dia 21 de setembro, Danny Fields aterrisou em Detroit e foi levado à Ann Arbor até a casa comunitária para conhecer a banda e mais tarde assisti-los em uma apresentação no Grande Ballroom. Ficou impressionado com o esquema da casa, batizado pelos seu moradores de The Translove House, e com a figura de John Sinclair. A noite, assistiu o show da banda prazerosamente. Concluiu que tinha nas mãos um produto comercialmente viável, embora não fosse artisticamente revolucionário.
Depois do show, houve uma recepção onde conversaram e socializaram sem compromissos. Fields comentara positivamente sobre o show e que o grupo seria contratado. Aparentemente foi Wayne Kramer quem comentou com Fields: "se você gostou da gente, você deveria ouvir nossa banda caçula, Iggy & the Stooges." E na noite seguinte, foi o que ele fez. Fields assistiu the Psychedelic Stooges durante um concerto beneficente para a Children's Community School, no campus da Universidade de Michigan.
Danny Fields ficou estasiado pela apresentação. "Eu não conseguia acreditar no que eu estava vendo e ouvindo, um cliché eu sei, mas uma realidade para mim naquela primeira noite. Eu jamais vi um 'performer' tão incrivel quanto Iggy." disse Danny a respeito de sua primeira impressão. Com o fim do show, ele imediatamente se aproximou de Iggy se apresentando como executivo da Elektra. Iggy lhe olhou com desdem dizendo "tá legal, fala com o meu empresário." Iggy não acreditou que alguem sério iria se interessar pelo o que os Stooges estavam fazendo.
Porém, a impressão fora tão forte que na segunda-feira de manhã, Danny com Jimmy Silver e John Sinclair presentes, telefonou da cozinha da Translove House para Jack Holzman, negociando ali mesmo a autorização para contratar as duas bandas. Elektra Records era um selo folk até que Holzman assinou The Doors e Love em 1967. O resultado de seus esforços acabaram por transforma o Elektra Records em representante do novo som da costa oeste americana para o mundo. A fama que The Doors conseguiu para si foi diretamente proporcional ao prestígio que Elektra Records atingia.
Assinatura de Contrato
Naturalmente interessados em contratar a próxima grande coisa, uma data foi marcada para que Jack Holzman e o vice-presidente da Elektra, Bill Harvey, pegarem um avião e, junto com Danny Fields, participarem de uma assinatura formal de contrato com as duas bandas, como tambem, assistir uma apresentação destes dois novos contratados do selo. Esta apresentação foi realizada no Fifth Dimention Club. E justamente neste dia, Iggy fez um de suas mais memoráveis e espantosas performances.
Extremamente febril, com 39 graus de febre, Iggy ainda estava surdo de um ouvido e dores terríveis nas costas. Mesmo assim, começou a apresentação, que não durou vinte minutos, pois acabou desmaiando no palco. Holzman e Harvey acharam tudo aquilo muito excitante, como se fosse teatral ou planejado. The MC-5 foram contratados por vinte mil dólares, enquanto os Psychedelic Stooges acabaram contratados por cinco mil dólares. Todos os integrantes e empresários ficaram extasiados com o resultado das negociações. Estas são as duas primeiras bandas de rock de Michigan a conseguirem um contrato com uma grande gravadora.
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(Foto da festa da assinatura do Contrato com a Elektra)
Na festa da assinatura de contrato, realizado na Translove House, temos na foto oficial, em pé da esquerda para direita: Jack Holzman, Danny Fields, John Sinclair, Fred Sonic Smith, Ron Asheton, Steve Harmadek, Iggy Pop, Dave Alexander, Scott Asheton, xxx, Wayne Kramer, xxx, Emile Bacilla, Jimmy Silver, Susan Silver, Barbara Holiday e Bill Harvey. Sentados em cadeiras estão Michael Davis, Dennis Thompson, Rob Tyner e Jessie Crawford. Sentados no chão estão Sigrid Dobat, Chris Havnanian, e Becky Tyner. Também presente e tirando a foto está a esposa de John, Leni Sinclair.
A Vida Rock 'n' Roll
"Quando a gente se apresenta ao vivo, é um encontro e não uma performance. É um encontro com concepções bem abertas." - Iggy Pop
Enquanto o MC-5 ganha exposição e destaque pelo seu engajamento político, os Stooges chamavam atenção de outra forma. Como banda, The Stooges é mediano e limitado. Como cantor, Iggy tem uma voz que agüenta um show inteiro, mas que não é nenhum rouxinol. A diferença é sua postura de palco. Isto em uma época onde pose, estampa e posturas eram o que definia um artista. A esta altura, Iggy já havia começado o seu hoje famoso relacionamento com entorpecentes. Ele fumava maconha e tomava ácido, como qualquer outro jovem ligado e em contato com a sua geração.
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No entanto, diferente de qualquer outro artista daquela ou qualquer época, antes ou depois, Iggy tinha uma forma peculiar de atrair atenção de seu público. Ele simplesmente se recusava a ser ignorado e quando sentia que o público presente estava frio e desinteressado no que ele e sua banda estavam fazendo, ele topava fazer qualquer coisa para atrair as atenções para o palco.

