28 de dezembro de 2010

Uma Espécie em Extinção - Where the Buffalo Roam







O astro cômico Bill Murray apresenta o seu trabalho mais selvagem no papel do principal jornalista "Gonzo" americano, Dr. Hunter S. Thompson, o lendário repórter subversivo cuja paixão por escrever perdia apenas para o seu amor por químicas esquisitas, álcool, violência e insanidade. Junto de seu melhor amigo (Peter Boyle), Murray oferece um olhar irreverente aos anos 60 e 70, como testemunha de tudo o que estava acontecendo de importante na época, desde um julgamento de drogas aberto a todos em São Francisco, até uma entrevista cara-a-cara no banheiro, com o futuro candidato à presidência dos Estados Unidos, Richard Nixon. Esta comédia extraordinária também conta com uma trilha sonora fenomenal composta pelo Neil Young.



Ano:1980
Direção: Art Linson
Duração: 96 Minutos


Hard Rock - Aqueles que ficaram para trás - Parte 14


aqui temos a 14ª parte da série – haja banda perdida neste mundo! – onde, seja com alguns discos ‘mezzo’ cultuados ou realmente obscuros para o grande público, o certo é que os mesmos sempre apresentarão aquelas composições que garantirão bons momentos aos amantes do gênero.

LONDON
Don´t Cry Wolf
1986 - Metalhead Records

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‘Lendas nos velhos tempos da Sunset Strip!’ Esta frase geralmente é atribuída ao London, mesmo que a repercussão de seus discos nunca tenha ultrapassado as fronteiras dos Estados Unidos. Mas, curiosamente, muitos dos músicos que tocaram no grupo posteriormente integraram bandas que se tornaram referência no cenário Hard Metal.
O London se formou na Los Angeles de 1978, tendo como guitarristas fundadores Lizzie Gray e Blackie Lawless. Gray vinha do Tear Garden, enquanto Lawless já era uma figura conhecida na área, tendo sido o guitarrista e vocalista do Sister e até mesmo passado alguns meses no insano New York Dolls. Os próximos membros que completaram o time foram o baixista Nikki Sixx, o baterista Dane Rage e o vocalista Michael White.
Mas os problemas surgem de forma mais rápida do que a música propriamente dita... A insistência de White em achar que era o Robert Plant (Led Zeppelin) fez com que o mesmo fosse demitido de seu posto rapidamente, e logo a seguir o próprio Blackie Lawless partiu para formar o então sanguinolento W.A.S.P.
Sobraram para Gray, Sixx e Rage levar o London adiante. No ano seguinte contatam o tecladista John St. John e o vocalista Henry Valentine – que foi rapidamente substituído pelo inglês Nigel Benjamin. Tantas mudanças em tão pouco tempo fez com que Nikki Sixx tomasse a sábia decisão de pegar suas fitas-demo e montar um projeto que fosse mais estável. O resultado é conhecido por todos, pois surgiu outro nome de peso para o Hard Rock mundial, o consagrado Mötley Crüe.
Grey continuou insistindo em seu grupo. E adivinhem quem voltou para assumir o contrabaixo? Blackie Lawless! E nem é preciso dizer que não durou muito, correto? Com isso Lizzy Grey enfim perdeu a paciência e encerrou as conturbadas atividades do London.
Mas entra a década de 1980 com a ascensão do Glam Rock norte-americano. Com toda a badalação em torno do estilo, Lizzie Gray, depois de tocar em outras bandas, decide reativar o London em 1984. A nova formação contava com Gray novamente na guitarra, outro vocalista inglês chamado John Ward, Donny Cameron no baixo e Nigel Itson nas baquetas. Por algumas semanas, o London também contou com a guitarra do desconhecido SLASH (é, ‘aquele’ Slash!), que logo foi substituído por Izzy Stradlin (sim, ‘aquele’ Izzy Stradlin!!!). Desnecessário dizer o que aconteceu com estes dois guitarristas, certo?
O fato é que a situação do London continuou neste ‘entra-e-sai’ até que em 1985 gravaram seu primeiro disco, “Non Stop Rock”, contando com Grey na guitarra, o novo vocalista Nadir D'Priest, o novo baterista Fred Coury, o novo tecladista Peter Szucs e o novo baixista Brian West. Quase tudo novo!
O disco de estréia seguia a linha musical da época, pesada e direta, mas foi um total fiasco comercial. Para honrar a tradição (ou maldição?), Fred Coury se mandou e fez história no multi-platinado Cinderella. Quanto à Szucs? Não tenho a menor idéia! Simplesmente sumiu do mapa...
A vida segue com “Don't Cry Wolf”, que foi produzido por Kim Fowley e chegou ao mercado em 1986. Detalhe para o lobo siberiano da capa do disco e demais fotos promocionais: eram modelos reais, e não animais empalhados! Seu Hard Rock agora estava muito, mas muito mais consistente se comparado com o que seu fracassado antecessor apresentou, e com certeza isso se deve ao fato de a formação do London enfim se manter relativamente estável, optando por ficar sem tecladista e tendo como único novo integrante J. Morgan a ocupar o kit de bateria.
Infelizmente não houve uma distribuição decente do álbum, e nem mesmo a considerável exposição que o London obteve ao ser incluso no famoso documentário “The Decline Of Western Civilization: The Metal Years” conseguiu alavancar as vendas de “Don't Cry Wolf”. O mentor Lizzie Gray novamente se cansou e, depois de mais de uma década, dois discos, 19 músicos diferentes (!!!) integrando sua banda e uma repercussão tão minúscula que nem vale a pena comentar, bom, o guitarrista simplesmente abandonou sua criação em 1988 e montou o Ultra Pop (que posteriormente tornar-se-ia o Spiders & Snakes).
A última chance para o London agora estava nas mãos de seu carismático vocalista Nadir D'Priest, que passou uns tempos no Arizona, mas em 1990 entrou em contato com o sobrevivente baixista Brian West e decidiram gravar um terceiro registro. Assim sendo, com Sean Lewis (guitarra), Vince Gilbert (teclados) e Krigger (bateria) surge o muito bom “Playa Del Rock”. Mas sem jeito… O London enfim sucumbiu de vez no final do ano seguinte.
O fato de tantos músicos alcançarem o estrelato após passar pelo London é algo que perseguirá eternamente esta problemática banda, que realmente tinha grandes chances de fazer um maior sucesso se tivesse conseguido assinar com uma gravadora que se empenhasse em divulgar corretamente seu trabalho. De qualquer forma, conquistaram o status de cult por aqueles que adquiriram seu discos, principalmente este ótimo “Don't Cry Wolf” – em vinil, é claro! Pois esta obra nunca conseguiu ser liberada no formato CD.
Desde 2006 há rumores de uma volta do grupo sob o nome ‘D'Priest's New London’, agora com o guitarrista Eddie St. James (ex-Jon Dunmore, Richard Grieco Band), mas nem sequer os nomes dos demais envolvidos foram mencionados. Então...
A propósito! Muitos dos leitores já devem ter ouvido falar do Steel Prophet... Adivinhe quem já cantou nessa banda, mais precisamente no álbum “Beware”, de 2004?