Inicialmente Iggy usava a tática que ele aprendera com Jim Morrison, a de insultar o público. Qualquer reação é melhor do que nenhuma reação. Mas contam alguns que foi no Henry Ford College, em Dearborn, perto de Detroit, que Iggy começou a extrapolar com as fronteiras do que é permissível e aceitável fazer sob um palco. Iggy insultava todo mundo entre canções, contudo continuava a ser ignorado. Por tanto, ele pula em cima de uma menina que sentava a frente e começa a tirar um sarro e se esfregar nela, como se tivesse copulando. Meteu a mão  e depois começou a agredi-la verbalmente.
Iggy comenta: "Eu gosto de tirar a roupa das meninas, sair pegando no que pegar. Pessoas falando alto e gritando, é linda música para mim. Eu não me importo com o que o público faz, é da conta deles; não é da minha conta. Eu só quero me encontrar com eles e fazer coisas." Depois comentava-se que a menina em questão era filha do coordenador da escola. Fato ou mentira, os Stooges foram de fato abolidos das áreas pertencentes à faculdade, nunca tocando lá novamente. As doideiras porém, não iriam parar por aí.
Essas estripulias iria lhe causar problemas seguidos mas Iggy acabaria preso em 11 de agosto de 1968 em um incidente curioso. Se apresentando na cidade de Romeo no estado de Michigan vestido de uma calça de couro ultra apertado de cintura baixa, tipo cocota, a calça rasgou na região da genitália em meio a uma das canções. Muitos presentes, principalmente as meninas, ficaram admiradas com o tamanho do volume que puderam ver com holofotes em cima. Iggy arrmou um pano que passou ao redor da cintura mas durante a próxima canção este caiu. Uma mulher indignada saiu do recinto, indo até a esquina onde ficava a delegacia para conversar com alguém sobre um homem com o sexo de fora em pleno palco lá no bar. Com a chegada da polícia, vinte e cinco homens armados e uniformizados, Iggy fugiu se escondendo no estacionamento dentro de um carro enquanto os oficiais seguravam a banda enquanto não encontravam o cantor principal. Quando encontrado, Iggy foi formalmente autuado e preso por indecência pública passando a noite na cadeia. Na manhã seguinte seu pai pagou $41 dólares de multa além de despesas e o rapaz foi liberado.
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Iggy tomava uma atitude definitivamente cínica em relação a toda adulação que ele recebia como cantor principal de uma banda de rock. Ele faria tudo para conseguir a atenção de seu público. E uma vez conseguido essa atenção ele prontamente dava as costas para as pessoas. Iggy passava a adotar o hábito de tirar meleca do nariz em palco, uma forma de agressão visual. Após cada show, ele escolheria umas cinco meninas para levar para casa, sentava lá com elas em círculo e ouvia discos e conversavam. Em dado momento ele soa o nariz na mão e depois joga o catarro na boca e engolia, continuando o papo como se nada de anormal acabara de acontecer. Pior, as meninas igualmente fingiam que nem notavam.

Ron Asheton conta que perdeu a conta da quantidade de vezes que ele viu Iggy subir até o seu quarto com uma menina, traçá-la e em seguida mandá-la sumir. A garota chorosa e se sentido usada era rapidamente acudida por Ron ou Scott, que cavalerescamente as levavam para seus quartos, transavam com elas e as deixavam passar a noite. Outra maldade que Iggy passou a gostar de fazer com suas mulheres era de dar LSD para aquelas que nunca haviam tomado a droga antes. Ele convencia a menina a tomar ácido e depois quando ela pirava, assustada com suas alucinações, ele a deixava de lado. A menina era encontrada às vezes petrificada sozinha no topo da escada. Ron sentia pena e procurava ficar com a donzela perdida enquanto Iggy se arrumava e saía pra gandaia. No final, Ron comia a garota também. Muitas das meninas que chegava no Fun House trazidas por Iggy para serem comidas e dispensadas em seguida acabariam em um misto de groupies e, em alguns casos, namoradas oficiais de algumas pessoas que freqüentavam assiduamente a casa.
Gravando o Primeiro Álbum
A expectativa de se gravar um álbum apenas apressou o processo natural da banda de estruturar ainda mais suas músicas no formato de canções. Ron Asheton conta que ficava com Iggy trocando idéias para canções, ele criando os riffs enquanto Iggy dava sugestões quanto o que seria a primeira parte da canção, a segunda e o refrão. Baseando-se no tema criado, ele depois escrevia uma letra. Nascia assim "I Wanna Be Your Dog" e "1969."
Em junho de 1969, a banda vai para Nova York, com intenção de gravar um disco. A produção ficou com John Cale, ex-Velvet Underground. Este seria o primeiro trabalho de Cale como produtor, e o selo considerou seu currículo com o Velvet Underground ideal para entender os Stooges e tirar deles algo vendável para o primeiro disco. Quando a banda foi comunicada de quem seria o produtor, houve uma certa confiança de estar podendo trabalhar com alguém que era um reconhecido artista alternativo e como tal haveria condições de conversarem de "cabeça aberta." Iggy confessaria também que seu interesse imediato era de ter John Cale tocando alguma coisa no seu disco.
Antes das primeiras sessões começarem, Iggy foi apresentado ao STP (Serenity Tranqulity & Peace), uma anfetamina sintética (2,5-dimetóxido-4-metilamfetamina) que age feito um especie de ácido concentrado que deixou ele viajando alucinadamente por três dias. Ron Asheton ficou encarregado de cuidar dele e para isto, amarrou uma corda na cintura de seu vocalista e foram passear pelas ruas da cidade. O nome STP, geralmente associado a um popular óleo de motor da Esso (eternizado no Brasil pela canção dos Mutantes 'Dune Buggy'), neste caso significa Serenidade, Tranquilidade & Paz. John Cale havia assistido The Stooges ao lado de Danny Fields em uma visita a Ann Arbor organizada pela Elektra. Ele foi em segredo e não se apresentou à banda. No entanto, ficou bastante impressionado com o que viu.
Com a chegada do restante dos Stooges em Nova York, eles entraram no estúdios da Hit Factory com apenas três canções prontas, mais um punhado de jams semi-estruturados dos quais um seria aproveitado e batizado de "We Will Fall". Ao perceber o despreparo, Holzman deu dois dias para que eles tenham preparadas outras canções. Ron Asheton então se trancou no seu quarto de hotel com sua guitarra e só saiu de lá depois de bolar três riffs que acabariam se transformando nas canções "Little Doll", "Not Right" e "Real Cool Time." O grupo acabou fazendo mais três e todo o processo de gravação do álbum de estréia levou irrisórios dois dias.
No entanto, a experiência para a banda foi mais frustrante do que inspiradora. Até certo ponto, Cale prejudicou o som ao confiná-los a um molde de banda conceitual. Neste aspecto, mostrou-se um grande incentivador para a peça tratado como avante-garde chamado "We Will Fall." Este tema por sinal, nasceu do interesse de Dave Alexandre pela religião hindu. Praticando um mantra e conversando com os colegas da banda sobre ele, resolveram inclui-lo junto ao instrumental, único que tem a participação de John Cale, tocando viola. Basta ouvir uma vez para imediatamente reconhecer no tema nuances do que Cale fazia no Velvet Underground.
John Cale
John Cale