XYZ
XYZ
1989 - Enigma Records

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O XYZ foi outra dessas bandas que saiu das ruas e conseguiu executar sua música por estádios de países espalhados por vários continentes. Norte-americano, o grupo começou a tocar em 1984 tendo em suas fileiras Terry Ilous (voz), Bobby Pieper (guitarra), Patt Fontaine (baixo) e Joey Pafumi (bateria). O quarteto nem precisou ralar muito pelos bares e pequenos clubes de Hollywood até aparecer a oportunidade de gravar seu primeiro álbum.
E a almejada oportunidade apareceu rapidamente, mas a coisa toda não poderia dar mais errado... Assinaram com a Atlantic Records e gravaram seu primeiro álbum, mas sabe-se lá o que aconteceu, o fato é que a bolachinha ficou na geladeira, pois a Atlantic simplesmente se recusava a liberar o disco para o mercado!
A frustração bateu forte e o XYZ ficou desfalcado de seu guitarrista e baterista. Mas Terry e Patt insistem e preenchem os respectivos postos com Marc Diglio e Paul Monroe. E aí, sim, é que a banda precisou suar para enfim chegar a um disco concreto. Assim sendo, desde o início de suas atividades, passaram-se quatro anos até que surgisse outra oportunidade para a banda.
Todo esse tempo não passou em branco. Com inúmeras demos espalhadas por aí e já um reconhecido veterano dos clubes de Los Angeles, o XYZ enfim assinou com o respeitável selo Enigma Records, que realmente apostou no pessoal a ponto de contratar como produtor ninguém menos do que Don Dokken, do então extinto Dokken.
Com um título realmente simples, “XYZ” chegou ao público com toda a força das bandas iniciantes que querem vencer. Com peso e melodias na medida correta, o quarteto exibia talento de sobra em faixas incríveis como "Maggy" e "Inside Out", além de amenidades em "Come On N'Love Me" e "After The Rain", alcançando o 99º da Billboard, um bom número para qualquer um que esteja estreando em disco.
Tal recepção numa das melhores fases da história do Hard Rock fez com que aparecessem oportunidades imperdíveis para o conjunto. Turnês com Ted Nugent, OZZY OSBOURNE, Foreigner e Alice In Chains lhes garantiram um natural e maior domínio sobre os grandes palcos, dando-lhes ânimo inclusive para montarem sua própria tour como atração principal enquanto iam surgindo os esboços das composições que fariam parte de seu próximo álbum.
“Hungry” foi produzido por George Tutko, chegou ao público em 1991 e arrebatou disco duplo de ouro após darem um giro tocando pelo globo. Mas era uma nova década, e com novos rumos para os negócios envolvendo o rock´n´roll... Os empresários disseram que era a vez do Grunge, o público acreditou e o final da história já é conhecido de todos: o Hard Rock foi esquecido do dia para a noite, independente dos esforços que as bandas fizessem para divulgar sua música.
Como não poderia deixar de ser, o XYZ também caiu no limbo, liberando apenas “Take What You Can Live” em 1995. Mas o vocalista Terry Ilous não ficou parado nesta fase negra, gravando com membros de diversas bandas e dos mais variados estilos, como Ozzy Osbourne, BLACK SABBATH, Peter Gabriel, Sting, entre outros.
Somente com a entrada do novo milênio é que Terry decide liberar outro registro com o nome XYZ. Mas “Letter To God” nasceu sob circunstâncias trágicas, pois o filho do vocalista faleceu pouco antes de se iniciarem as gravações, tanto que sua faixa-título é uma clara homenagem ao garoto. Este disco foi liberado em 2003 e contou com o antigo guitarrista Marc Diglio dando uma força nas composições, e tendo em sua formação o antigo baterista Paul Monroe, o guitarrista JK Nothrup (Foreigner, King Kobra) e o baixista Sean Macnabb (Quiet Riot e Great White).
Mesmo com algumas composições hards soando mais atualizadas, várias outras faixas poderiam tranquilamente constar nos antigos álbuns do XYZ, em especial a excelente "What's On Your Mind" e "Touch The Sky", além das semi-acústicas "Asking" e "Deny". Em suma, um retorno memorável!
Apenas finalizando, lembram-se do já citado álbum que estava arquivado na geladeira da Atlantic, desde o início das atividades do XYZ? Pois bem, em 2005 estas obscuras canções enfim vêem a luz do dia sob o título “Rainy Days”, e neste mesmo ano também chega ao mercado “Forbidden Demos 1985/1991”.
E, neste esquema de resgatar o que foi feito no passado, Terry Ilous está soltando “Here And Gone”, uma compilação com mais (!!!) material raro do XYZ e algumas pérolas dos projetos-solo do vocalista. Se o leitor achar que isso é caçar níqueis, provavelmente estará correto...

TRIXTER
Trixter
1990 - Mechanic / MCA Records

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O Trixter vem de New Hersey, tendo iniciado sua trajetória em 1983 com os amigos Steve Brown (guitarra) e Peter Loran (voz). As coisas aconteceram de forma lenta para a nova banda, pois seu baterista Mark ‘Gus’ Scott, apareceu somente um ano depois e enfim começaram a tocar pelos bares e clubes de New Jersey e New York.
Acontece que o aspecto de ‘bons garotos’ (adolescentes ainda) do quarteto, aliado a um Hard Rock tão inofensivo, começou a chamar a atenção a ponto de até mesmo os pais de quem ia a seus shows começassem a gostar do Trixter. Assim sendo, com o passar dos anos, todos já conheciam a banda pela região.
Em 1988 o conjunto passa a contar com os serviços do baixista PJ Farley e, como o Trixter sempre conseguia uma resposta bastante positiva de seu público, naturalmente os olheiros das gravadoras começaram a sondar a banda.
Um esperado contrato surge no ano seguinte através da Mechanic / MCA Records. Bill Wray cuidou da produção de seu disco de estréia, que foi lançado em 1990 sob o nome “Trixter”. Sua música era, como foi dito, tão acessível que até mesmo a geração mais velha a apreciava. Então não houve grandes surpresas quando suas canções foram lentamente escalando as paradas de sucesso... Mas a surpresa chegou quando alcançaram o primeiro lugar na Z-ROCKS Top 100!
Com um resultado desses, o Trixter sai encabeçando uma turnê pelo seu país por duas semanas e, logo depois, passou a abrir para o Stryper. Ou seja, inicialmente havia todo um cuidado em manter as boas aparências, colocando-o ao lado de outros grupos que passassem longe do estereótipo ‘sexo e drogas’. Todo o alto-astral de suas apresentações fez com que as vendas de seu debut aumentassem dia a dia. Seus vídeos-clip conseguiam ótimas posições e ainda gravaram uma canção chamada “One More Time”, com a participação do fantasmagórico Edgar Winter no saxofone, para o filme “If Looks Could Kill”.
As excursões em grandes arenas com o Poison e com o veterano SCORPIONS fizeram com que a faixa “One In A Million” atingisse a 50º na disputada Billboard. E as boas notícias não pararam por aí, pois logo no comecinho de 1992 o Trixter é informado de que seu primeiro álbum atingiu disco de ouro ao vender nada menos do que 500.000 cópias. O prêmio foi recebido logo depois de uma grande apresentação no Meadowlands Arena, em sua própria cidade, para grande orgulho de todos.
A sucessão de shows bem-sucedidos, aparição freqüente na MTV e revistas especializadas elegendo-os como a melhor banda do ano fez com que as vendas atingissem a marca de 750.000 cópias pouco antes de entrarem em estúdio para gravarem seu novo álbum. Assim, com poder-de-fogo mais do que suficiente, o Trixter renegocia seu contrato ao assinar diretamente com a MCA Records.
O produtor escolhido para o sucessor de “Trixter” é ninguém menos do que ‘Jimbo’ Barton (Rush e Queensrche) e a gravação se estendeu de abril a agosto de 1992. “Hear” chega com vontade de superar os méritos do primeiro disco, e o grupo parte em turnê com o KISS pelos EUA, mas... É até cansativo repetir a mesma ladainha, mas o Grunge – sempre o Grunge! – não deixou muito espaço para que a recepção do novo álbum fosse marcante.
A saída foi mostrar sua música onde o Hard Rock ainda era realmente importante, e um dos poucos países que não o abandonou foi o Japão, consumidor voraz do gênero e que adorava o Trixter – o que se mostrou claro pelas apresentações muito bem sucedidas em terras nipônicas. Mas os tempos mudaram rapidamente e a MCA simplesmente dispensa a banda assim que ela retorna aos Estados Unidos.
A situação toda é desagradável, mas em 1994 o quarteto ainda grava e libera pelo selo Backstreet um terceiro registro chamado “Undercover” e cai na estrada no intuito de tocar por todo seu país novamente. Apesar de toda a suposta diversão, Scott abandonou o Trixter no meio da turnê, que prosseguiu com um baterista contratado.
A única coisa certa nisso tudo é que a maneira norte-americana de se fazer e vender o Hard Rock estava esgotada... A banda se separa de vez e cada músico segue seu caminho, com o vocalista Loran partindo em uma carreira solo que não deu em nada, enquanto Farley e Brown tiveram alguma repercussão com seu 40 Ft.
Como há alguns anos o Hard Rock vem voltando com certa força, agora em 2008 o Trixter anunciou seu retorno aos palcos com a mesma formação. Mas não há divulgação de novos álbuns ou maiores detalhes sobre esta volta. Então o jeito é aguardar o desenrolar dos acontecimentos...

TREAT
Dreamhunter
1987 - Polygram Records

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Ainda hoje o Treat é considerado como um dos grandes conjuntos da Suécia. O vocalista Robert Ernlund e os guitarristas Anders ‘Gary’ Wikstrom e Leif ‘Lillen’ Liljegren, naturais de Estocolmo, já vinham desde 1980 tocando música pop no The Boys, mas foi em 1983 que, já se chamando Treat, contatam o baterista Mats ‘Dalton’ Dahlberg (ex-Highbrow, Power) e as coisas começaram realmente a acontecer. Dalton tinha contatos na gravadora Polygram sueca, que, na esteira do crescente sucesso do Hard Rock norte-americano, também procurava por bandas do gênero em seu país.
Com a entrada do baixista Tomas Lind, o time estava completo e o Treat começa a gravar algumas canções no estúdio da Polygram. Assim que Lind é substituído por Kenneth Sivertsson, o Treat libera o single "Too Wild", que se tornou rapidamente um grande sucesso e provou que o EUROPE não era mais o grande nome do estilo na Suécia. Toda a repercussão possibilitou que abrissem para o W.A.S.P. e Lita Ford, para então entrarem novamente em estúdio e iniciar as gravações de seu primeiro álbum.
“Scratch And Bite” é liberado em 1985 e, mesmo claramente influenciado pelo “Pyromania” do Def Leppard, vai muito bem e possui ótimas composições como "No Room For Strangers", "Get You On The Run" e a balada "We Are One". O resultado foi além das expectativas e o Treat é considerado a melhor banda de Hard Rock sueca do ano.
Mas, apesar de todo o sucesso, Mats ‘Dalton’ simplesmente deixou o Treat e foi substituído por Dahlberg Leif Sundin, que fez bonito logo no começo de 1986, quando o Treat lançou “The Pleasure Principle". O novo álbum foi gravado em apenas dois meses e mostrava a ótima fase de seus músicos, que estavam deixando para trás muito da influência do já citado Def Leppard e incrementando suas composições com mais teclados. Tudo estava mais maduro e muito melódico, tanto que faixas como "Rev It Up", "Love Stroke", "Eyes On Fire" e "Strike Without A Warning" possibilitaram que o disco alcançasse o top 15 na Suécia.
“The Pleasure Principle" somente não fez mais sucesso pelo fato de este ser o ano de “The Final Countdown” (com certeza o EUROPE deu o troco ao Treat!) explodir nas paradas de sucesso de todo o mundo... Mas a fama do Treat já ia bem além das fronteiras de seu país, tanto que, agora com as baquetas de Jamie Borger (Six Feet Under e Capricorn), tocou no famoso festival inglês Monsters Of Rock ao lado de David Lee Roth e Kiss.
Em 1987 chega a vez do comentado “Dreamhunter”, considerado por muitos como a obra-prima do conjunto, contando com o baixista Kenneth Siwertsson e resultando na melhor produção da discografia da banda até então. Canções como "World Of Promises", "You’re The One I Want" e "Best Of Me" se tornaram clássicos do Hard Rock sueco, mas, dizem as más-línguas que o Treat tinha tanto ciúme do conterrâneoEUROPE e seu “The Final Countdown”, que decidiu deixar a Suécia e investir pesado em outros territórios.
Estabeleceram-se na Alemanha e contataram o manager Uwe Block, que lhes prometeu grandes excursões pela Europa e contratos com o forte mercado norte-americano. Mas na realidade nada disso acabou acontecendo! A única coisa boa que ocorreu foi tocarem no espaço alemão "Monsters Of Rock" em 1988... As almejadas ‘grandes tours’ pela Europa se limitaram a apenas uma semana num clube de turismo da própria Alemanha Ocidental.
Obviamente tudo isso deixou o pessoal do Treat inconformado, tanto que o guitarrista e fundador Leif ‘Lillen’ Liljegren foi demitido em dezembro deste mesmo ano (Feliz Natal, cara!). Pouco depois o baixista Siwertsson também cai fora para dedicar mais tempo a seu estúdio. De qualquer forma, Ernlund, Wikström e Borger voltam à Suécia com o rabo entre as pernas e à procura de novos músicos... Borger chama seu velho amigo do Six Feet Under, Joakim ‘Joe’ Larsson para o contrabaixo e, ao invés de preencher a vaga do guitarrista demitido, optam por um tecladista fixo, que veio sob o nome de Patrick "Green" Appelgren.
Com esta formação gravam na Alemanha as novas composições que fariam parte de “Organized Crime”, lançado em 1989 pela gravadora Vertigo. O bem-intencionado manager Uwe Block novamente promete mil maravilhas para o futuro do Treat, mas infelizmente as vendas não foram bem e as tais ‘mil maravilhas’ se resumiram a quatro apresentações lotadas no Japão, mas nada que realmente mudasse positivamente a situação do conjunto.
Não seria errado dizer que agora começaria o fim do Treat... Além de romperem com a Polygram, o bom, velho e agora desiludido vocalista Robert Ernlund também pede as contas. Todos achavam que sua saída seria o último prego no caixão do Treat, mas o único membro original, o guitarrista Anders Wikstrom e o que sobrou do grupo encontram um substituto à altura na pessoa de Mats Levén (Swedish Erotica e Capricorn) e novamente tentam levar a banda adiante em busca da fama.
O resultado é um quinto disco, auto-intitulado, que sai em 1992. Mas a banda parecia estar em uma espécie de crise de identidade, tocando por alguns poucos países europeus. Embora não comentassem com ninguém, seus músicos já sabiam que esta seria sua turnê de despedida.
E o fim realmente aconteceu depois de um ano. A partir daí, os suecos partiram para outros projetos, com Jamie Borger tocando no Talisman ao lado do mestre Marcel Jacob; o talentoso Levén cantou para vários nomes, como YNGWIE MALMSTEEN e Therion; Wikström formou o Mental Hippie Blood e, por fim, Appelgren se juntou ao State Of Mind.
O retorno do Treat somente se tornou oficial em 2005, tendo o baterista Jamie Borger como elemento importante para esta reunião, pois começou a insistir na volta da banda. Robert Ernlund e o primeiro vocalista Anders Wikström topam, e a partir daí começa a busca por um baixista, com Nalle Påhlsson assumindo o posto. O primeiro fruto dessa reunião é a canção “I Burn For You” e, posteriormente, a compilação “Weapons Of Choice 1984-2006” que, além dos óbvios clássicos, também traz algumas novidades do Treat até então.

TALL STORIES
Tall Stories
1991 - Epic Records

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Oriundo de New York, o Tall Stories surgiu bem no início dos anos 1990. Steve Augeri era um vocalista que já vinha tocando desde 1987 no Maestro, com outros três músicos brasileiros que, curiosamente, foram abandonando o grupo, um de cada vez (... estariam sendo deportados?).
Querendo continuar na carreira musical, Augeri decidiu procurar novos membros e o primeiro convocado foi o guitarrista Jack Morer, encontrado na Manny's Music Store quando o próprio vocalista foi comprar uma guitarra. Contatou ainda Anthony Esposito (baixo), que durou bem pouco tempo no Maestro, pois logo em seguida optou por tocar no Lynch Mob.
A partir daí, como tudo era novo, nada mais natural para Augeri do que realmente recomeçar do zero, batizando a futura nova banda com o definitivo Tall Stories. Kevin Totoian (que já havia tocado com o famoso Edgar Winter) foi o baixista recrutado para o novo projeto, que se completou com as baquetas de Michael Cartellone – por um curto espaço de tempo, pois o baterista escolheu tocar com o Damn Yankees de Ted Nugent.
A procura terminou somente quando encontraram o baterista Tom DeFaria (Etta James, Company Of Wolves) e, agora sim, o Tall Stories estava completo e pronto para encarar os palcos. E pelo jeito os músicos tinham lá seus contatos no circuito musical, pois rapidamente assinam com a gravadora Epic e mais rapidamente ainda liberam “Tall Stories”, produzido por Frank Filipetti, que já havia trabalhado com o Foreigner, KISS, Barbara Streisand, entre muitos outros.
O ano era 1991 e todos os envolvidos estavam confiantes neste disco de estréia, pois seu Hard Rock extremamente melódico e de fácil assimilação tinha tudo para cair nas graças do grande público. Mas não caiu... E é inegável que o repertório é de bom gosto e, como tal, muito linear, com faixas bem bacanas como “Wild On The Run” ou “World Inside You”.
Ainda que o Tall Stories tenha participado de uma turnê pelos Estados Unidos com o Mr Big, a recepção obtida com seu disco foi nula. Assim, como tantas outras bandas desse período, o Tall Stories simplesmente encerrou suas atividades sem grandes méritos. Mas Steve Augeri conquistou muita simpatia, tanto que posteriormente cantou em “Shine”, álbum do Tyketto liberado em 1995.
Talvez decepcionado com o mundo do rock´n´roll, Augeri já havia aposentado seu microfone e estava trabalhando em uma loja quando entrou porta adentro ninguém menos do que Neal Schon (guitarrista do Journey), com uma fita-demo de Steve, pedindo para ele substituir o então ex-vocalista Steve Perry. Mesmo não acreditando no que estava acontecendo, é óbvio que Augeri aceitou no ato ser um membro efetivo de uma banda tão importante como o Journey! E conseguiu grande visibilidade ao colocar sua bonita voz nos registros “Arrival” (2001), no EP “Red 13” (2002) e “Generations” (2005).
Mas o sonho durou somente até 2006, quando Augieri teve problemas na garganta e teve que deixar o Journey procurar outro cantor...