Ele igualmente foi criticado por propositadamente mixar os vocais de Iggy bem mais alto, tornando suas palavras quase ininteligíveis. Iggy, em costumeiro ataque histérico, convenceu Holzman então a re-mixar o disco em outra sessão sem a presença de Cale. Em sua defesa, deve-se notar que os Stooges era uma banda limitada como instrumentistas e sem absolutamente nenhuma experiência de estúdio. Até mesmo Iggy, que já gravara algumas vezes, o fizera como baterista, não participando de todo o processo de gravação da canção. No primeiro dia, parte do tempo de estúdio foi gasto convencendo todos que a banda não pode simplesmente montar seus Marshalls em frente ao microfone e colocar tudo no volume dez. E Ron e Dave teimavam que é só assim que eles sabiam tocar. No fim, Cale cansou de discutir e a banda aceitou baixar os amps para volume nove, o que pouca diferença fez.

Ron Asheton diria que apesar de gostar do disco e ficar satisfeito com ele, achou que Cale limpou demasiadamente a guitarra e o baixo. A banda na verdade era mais suja do que a versão um tanto pop que resultou no som do primeiro disco. Iggy recordando sobre as sessões, fala de como John Cale usava uma capa com a gola pra cima de forma que lembrava Drácula. Ao seu lado, durante boa parte das gravações, Nico viria para assistir a sessão. Sentada ao lado de Cale, ela passaria as horas ouvindo o pessoal enquanto tricotava uma sweater. Iggy comenta: "Os dois lado a lado formava um casal que mais lembrava Gomes e Mortisha do seriado 'A Familia Adams'." The Psychedelic Stooges então resolvem abolir a referência já datada ao psicodelismo, tornando-se simplesmente The Stooges. Foi sugerido então ao Iggy que ele passe a adotar como sobrenome o nome da banda. Iggy Pop torna-se portanto Iggy Stooge, enquanto Scott Asheton passa a ser conhecido como Rock Action.
Warhol e Hendrix
Com o disco pronto, Cale levou os Stooges para conhecer The Factory, galpão onde Andy Warhol mora e trabalha em seus projetos artísticos. O local era estranho para estes caipiras do meio-oeste e a homossexualidade aparente de seus frequentadores deixaram Ron, Scott e Dave sentados quietos num sofá sem conversar com ninguém. Iggy fez o trabalho de relações públicas e conversou rapidamente com Warhol e algumas pessoas presentes. Mas a sua atenção foi definitivamente seqüestrada por Nico, que logo mostrou extremo interesse em conhecer melhor este jovem artista. Nico já tinha fama de ser atraída por poetas e artistas emergentes. Depois de Alan Delon, Brian Jones, Leonard Cohen, Bob Dylan, Lou Reed, John Cale e Jim Morrison, chegara a vez de Iggy Stooge. Ela então combina para a noite seguinte levar Iggy e seus amigos com ela para The Scene Club, local que pertencia a Steve Paul, empresário de um outro jovem artista, Johnny Winter.
The Scene Club estava apresentando o guitarrista de blues Terry Reid que iria dentro de um mês excursionar todo os Estados Unidos abrindo os shows dos Rolling Stones. Reid, uma jovem promessa emergente na Inglaterra, é totalmente desconhecido da maioria nos Estados Unidos. Lá pelo meio do set, aparece Jimi Hendrix na casa e resolve fazer um jam com o novo amigo. Ao final da noite, depois que Jimi e Terry destilaram todo o blues até saciar, foram beber no bar da casa. Nico então chega e apresenta Jimi para Iggy e a banda. Ron Asheton faz questão de pagar uma cerveja para o seu 'guitar hero' favorito e a quem deve muito em termos de influência em seu estilo de tocar. Ao voltar para o hotel, Iggy e Nico fizeram amor pela primeira vez.
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"Distanciando-se discretamente da excelência técnica, a música era crua, apresentado com intensidade e sinceridade total..." - Lenny Kaye
Com a promoção de John Sinclair da Trans-Love e publicidade positiva por parte de Lester Bangs da revista Creem, The Psychedelic Stooges passaram a serem relativamente bem conhecidos em Detroit e arredores. A fama dos Stoogers reside principalmente na figura caristmática de Iggy Pop que assusta e preocupa espectadores pela imprevisibilidade de seus atos. Diria John Sinclair: "Iggy vai além de ser um performer - ao ponto que a coisa passa a ser psicoterapia. Excede teatralização convencional. Ele é capaz de fazer qualquer coisa. Ele mesmo não sabia o que ele iria fazer naquela noite quando subir no palco. Era excitante assistir e esperar. Pensava para mim 'Esse cara não conhece limites'."
Bangs descreve assim a presença de palco da banda: "The Stooges é uma banda que tem a força para receber qualquer público em seus termos, não importa quanta hostilidade que a audiência possa tentar oferecer. Iggy é como um matador provocando a vasta Hydra sentada diante dele. Ele se atira ao público para ver como é que fica e mesmo do palco, seu olhar se estende à procura, varrendo o local e marcando estranhos espantados que raramente ousam encará-lo de volta. É o seu palco e se você acha que pode tomá-lo, então pode tentar. Mas o Rei da Montanha irá manter o passo e a autoridade, e poucos conseguem. Neste sentido, Iggy é um verdadeiro estrela da especie mais inacreditável - ele conquistara o palco, e nada além da força de sua presença lhe confere este direito."
Mas o interesse pela banda, agora chamado simplesmente de The Stooges, realmente amplificou depois de boatos davam conta que eles acabaram de gravar o primeiro álbum. O mesmo aconteceu com The MC-5, Sinclair colocando-os para tocar em todo evento convidado, faturando o máximo de exposição possivel para a banda e suas ideologias. Interessante destacar que parte da tática de Sinclair, principalmente lidando com a mídia dos polos - Nova York e Los Angeles - incluia promover não só sua banda, mas também a idéia de que existia toda uma cena musical acontecendo em Ann Arbor no Michigan.
Em termos de exposição para a banda, Jimmy Silver faz exatamente o contrário de Sinclair, recusando convites e colocando a banda para tocar em uma média de duas vezes por semana e sempre em lugares diferentes e relativamente distantes. Isto porque o show do The Stooges ainda era de apenas vinte minutos. Eles tinham aquelas canções e nada mais e o show era basicamente igual. Regulando a exposição da banda dá tempo para o público criar interesse novamente em ouvi-los sem cansá-los.
Como artistas da Elektra, passam a ser convidados a participar de festivais de música, seu primeiro sendo o Delta Pop Festival, realizado no Delta College em Ohio. Depois vieram o Saugatuck Pop Festival em Saugatuck e o Mt. Clemens Pop Festival, em Detroit, ambos no estado de Michigan. O público e crítica nestas apresentações foram extremamente positivos, surgindo metáforas comparando-os a uma espécie de "blitzkrieg pop." A performance de Iggy agora era tão falado que certos contratos estipulava que o cantor não podia fisicamente tocar em ninguém do público, obrigação contratual que nem sempre Iggy respeitava.
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O recém eleito Presidente Nixon coloca em prática uma política de confronto contra cidadãos com atitudes consideradas anti-americanas. Cada vez mais universidades sofrerão blitz policial e o FBI e CIA passarão a espionar seus proprios cidadãos. Áreas e regiões são marcados como perigosas por conter excessiva ação anti-americana. A Califórnia e os Panteras Negras são um alvo, Chicago e os Yippies - Youth Movement Party - são outro. E Detroit com os Panteras Brancas uma terceira. Em julho de 1969, John Sinclair seria preso e sentenciado a nove anos e meio de cadeia por ser encontrado portando dois baseados no bolso. O Partido dos Panteras Brancas acabaria em definitivo em final de abril de 1971. No dia 13 de dezembro tambem em 1971, John Sinclair seria finalmente solto, em parte graças a um showmiço com a participação de todas as bandas de Detroit mais John & Yoko Lennon que trouxeram com sua presença bastante interesse da midia para o evento. Durante os dois anos e meio de cadeia que Sinclair serviu, ele escreveu um livro publicado com o título de "Guitar Army."