LOVERBOY
Get Lucky
1981 - Columbia Records

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Mesmo nunca levado muito a sério pelos críticos, o canadense Loverboy fez muito sucesso na década de 1980. Suas atividades começaram quando o guitarrista Paul Dean e o baterista Matt Frennette deixaram o Streetheart e se mudaram para a costa oeste de seu país, onde rapidamente contatam em Vancouver Mike Reno (voz), Doug Johnson (teclados) e Scott Smith (baixo).
A partir daí, já sob o nome Loverboy, passam a tocar pelo circuito de sua região, e a abordagem simples e extremamente acessível de seu Hard Rock foi tão bem recebida pelo público que, mesmo devidamente rejeitados pelas grandes gravadoras norte-americanas, assinam rapidamente com a Columbia Records canadense e estréiam com um disco auto-intitulado no verão de 1980.
As rádios gostam tanto que o Loverboy não sai de sua programação. "The Kid Is Hot Tonight", "Turn Me Loose", "Lady Of The 80's" e "DOA" possibilitam que vendam o expressivo número de 700.000 cópias somente em seu país. Somente aí é que a Columbia dos EUA percebe o potencial (de lucro, é claro!) e assina com a banda, colocando-os para tocar ao lado de Cheap Trick, ZZ Top, Kansas e Def Leppard. O resultado é que o Loverboy conquista a platina dupla.
Mas foi “Get Lucky” e sua capa de gosto pra lá de duvidoso que cimentou de vez as fundações de sua música perante o público. Lançado em 1981 e tendo como carros-chefe “Working For The Weekend" e "When It's Over", este tornou-se seu álbum mais vendido na terra do Tio Sam, atingindo a 7ª posição na Billboard e vendendo absurdas quatro milhões de cópias. Nesse mesmo ano o Loverboy recebeu cinco Juno Awards, o maior prêmio musical do Canadá; e posteriormente recebeu mais três, número imbatível ainda nos dias de hoje.
“Keep It Up” chega às prateleiras dois anos depois e, mesmo não atingindo o estrondoso sucesso de seu antecessor, a força de faixas como "Queen Of The Broken Hearts" e "Hot Girls In Love", cujos vídeos não saíam da MTV, faz com que as vendas alcancem platina dupla. A recepção vinha sendo tão boa que já era hora de serem os headliners, o que efetivamente acontece pela Europa, Japão e obviamente em todos os cantos dos EUA e Canadá.
A boa fase se mantém com “Lovin' Every Minute Of It”, de 1985, que apresenta alguns dos riffs mais pesados (para o padrão do Loverboy, naturalmente...) e também conquista platina dupla. Mas perceberam que algo começou a mudar, e esta percepção se tornou um fato concreto com “Wildside” (87). O público já não reagia com tanta empolgação e, mesmo com as vendas caindo consideravelmente, ainda conseguem atingir o disco de ouro graças ao hit "Notorious", co-escrito por Richie Sambora e Jon Bon Jovi.
E, quando a situação não é mais favorável, começam os conflitos, certo? Pois bem. Decepcionados pelas vendas, o Loverboy acaba em crise no ano seguinte, devido à partida do tecladista Johnson e diferenças criativas e pessoais entre Dean e Reno. “Big Ones” foi um disco inócuo lançado em 1989 apenas para cumprir o contrato com a Columbia Records e no final de 1989 partem para promovê-lo em uma curta turnê pelo Canadá, tendo Geraldo Valentino Dominelli nos teclados.
Os próximos anos são preenchidos com discos solos do vocalista Mike Reno e do guitarrista Paul Dean, que não atingiram grandes vendas. Com exceção de ocasionais apresentações beneficentes e compilações, foi somente em 1996 que o Loverboy mostra realmente as caras com “VI”, tendo como tecladista Richie Sera. Este disco mostra uma banda extremamente madura ao acrescentar novas dimensões às composições, como os cellos em “Secrets”, ou a bonita acústica "Maybe Someday".
O mundo do rock´n´roll gira devagar para os veteranos, e é somente em 2 de dezembro de 2000 que o Loverboy aparece na mídia, e da pior forma possível. O baixista Scott Smith teve um fim trágico ao cair de uma embarcação na costa da Califórnia e nunca mais foi encontrado. Apesar de naturalmente abalados, a vida continua e o Loverboy libera seu primeiro registro ao vivo em 2001, “Live, Loud And Loose”, com as canções capturadas de suas apresentações entre os anos 1982/1986. Novamente partem para novas e extensas turnês, dedicadas ao falecido companheiro.
E os canadenses amam sua música e são insistentes! Em 2007 liberaram, depois de tanto tempo, um belo álbum de inéditas batizado “Just Getting Started”, mantendo intacta sua formação original, com exceção do já mencionado e finado baixista, cuja vaga foi preenchida por Ken "Spider" Sinnaeve. E mesmo com muitos fãs espalhados por aí, agora até mesmo a apática mídia especializada parece dar o merecido crédito ao conjunto. Já era sem tempo...

ZEBRA
Zebra
1983 - Atlantic Records

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Aqueles que viveram os anos 1980 sem abrir mão de um rock´n´roll mais elaborado sempre tiveram grande estima pelo Zebra. Natural de New Orleans, sua carreira começou em 1975 contando com Randy Jackson (voz e guitarra), Felix Hanneman (baixo e teclado) e Guy Celso (bateria). O power trio ralou pela segunda metade desta década tocando por todos os clubes e ginásios da vizinhança e aos poucos foi se tornando conhecido pela região.
A estranha denominação ‘Zebra’ surgiu depois de verem uma antiga capa da revista Vogue, onde uma garota cavalgava sobre uma zebra. Gostaram da foto e adotaram o nome... E todo o suor de suas apresentações rendeu frutos logo no comecinho da década seguinte, quando assinaram com a Atlantic Records.
O produtor Jack Douglas (Aerosmith, Cheap Trick) soube como conduzir a proposta do grupo, e sua estréia se deu com um disco auto-intitulado no ano de 1983. Para completo espanto de sua gravadora, “Zebra” vendeu incríveis 75.000 cópias já na primeira semana – o álbum de rock que vendeu mais rápido na história da Atlantic – atingindo rapidamente a 29º posição da Billboard e, consequentemente, reconhecimento nacional.
Ok, o Zebra tinha lá suas influências de LED ZEPPELIN, em especial pela aproximação do timbre de Jackson com o do lendário Robert Plant, mas graças à excelentes composições como “Who's Behind The Door?” e "Tell Me What You Want", este debut tornou-se um dos discos mais executados pelas rádios-rock num período de oito meses. O resultado, como não poderia deixar de ser, foram apresentações freqüentemente lotadas pelos EUA.
Mas, apesar de toda a badalação em cima do álbum “Zebra”, a seqüência “No Tellin’ Lies”, liberado em 1984, foi recebido de forma mais fria por parte da crítica e público. A musicalidade do novo álbum não se distanciava tanto de seu antecessor, mas apresentava alguns sintetizadores confusos que afastou parte dos fãs. Ainda assim, houve grandes canções como "Wait Until The Summer's Gone" e a balada "Lullabye", claramente dedicada aos Beatles.
Sabendo que precisavam provar algo perante o público e crítica, o Zebra capricha para o próximo disco. Com a produção ao encardo dos próprios músicos, "3.V" chega às prateleiras em 1986 e mostrou toda a coesão musical do trio até então, que procurou criar seu próprio estilo, resultando em algo mais moderno – mas sem se distanciar do rock clássico – e acessível do que muitos dos antigos fãs gostariam.
A Atlantic já não apostava suas fichas na banda, não promove o disco como poderia e o resultado é um grande fiasco comercial, ainda que "3.V" venda mais que “No Tellin Lies” e seja considerado por boa parte do público como um de seus melhores álbuns, tendo em "Time", "Better Not Call" e "Hard Living Without You" finos exemplos dessa fase.
Obviamente o interesse da gravadora estava deteriorado a ponto de não haver mais nenhum esforço em prol do Zebra. Nos anos seguintes o grupo ainda mantém o indiscutível status de ‘melhor banda de rock ao vivo da Louisiana’, tanto que em 1990 chega ao mercado “Live”, gravado em Long Island em novembro de 1989 e mostrando toda a força que o trio sempre esbanjou sobre os palcos, apresentando inclusive as faixas-bônus "Last Time" e "The Ocean", do Led Zeppelin.
A partir daí cada um dos músicos seguiu seu próprio rumo, tendo Randy indo tocar no China Rain e em seguida no Jefferson Airplane, enquanto Hanneman e Celso uniram seus esforços para ajudar o baixista Felix Hanemann a finalizar o infeliz “Rock Candy”.
Somente em 1997 o Zebra se reúne para uma turnê, enquanto a Atlantic soltava ”The Best Of Zebra: In Black And White”, excelente aquisição para quem não conhece o grupo. O tempo passa rápido para o pessoal, que só se anima em 2003 ao lançar um novo álbum de inéditas chamado “IV”, que mostra que, mesmo depois de tanto tempo no anonimato, ainda transpira muito da energia e paixão dos velhos tempos em boas composições como “Arabian Nights”, "Waiting To Die” e "Why".
A partir de então, mais nenhum álbum desta ótima banda... Mas fica a sugestão de o leitor conferir algumas de suas canções em www.myspace.com/zebrathedoor