Entrevistas
Definitivamente Elektra procurou promover os Stooges e para tanto, acertou uma entrevista entre Iggy Stooge e Gloria Stevers da 16 Magazine, revista sobre pop para teens. A revista estava estancada em adoração por teen pop idols como Fabian e Ricky Nelson até Gloria arrancá-la, mesmo a contra gosto, para entrevistar e promover bandas e artistas mais contemporâneos e relevantes para a cena musical em geral. Sobre a direção de Gloria, 16 Magazine passou a publicar e promover cada vez mais artistas como Jim Morrison, com quem Stevers teve um caso, e os mais recentes Elton John e Alice Cooper. Iggy Pop se torna então capa da revista em agosto, época que a banda estaria se apresentando pela primeira vez em Nova York.
Conversando com um repórter, Iggy listou os discos e artistas que tiveram algum impacto na sua vida e na música que ele faz. Com bastante eloqüência, Iggy começa a lista por Chuck Berry, comentando sobre a maneira dele escolher seus assuntos em letras baseando-se na cultura americana. Achando detalhes na maneira de viver do americano comum e costurar uma canção ao redor disso. Falou-se em Bo Diddley, pela maneira dele chamar e responder nas letras, e The Doors pela maneira que Morrison faz uso de sua voz, totalmente barítono.
Destacando álbuns, menciona "Bring It All Back Home" de Bob Dylan e o primeiro do Velvet Underground, elogiando Dylan e Lou Reed pela maneira que os dois conseguem, sem demonstrar muito esforço, cantar letras mais extensas em uma golfada de ar. Iggy também destacou o disco "12 X 5" dos Rolling Stones, onde ele encontrou emoção sem deixa-la sobrepor à aspereza da canção. Comentou sobre a música "September Of My Years" com Frank Sinatra, pela habilidade dele cantar emoções durante uma canção.
Falou também sobre o primeiro disco do grupo irlandês Them, pela poesia nas músicas e destacando Van Morrison pela maneira dele reciclar clichés de blues fazendo-os soarem novos dentro de um ambiente roqueiro. Iggy não esqueceu de mencionar Tina Turner, pela sua presença de palco. Por último, comenta sobre Sun Ra e John Coltraine, pela maneira que eles conseguem usar música para te levar em uma viagem.
Agosto
Em agosto de 1969 é lançado o LP "The Stooges", na mesma semana em que acontece o festival de Woodstock e, a exemplo do primeiro disco do Velvet Underground, em 1967, o álbum foi solenemente ignorado pelo público, o que não era difícil prever, já que as duas bandas iam em uma direção totalmente nova e agressiva para o rock que fazia sucesso à época.
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O disco chega às lojas com a seguinte relação de músicas:

Lado A
1. 1969 (Alexander/Asheton/Asheton/Pop) 
2. I Wanna Be Your Dog (Alexander/Asheton/ Asheton/Pop) 
3. We Will Fall (Stooges) 
4. No Fun (Stooges)