A História do Burzum: Parte I - As Origens e os Significados


Esta é uma tradução da biografia do Burzum, em nove partes, publicada originalmente no site da banda, e redigida pelo próprio Varg Vikernes. Varg é um assassino confesso, defensor da supremacia branca e possivelmente um incendiador de igrejas. O texto foi traduzido em sua totalidade, e não expressa a opinião do tradutor, nem do site Whiplash!, nem de nenhum outro senão a do próprio autor, Varg Vikernes.
Como este é um website do Burzum, acredito que Você tenha um certo interesse pelo Burzum, então contarei a Você algumas coisas sobre o Burzum que nunca foram ditas antes. Todas as bandas têm uma origem, um começo e uma razão de existir. Então começarei dizendo a você por que o Burzum surgiu e também por que terminou da maneira que terminou.


Uruk-Hai (por John Howe)
Uruk-Hai (por John Howe)


Em 1988 ou 1989, quando já estava tocando guitarra havia um ou dois anos, fundei uma banda chamada Kalashnikov, juntamente com dois outros caras. Nós batizamos a banda de Kalashnikov porque, entre outras coisas, esse era o nome de meu fuzil de assalto favorito. Eu costumava jogar RPGs (Role-Playing Games) e, quando estávamos jogando "Twilight 2000", eu sempre equipava meu personagem com uma AK-47 (Avtomat-Kalashnikov 47). Mas eu também jogava RPGs estilo fantasia, como AD&D ("Advanced Dungeons And Dragons") e MERP ("Middle-Earth Role-Playing") com regras GM ("Game Master"), então eu fui muito influenciado pelo fantástico mundo da Terra-Média. Por causa disso, uma de nossas músicas foi chamada de "Uruk-Hai" e logo mudamos o nome da própria banda para Uruk-Hai. Não me lembro da letra daquela música, mas não acho que era muito profunda ou avançada (o refrão era: "Uruk-Hai! You will die" [N.: “Você vai morrer”] , ou algo parecido...). "Uruk-Hai" é, como a maior parte dos fãs de Burzum devem saber, o nome dos "High-Orcs" de Sauron, e sua tradução é "Raça dos Orcs", e vem da Língua Negra, o idioma de Mordor.

Na minha interpretação de adolescente eu sempre via os Hobbits como crianças ou simplesmente personagens maçantes. Os anões me lembravam porcos capitalistas gananciosos e eram também muito maçantes. Suas regras eram legais e Moria era um lugar maravilhoso, mas eu odiava a ganância deles – e, além de tudo isso, quem é que deseja ser pequeno? Os elfos eram fascinantes, belos e, principalmente, sua imortalidade e proximidade da natureza eram características interessantes, mas eles eram um pouco burros e lutavam pelo lado errado. Então eu senti uma atração natural por Sauron, que era a pessoa que, antes de tudo, dava ao mundo aventura, adversidade e desafios. Seu Olho, seu Anel e a torre de Barad-Dur são atributos similares aos de Odin [N.: Deus dos deuses na mitologia nórdica]. O Olho de Sauron era como o Olho de Odin, o Anel de Sauron era como o Anel de Odin, Draupnir ("O Emissor"), e Barad-Dur era como o trono de Odin, chamado Hliðskjálf ("Local de Rituais Secretos"). Seus Uruk-Hai e Olog-Hai ("Raça dos Trolls") eram como guerreiros vikings, os Warges eram como lobisomens criados por Odin, e assim por diante. Eu podia me identificar facilmente com a fúria das “forças das trevas” e me satisfazia com a sua existência, porque eles tornavam um mundo pacífico e chato mais perigoso e interessante.
O olho de Sauron (por John Howe)
O olho de Sauron (por John Howe)


Eu cresci lendo tradicionais contos de fadas escandinavos, nos quais deuses pagãos eram apresentados como criaturas “malignas”, como "trolls" e "goblins", e todos sabemos como a Inquisição transformou Freyr (Cernunnos/Dionísio/Baco et cetera) [N.: Deuses associados à fertilidade e aos prazeres] em "Satã". Tolkien não foi melhor do que eles. Ele transformou Odin, Sauron e meus ancestrais pagãos nos guerreiros Uruk-Hai. Para mim, as “forças das trevas” atacando Gondor eram como os Vikings atacando a França cristã de Carlos Magno, as “forças das trevas” atacando Rohan eram como os Vikings atacando a Inglaterra cristã. E devo acrescentar que os vikings acabaram perdendo essas batalhas, assim como Sauron e os orcs – não me importo em apoiar o lado derrotado. Eu sempre acreditei que deveria fazer o que achava certo, apesar das conseqüências e, se eu estivesse lutando por uma causa perdida, isso não me importava. Eu prefiro morrer lutando pelo que acredito a viver por qualquer outra causa.

Entretanto, ele não usou apenas a língua dos vikings e as línguas nórdicas para criar os orcs e seu idioma. A palavra "Orc" é, na verdade, o nome de uma tribo que viveu na Escócia em tempos remotos, nas Ilhas Orkney (também conhecidas como Órcadas). "Orc" é uma palavra do idioma gaélico que, até onde sei, significa "javali". Os cultos guerreiros das tribos nativas das Ilhas Britânicas provavelmente usaram javalis da mesma forma que os cultos guerreiros escandinavos dos “berserks” [N.: Algo como guerreiros implacáveis] e dos lobisomens usavam javalis e lobos. Os "Orcs" eram parte de um grupo de tribos conhecido desde a era romana até a época dos vikings como Pictos ("Aqueles que se pintam").
J. R. R. Tolkien
J. R. R. Tolkien


Portanto não chega a surpreender que um inglês católico como Tolkien tivesse usado, entre outros, “Bárbaros escoceses loucos, ruivos e que brandiam pesadas espadas” e “‘berserkers’ escandinavos furiosos, que queimavam igrejas” como modelos para alguns de seus vilões e, por causa disso, eu me senti mais atraído para esses vilões do que para os mocinhos. Eu tinha pouco em comum com personagens “cristãos”, como os cavaleiros “ingleses” de Rohan ou o povo “francês” de Gondor. Eu tinha pouca admiração por um “santo” como Aragon. Mesmo os elfos eram como estrangeiros, já que Tolkien usou o finlandês quando criou a língua deles e usou os finlandeses como modelo quando os criou. Eles realmente têm muito em comum com os Elfos, já que vivem no que é basicamente uma grande floresta (Finlândia), a leste das montanhas escandinavas (“As Montanhas Cinzentas”). Antes eles viviam no norte da Rússia, na vasta floresta ("Myrkwood", [Negra]) a oeste dos montes Urais. Eles também têm boa aparência (são loiros) e, como os elfos, são um pouco quietos, melancólicos, diferentes e distantes. Misteriosos, por assim dizer. Para mim, a linguagem dos elfos soa estrangeira e incompreensível – assim como o finlandês é incompreensível – enquanto o idioma dos orcs e a Língua Negra obviamente foram baseados no idioma de meus ancestrais. Então Uruk-Hai foi uma escolha lógica para o nome da banda.

O baterista e o baixista do Uruk-Hai eram pessoas que encontrei mais ou menos por coincidência. Eu já tinha encontrado o baterista antes, quando tínhamos (mais ou menos) uns 12-15 anos e ele apontou um revólver Magnum .375 carregado para minha testa na noite de Reveillon, porque ele achava que eu havia chamado ele de “gorducho” (uma ótima desculpa para apontar uma arma para a cabeça de alguém, é claro...). Eu não tinha chamado ele, e sim seu amigo, de “gorducho” e contei pra ele – e foi isso o que aconteceu. “Hm, okay”, ele disse, e saiu sem mais problemas (há, há). Seu interesse em tocar música era, eu acho o “normal” – ou seja, ter “sexo, droga e rock’n’roll”. O outro cara do Uruk-Hai tocava baixo só pra dar umas transadas – ele era, em outras palavras, um "rock'n'roller" estereotípico. O ideal seria que ele tivesse tocado guitarra, já que os guitarristas são, por alguma razão bizarra, mais populares com as garotas, mas ele nem conseguia tocar o baixo, então...
Em 1989 encontrei os caras do Old Funeral, que eram músicos excelentes e sérios, e abandonamos o projeto Uruk-Hai. Os outros dois membros do Uruk-Hai já estavam brigando por uma garota e, por isso, paramos de ensaiar, então não foi difícil acabar com o Uruk-Hai. Eu toquei com o Old Funeral por dois anos e, nessa época, o Old Funeral deixou de ser uma banda Techno-Thrash bem legal e virou uma banda de Death Metal chata. Isso não foi minha culpa, porque eles já tinham mudado do Techno-Thrash pro Death Metal quando me juntei a eles. Essa foi a razão pela qual deixei o Old Funeral, já que eu queria tocar meu próprio tipo de música, algo mais original e pessoal do que aquilo que tocávamos no Old Funeral naquela época (1989-1991).
(Você deve ter notado como o nome era idiota: Old Funeral. Mas, a favor deles, devo dizer que acho que eles se chamavam originalmente apenas Funeral. Então descobriram que outra banda também se chamava Funeral, mas eles já tinham usado aquele nome antes da outra banda Funeral, então eles mudaram para Old Funeral. Eles eram, em outras palavras "the old Funeral" [N.: o “velho” Funeral], e não Old Funeral, então o nome não é tão idiota como parece à primeira vista).
Ao invés de reiniciar o projeto Uruk-Hai, eu mudei o nome e decidi fazer tudo sozinho, embora tenha usado alguns riffs do Uruk-Hai. Eu não queria tocar ao vivo e meus motivos para tocar música eram bem diferentes da tradicional motivação “rock’n’roll”. Enquanto tocava no Old Funeral eu mantive meu interesse por RPGs e ainda era muito influenciado pela magia da fantasia. Acho que já disse antes que o conceito doBURZUM baseava-se o ocultismo, mas o mais correto a dizer é que se tratava de um conceito mágico, ou um conceito construído sobre a magia fantástica. Tudo que se referia ao BURZUM não era deste mundo, até o nome.
O anel de Sauron (por John Howe)
O anel de Sauron (por John Howe)


Como eu disse antes, quando os cristãos chamaram os deuses de meus ancestrais de “demônios”, "trolls", "goblins" e tudo o que era considerado “maligno”, eu naturalmente me senti atraído por tudo que era visto como “maligno” pelos cristãos. Essa é uma reação um pouco imatura, talvez, mas eu era adolescente, então não via problema algum. Eu ainda tinha essa atitude em 1991, e Uruk-Hai era um excelente nome, mas eu sentia que estava começando tudo de novo, então eu precisava também de um novo nome. Como a grande parte dos fãs de Tolkien deve saber, "burzum" é uma das palavras que estão escritas em Língua Negra no Anel de Sauron. Se bem me lembro, a última sentença é "ash nazg durbabatuluk agh burzum ishi krimpatul", que significa "um anel para atrair todos eles e uni-los através da escuridão". A “escuridão” dos cristãos era, claro, minha “luz”. Portanto, para mim foi natural usar o nome Burzum.

Muitas bandas (exceto Old Funeral, é claro) tinham nomes ingleses “maneiros”, como Immortal, Mayhem, Darkthrone, Destruction, Celtic Frost, Enslaved, Pestilence, Paradise Lost, Morbid Angel, Death, e assim por diante. Eu não queria isso e essa foi uma das razões que me levaram a escolher os nomes Uruk-Hai e depois BURZUM. Naquela época – antes do lançamento dos filmes da série “Senhor dos Anéis” dirigidos por Peter Jackson – seu significado era praticamente solis sacerdotibus: só os iniciados, por assim dizer, sabiam o que significava. Somente pessoas que tinham um interesse especial no mundo de Tolkien sabiam, e isso era legal – era assim que eu pensava. Isso permitia que os ouvintes se sentissem especiais e percebessem que BURZUM era feito especialmente para eles (e era).
A idéia por trás do Burzum não era somente fazer música original e pessoal, mas também criar algo novo – um pouco de “escuridão” num mundo “luminoso”, seguro e maçante demais. Diferentemente de 99% de todos os músicos, eu não tocava música para me tornar famoso, ganhar dinheiro e dar umas transadas. Eu não tinha interesse em fama ou dinheiro e minha visão sobre as mulheres era muito ingênua e romântica, uma visão quase medieval (ou de um mundo de fantasia) sobre as mulheres, então eu não tinha nada além de desprezo pela atitude estúpida “sexo, DROGAS e rock’n’roll” do resto do pessoal do metal. Ao invés disso, minha motivação era um desejo de experimentar a magia e tentar criar uma realidade alternativa usando a “magia”. Se o poder espiritual de muitas pessoas pode ser “reunido” em um pote, ou transferido através de um objeto ou ser mágico (em norueguês chamamos isso de fylgja ["seguidor", "espírito guardião"]), ele poderia ser usado para criar algo real. Isso é um pensamento puramente mágico e, ao invés de ser baseado em ocultismo é baseado em magia e fantasia – e isso é algo sobre o qual é interessante pensar. Burzum foi criado para ser esse pote, a arma mágica (ou se Você preferir, o anel mágico), por assim dizer. Devo enfatizar (no caso de Você pensar que acabei de descrever tudo que se passava em minha mente) que esse era um projeto experimental que tomava apenas parte de meu tempo, já que eu também fazia outras coisas na vida (como me preparar para uma guerra de guerrilha no caso de uma invasão da Noruega pelos EUA...).
Varg adolescente
Varg adolescente

Varg, em 1992
Varg, em 1992


Se as pessoas soubessem que o Burzum era apenas a banda de um adolescente, isso poderia arruinar a magia e, por essa razão, eu achei que precisava permanecer anônimo. Então eu adotei um pseudônimo, Count Grishnackh, e usei uma foto minha que não parecia nem um pouco comigo no álbum de estréia, para fazer o Burzum parecer mais estranho e confundir as pessoas. E devo acrescentar que a entrevista que gerou todas aquelas manchetes em janeiro de 1993 também foi feita anonimamente e nunca deixei jornal algum usar meu nome ou minhas fotos até tempos depois, quando já era tarde demais para permanecer anônimo. Não era minha intenção tornar-me famoso (ou “infame”...) e, até quando usaram meu nome verdadeiro na época, Kristian (do grego "Kristos", que significa "Cristo") Vikernes, ao invés de meu pseudônimo, fiquei horrorizado – e isso foi o que realmente pesou na balança e me fez mudar meu nome legalmente. Eu nunca deixaria a magia do Burzum ser “arruinada” por algo assim...