Lado B
1. Real Cool Time (Alexander/Asheton/Asheton/Pop)
2. Ann (Stooges) 
3. Not Right (Stooges) 
4. Little Doll (Alexander/Asheton/Asheton/Pop)

Entra em cena um outro personagem, Steve Harris, responsável pelo departamento de vendas da Elektra. Mais tarde Harris se tornaria vice-presidente da Columbia Records. Atraído pelo som do Stooges, que chamou atenção de Harris pelo fato de serem mesmo sensivelmente diferentes do que as bandas produziam na época. Talvez por sorte, ele gostou. Mas, reconheceu imediatamente a dificuldade que seria para vender esta música.
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Harris reúne sua equipe formada pelos principais distribuidores da Elektra no meio-oeste e coloca o disco para ouvirem. Ninguém gosta e ele precisa de muita conversa para colocá-los no "estado de espírito certo" para saírem e venderem o disco para os lojistas. O compacto "I Wanna Be Your Dog", assim como o de "No Fun", saíram nos Estados Unidos sem capa. No entanto, na Europa, em especial França e Itália, o capricho da parte gráfica foi um investimento feito como padrão.

Das poucas revistas que falaram sobre o álbum, elas ou limitavam-se a rotular como lixo barulhento ou eram razoavelmente tolerantes ao som. Na revista Circus, um crítico escreveu: "O álbum é longo e a musicalidade é mediana, mas a emoção com que as canções são entregues é tão intenso que, bem... você escolhe a analogia."
Era previsível que a revista Creem de Lester Bangs continuasse apoiando a banda. Em seu review, constam as curiosas afirmações: "'I Wanna Be Your Dog' lembra Velvet Underground de início de carreira, porém levado a outro nível de bizarrice. 'No Fun' oferece uma guitarra abusiva tocado por Ron Asheton. Por todo álbum Asheton se revela como o insano mestre da força que os Stooges canalizam em sua música. Esta é provávelmente o estilo de guitarra do futuro." Já a grande Rolling Stone definiria o álbum e a banda como"Bicho-Preguiças chapados fazendo música tediosa e reprimida que supeitamos apelará para o gosto de pessoas tediosas e reprimidas."
Chocando Nova York
The Stooges pouco saíram de seu estádo, exceção feita para a primeira excursão americana da banda. Pelo menos, foi promovido como uma excursão. Na pratica, tocaram em apenas três cidades fora do estado de Michigan com cerca de dez dias separando estas datas. Todos as demais apresentações foram em seu estado, sendo que a grande maioria na cidade de Detroit e que talvez nem possa contar como parte de uma excursão.
Junto com os inseparáveis amigos do MC-5, começaram a pequena excursão no dia 29 de agosto. As bandas fizeram a primeira apresentação em Nova York, tocando no New York State Pavillion em Flushing Medows no Queens. O set dos Stooges era formado de apenas quatro canções, "1969", "Not Right", "No Fun", e "I Wanna Be Your Dog", somando uma duração de aproximadamente vinte minutos. Após o fim do primeiro número, não perceberam nenhuma reação do público, deixando a banda bastante nervosa e desconfortável. Como era de costume, Iggy passa a insultar a platéia, recebendo alguns insultos de volta como resposta.
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Depois da segunda canção, alguém jogou uma lata na direção de Iggy que imediatemente a pegou e jogou de volta na direção de onde veio. Depois da música seguinte outra lata é arremessada. Antes da última canção, alguém joga uma garrafa que se espatifa no palco. Então Iggy faz história, da forma mais bizarra. Enquanto cantava "I Wanna Be Your Dog", Iggy passou a se rolar sobre os cacos de vidro, se cortando todo no peito e costas, sujando o palco todo de sangue no processo. O público passou a um silêncio gélido, alguns não acreditando no que estavam vendo. Para situar-se, este é um mundo onde figuras como Alice Cooper ou David Bowie, embora já gravassem, ainda estão para se afirmar na indústria. Rock 'n' roll era basicamente uma coisa sem muitas surpresas, as pessoas chegavam e tocavam. Não havia muito teatro, e o pouco que havia, em nada se assemelhava a isso.

Ao fim da canção, Ron deixa sua guitarra junto ao amplificador com microfonia soando a pleno volume, enquanto Iggy deixa o palco. Em uma arena com três mil pessoas, uma ou outra pessoa, de maneira tímida, tenta aplaudir. Alguém da direção então coloca nas caixas o Brandenberg Concerto, de Bach. Anos depois, Alan Vega, vocalista da banda Suicide diria que ele estava neste show. Em entrevista ele comenta: "Depois de assistir The Stooges minha vida mudou. Percebi que tudo que eu fazia até então era uma farsa. Eu era fã do MC-5 e fui ao show para vê-los. Mas, depois de ouvir os Stooges, não dava mais para ouvir MC-5. E eles sabiam disso também. Iggy era insuperável."
Stooges nos Estádios
Retornam para Detroit onde se apresentam agora em estádios, no dia 31 tocando no Benedictine Stadium e no dia 5 de setembro no University of Detroit Stadium. Depois retornam para o leste indo tocar em Boston, onde abriram um show do Ten Years After, banda de Alvin Lee. Mais uma vez Iggy não perdoou a platéia, que não conseguia entender ou vibrar com a apresentação insana dos Stooges. Determinado a não ser ignorado, depois de alguns insultos, Iggy passa a se arremessar no ar, caindo violentamente no chão e invariavelmente se ralando e sangrando todo.
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Três mil pessoas presentes, exclusivamente para ver Ten Years After, não deram a mínima para os Stooges, que no entanto, ao final do set, foram aplaudidos. Se por nada, The Stooges impressionaram pelo esforço. Um fã anônimo do Ten Years After, ao ser entrevistado, conta que ele e seus amigos foram todos para ver o show de Alvin Lee, mas se impressionaram com a apresentação do The Stooges: "Eu tinha ouvido falar que ele se jogava no chão até sangrar, mas não acreditei até vê-lo. Fiquei surpreso ele não deixar o palco de maca. Quanto tempo que um sujeito assim vai conseguir durar?"