Então quando arruinaram minha condição de anônimo eu tive que abandonar essa idéia e parei de usar o pseudônimo. Eu queria que o BURZUM fosse famoso, não eu, mas isso obviamente não funcionou do jeito que eu havia planejado.
Como as pessoas envolvidas com o assunto já sabem, magia é tudo relacionado a imaginação, simbolismo, visualização e força de vontade. Se Você imaginar algo acontecendo em Sua mente, Você fará tal coisa acontecer – isso é, se a Sua força de vontade for suficientemente forte ou se Você possuir “poder espiritual” suficiente. Se um objeto simboliza um certo poder, ele se torna tal poder. É por isso que nossos antepassados entalharam runas em rochas e pedaços de madeira, porque as runas simbolizavam certos poderes. Isso também explica porque os solstícios [N.: 21 ou 23 de junho (solstício de inverno no hemisfério sul e de verão, no hemisfério norte)] e os equinócios [N.: Momento em que o Sol, em seu movimento anual aparente, corta o equador celeste, fazendo com que o dia e a noite tenham igual duração. Ocorre em 20 ou 21 de março e 22 ou 23 de setembro] de inverno e de verão são tão importantes, porque eles simbolizam eventos especiais, que são descritos em nossa mitologia. E é por isso também que começamos a usar bijuterias, porque os diferentes metais e pedras simbolizavam diferentes poderes no universo.
Burzum deveria ser tal símbolo. BURZUM era uma tentativa de criar (ou “recriar”, se Você preferir) um passado imaginário, um mundo de fantasia – que, por sua vez, era baseado em nosso passado Pagão. O próprio BURZUM era um feitiço. As músicas eram como feitiços e os álbuns eram elaborados de maneira especial, para fazer os feitiços funcionarem. O BURZUM não foi concebido para shows ao vivo e sim para ser escutado à noite, quando os raios de sol não podiam vaporizar o poder da magia e quando o ouvinte estivesse sozinho – de preferência em sua cama, prestes a dormir. Os primeiros dois álbuns foram feitos para o formato LP, o que significa que cada lado é um feitiço, portanto eles não funcionam em CD, a menos que você programe o CD player para tocar somente as faixas de um lado do LP de cada vez. Já os últimos álbuns foram criados para CD, portanto eles não funcionam tão bem em LP. A primeira faixa serve para acalmar ou “preparar” o(a) ouvinte e torná-lo(a) mais suscetível à magia, as músicas seguintes levam o(a) ouvinte à exaustão e colocam-no(a) em um estado de transe e a última faixa “acalma” o(a) ouvinte e leva-o(a) para o “mundo de fantasia” – quando ele ou ela adormeceria. Esse era o feitiço, a magia que tornaria o passado imaginário, o mundo de fantasia, real (na mente do(a) ouvinte). Se Você analisar os álbuns do BURZUM e como eles são feitos, Você entenderá o que quero dizer. A última faixa do “feitiço” (no lado do LP ou no CD) é sempre uma faixa calma (muitas vezes de sintetizador). Se isso funciona ou não é, obviamente, outra questão, mas essa era a idéia.
The Temple Of Elemental Evil
The Temple Of Elemental Evil

Burzum - 1992
Burzum - 1992

Det Som Engang Var - 1993
Det Som Engang Var - 1993

Hvis Lyset Tar Oss - 1994
Hvis Lyset Tar Oss - 1994

Filosofem - 1996
Filosofem - 1996


A arte gráfica dos dois primeiros álbuns foi inspirada por um módulo do AD&D (1ª edição) chamado "The Temple Of Elemental Evil", e as artes gráficas do terceiro e do quarto álbum foram inspiradas por tradicionais contos de fada escandinavos. Eu nunca cheguei a ler livro algum sobre Satanismo, então aqueles que acreditam que fui influenciado pelo Satanismo estão simplesmente enganados. Embora eu tenha dito que era satanista durante um curto período de 1992, eu nunca fui um satanista. Na verdade, apenas usei o termo para provocar as pessoas e marcar minha hostilidade com relação ao Cristianismo – e enfatizar a necessidade de “escuridão” no mundo (já que “luz” demais não ilumina nossos caminhos e nos aquece e sim cega nossos olhos e nos queima – conforme foi claramente dito nos álbuns "Hvis Lyset Tar Oss" e "Filosofem" [Se Você quiser saber mais sobre essa filosofia, sugiro que leia meus artigos ou livros sobre Paganismo]).

O que me inspirou a compor a música em si também é um tanto estranho. Quando eu era adolescente, meus amigos de RPG e eu algumas vezes pegávamos bastões de madeira, lanças e espadas e íamos para o campo lutar entre nós. Não tínhamos nenhum outro motivo para lutar além da diversão e ninguém tentava machucar ninguém. Nós nunca tentávamos atingir a cabeça de nossos oponentes ou outras áreas “vulneráveis” (onde se localiza o “cérebro” do homem...) e não usávamos muita força. Mesmo assim nós nos machucávamos por acidente e a luta nunca parava até que pelo menos um de nós sangrasse, quase sempre nos dedos ou punhos, ou que um de nós achasse que já tinha sentido dor demais por um dia.
Nós lutávamos principalmente em três lugares: Um era na floresta, perto de um velho e isolado cemitério para vítimas da lepra, da gripe espanhola ou da Peste Negra, não me lembro exatamente. A floresta era bem fechada e o terreno era acidentado, então nós freqüentemente caíamos, ou rolávamos, pelas encostas de pequenos montes, pelos arbustos e caíamos em árvores apodrecidas – enquanto tentávamos evitar os golpes de nossos oponentes.
O outro lugar era uma colina arborizada com um antigo horg (um monumento de pedra pagão) a cinco minutos a nordeste de onde eu fui criado. Era uma floresta decídua [N.: que mudava conforme a estação], então era muito diferente da outra floresta (de pinheiros) na qual costumávamos lutar, e era um local fascinante. É claro que trazer armas para um local sagrado e lutar nele não é, teoricamente, uma coisa boa, de acordo com as antigas tradições, mas as armas eram feitas de madeira e não tinham sido feitas para machucar pessoas, então aquilo não era algo muito sério (elas estavam mais para varinhas de mágicos do que para outra coisa).
O terceiro “campo de batalha” eram as ruínas de um velho monastério que ficava a uns três ou quatro minutos a sudoeste do local onde o pessoal do Immortal foi criado. O monastério foi incendiado pelos vikings no séc. VIII, pelo que me lembro. A propósito, aquele foi o primeiro monastério construído na Noruega – e não chega a ser nenhuma surpresa que sua existência como monastério tenha sido curta. Os monges (provavelmente britânicos) foram esquartejados ou jogados em um pântano nos arredores para se afogarem.
Era sempre muito bom voltar pra casa e tomar um banho quente depois dessas lutas: suados, encharcados, com hematomas, sempre sangrando e com espinhos ou folhas de pinheiro em nossas roupas (e até no cabelo). Eu me sentia como se tivesse voltado pra casa depois de uma batalha real. Exausto – e me sentindo vivo.
Entretanto, as pessoas que viviam no local reagiam um pouco à nossa presença. Uma vez eu pulei de um arbusto – depois de esperar para emboscar os outros caras – e surpreendi uma família que estava apenas caminhando. Meu cabelo era longo e tinha alguns pedaços de musgo e espinhos de pinheiro, eu estava usando roupas escuras com temática Death Metal e ainda tinha um bastão nas mãos, então eles não ficaram muito contentes em me ver. Devido ao risco de encontrar gente “normal” desfrutando da liberdade da Mãe Natureza, fomos forçados a lutar quando o risco de encontrar gente “normal” fosse mínimo. Em outras palavras, esperávamos até tarde da noite. Nós às vezes trazíamos tochas ou acendíamos uma fogueira, para podermos ver na escuridão e também, é claro, as noites de verão escandinavas não chegam a ser muito escuras, e continuávamos lutando.
Inicialmente eu praticava esse jogo de luta com alguns amigos de RPG mas, quando encontrei os caras do Old Funeral (e do Amputation, depois Immortal), nos também começamos a fazer isso. Esse era um evento social para nós e durante os intervalos falávamos de música, alguns planejavam shows ao vivo e nós geralmente inspirávamos uns aos outros – antes de chegarmos em casa no meio da noite e tocarmos música!
(Devo acrescentar que, quando fui preso por matar Euronymous, essas lutas foram descritas como “rituais satânicos noturnos” pela mídia, só para dar a Você um exemplo de como eram ridículos e falsos os rumores e as acusações de “Satanismo” propagados pela mídia).
Varg (Count Grishnackh), em 1992
Varg (Count Grishnackh), em 1992


O clima da floresta, o clima da noite, o clima do antigo local sagrado, a dor dos hematomas e pequenos ferimentos, o gosto dos espinhos dos pinheiros, da terra e do sangue, e o cheiro da madeira queimando: Essa era a nossa (ou pelo menos a minha) inspiração. Sempre que voltava para casa, depois que já tinha passado dos 17 anos e troquei meu ciclomotor [N.: bicicleta dotada de motor] por um carro, eu tocava música bem alto no som do carro e sempre dava longos passeios pelos vales e florestas durante a noite, e através da cidade ou zonas rurais, antes de finalmente chegar em casa. O som monótono do motor do carro e a música alta eram hipnóticos e, é claro, eu era influenciado pelas endorfinas também, já que meu corpo estava lutando contra a dor dos hematomas e outros ferimentos. Essa era uma “escuridão” positiva em nosso mundo de “luz” – e isso me inspirou, além de me fazer sentir vivo.

Nesse primeiro período do BURZUM – entre 1991 e 1992 ou agosto de 1993 – eu praticamente compus toda a música de todos os álbuns. Os álbuns "Dauði Baldrs" e "Hliðskjálf" são, em sua maior parte, reconstruções de riffs esquecidos ou versões de sintetizador de velhos riffs de guitarra do BURZUM ou até mesmo velhas músicas não lançadas, então eles também foram feitos praticamente nesse período. De certa forma essa pode ser considerada a Era de Ouro doBURZUM – que teve seu fim esperado quando fui preso em agosto de 1993.
Paradise Lost
Paradise Lost

Bathory
Bathory

Old Funeral
Old Funeral

Celtic Frost
Celtic Frost

Destruction
Destruction

Kreator
Kreator

Dead Can Dance
Dead Can Dance


Na época em que comecei com o Burzum ainda não tinha ouvido falar do Venom, então logicamente o Burzum não foi – como alguns alegaram – influenciado pelo Venom, de forma alguma. Quando eu dirigia de volta para casa depois das lutas de “espada”, ouvindo música, eu costumava escutar uma fita demo do Paradise Lost, lançada em 1989 ou 1990 eu acho; "Hammerheart" e "Blood. Fire. Death”, do Bathory; a fita demo do Old Funeral, chamada "Abduction Of Limbs" (...); Pestilence (uma banda holandesa de Death Metal, pelo que me lembro) e algumas outras bandas underground de Death Metal que não me lembro hoje. Ouvia ainda house underground e techno (mas apenas quando estava sozinho, porque fãs de metal não parecem gostar desse tipo de música) e, é claro, eu ouvia Burzum. Os outros caras gostavam de Entombed e Morbid Angel, mas eu nunca gostei e nem ouvi. A propósito, ninguém ouvia Venom mas, no final de 1991, começamos a ouvir Celtic Frost e Destruction antigos, os primeiros do Kreator ("Pleasure To Kill" e "Endless Pain") e (também os primeiros) álbuns do Bathory que, a propósito, todos nós achávamos que era Thrash Metal. Entombed e outras porcarias do Death Metal que estavam na moda foram esquecidos por eles. Sei que os caras do Emperor ouviam Merciful Fate e King Diamond ao invés das, ou talvez além das, bandas que mencionei acima, coisas que eles escutavam nos anos 80, então não se pode sair por aí afirmando que alguém devia ouvir essa ou aquela banda. Escutávamos aquilo de que gostávamos. Em 1992 eu (e pelo menos um dos caras do Emperor) também começamos a escutar Dead Can Dance, "Within The Realm Of A Dying Sun" e outros sons desse tipo. Nós estávamos simplesmente cansados das hordas maçantes, modistas e repetitivas de bandas de Death Metal que produziam toneladas de álbuns ruins que soavam todos da mesma forma e voltamos a ouvir o que ouvíamos antes ou tentávamos encontrar outro tipo de música. É claro que continuei escutando bons lançamentos de Death Metal, como a demo do Paradise Lost que mencionei antes, e sei que os outros ouviam o "Altar Of Madness", do Morbid Angel, e Deicide (quando eles lançaram seu álbum de estréia, em 1992, eu acho).

“Drifting
In the Air
Above a Cold Lake
Is a Soul
From an Early
Better Age
Grasping for
A Mystic Thought
In Vain...but Who's to Know
Further on Lies Eternal Search
For Theories to Lift the Gate
Only Locks Are Made Stronger
And More Keys Lost as Logic Fades
In the Pool of Dreams the Water Darkens
For the Soul That's Tired of Search
As Years Pass by
The Aura Drops
As Less and Less
Feelings Touch
Stupidity
Has Won too Much
The Hopeless Soul Keeps Mating”.

“Movendo-se
No ar
Sobre um lago gélido
Há uma Alma
De velhos
E melhores tempos
Ansiando por
Um pensamento místico
Em vão... mas quem sabe
Adiante estará a busca eterna
Por teorias que abram o portal
Somente fechaduras são mais fortes
E mais chaves são perdidas quando a lógica desaparece
No lago de sonhos a água escurece
Porque a Alma está cansada de procurar
Os anos passam
A aura some
E cada vez menos
Os sentimentos tocam
A estupidez
Está dominando
A Alma desamparada continua procurando seu par”

Isso era, na verdade, tudo o que eu tinha pra dizer e as outras letras doBURZUM eram apenas comentários sobre esta. O último verso era "the hopeless soul keeps mating", mas na capa estava escrito erroneamente "the hopeless soul keeps waiting" [N.: “A Alma desamparada continua esperando”] devido a um erro de Euronymous, que administrava a gravadora (DSP) que lançou o álbum pela primeira vez. Aparentemente minha letra de mão era difícil de ler. Além disso, a música "Ea, Lord Of The Deeps" [N.: “Ea, Senhor do Abismo”] deveria ter sido intitulada "Ea, Lord Of The Depths" [N.: “Ea, Senhor das Profundezas”], mas obviamente Euronymous achou melhor mudá-la.
A magia era necessária somente porque eu não estava satisfeito com o mundo real. Não havia aventura, medo, trolls, dragões ou mortos-vivos. Não havia magia. Então percebi que eu mesmo precisava criar a magia. Porém, foi muito triste ver essa magia ser arruinada ou pelo menos enfraquecida em 1993, quando a mídia começou a escrever sobre ela, e ver muitas antigas bandas de country, rock e Death Metal da Noruega subitamente tingirem seus cabelos e começarem a usar “corpse-paint” e a tocar Black Metal; para ficarem famosas, ganharem dinheiro e darem umas transadas – e não para mudarem o mundo. Com certeza eles não se importavam com a magia, mas, em sua defesa, devo dizer que nunca mostraram muita magia para eles. A mídia distorceu demais as coisas, como sempre fazem. As novas bandas fizeram que o Black Metal se tornasse parte do mundo moderno, ao invés de uma revolta contra essa realidade, que é o que deveriam ter feito Talvez eles tenham se sentido atraídos porque a magia funcionou, porque se sentiram atraídos por algo que era especial. Eu não sei. Só sei que não gosto de ver no que isso tudo se transformou: somente uma outra subcultura do tipo “sexo, DROGAS e rock’n’roll” sem imaginação e que é parte do mundo moderno. Isso se tornou parte da política “pão e circo” dos opressores – tornou-se parte do problema.
Minha esperança era de que o BURZUM pudesse inspirar as pessoas a desejar uma nova e melhor realidade no mundo real e a fazer alguma coisa a respeito. Talvez se revoltar contra o mundo moderno, recusando-se a participar do estupro da Mãe Terra, recusando-se a participar do assassinato de nossa raça européia, recusando-se a se tornarem parte de alguma dessas subculturas “rock’n’roll” criadas pela mídia e construindo novas e saudáveis comunidades, onde a cultura Pagã – e a magia, se Você assim preferir – possa ser cultivada.
Obrigado pelo seu interesse no BURZUM.
Varg Vikernes
Dezembro de 2004
“A Europa não é um termo geográfico, e sim biológico”.