Nos bastidores naquela noite, a maioria das groupies só queriam saber de Alvin Lee e Ten Years After, porém havia pelo menos uma que tentou se esfregar com os Stooges. Ela queria Iggy, que todo cortado e ainda tímido, evitou-a. No Holliday Inn onde ficaram, a menina acabou dormindo com o repórter da revista Rolling Stone que estava acompanhando o festival.
Wendy
Retornam para os pequenos clubes, tocando em Wampler's Lake, em Michigan, depois Delaware e Ohio, estes últimos, dois locais onde eles eram consideravelmente desconhecidos e com público que varia entre 20 a 200 pessoas, dependendo de quem conta a história. Foi em Delaware que Iggy reencontraria uma colega de sala do primeiro semestre da faculdade, a encantadora Wendy Weisberg. Conversam antes do show sobre o disco novo e Iggy subiu ao palco naquela noite muito afim de fazer um ótimo show e impressionar. Mas o público não estava lhe dando a devida atenção e Iggy entra no já habitual espirito de auto-flagelo. Se joga no chão, se rala e se sangra. Perto do final, Iggy pega duas baquetas e começa a se esfaquear no peito com as baquetas até rasgar a própria carne.
Iggy comentaria depois que não estava doendo e para ele, o som da banda ficou até melhor depois disso. Wendy entrou no recinto e logo foi falar com o amigo, toda preocupada que ele tenha se ferido tanto. Toda a paixão reprimida de dois anos atrás aflorava novamente, e Iggy está encantado por ela se preocupando com ele. Iggy em sua maneira típica, confessou todo o interesse que ele tinha por ela, mas Wendy, sem graça, explicou que estava acompanhada e namorando.
Seguindo seu ímpeto, após uma sequência de apresentações em Detroit e arredores, Iggy alugou um carro e foi até Columbus, Ohio, cidade onde ela estava morando e estudando. Wendy achou tudo romântico, e o tal namorado acabou dançando. Iggy passou a morar alguns dias da semana com ela e depois voltava para Ann Arbor quando Jimmy Silver arrumava apresentações para a banda. E assim se deu o namoro até que um dia, Iggy a pediu em casamento, proposta que Wendy aceitou.
O Casamento
Prepararam os papéis e realizaram a cerimônia no Fun House, residência onde Wendy passaria a morar também. Wendy era judia e sua família foi contra o casamento, portanto nenhum de seus familiares participaram do evento. Algumas de suas amigas vieram de Ohio e acabaram pernoitando no Fun House, por alguns dias. Jimmy Silver, que tambem era judeu, realizou a cerimônia.
Ron Asheton
Ron Asheton


Ron Asheton foi o padrinho de casamento e para a cerimônia, foi vestido com sua roupa de piloto nazista, adornado com várias medalhas que ele possuía daquele exército, de sua coleção particular. Billy Chetham, um dos roadies da banda, comprou um tênis novo para o dia da cerimônia. Dave Alexander apostou que o tênis duraria mais que o casamento. Quase todos os integrantes do MC-5 estavam presentes entre os convidados, assim como Danny Fields que viera de Nova York, na noite anterior. Fields estava muito nervoso e preocupado que o casamento atrapalhasse a imagem do cantor.

Scott Asheton hasteou uma bandeira da Sears na frente da casa, mas a polícia passou e exigiu que tirasse. Segundo a lei, apenas pode-se hastear a bandeira americana. Scott então buscou uma bandeira Suíça (outra versão conta que a bandeira era de Cuba) mas foi impedido pelo policial. Depois de uma conversa, combinou-se de não usar o poste para hastear bandeira alguma. Quando a polícia foi embora, Scott hasteou uma bandeira nazista.
Para o desespero do pessoal do MC-5, toda comida servida foi macrobiótica e nenhum deles comeu nada, apenas beberam. Kate Asheton usou, possivelmente pela primeira vez desde o primário, uma saia. Segundo ela, Iggy não conseguiu tirar os olhos de suas coxas. Iggy pegaria Kate comentando com uma amiga "He's got a TV Eye on me." ("Ele está com um 'Olhar de TV' sobre mim.") Percebendo tratar-se de algum código novo, ele procurou saber do que se trata. Kate rindo explicou que TV Eye significa Twat Vibe Eye (olhar com vibrações para a xibiu). Kate e Iggy acabariam trepando, mas não nesse dia.
A maioria dos Stooges passaram a beber na varanda e apostar em voz alta no fracasso do casamento dentro de algumas semanas. A estação de rádio WABX telefonou para sua casa pedindo para confirmar se era verdade que ele tinha casado, isto com a rádio no ar, direto e ao vivo. O DJ, do outro lado da linha, não conseguia acreditar na veracidade, só faltando perguntar 'quem iria casar com Iggy Pop?' Sobre o incidente, Iggy resume-se a dizer que a entrevista no rádio lhe ensinou sobre publicidade e o ângulo do interesse humano.
Depois de ver seu antigo quarto de solteiro ser invadido por móveis da Wendy, rapidamente o encantamento do casamento desapareceu. O primeiro sinal grave de problema foi quando Wendy começou a falar mal de sua banda. Ela discursava de como eles estavam atrasando sua vida e que ele se daria melhor com músicos mais capacitados. Iggy ouvia isso e pensava em como uma pessoa que ainda não realizara nada pode se achar no direito de diminuir o trabalho dos outros com essa facilidade.
Falando sobre seu casamento, Iggy jura que amava a Wendy, mas amava sua carreira e sua banda ainda mais. Depois de um episódio tentando compor no meio da madrugada, escondido no armário com amp e guitarra, tudo bem baixinho para não acordá-la, acaba concluindo que precisava do volume para concluir a canção. Foi mais ou menos assim que ele deu a luz para a canção "Down On The Street", e enterrou seu casamento.
Iggy conta que ele era ciumento e ficou cismado que Wendy estava olhando demais para Scott Asheton, o que pode ser uma desculpa ou não. Outra bola fora foi Wendy pedir para que ele pare de fumar maconha. No final das contas, somando tudo, Iggy pediu para ela ir embora depois de um mês. Dado a sua dispensa no exército por homossexualidade, ele consegue anular o casamento alegando que o mesmo não foi consumado devido à comprovada homossexualidade. Quando os papéis de divórcio chegaram, ele ficou tão orgulhoso que enquadrou e pendurou o documento na parede.
Betsy
Poucos dias após Wendy ir embora Iggy, vasculhando as ruas, acabou encontrando uma lanchonete interessante. O mais agradável deste local é poder ficar sentado no fundo, observando os estudantes e como eles se comportam uns com os outros. Analisando o comportamento destes jovens, Iggy utiliza estes dados como inspiração para suas canções. Foi neste local que Iggy conhece Betsy, de apenas quatorze anos. Menina loura de pele branca e com cara de sapeca, Betsy e Iggy engrenam no maior papo. Logo, ela se torna freqüentadora assídua do Fun House, para o desespero de Ron Asheton, que teme ter uma invasão da polícia e que todo mundo acabasse preso. Apesar das preocupações coerentes, Iggy tentou resolver o problema pedindo Betsy a arrumar uma amiga para Ron. Quem preencheu esta lacuna foi Danielle, igualmente com quatorze anos, que Ron comeu algumas vezes antes do medo reinar sob o tesão e a expulsar da casa. Iggy no entanto, continuou a correr o risco e nunca deu em nada. Apesar de seu relacionamento com Betsy durar bastante tempo, Iggy mantinha relações com outras mulheres, incluindo Kathy, irmã de Ron e Scott, que embora ainda menor, já se mostrava uma groupie de marca maior. Betsy acabaria eternizada na canção "Dog Food" e Kathy em "TV Eye."
Nico
"Quando ela falou que queria ir para Michigan comigo pensei, 'O que uma dama sofisticada como ela quer fazer num lugar daqueles? Ela deve ser louca.' E ela era mesmo e eu lhe devo o mundo."
Dia 24 de fevereiro de 1970, The Stooges se apresentam no Ungano's Club, em Nova York. Durante os dias que antecedem a apresentação, Iggy estava na cidade visitando Nico, que morava no Chelsea Hotel em um pequeno quarto. Nele havia ainda um pequeno teclado onde Nico praticava algumas coisas para o seu LP solo, "The Marble Index", que acabara de gravar. Iggy e Nico começaram quase que instantaneamente ter um tórrido romance.
As apresentações no Ungano foram um sucesso. O local, lotado com gente da trupe da Factory de Andy Warhol e outros homossexuais amigos dos amigos, aplaudiram efusivamente o performance de Iggy que foi depois convidado a frequentar o bar Max's Kansas City, famoso ponto gay/artístico da baixa Manhattan. Embora ninguem dê nomes aos bois, há estórias de Iggy frequentando o salão de trás da casa, famoso pela sua jarra de vaselina na entrada e largamente utilizado para bate papos, boquetes e sexo anal pela clientela VIP do local.
Quando chegou a hora da banda voltar a Michigan, Nico pediu para ir junto. Ela passou a morar no Fun House com Iggy e o grupo. Além do namoro, Nico incentivava que Iggy usasse cada vez mais LSD. Mentalidade de uma época, ela criticava o empresário da banda por dar poucos aditivos químicos aos músicos, dizendo que era impossível que se apresentassem sem estarem chapados. Nico argumentava que o público não queria ver uma pessoa comum em um palco, queriam perfomances, e que as drogas eram essenciais no contexto.
Nico
Nico


Iggy ficou apaixonado pela Nico e ela certamente o influenciou e o inspirou. Iggy agradece a Nico por ser um bom ouvinte, fortificando assim sua segurança, como também ensinando ele a ser um melhor amante. "Ela foi quem me pegou, magricelo e ingenuo, e me ensinou a chupar xoxota, como também beber vinho Alemão e Champagne Francês. Foi assim que aprendi a modular minha voz e falar com executivos de gravadoras."

Passam o inverno juntos em Ann Arbor, trepando muito, com ocasionais pausas para realizar os ensaios com a banda, que começa a se irritar com a presença constante da Nico, inclusive nos ensaios, local teoricamente proibido para namoradas, groupies e curiosos até então. Mas, Nico cozinhava arroz macrobiótico para todos e aparecia com vinhos importados, quebrando qualquer gelo que ameaçava iniciar. Nico acabou morando três meses no Fun House com a banda, antes de retornar à Manhatten.
Quando ela deixou Manhatten, Nico havia negociado com o cineasta François De Menil, que queria filmar algo com ela, a possibilidade de trabalharem juntos, possivelmente no filme promocional para uma canção de seu primeiro disco. Enquanto em Michigan, ela telefona para François e o convida para filmá-la em Ann Arbor com Iggy, a quem ela chama apenas pelo seu nome, Jim.
Luz da Tarde
E foi assim que acabou sendo rodado em 16mm, um filme chamado "An Evening of Light." A película, editada originalmente para seis minutos de duração, acabou não servindo como promo. Contudo acabaria sendo aproveitada como parte de um documentário sobre Nico na década de noventa, após sua morte. Algumas cenas foram filmadas em um milharal (ou batatal) coberto de neve, mostrando Iggy e John Adams dançando e pulando, sem camisa na neve, ao redor de manequins desmembrados com braços e pernas fincados na neve. Como diria Ron Asheton: "Tudo artístico até demais para entender." Outras imagens incluiriam os demais Stooges olhando por uma janela e participações de Tom Wehrer e Chris Delay.
John Adams ficou com a turma, e instigado pela música, se prontificou para trabalhar como roadie. Adams era de familia abastada e chegou a emprestar dinheiro para que a banda pudesse comprar equipamento melhor. Quase cinco anos mais velho e mais vivido, Adams era um ex-junkie que estava em busca do bucolismo das matas que cercavam o Fun House, perfeitamente integrado com a alimentação macrobiótica que ele tambem adotara para si. John Adams se tornou uma amizade duradora e um ótimo roadie para a banda.
Morando quase três meses com Iggy e a banda, o relacionamento entre Nico e Iggy começava a se desgastar drasticamente. Iggy passou a tratá-la mal até ficar óbvio que a lua-de-mel acabou e estava na hora dela ir embora. Dois dias depois que Nico havia deixado Ann Arbor, Iggy descobre que está com chato.

A História do Burzum: Parte IV - O Burzum na Noruega

Freqüentemente tenho encontrado fãs de Black Metal, ou recebido cartas de fãs de Black Metal na Noruega, reclamando para mim sobre o fato de que eles não conseguem encontrar álbuns do Burzum em nenhuma loja de discos da Noruega. A explicação para isso é que o Burzum não é distribuído na Noruega, e tem sido assim desde 1993, porque ninguém na indústria fonográfica da Noruega quer distribuir ou vender álbuns do Burzum, muitas vezes por medo de também serem perseguidos por extremistas de esquerda se assim o fizessem ou, como acontece com mais freqüência, porque eles próprios são extremistas de esquerda (ou são judeus/ cristãos). Então, para poderem comprar álbuns do Burzum, os noruegueses precisam importá-los ou ir até outro país e comprar os álbuns nas lojas de lá. Ou seja, muito estranhamente, os álbuns da banda norueguesa Burzum não estão facilmente disponíveis para fãs de Black Metal na Noruega.



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Há mais ou menos um ano foi lançado  na Noruega um programa semanal dedicado ao metal na TV, no qual as pessoas podem votar em vários vídeos a serem exibidos e, sempre que podem, entram em um chat, através de SMS. Na época eu estava trancado 24 horas por dia na cela, mas todo dia eu precisava sair por um minuto ou dois para pegar o jantar e pão para o resto do dia e, ao fazer isso, eu passava por outros prisioneiros no corredor. E todo dia eu passava em frente de um cara chamado René, de Bergen, que costumava assistir a esse programa de metal e, em uma de nossas conversas diárias de 10 segundos, ele me disse que sempre havia uma discussão sobre o Burzum no chat board, então eu decidi ver um dos programas. O que estava acontecendo é que muitos fãs de metal queriam que eles tocassem Burzum, mas a apresentadora do chat alegou que "Não há vídeo do Burzum" e, quando os fãs mencionaram a ela o vídeo "Burzum" (Título em alemão: "Dunkelheit". Título em inglês: "Darkness" [N.: “Escuridão”]. Título original: "Burzum") ela disse a eles algo do tipo “Nós fingimos que ele não existe” ou “Nós intencionalmente esquecemos esse aí”. Então até mesmo um programa dedicado a tocar metal boicotava o Burzum, exatamente como os programas de rádio na Noruega têm feito pelos últimos doze anos. A razão pela qual eles me boicotam na Tv e no rádio é, aparentemente, o fato de eu ter opiniões políticas “erradas”.

Sigurd Wongraven (Satyricon)
Sigurd Wongraven (Satyricon)

Jørn Stubberud (Mayhem)
Jørn Stubberud (Mayhem)


Recentemente foi exibida uma série na TV norueguesa sobre a história do rock na Noruega, e um dos programas foi dedicado a gêneros especiais do rock, incluindo Black Metal. Eles entrevistaram Sigurd Wongraven do Satyricon, Jørn Stubberud do Mayhem e, muito brevemente, Fenris do Darkthrone. Além dessas, eles também mencionaram brevemente o Dimmu Borgir mas, por alguma razão obscura, não disseram uma única palavra sobre o Immortal e o Burzum. Aparentemente Burzum e Immortal não tiveram participação alguma na cena Black Metal, nem mesmo nos primórdios. Mais uma vez o Burzum deixou de existir, dessa vez em um documentário sobre as “primeiras” bandas de Black Metal na Noruega.

Assim é o BURZUM na Noruega: oficialmente ele não existe e nunca existiu e, caso realmente tenha existido, certamente não teve papel relevante em contexto algum.BURZUM foi apagado da história do metal na Noruega, pelos extremistas de esquerda que controlam a mídia norueguesa. Mas, de certa forma, isso é fascinante, já que estamos realmente testemunhando o processo de falsificação da história.
Eu tenho consciência de que sou persona non grata há muito tempo, mas não sabia que a situação era tão ruim assim. Eu não imaginava que precisaria gastar meu tempo convencendo as pessoas de que ainda estou vivo ou que testemunharia a mídia na Noruega fingir que o BURZUM não existe e que nunca existiu, ou que os fãs do BURZUM teriam que enfrentar obstáculos como aqueles descritos acima.
Eles estão, obviamente, tentando remover a memória do BURZUM e de mim e somente o tempo dirá se terão sucesso ou não. Meu conselho a eles seria esperar pelo menos até que eu morra e não possa mais me defender... Ainda estou aqui, e Vocês sabem disso! Vocês não deveriam tentar remover a cicatriz até que a ferida esteja curada, e a Sua ferida ainda está sangrando!
Fenrir
Fenrir


Varg "Fenrir" Vikernes [N.: Na mitologia nórdica, Fenrir é um lobo gigantesco que também é filho de Loki, deus do mal. Durante o Ragnarök, o apocalipse da mitologia nórdica, Fenrir cresce tanto que consegue escapar do controle dos deuses e mata Odin, o deus dos deuses, para em seguida ser morto por Vidar, filho de Odin].

(Dezembro de 2004)
“História é a fábula defendida pelo vitorioso” (Napoleão)